Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O caso da coxinha ignorada pelos jornais

Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 11 de março de 2009


 


SEM NOTÍCIA
Ruy Castro


O caso da coxinha envenenada


‘RIO DE JANEIRO – Na semana passada, em Conchal (172 km de São Paulo), uma mulher serviu um prato de coxinhas ao marido. Este salivou profusamente e atacou uma delas com disposição. Mas, na primeira engolida, sentiu um gosto estranho e comentou que o quitute não estava nos padrões a que ela o acostumara. A mulher deu um sorriso amarelo e disse que devia ser a pimenta-do-reino.


O homem fez ‘Grmff!’ e repassou as coxinhas a seu cachorro, que o olhava com ar súplice, debaixo da mesa. O animal, fraco em etiqueta e de paladar menos sofisticado, devorou a porção quase de uma bocada. Ato contínuo, deu um ganido grosso, irreal, como se dublasse a si mesmo, revirou os olhos e estatelou-se, morto, na sala.


Desconfiado, o marido correu para o pronto-socorro, onde o velho clister entrou em ação. Diante da suspeita de envenenamento, a mulher confessou tudo ao delegado. Tinha desviado R$ 15 mil da conta de ambos e temia que ele descobrisse. O jeito era matá-lo. Simples assim. Mais um pouco e, por causa de uma mixaria, a coxinha iria juntar-se à empada que matou o guarda, em matéria de estigma.


Que eu saiba, nenhuma ‘mídia impressa’ deu esta notícia. Devem tê-la achado banal. Fosse um sushi envenenado, quem sabe. Ou blinis de caviar. Mas o fato de os jornais terem esnobado o caso da coxinha não significa que ele não tenha sido amplamente divulgado. Em 12 páginas do Google, 150 portais, sites e blogs, dos mais potentes aos mais humildes, trataram da história com a necessária competência.


Alguns deles: Fervendo, Mais Barulho, BlogGlubGlob, Vírgula, iParaíba, Anastácio Notícias, O Que a Bahia Quer Saber, Sanatório de Notícias, E Agora José? e Minhoca na Cabeça. É a prova de que, não importa se relevante ou irrelevante, nada mais passa em branco pela história.’


 


 


ACORDO ORTOGRÁFICO
Arnaldo Niskier


A reação à bizarrice


‘HOUVE CONFUSÃO em torno do Acordo Ortográfico da Unificação da Língua Portuguesa.


Enquanto os meios intelectuais, no Brasil, aceitaram bem a reforma, em Portugal há uma grande reação. Um abaixo-assinado de 100 mil pessoas pediu a revisão do assunto.


Alguns escritores chamam a decisão de ‘bizarrice’ e acusam o texto do Acordo de ‘inúmeras contradições e até mesmo equívocos’, o que não representa nenhuma tragédia, pois a correção poderá ser feita até 2012.


Se o português for unificado, como acontece com o francês e o inglês, certamente ganhará pontos a tese da sua presença como língua oficial nos organismos da ONU -o que hoje é impossível dadas as diferenças de grafia nas oito nações lusófonas (aí já incluído o Timor Leste).


Em 1911, quando se pensou pela primeira vez no assunto, escreveu-se muito a respeito, mas a decisão foi unilateral: fez-se o que foi determinado pelo governo português. Ninguém ‘deu bola’ para a posição brasileira, então uma nação bastante atrasada e com altíssimo índice de analfabetos.


Hoje, temos um grande peso específico na matéria, pois somos 190 milhões de falantes, quase 20 vezes a soma de todos os demais países da comunidade de língua portuguesa.


Parece, no entanto, impossível o entendimento. Demonstramos uma grande boa vontade, não ocorrendo o mesmo por parte dos parceiros.


Dirigentes de Angola concordam com tudo, desde que palavras como quitanda sejam escritas com k, como acontece naquele país africano.


Portugal não abre mão do António, como se pronuncia a palavra em seu território -e aí se estabelece a confusão, apesar de haver um acordo de cavalheiros para que não se altere a fonética, o que é bastante inteligente.


O Ministério da Educação avaliará os livros didáticos, no próximo ano, somente se estiverem de acordo com a ‘nova ortografia’. Seriam comprados para distribuição gratuita em 2011. A Academia Brasileira de Letras lançou o seu primeiro Dicionário Escolar, com 30 mil verbetes. Está naquela situação bem retratada pela ‘cantora’ Maria Joaquina Dobradiça da Porta Baixa, na música interpretada pelo humorista Castro Barbosa, na famosa PRK-30 (Rádio Nacional): ‘Ah, eu tenho dois amores -um aqui, outro acolá. O de cá pede que eu fique; o de lá pede que eu vá. Não sei se vou ou se fico’. A Casa de Machado de Assis prepara a nova versão do Vocabulário Ortográfico, com todos os seus mais de 360 mil verbetes.


Temos a solidariedade completa de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.


O que dói um pouco, nisso tudo, é a posição de alguns escritores de Lisboa. Escrevem contra o Acordo e contra o Brasil, acusando-nos de tentativa de neocolonialismo. Seguramente, esse não é o melhor caminho para que venha o entendimento desejado.


Em meio a essa tormenta transatlântica, tem havido muita troca de informações e até visitas por parte da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa.


Os de lá veem, os de cá vão, como tem ocorrido com os imortais Evanildo Bechara, Moacyr Scliar, Domício Proença, Antonio Carlos Secchin e Ivan Junqueira. Sem nenhuma pretensão de arrogância ou predomínio, pois isso é coisa do passado.


Enquanto aqui o Ministério da Educação, para cumprir decreto do presidente Lula, marcou prazo para as alterações nos livros didáticos, em Portugal há um eloquente silêncio quanto às novas regras gramaticais.


O escritor Vasco Graça Moura condena o Acordo, considerando que para os brasileiros é mais fácil a sua implementação. Já para o filólogo João Malaca Casteleiro, que foi companheiro de Antonio Houaiss nas discussões iniciais do projeto de unificação, ‘o ideal teria sido que todos os países lusófonos implantassem as mudanças simultaneamente, o que infelizmente não está acontecendo’.


Os meios culturais de Portugal estimulam uma ‘guerra de palavras’. Só três jornais, dos mais importantes, adotam os novos procedimentos. A explicação é até curiosa: nosso público, dizem eles, não aceitaria de bom grado se aparecesse a palavra exceção sem o p ou espetacular sem o c. ‘Isso retira qualidade estética às palavras’, afirmou um especialista, num evidente exagero. Há um fato positivo, nisso tudo: intelectuais como o acadêmico António Valdemar, que é presidente da Academia Nacional de Belas Artes de Lisboa, são francamente favoráveis à imediata implantação do Acordo Ortográfico. Segundo ele, que também é da Academia das Ciências, ‘quanto mais rápido isso acontecer, melhor será para o destino comum dos povos que têm o privilégio de utilizar a mesma língua de Camões, Fernando Pessoa e Euclides da Cunha’.


ARNALDO NISKIER, 73 , é professor titular de história e filosofia da educação, membro da Academia Brasileira de Letras e presidente do Ciee-RJ.’


 


 


Folha de S. Paulo


‘Vocabulário Ortográfico’ será lançado dia 19 e esclarece dúvidas


‘Uma das principais dúvidas que restava do Acordo Ortográfico, a palavra ‘co-herdeiro’ passa a ser grafada como ‘coerdeiro’. É assim que estará no Volp (‘Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa’), documento que registra a grafia oficial das palavras. A obra será lançada no dia 19 deste mês, de acordo com a ABL (Academia Brasileira de Letras).


Apesar de o texto do Acordo indicar que a palavra deve ser grafada com hífen e a letra h, Evanildo Bechara, coordenador da Comissão de Lexicografia e Lexicologia da ABL e um dos responsáveis pela elaboração do Volp, diz que ‘o Acordo está em desacordo com ele mesmo’.


A explicação dada por ele para a escolha da grafia ‘coerdeiro’ é a de que, antigamente, o prefixo ‘co’ podia levar as duas formas, com e sem hífen, mas que essa regra foi abolida em 1990. ‘Então, prevalece a lição que diz que com o prefixo ‘co’ se faz a aglutinação’, afirma. ‘A academia sistematizou o emprego do ‘co’ facilitando a vida de quem escreve, fazendo com que o ‘co’ seja sempre ligado ao segundo elemento.’


Palavras com os prefixos ‘pre’, ‘pro’ e ‘re’, que não foram incluídos no texto do Acordo, também são aglutinadas. ‘O que o Acordo especificamente não tratou, a filosofia é prevalecer a tradição ortográfica’, diz Bechara. Palavras como reeditar, preencher e reeleição, portanto, continuam com a mesma grafia.


O Volp terá 349.737 palavras. A tiragem inicial será de pelo menos 40 mil exemplares, de acordo com a editora Global. Deverá custar aproximadamente R$ 120.’


 


 


DITADURA
Elio Gaspari


Enfim, uma boa notícia sobre a ditadura


‘DE TANTO MENTIR e de fingir que procura os documentos da ditadura, o governo ficou na posição de se ver condenado mesmo quando faz o certo. O general Jorge Felix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, entregou ao Arquivo Nacional 3.000 páginas com as atas de meio século de vida do falecido Conselho de Segurança Nacional (1934-1988). Nelas há 413 linhas embargadas. Equivalem a oito páginas e acredita-se que protejam transações dos anos 40 e da Guerra das Malvinas, de 1982.


A divulgação das atas do CSN é um grande acontecimento e o embargo de 0,37% do seu conteúdo não configura malfeitoria. Essa é a boa prática. Se um documento tem um trecho que pode comprometer o Estado, embarga-se o trecho, não o documento. Mais: quando isso é feito, identifica-se a instância administrativa que impôs a restrição e conhece-se a identidade do responsável pelo embargo. A liberação gradual é uma forma de transparência, não de censura, até porque sabendo-se onde está o trecho mascarado, pode-se batalhar pela sua exposição.


Um exemplo das virtudes desse sistema pode ser acompanhado na memória do depoimento de maio de 1971 do diretor da CIA, Richard Helms, a uma subcomissão do Senado americano que discutia a ditadura brasileira. O depoimento durou 2 horas e 20 minutos, foi taquigrafado e resultou num cartapácio de 96 páginas. Poucos meses depois, quando a comissão publicou seu relatório, nele havia um registro e esta era sua íntegra: ‘Censurado’.


A transcrição, carimbada como ‘Top Secret’, ficou no cofre da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Em 1987, diante de um pedido formal, 75% do seu conteúdo foi liberado. Graças essa divulgação parcial aprende-se que a CIA apreciava a ditadura e Helms considerava o aparelho repressivo brasileiro uma ‘bagunça’. Sabe-se exatamente onde estão os trechos embargados e quem quiser pode pedir uma revisão das canetadas.


Outro exemplo: em julho de 1962, o presidente John Kennedy recebeu no Salão Oval da Casa Branca o professor Lincoln Gordon, embaixador americano no Brasil. Conversaram durante 28 minutos e nesse encontro decidiu-se incluir o curinga do golpe militar no baralho das intenções americanas em relação ao governo do presidente João Goulart. (Foi o marido da Jackeline, e não o seu sucessor, Lyndon Johnson, quem armou o jogo americano no Brasil.)


Conhece-se a conversa de Kennedy com o embaixador porque o áudio do encontro está liberado, com seis trechos embargados. Eles somam 108 segundos (6,5%). A fita pode ser comprada na Biblioteca Kennedy por US$ 6.


Se perdurasse o choque entre a abertura total e a censura total dos documentos a fita de Kennedy e a transcrição de Helms ficariam no cofre. O radicalismo da liberação integral leva água para quem está mais interessado na treva do que na luz.


Por falar em documentação histórica, Nosso Guia pode prestar um serviço à memória da democracia. Basta proibir os membros da administração pública de tratar assuntos oficiais em endereços eletrônicos particulares. (A governadora Sarah Palin praticava esse truque e deu bolo.) Feito isso, fica entendido que os conteúdos dos discos rígidos da administração pública, inclusive os do Planalto, são propriedade do Estado, a quem compete preservá-los.’


 


 


Folha de S. Paulo


‘Eu sou um produto da dura, a branda não conheci’, diz Dilma


‘A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) criticou ontem o termo ‘ditabranda’ em seminário sobre mulheres no poder. No final da palestra, na qual se definiu como ‘uma mulher dura, cercada por homens meigos’, disse: ‘Sou produto da dura. A branda não conheci’.


‘Muitos ainda chamam a ditadura de ditabranda. Uma inversão absurda da questão relativa a qualquer processo de restrição de liberdade, de prisões. Não interessa se são dois, se são cem, se são mil’, disse ela, sem citar a Folha.


O termo, usado em editorial publicado pela Folha no dia 17 de fevereiro para caracterizar o regime militar brasileiro (1964-1985), recebeu críticas, entre elas as dos professores Maria Victoria Benevides e Fábio Konder Comparato.


Em nota publicada no domingo, o diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, avaliou que o jornal errou ao usar a expressão ‘ditabranda’, mas reiterou sua crítica à indignação seletiva de intelectuais de esquerda em relação a regimes autoritários.


‘Para se arvorar em tutores do comportamento democrático alheio, falta a esses democratas de fachada mostrar que repudiam, com o mesmo furor inquisitorial, os métodos das ditaduras de esquerda com as quais simpatizam’, afirma o texto do diretor de Redação.


Dilma disse que durante a ditadura foram reprimidas manifestações culturais, sendo preciso levar em conta não apenas ‘o aspecto da tortura e da morte, [mas] também o aspecto da restrição absoluta à liberdade’.


A ministra lembrou que, durante o regime militar, houve tratamento indiscriminado a homens e mulheres no quesito repressão. ‘A violência que bate em Pedro, bate em Maria. Basicamente foi isso que aconteceu.’


Dilma militou em organizações da luta armada a partir dos anos 60, foi presa em 1970 e torturada.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Ao corte


‘O PIB ficou para trás e o destaque nas buscas de Brasil por Google News e Yahoo News, ontem, foi a Bovespa. Nos despachos de Dow Jones e Bloomberg, que encabeçaram a cobertura, a queda da produção do país no quarto trimestre ‘aponta corte’ ou leva à ‘especulação de corte’ nos juros, daí a corrida às ações, noticiada sem destaque por aqui.


CHINA & BRASIL


E prosseguem as análises apresentando China e Brasil como as melhores opções para investimento, no mundo em crise. Se nos dias anteriores os textos descolavam ambos dos outros Brics, agora o contraste é com os EUA.


‘Ações chinesas e brasileiras devem emergir com forte desempenho em 2009’, avalia a Reuters, de Nova York. ‘Já são as maiores surpresas do ano, batendo significativamente os índices americanos’. A ‘Time’ também foi por aí, sublinhando a declaração de Mohamed El-Erian, que dirige o Pimco, dado como maior fundo de ações do mundo, sustentando que ‘o otimismo vem do fato de que eles entraram nesta crise global em melhores condições iniciais’.


Já o site financeiro Zacks comparou, usando gráficos, os bons desempenhos das Bolsas de Xangai e São Paulo com os de Bolsas de Europa e EUA.


CAI, CAI


Aqui, a queda na produção foi manchete desde a manhã, com ‘PIB cai 3,6% no último trimestre e cresce 5,1% no ano’, na Agência Brasil, até a noite, com uma dramática escalada do ‘Jornal Nacional’:


– A economia sofre um baque. Um encolhimento de 3,6% no quarto trimestre. É o pior resultado dos últimos 13 anos. E supera as mais graves previsões dos efeitos da crise internacional no Brasil. Ainda assim, o ano fechou com crescimento de mais de 5%. E o governo afirma que não haverá recessão em 2009.


Dilma Rousseff, adiantando-se ao ministro da Fazenda e ao presidente do Banco Central, atribuiu o desempenho, como eles, à desova de estoques. E prometeu ‘retomada maior no segundo semestre’.


NÃO CRESCE 4%


Aqui e ali, no correr da cobertura, manchete para o ministro Guido Mantega, que ‘muda meta e diz que PIB não vai crescer 4%’, no enunciado do portal UOL.


NÃO É IMUNE


E manchete também para Henrique Meirelles, segundo quem o resultado mostra que o país ‘não está imune’, no Terra. Dos juros, para hoje, sinal nenhum.


CÚPULA DE MILIONÁRIOS


No alto da home page do espanhol ‘El País’, ontem, ‘Cúpula de milionários na Colômbia’, mais a explicação ‘Os homens mais ricos da América Latina se reúnem com as suas famílias na cidade de Cartagena para analisar o impacto da crise em seus negócios’. Abrindo o texto, ‘poucas vezes o aeroporto de Cartagena viu aterrissar tanto avião privado’.


De início, ‘pretendia-se manter em segredo os nomes dos 15 magnatas’, mas vazou. O anfitrião é o colombiano Julio Santo Domingo. Entre os presentes, ‘o venezuelano Gustavo Cisneros, os argentinos Paolo Rocca, Federico Braun e Alfredo Román e os chilenos Andrónico Luksic e Alvaro Saieh. Também estão os brasileiros João Roberto Marinho, David Feffer e Antonio Moreira Salles’.


MURDOCH COMPRA


Em meio à crise financeira e da imprensa americana, o ‘New York Observer’ deu ontem que Rupert Murdoch comprou mais um jornal na cidade de Nova York, ‘The Brooklyn Paper’.


JORNAL NOVO


E o site Comunique-se deu que deve ser lançado no mês que vem, para distribuição na cidade de São Paulo, o diário ‘Placar’, com a contratação de uma pequena redação e tiragem de 80 mil.


BRASIL SOCIAL


O Nielsen levantou que sites sociais e blogs já são mais populares, hoje no mundo, do que a troca de e-mails, só perdendo para as categorias pesquisa, portais e software. E o Brasil, destacam ‘Guardian’ e outros, tem ‘a maior penetração de visitas a redes sociais e blogs, com 80% da audiência’. Só no Orkut, 70%.’


 


 


INTERNET
Rafael Capanema


WWW, 20


‘Autores de grandes invenções nem sempre se dão conta imediatamente da importância daquilo que criaram.


Durante a concepção da WWW, que comemora 20 anos neste mês, Tim Berners-Lee e Robert Cailliau imaginavam que ela atingiria a onipresença de que desfruta hoje?


‘Sim, senão não a teríamos chamado de World Wide Web [rede mundial] antes mesmo de ter qualquer código em funcionamento’, responde Cailliau à Folha.


Cailliau é o cientista computacional belga que auxiliou o colega inglês Tim Berners-Lee na audaciosa empreitada.


A web nasceu na Suíça, no laboratório onde trabalhavam os dois cientistas, a Cern (Organização Europeia de Pesquisa Nuclear) -centro responsável também pelo LHC (Grande Colisor de Hádrons).


Em março de 1989, Berners-Lee escreveu ‘Information Management: A Proposal’ (gerenciamento de informação: uma proposta), em que apresentava sua ideia: um conjunto de documentos de hipertexto interligados, acessíveis pela internet. Coautor da proposta, Cailliau atuou para viabilizar o projeto dentro da instituição e angariar recursos para seu desenvolvimento.


É comum a confusão entre internet e World Wide Web, que não são a mesma coisa. Sistema global de comunicação de dados, a internet remonta à década de 1960 e tem a WWW como um de seus serviços.


Por meio de páginas interligadas, que combinam texto e imagem, a WWW democratizou o acesso à internet, antes restrito ao círculo acadêmico.


Em fins de 1990, Berners-Lee já tinha desenvolvido todas as ferramentas necessárias para o funcionamento da rede: o protocolo HTTP (HyperText Transfer Protocol), a linguagem HTML (HyperText Markup Language), o primeiro software de servidor HTTP, o primeiro navegador (chamado WorldWideWeb) e, ainda, as primeiras páginas -blocos ainda rústicos de textos e links, que explicavam o funcionamento da própria WWW.


Mas a popularização da web só se consolidou em 1993, com o lançamento da versão 1.0 do navegador Mosaic, criado pelo estudante de computação norte-americano Marc Andreessen. O programa inovou por ser totalmente gráfico, tornando a navegação na rede mais amigável e acessível.


Em 1994, o Mosaic virou software comercial e foi rebatizado como Netscape Navigator. O programa foi líder absoluto do mercado até ser esmagado pelo concorrente Internet Explorer, da Microsoft, durante a guerra dos navegadores.


Para organizar a quantidade de informação na rede em crescimento vertiginoso, surgiram diretórios de sites e mecanismos de pesquisa como Yahoo! e Altavista -que foram suplantados, mais tarde, pelo Google, cujo nome deixou de ser sinônimo de buscador eficiente para representar a hoje gigante empresa que oferece uma vasta gama de serviços on-line.


Em meados da década de 1990, o Brasil plantava suas primeiras sementes na rede, com o lançamento de sites como o portal UOL, do Grupo Folha, e o buscador Cadê?.


Quando ficou evidente o potencial de geração de lucro na web, foram investidos milhões de dólares em sites supostamente promissores. Mais tarde, porém, boa parte deles mostrou-se inviável economicamente. O fenômeno gerou perdas igualmente milionárias, na chamada bolha do pontocom, que estourou em 2000.


Web 2.0


Na esteira do novo milênio, nasceram termos como ‘conteúdo gerado pelo usuário’ e ‘web 2.0’. Os blogs facilitaram a criação e disseminação de conteúdo por qualquer pessoa, e explodiram em popularidade redes sociais como Facebook e sites colaborativos emblemáticos, como a enciclopédia Wikipédia e o YouTube, que fez os vídeos se propagarem na rede.


E conteúdo gerado pelo usuário, afinal, era a intenção original de Berners-Lee e Cailliau, cuja invenção será celebrada nesta sexta-feira, na Cern, em evento que terá palestras do próprio Berners-Lee e de outros protagonistas da história da World Wide Web.’


 


 


Folha de S. Paulo


Site vai explorar buscas, diz cofundador


‘O microblog Twitter vai se transformar também em um buscador que mostra os temas emergentes, na rede, em tempo real.


Além disso, será usado como serviço de perguntas e respostas, aos moldes do Yahoo! Answers -a audiência desse tipo de site cresceu 108% em 2008, segundo o Hitwise.


Os planos foram contados por Biz Stone, cofundador do site, ao Advertising Age. O site sobre publicidade avalia que, para obter sucesso, o Twitter terá que ser adotado por uma audiência maior do que a atual, composta principalmente por ‘jornalistas e especialistas em mídia social’.’


 


 


Folha de S. Paulo


Por criticar política de segurança do Rio em blog, coronel da PM é preso


‘O coronel da PM do Rio Ronaldo Antonio de Menezes, 54, começou a cumprir ontem quatro dias de prisão disciplinar por publicar um artigo no blog de um colega de farda -a punição foi determinada pelo comando-geral da corporação.


Integrante de um movimento que exigia melhores condições de trabalho para os policiais, ele publicou em maio de 2008 uma série de críticas à atual política de segurança pública carioca.


Em nota, a assessoria de imprensa da PM informa que ‘o fato consistiu uma transgressão da disciplina militar’. O artigo reclamava da baixa remuneração aos policiais. Dono do blog, o coronel Paulo Ricardo Paúl diz que o governo interpretou erroneamente os atos do intitulado movimento. Menezes não se manifestou.’


 


 


CORINTHIANS
Folha de S. Paulo


Time terá camisa limpa e arquibancadas lotadas


‘A possível primeira vez de Ronaldo como titular do Corinthians pode acontecer com casa cheia e camisa limpa.


Depois de utilizar patrocinadores no peito, nas mangas e na parte de trás da camisa e do calção no clássico contra o Palmeiras, o time alvinegro volta a ter hoje, diante do São Caetano, uniforme sem propaganda.


Segundo o departamento de marketing corintiano, o clube foi procurado por empresas interessadas em estampar sua marca na camisa na partida de hoje, mas não houve acordo.


‘Vários interessados nos procuraram, mas ninguém nos ofereceu valores tão altos quanto os pagos no clássico’, disse Caio Campos, gerente de marketing do Corinthians.


No jogo do último domingo, o clube arrecadou mais de R$ 500 mil só em propaganda de três empresas no uniforme.


Em compensação, os corintianos deverão ter uma boa renda contra o São Caetano.


Até ontem, 27 mil ingressos haviam sido vendidos -de um total de 37 mil à venda. Apenas os lugares mais caros no estádio ainda estão disponíveis hoje nos pontos-de-venda. Sobraram bilhetes para cadeiras do setor laranja (R$ 70), numeradas descobertas (R$ 100) e para a área VIP (R$ 150).’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


‘Big Brother’ cresce 55% e fatura R$ 280 mi


‘A Globo irá faturar neste ano R$ 280 milhões com ‘Big Brother Brasil’. O reality show, maior fenômeno comercial da temporada, irá render à emissora R$ 100 milhões a mais do que em 2008, um crescimento de 55%, recorde histórico.


O desempenho de ‘BBB’ é superior a todo o faturamento anual da Rede TV!, segundo estimativas. Só com o programa, a Globo arrecada quase um terço de toda a receita da Record ou do SBT na Grande São Paulo.


‘BBB’ está entre os dez maiores faturamentos, lista em que as novelas lideram com folga. Mas, diferentemente das novelas, que têm quatro intervalos e são diárias, ‘BBB’ é trimestral e, em alguns dias, como as quartas, não tem comerciais.


Neste ano, todos os intervalos de ‘BBB’ já estavam vendidos logo após a estreia, em janeiro. A Globo, então, prorrogou o programa por mais uma semana. Sua final foi transferida de 31 de março para 7 de abril. Isso não foi suficiente para atender à demanda. A Globo teve que criar uma edição especial numa quarta, 1º de abril, com intervalos comerciais.


Apesar de registrar uma das menores audiências da história do reality, ‘BBB 9’ atrai anunciantes interessados principalmente em fazer merchandising. Quase todas as provas de líder e de anjo tiveram patrocínio. Esse tipo de merchandising é bem visto no mercado, porque não atrapalha o desenvolvimento do programa.


DIVIDIDA 1


A pedido da Uefa, a confederação de futebol da Europa, a Globo fez uma proposta pelos direitos da Copa dos Campeões, atualmente na Record.


DIVIDIDA 2


Segundo Marcelo de Campos Pinto, executivo da Globo que negocia direitos de futebol, a proposta da emissora não prevê exclusividade. A Globo só tem interesse em jogos de clubes populares (como Manchester United e Real Madrid) e às 15h30 de Brasília. Jogos das 16h30 não interessam, porque atrapalham sua grade.


GORDURA


O primeiro gol de Ronaldo no Corinthians foi bom também para Milton Neves. O ‘Terceiro Tempo’, agora às 18h dos domingos, rendeu 5 pontos, seu melhor desempenho na Band.


CONCURSO


O SBT grava sexta pilotos do ‘Casos de Família’ com Olga Bongiovanni, Claudete Troiano, Christina Rocha e Márcia Dutra (ex-Cultura). A partir deles, Silvio Santos escolherá a nova apresentadora da atração.


LIMPEZA


A Record está trocando os profissionais de sua área de esporte, agora sob o comando do diretor de jornalismo, Douglas Tavolaro. Para não chamar a atenção, as demissões acontecem a cada dois ou três dias.


BOICOTE


Blogueiros estão em campanha por boicote à Globo nesta sexta. Protestam contra o fato de a Globo ter obrigado a TV Diário, de Fortaleza, a tirar seu sinal das parabólicas. A Globo diz que fez isso para ‘harmonizar’ as relações entre afiliadas.’


 


 


Fernanda Ezabella


Oprah faz reality show de ‘generosos’


‘Oprah Winfrey, a poderosa apresentadora de TV norte-americana, resolveu fazer seu próprio reality show, desta vez agrupando pessoas ditas generosas para ajudar os necessitados da América. Os dez concorrentes escolhidos para participar de ‘O Presente de Oprah’ esbarram nos estereótipos dos programas populares, mas não muito. Estão lá uma cantora, uma miss, um pesquisador, um garoto prodígio e uma cadeirante.


No episódio de estreia, Oprah passa a primeira missão. Ela entrega envelopes fechados com foto e nome dos que necessitam ajuda, e os participantes têm cinco dias para ir atrás delas, saber sua história e arrecadar as doações. Quem conseguir mais dinheiro, ganha. O que eles não sabem, diz Oprah, mas devem imaginar, é claro, é que a apresentadora guarda um prêmio de US$ 1 milhão para quem chegar ao final, ou seja, arrecadar mais. No corpo de jurados, estão o chef Jamie Oliver e Malaak Compton-Rock, que dirige sua própria fundação de caridade.


Outros famosos, como Jennifer Aniston e John Travolta, fazem participações especiais. ‘O Presente de Oprah’, com oito episódios de uma hora cada, roda os Estados Unidos e traz muito drama e choro, como os programas de auditório de Oprah.


O PRESENTE DE OPRAH


Quando: amanhã, às 21h


Onde: People+Arts


Classificação: 14 anos’


 


 


Folha de S. Paulo


Michael J. Fox faz programa sobre otimismo


‘O ator Michael J. Fox vai estrelar um programa de uma hora da ABC sobre otimismo, que vai ao ar nos Estados Unidos em maio. ‘Michael J. Fox: Adventures of an Incurable Optimist’ mostrará o ator de ‘De Volta para o Futuro’ viajando ao Oriente e também na posse de Barack Obama. Fox foi diagnosticado com o mal de Parkinson nos anos 90 e parou de atuar em 2000.’


 


 


IMAGEM
Silas Martí


Fotógrafos Pirelli se dividem entre documental e experimentações


‘É intenso o azul do céu e o dourado da cerveja no copo americano. A gordura transborda dos biquínis baratos -é um dia de praia qualquer na periferia de Recife, mas o tratamento é de ensaio da ‘Vogue’. Nessa encruzilhada entre documental e formalista, a fotógrafa Bárbara Wagner resume as duas vertentes das 80 fotografias da Coleção Pirelli, que o Masp expõe a partir de hoje, oscilando entre registros objetivos da realidade e experimentações um pouco mais ousadas. ‘Ela explode a cor, estoura o flash na luz do dia para fazer uma coleção de flagrantes’, diz o curador da mostra, Rubens Fernandes Júnior, 58, sobre Wagner. ‘É um trabalho novo.’


Na linha flagrantes, também entram para a coleção cinco instantâneos de Vania Toledo, famosa por seus registros da ‘beautiful people’ no Rio, em São Paulo e Nova York. Estão lá uma modelo nua, Gal Costa, Rodolfo Scarpa, o estilista Marquito e Fernanda Montenegro.


‘Meu trabalho tem isso de não ser invasivo, de ser cool, registrar um momento bacana e ponto’, diz Toledo, 58. ‘É fotojornalismo social e pessoal.’ Também pessoal é o olhar de Bob Wolfenson sobre o parque industrial de Cubatão, entre São Paulo e o mar. São memórias de infância dessa ‘antinatureza’ que ele tenta traduzir numa série de imagens. ‘Aquele era um lugar de passagem, que me aterrorizava e me capturava’, lembra Wolfenson, 54. Essa atração e repulsa pela paisagem aparece nas obras -mais experimentais- de outros fotógrafos, muitos de fora do eixo Rio-SP, uma prioridade dos curadores desta edição.


Enquanto o paranaense Rogério Ghomes carrega nas cores do horizonte marítimo, dando pegada expressionista ao que poderia parecer banal, o mineiro José Faria recorre a colagens e múltiplas exposições. Sem grandes ambições formais, senão o preto-e-branco em alto contraste, André François mostra a rotina de hospitais na Amazônia, trabalho que terá uma sala especial no Masp.


Em contraponto, uma espécie de núcleo histórico da coleção reúne imagens da Salvador clássica de Voltaire Fraga e do Rio bossa-novista de Milan Alram, que flagrou Helô Pinheiro, a garota de Ipanema, prestes a passar seu bronzeador.


COLEÇÃO PIRELLI


Quando: abertura hoje, às 19h30; de ter. a dom., das 11h às 18h, qui., das 11h às 20h; até 3/5


Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 0/xx/11/3251-5644)


Quanto: R$ 15 (grátis às terças)’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 11 de março de 2009


 


CATIVEIRO
Juan Forero, The Washington Post, Bogotá


Revelações de ex-reféns das Farc viram best seller


‘Num livro intitulado Out of Captivity (fora do cativeiro, na tradução literal), três americanos escrevem que os rebeldes dar Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) os mantiveram acorrentados pelo pescoço durante os cinco anos em que foram prisioneiros e revelam tensões que surgiam entre eles e os outros reféns.


Outro ex-refém, Fernando Araújo, narra em seu livro a angústia de encontrar a mulher com outro homem depois da fuga das garras dos guerrilheiros.


Luis Eladio Pérez conta que, durante os anos em que permaneceu prisioneiro dos rebeldes, deu-se conta de que, quando político, deixou-se absorver excessivamente por seus próprios interesses. Lucy Artunduaga, cujo marido foi refém, escreve que ficou sabendo de que ele se apaixonara por outra prisioneira durante os seis anos de cativeiro. E a Colômbia aguarda ansiosamente o que Ingrid Betancourt, a política franco-colombiana e a mais famosa de todos os reféns, dirá em um livro cuja publicação é esperada para o segundo semestre deste ano.


Atualmente, as livrarias na Colômbia estão repletas de histórias de ex-reféns que expõem em detalhes como conseguiram sobreviver às marchas forçadas, aos bombardeios militares, aos parasitas que grassam na selva e aos maus-tratos infligidos por guardas sádicos.


Alguns autores, entretanto, foram mais fundo, explorando a própria fragilidade em condições terríveis de vida ou contando o inevitável drama humano que se desenrolava na selva, desde a rivalidade em prisões improvisadas aos romances que nascem entre alguns reféns.


Os livros geraram uma onda de controvérsias num país em que as pessoas tendem a evitar a divulgação de questões íntimas. Alguns – colunistas de jornais, apresentadores de programas de rádio e os ex-reféns mais discretos – criticaram energicamente a tendência.


‘Não se entende muito bem o que se pretende com a avalanche de revelações que, às vezes, parecem questionar o comportamento das vítimas de um flagelo em vez de apontar o dedo para os que perpetraram este crime’, disse o principal jornal colombiano, El Tiempo, num editorial. ‘Esse triste espetáculo deveria acabar.’


No entanto, os leitores ficam fascinados – e os livros vendem rapidamente.


Refém das Farc durante sete anos, de Pérez, um ex-congressista, vendeu 27 mil exemplares – num país em que vender 3 mil é considerado um sucesso. Os militares colombianos divulgaram seu relato da astuciosa operação que libertou os americanos e 12 outros reféns em julho passado. Até o embaixador de Cuba na Venezuela, Germán Sánchez, escreveu um livro sobre a saga dos reféns (com um prefácio de Fidel Castro).


Na década atual, as Farc passaram a sequestrar personalidades de destaque para usá-las como elementos de barganha política em suas negociações com o governo.


Livros como Minha fuga para a liberdade, de John Frank Pinchao, vendem bem por causa do clima de aventura que exploram.


Depois de ficar no cativeiro por mais de seis anos, numa noite, o ex-policial Pinchao fugiu do acampamento onde era mantido refém durante uma tempestade e se deixou levar para a liberdade pela correnteza de um rio.’


 


 


DOCUMENTÁRIO
Clarissa Thomé


Histórias de mulheres no Alemão viram filme


‘A fotógrafa e documentarista Dafne Capella passou dois meses convivendo com mulheres do Complexo do Alemão, conjunto de favelas na zona norte do Rio marcado pela guerra entre policiais e traficantes. Ouviu a história de mulheres que cresceram ali, outras que conseguiram se mudar, mas ainda trabalham no morro – e dramas como o da mãe que teve o filho atingido por bala perdida, preso como traficante e que acabou recebendo pedido de desculpas judiciário, após provar ser inocente. O resultado é o documentário Elas da Favela, que está sendo distribuído na Europa pela Anistia Internacional.


‘Encontrei mulheres guerreiras, pessoas muito dignas, que se esforçam para garantir educação para os filhos, para evitar que se envolvam com o tráfico.’ O fio condutor do Elas da Favela são duas líderes comunitárias – Lúcia Cabral, de 42 anos, e Renata Trajano, de 29.


As duas enfrentam escadarias íngremes e entram em becos para apresentar as mulheres do Alemão. Entre elas está a doméstica Josicleide Urbano, de 42. Ela conta que, certa vez, ao chegar do trabalho em dia de tiroteio, entrou pelas vielas, apesar da ordem dos policiais de descer o morro. Quando chegou em casa, viu o filho Ivo, de 17 anos, desmaiado, atingido por um tiro no braço. ‘Dos oito dias em que ficou preso, dois foram em delegacia. Meu filho era inocente e estava no meio de adultos criminosos.’ Hoje, Ivo não fala sobre o assunto nem deixa que toquem no braço. ‘Fiz questão que ele fosse receber o pedido de desculpa por escrito.’


O documentário não trata apenas da violência. Bruna, filha de Lúcia, aparece aos 18 anos, grávida. A mãe é filmada distribuindo camisinhas como bolsista do projeto de saúde sexual da Fundação Ford. ‘Minha filha tem informação, acesso ao preservativo, mas quis engravidar. Não adianta ter informação se é o desejo da pessoa.’


Dafne foi convidada pelo deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, para fazer uma série de documentários. Elas da Favela foi o primeiro. ‘A intenção é que o documentário seja apresentado antes de debates, em escolas, associações’, diz Dafne.


Os próximos trabalhos serão sobre o sistema educacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) e o processo eleitoral.’


 


 


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Jornal Nacional perde 28% de ibope em uma década


‘Na soma dos meses de janeiro e fevereiro deste ano, o Jornal Nacional teve a menor audiência de sua história. A considerar apenas o share, índice que mede a sintonia do programa só no universo de TVs ligadas, o JN caiu de 53,5% em 2000 para 47,3% na média dos dois primeiros meses do ano, segundo o Ibope da Grande São Paulo.


Em índices absolutos, a queda foi de 11 pontos porcentuais (39,3 em jan/fev de 2000 para 28,3 em jan/fev de 2009) – a baixa aí é maior que no share, escancarando que a Globo perdeu audiência, sim, mas o número de televisores ligados também despencou em uma década. Seja para a concorrência ou para o botão Power, o JN perdeu 28% de público de uma ponta a outra, sempre tendo a média de janeiro e fevereiro como base.


No diagnóstico da Globo, sem menosprezar o surgimento de novas mídias) há inevitável interferência da novela das 7 no ibope do noticiário. A Central Globo de Comunicação (CGCom) argumenta que em 2006, quando o ibope do JN sofreu uma baixa ( janeiro, isoladamente, obteve menos que janeiro de 2009), a novela das 7 também apresentava queda. ‘A exceção é janeiro de 2003, quando, apesar de ter uma novela das 7 com desempenho baixo – tivemos a posse e o primeiro mês do governo Lula, saído de uma eleição emocionante e histórica, o que naturalmente canalizou todas as atenções para a cobertura das notícias do planalto.’


A emissora informa ainda que está habituada a enfrentar oscilações e vencer: ‘ jamais deixamos de ser líder’. Ressalta ainda que no PNT (Painel Nacional de TV do Ibope) o share do Jornal Nacional nunca foi inferior a 53%. ‘A meta de audiência dos programas da TV Globo é de sempre obter uma participação nos número de aparelhos ligados próxima dos 50%.’’


 


 


 


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