Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Estado de S. Paulo

‘O presidente Lula parece ter sido, no governo e no PT, quem respondeu desde logo da melhor maneira à reportagem do correspondente do New York Times no Brasil, Larry Rother, publicada domingo sob o título Brazilian Leader’s Tippling Becomes National Concern (Hábito de beber do líder brasileiro torna-se preocupação nacional). Na véspera, ao ser informado da matéria, que já podia ser lida na edição eletrônica do jornal, o presidente aconselhou moderação. ‘A gente não reage contra esse tipo de coisa com precipitação, com o fígado’, disse ele ao secretário particular, Gilberto Carvalho.

O conselho não surtiu efeito. O Planalto divulgou uma extensa nota de protesto, desnecessariamente agressiva, registrando a ‘profunda indignação’ do governo, como se a reportagem significasse um ato de hostilidade pessoal ao presidente e uma agressão ao País. O resgate da reputação do chefe do Estado brasileiro – se é que ela precisava ser resgatada — estaria melhor atendido por uma manifestação de protesto cuja serenidade falasse por si.

Mais destoantes ainda da moderação recomendada por Lula foram as constrangedoras declarações do titular da Secretaria de Comunicação, Luiz Gushiken, e do presidente do PT, José Genoino. Segundo o ministro, a reportagem ‘pode estar a serviço de posturas de governos centrais que desprezam a soberania alheia, buscam interferir em questões internas e tentam impor uma visão unilateral sobre questões que, num mundo cada vez mais complexo, exigem outra ótica de solução para os conflitos’. Ou seja, segundo essa teoria conspiratória, o New York Times publicou uma matéria desabonadora sobre Lula para colaborar com o supremacismo do governo Bush.

Na mesma linha desse verborrágico nonsense, que vincula o Times e um governo que não se suportam, o dirigente petista disse que a reportagem mostra ‘a retomada da política de preconceito e maldade de um veículo de porte internacional’. Não está claro por que o jornal teria sofrido essa imaginária recaída, mas está claro que os homens do presidente brasileiro estão sempre prontos a atribuir as críticas a ele a um preconceito motivado por suas origens sociais. Também a nota do Planalto menciona ‘afirmações preconceituosas’ contra Lula. E na própria matéria do jornal americano porta-vozes do presidente contestam as especulações de que ela trata como ‘um misto de preconceito, desinformação e má-fé’.

A tese do preconceito, ao menos nesse caso, é tão contestável como diversas passagens do artigo. Para começar, a reportagem não demonstra a alegada ‘preocupação nacional’ com o que a nota do governo chamaria ‘hábitos sociais’ do presidente e que seriam idênticos aos ‘da média dos cidadãos brasileiros’. Não cita um episódio concreto em que o desempenho de Lula tenha sido afetado por seu ‘consumo de álcool’. E não comprova a apontada relação de causa e efeito entre isso e as gaffes que comete nos seus improvisos, várias das quais reproduzidas no texto.

Além disso, não é verdade que, ‘sempre que possível, a imprensa brasileira publica fotos do presidente com os olhos injetados e as faces avermelhadas’.

Tampouco a imprensa ‘constantemente faz referência tanto aos churrascos de fim de semana nos quais o álcool corre solto quanto aos eventos de Estado em que Mr. da Silva nunca parece estar sem um drinque na mão’. Os churrascos e os eventos públicos com a presença do presidente aparecem na mídia não pelo que neles se consuma, mas quando são notícia. Por fim, a matéria é vulnerável por recorrer, entre outras, a ‘fontes obscuras e de nenhuma confiabilidade’, como as classifica a nota do Planalto, sem nomear o sr. Leonel Brizola.

De todo modo, sejam quais forem as falhas e eventuais maldades da reportagem, o essencial é que ela não se distingue de todas quantas seguem a tradição do jornalismo americano de vasculhar a vida íntima dos governantes – que o diga o ex-presidente Clinton. Desacostumados disso no Brasil, assessores palacianos e políticos petistas investiram furiosamente contra a publicação sem entender a peculiar cultura jornalística que lhe deu origem.

Nos Estados Unidos, como na Inglaterra e muitos outros países, a mídia parte do princípio de que figuras públicas têm escasso – ou nenhum – direito à privacidade. E, quanto ao tipo de bisbilhotice que atingiu Lula, ele está em boa companhia na história: afinal, todo mundo sabe – porque a mídia contava – que Winston Churchill não moderou seu ‘hábito social’ nem um dia enquanto conduzia a Inglaterra à vitória na 2.ª Guerra Mundial. Se reconhecesse essa realidade, o governo Lula não teria reagido ‘com o fígado’.’

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‘A Íntegra da Nota’, copyright O Estado de S. Paulo, 10/05/04

‘Esta é a íntegra da nota oficial, divulgada ontem pela Presidência da República:

‘O governo brasileiro recebeu com profunda indignação a reportagem caluniosa sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicada hoje pelo jornal norte-americano The New York Times. O correspondente dessa conceituada publicação no Brasil simplesmente inventou uma suposta ‘preocupação nacional’ com hábitos do presidente da República para dar vazão a um amontoado de afirmações ofensivas e preconceituosas contra o chefe do Estado brasileiro, boa parte delas pinçadas em fontes obscuras e de nenhuma confiabilidade.

O resultado final é um texto digno da pior espécie de jornalismo, o marrom.

Por isso, causou-nos surpresa que o tradicional The New York Times tenha acolhido peça tão destituída de fundamento e ao arrepio das mais elementares normas da ética jornalística.

O embaixador brasileiro em Washington já foi orientado a entrar em contato com a publicação com vistas a transmitir a indignação e a surpresa do governo brasileiro pela veiculação de insultos gratuitos ao presidente da República.

O presidente Lula conduz-se na Presidência da República com absoluta, extenuante e responsável dedicação aos problemas do País. A jornada de trabalho do presidente amiúde se estende por mais de 12 horas, como é fácil comprovar por todos os que acompanham a rotina do Palácio do Planalto, o que inclui os jornalistas lotados no Comitê de Imprensa da Presidência da República. O presidente acompanha pessoalmente os principais programas do governo e, como não poderia deixar de ser, comanda todas as grandes decisões do Poder Executivo. Todo o Brasil é testemunha do grau de responsabilidade e seriedade com que o governo do presidente Lula tem conduzido os difíceis problemas do País desde que tomou posse há um ano e quatro meses.

Os hábitos sociais do presidente são moderados e em nada diferem da média dos cidadãos brasileiros. Apenas o preconceito e a falta de ética podem explicar essa tentativa esdrúxula de colocar em dúvida o profundo compromisso com as instituições e a credibilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo brasileiro estudará as medidas cabíveis para a defesa da honra do presidente da República e da imagem do Brasil no Exterior.’’



Jornal do Brasil

‘Imprensa Marrom’, Editorial, copyright Jornal do Brasil, 11/05/04

‘A reportagem publicada no domingo pelo jornal americano The New York Times sobre supostos excessos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um caso exemplar de jornalismo irresponsável. O texto, assinado pelo correspondente da publicação no Rio de Janeiro, é uma desconcertante salada que junta fatos irrelevantes, rumores, anedotas populares, trechos pinçados de artigos provocadores, histórias inverossímeis e declarações de adversários historicamente avessos a compromissos com a seriedade.

Disso resultam uma leviandade e uma rematada bobagem. É leviano qualificar Lula de alcoólatra, embora o presidente não cultive o hábito da completa abstinência. É pura sandice alardear, como fez o confuso correspondente, que há uma ‘preocupação nacional’ em torno disso. Se não existe causa, não poderia haver conseqüência. É um exemplo irretocável, portanto, do ‘pior tipo de jornalismo marrom’.

A expressão foi corretamente usada na nota oficial emitida pelo governo brasileiro. Errada foi a idéia de responder em tom solene a algo que não merecia ganhar tamanha importância. A reportagem parece escrita por um viajante apressado, incapaz de apurar se o presidente Jânio Quadros governou menos de 30 dias, como aparece no texto, ou renunciou depois de sete meses, como ocorreu. O Planalto fez de uma questão menor um problema real.

O governo já têm problemas suficientes a ocupá-lo. Para complicar o quadro, o sistema político brasileiro transforma o presidente num indivíduo que influencia fortemente a vida da população. O presidente espirra? A democracia deve estar com gripe.

Para dirimir preocupações nacionais, o governo deve resolver agudas demandas econômicas e sociais. A reportagem do NYT nem trata dessas questões. É apenas um insulto a replicar. Lembra conversa de bêbado. Deve ser repelida com sobriedade.’

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‘Planalto reage a artigo do ‘The New York Times’’, copyright Jornal do Brasil, 10/05/04

‘O Palácio do Planalto divulgou, ontem, nota condenando artigo do jornal americano The New York Times sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Afirmou que o diário praticou ‘o pior tipo de jornalismo marrom’ ao veicular matéria com ‘insultos gratuitos contra o presidente’. Sob o título ‘Hábito de bebericar vira preocupação nacional’, o artigo publicado na edição de domingo afirmava que inclinação de Lula ao álcool poderia estar atrapalhando seu desempenho na Presidência da República.

Em nota, o governo brasileiro classificou o artigo de ‘calunioso’ e criticou o correspondente brasileiro do diário americano, Larry Rohter, responsável pelo texto. Afirmou que o autor ‘inventou suposta preocupação com os hábitos do presidente para dar vazão a um amontoado de afirmações ofensivas e preconceituosas contra Lula’.

O comunicado do governo brasileiro acusou o jornal de ter pinçado informações com fontes ‘obscuras e de nenhuma confiabilidade’.

‘O resultado final é um texto digno da pior espécie de jornalismo, o marrom. Por isso, causou-nos surpresa que o tradicional The New York Times tenha acolhido peça tão destituída de fundamento e ao arrepio das mais elementares normas da ética jornalística’, diz a nota.

Assinada pelo porta-voz da Presidência, André Singer, a nota também sai em defesa de Lula e destaca a responsabilidade com que Lula governa o país. ‘A jornada de trabalho do presidente amiúde se estende por mais de 12 horas, como é fácil comprovar por todos os que acompanham a rotina do Planalto’, justifica.

O Planalto ressaltou que os ‘hábitos sociais do presidente são moderados e em nada diferem da média dos brasileiros’. Afirmou que apenas o preconceito e a falta de ética podem explicar essa tentativa ‘esdrúxula de colocar em dúvida o compromisso com as instituições e a credibilidade de Lula’.

Conclui dizendo que o governo estuda medidas cabíveis para a defesa da honra de Lula e da imagem do Brasil no exterior. Enquanto não decide que procedimento adotar, o embaixador brasileiro em Washington foi encarregado de transmitir à direção do diário a indignação do governo com o artigo.

Ministro responsável pela Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, que, em solenidade com jornalistas no fim do ano passado criticou a imprensa brasileira, afirmou ontem ao JB que o Planalto ficou ‘perplexo e indignado’ com o texto ‘cheio de ilações, que desqualificam a seriedade’ do jornal.

– O artigo aponta uma irresponsabilidade do jornalista e do próprio jornal, principalmente porque trata com desrespeito a instituição da Presidência da República. Agride o jornalismo honesto e responsável.

Gushiken lembrou que Lula foi considerado ‘um dos homens mais influentes do mundo’ e desfruta de uma imagem sólida no exterior. Afirmou que a Advocacia-Geral da União avalia se há sustentação jurídica para processar o jornal americano ou o autor.’



Tribuna da Imprensa

‘Governistas e oposição reagem à reportagem ofensiva a Lula’, copyright Tribuna da Imprensa, 10/05/04

‘O governo brasileiro reagiu formalmente ontem condenando a reportagem publicada pelo jornal americano ‘The New York Times’ na qual afirma que um suposto uso excessivo de bebidas alcoólicas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem prejudicado o desempenho de Lula no governo. A nota assinada pelo porta-voz, André Singer, considera a reportagem caluniosa e difamatória.

Informado na noite de sábado sobre o teor da matéria, Lula pediu a sua equipe uma análise detalhada do texto de Larry Rohter, correspondente do jornal no Brasil, antes de definir qual o procedimento jurídico vai adotar. ‘A gente não reage contra esse tipo de coisa com precipitação, com o fígado’, disse Lula ao seu secretário particular, Gilberto Carvalho, ao ser comunicado da reportagem.

‘Os hábitos sociais do presidente são moderados e em nada diferem da média dos cidadãos brasileiros. Apenas o preconceito e a falta de ética podem explicar essa tentativa esdrúxula de colocar em dúvida o profundo compromisso com as instituições e a credibilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva’, diz a nota.

O porta-voz lembra, na nota, que a jornada diária de trabalho de Lula é de 12 horas e afirma que o presidente acompanha pessoalmente os principais programas do governo e comanda todas as grandes decisões do Poder Executivo.

A nota foi a primeira reação formal e foi elaborada após avaliação do governo de que seria prudente uma resposta política rápida, independentemente da questão judicial. Em outra linha de ação, o governo define hoje as medidas judiciais que vai adotar em uma reunião do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, com o advogado-geral da União, Álvaro Augusto Ribeiro.

‘O artigo do jornal é agressivo e, de jornalismo, não tem nada’, disse Bastos. ‘É algo feito como se fosse para demolir a imagem de uma pessoa’, completou. Bastos conversou ontem sobre o assunto com o ministro da Casa Civil, José Dirceu, que também considerou a reportagem ‘um insulto feito para ferir e não para informar.’

Desde sábado à noite, os assessores e os ministros mais ligados a Lula se falaram por telefone para definir a linha de ação sobre o episódio. O embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Roberto Abdenur, também foi acionado e, declarando estar indignado, deverá encaminhar um protesto formal ao jornal hoje. ‘Nós não vamos deixar barato. Não vamos aceitar que calúnia passe por verdade. Isso é calúnia, é inverídico’, disse o secretário particular Gilberto Carvalho. ‘O autor vai arcar com as responsabilidades sobre o que escreveu’, completou.

Indignação

O ministro Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação) afirmou que a reportagem causou perplexidade e indignação. ‘Além de dar um tom de gravidade a problema inexistente, o repórter sustenta a sua matéria de forma leviana no qual o trabalho de apuração, conforme indicado no próprio texto, não condiz com a realidade e tem o lamentável aspecto de estar nas fronteiras da calúnia e da difamação’, disse Gushiken.

Segundo o ministro, indiretamente, a matéria pode ‘estar a serviço de posturas de governos centrais que desprezam a soberania alheia, buscam interferir em questões internas e tentam impor visão unilateral sobre questões que, num mundo cada vez mais complexo, exige outra ótica de solução para os conflitos.’

O presidente do PT, José Genoino, também considera que pode haver interesse político por trás da publicação da matéria, que classificou de ‘maldosa e preconceituosa’. Segundo Genoino, essa publicação pode significar intromissão em assuntos do País.

‘É uma coisa mentirosa e infundada. É a retomada da política de preconceito e de maldade de um veículo de porte internacional. Não se aceita que esse jornal faça um tipo de comentário como esse’, disse. ‘Lamento que um jornal do porte do ‘New York Times’ dê espaço para esse tipo de matéria insidiosa e inverídica’, completou.

O líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia, também sustenta ‘que pode haver sinais de digitais norte-americanas na questão’. ‘É preciso deixar claro que o presidente Lula tem zelado pela soberania nacional. Os interesses brasileiros serão mantidos’, completou.

Chinaglia enfatizou que a credibilidade da matéria publicada é ‘zero’. ‘Quem apurou a matéria só ouviu fontes que têm ódio figadal do presidente Lula’, afirmou. Entre essas fontes, ele citou o colunista Cláudio Humberto como sendo o ‘braço direito do ex-presidente Fernando Collor de Mello, e o ex-aliado Leonel Brizola, ‘um dos principais adversários do governo Lula’.

O líder do governo na Câmara, deputado Professor Luizinho (PT-SP), considerou que o jornal ofendeu o presidente da República ao fazer uma acusação sem ter comprovação. ‘É fazer o jogo fácil de tentar desqualificar o presidente. O presidente Lula tem trabalhado de forma incansável, o que demonstra todo o seu vigor físico e intelectual. É inaceitável. Execramos qualquer atitude de publicação nesse sentido’, reagiu.

Nesse episódio, a reação da oposição não foi de ataque ao presidente. O deputado Rodrigo Maia (RJ), vice-líder do PFL na Câmara, disse que a vida pessoal do presidente da República é problema dele. ‘Nenhum jornal do Brasil, muito menos de outro país, deve se meter nesse tipo de problema. Acho que eles (americanos) têm problemas demais para ficar tratando do problema dos outros’, disse.

O líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Custódio Mattos, cobrou do governo Lula uma ‘resposta cabal’ à notícia veiculada pelo jornal ‘The New York Times’. ‘O governo precisa convencer a opinião pública de que a informação não é verdadeira’, disse.

Ele afirmou que o assunto não deve contaminar as discussões na Câmara dos Deputados, pelo menos entre os parlamentares tucanos. ‘O governo é ruim, mas em respeito à história do presidente daremos um voto de confiança’, disse Mattos.

Em longo artigo, o jornal ‘The New York Times’ afirma que Lula ‘nunca escondeu sua predileção por uma copo de cerveja, uma dose de uísque ou, melhor ainda, um gole de cachaça, a forte bebida brasileira feita com cana de açúcar’. Atualmente, no entanto, prossegue o artigo, ‘alguns brasileiros começam a questionar se a predileção de seu presidente por bebidas fortes está afetando sua performance no cargo.’

O artigo, intitulado ‘Hábito de beber do líder brasileiro torna-se preocupação nacional’, diz que nos últimos meses ‘o governo de esquerda de Lula foi assolado por uma crise atrás da outra, desde escândalos de corrupção até o fracasso de importantes programas sociais’. ‘O presidente’, prossegue, ‘se manteve longe dos holofotes e deixou o trabalho pesado a cargo de seus assessores. Isto iniciou especulações de que seu aparente pouco envolvimento e passividade possam estar relacionados com seu apetite por álcool’. O artigo diz ainda que as especulações sobre os hábitos de bebida do presidente foram alimentadas pelas ‘inúmeras gafes cometidas em público.’’



Diário Vermelho

‘SID vê calúnia em artigo do NYT sobre ‘bebedeiras’ de Lula’, copyright Diário Vermelho (http://www.vermelho.org.br/), 9/5/2004

‘A Presidência da República, por meio de sua Secretaria de Imprensa e Divulgação (SID), condenou a matéria publicada neste sábado pelo jornal norte-americano The New York Times, que vincula supostas gafes e erros cometidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ‘bebedeiras’.

Segundo o secretário pessoal do presidente, Gilberto Carvalho, a matéria, escrita pelo correspondente do jornal no Brasil, Larry Rohter, ‘não é jornalismo, é calúnia, difamação, preconceito e o assunto vai ser tratado nesses termos’.

‘Uma matéria como essa é preconceito puro. O governo brasileiro precisa tomar uma medida dura contra uma notícia como essa’, disse Carvalho, muito irritado. ‘Precisamos convidar esse repórter para passar um dia com o presidente para ver o quanto ele trabalha’, disse. Gilberto Carvalho foi companheiro de Lula na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e conhece de perto a carga de preconmceito que o presidente tem enfrentado na sua trajetória.

O que está no artigo

O título do artigo é ‘Hábito de beber de Lula se torna preocupação nacional’. A Presidência informa que pretende analisar, a partir de segunda-feira, a possibilidade de entrar com uma ação judicial.

O texto de Rohter recorre a fontes que contrastam vivamente com a respeitabilidade do mais que sesquicentenário órgão de imprensa novaiorquino. Entre outras, são citados os colunistas Diogo Mainardi, autor do livro ‘Contra o Brasil’, e Cláudio Humberto, que celebrizou-se pelo estilo ‘bateu, levou’ quando foi quando assessor de imprensa de Fernando Collor.

Mas o primeiro a ser citado é o presidente do PDT, Leonel Brizola. O octogenário ex-governador, hoje em colisão frontal com o governo Lula, depois de apoiá-lo no segundo turno e ao fim de uma carreira política que teve o nacionalismo como marca, foi, segundo Rohter, ‘uma exceção’, pois outros ‘líderes políticos e jornalistas’ não se dispuseram a falar-lhe sobre o tema. O sítio do PDT, nas primeiras horas de hoje, não continha registro sobre o tema, nem sobre como Brizola encarou o uso de suas declarações no diário estadunidense.

Antecedentes do jornalismo à Rohter

O jornalista Larry Rohter já teve outros textos acusados de parcialidade contra governantes de esquerda latino-americanos. Seu artigo ‘Estalos de orientalismo’, também publicado no NYT e tendo como personagem o presidente venezuelano Hugo Chávez, também despertou protestos. Um leitor, David Smilde, mesmo apresentando-se como alguém que ‘não suporta Chávez’, teve a pachorra de mostrar, frase por frase, como Rohter ‘sutilmente distorceu os fatos ou apresentou-os em tons que fazem Chávez e seus partidários parecerem emocionais, erráticos, infantis, desrespeitosos e em gera incivilizados’.

A crítica de Smilde acha-se no endereço eletrônico http://www-personal.umich.edu/~mmarteen/svs/lecturas/chavezsmilde.html. Quem se der ao trabalho de lê-la (em inglês) e fazer um cruzamento, encontrará algumas chaves para decifrar o tipo de jornalismo produzido no artigo anti-Lula de Rother.

Apenas nos últimos parágrafos surge uma argumentação citando ‘o outro lado’, quando o articulista cita o colunista Ali Kamel, do jornal carioca O Globo: ‘Qualquer um que já tenha estado em recepções formais ou informais em Brasília testemunhou presidentes bebericando uma dose de uísque. Mas sobre o fato nada leu a respeito dos outros presidentes, somente de Lula. Isso cheira a preconceito.’

Segundo a SID, que tem à frente o jornalista Ricardo Kotscho, a revista dominical do The New York Times deve publicar reportagem especial sobre o presidente Lula ainda este mês. O jornalista Barry Bearak, vencedor do Prêmio Pulitzer – o principal do jornalismo norte-americano – entrevistou o presidente e o acompanhou em uma viagem oficial. O jornalista norte-americano também circulou pelo País recolhendo informações com parentes, amigos, correligionários e companheiros da época de sindicato para traçar um perfil do presidente.’’