Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

O Estado de S. Paulo


EUA
O Estado de S. Paulo


CIA ocultou vídeos de comissão do 11/9, diz ‘NYT’


‘A CIA ocultou de investigadores vídeos com gravações de interrogatórios
brutais de suspeitos de terrorismo, informou ontem o New York Times. Segundo o
jornal, a comissão independente que investigou o 11 de Setembro fez repetidos
pedidos à CIA, em 2003 e 2004, de documentos e outras informações sobre os
interrogatórios de membros da Al-Qaeda, mas a agência de inteligência alegou que
já havia entregue tudo que possuía.


Uma revisão de documentos secretos da comissão começou a ser feita no início
do mês, após a descoberta de que a CIA destruiu, em novembro de 2005, vídeos com
centenas de horas de interrogatórios de Abu Zubeida e Abd al-Rahim al-Nashiri,
supostos membros da Al-Qaeda, gravados em 2002. Acredita-se que os vídeos
mostravam que nos interrogatórios se simulou o afogamento dos suspeitos, uma
técnica que ativistas dos direitos humanos qualificam de tortura.


Um relatório preparado por Philip Zelikow, ex-diretor-executivo da comissão,
conclui que ‘mais investigações são necessárias’ para determinar se a CIA, ao
ocultar os vídeos dos interrogatórios, violou as leis dos EUA.


O porta-voz da CIA, Mark Mansfield, disse que a agência estava preparada para
dar as gravações à comissão, mas seus membros nunca pediram especificamente os
vídeos. Mansfield disse também que, ‘como se acreditava que os vídeos poderiam
ser solicitados em algum momento, eles não foram destruídos enquanto a comissão
esteve em funcionamento’.


Segundo a revisão feita por Zelikow, a comissão não pediu a especificamente
os vídeos (cuja existência era mantida em segredo), mas ‘documentos’,
‘relatórios’ e ‘informações’ sobre os interrogatórios.


A CIA diz ter destruído as fitas de forma legal, para proteger os agentes
envolvidos, mas a revelação causou duras críticas de grupos pró-direitos humanos
e da oposição democrata. A comissão investigou falhas de segurança ocorridas
antes e depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA. O
relatório da comissão pediu uma reforma nos organismos de inteligência dos
EUA.’



RÁDIO DIGITAL
Ethevaldo Siqueira


Salvando duas estatais e o rádio digital Iboc


‘Por mais estranho que possa parecer, o governo Lula planeja ressuscitar duas
estatais – a Telebrás e a Eletronet – e ainda investir no capital de uma empresa
americana, a Ibiquity, proprietária da tecnologia de rádio digital In Band on
Channel (Iboc). São três projetos polêmicos que caminham sem qualquer debate e
sem a participação do Congresso. Façamos uma retrospectiva.


Privatizada em 29 de julho de 1998, a Telebrás já deveria ter sido extinta.
Mas sobreviveu os últimos nove anos porque tem responsabilidades trabalhistas
com 293 funcionários cedidos à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel),
além de enfrentar outras questões na Justiça.


A FÊNIX RENASCE


A reativação da Telebrás interessa a três ministérios: Comunicações, Casa
Civil e Comunicação Social. Seus defensores atribuem papel estratégico à empresa
nos ambiciosos projetos de inclusão digital, que interligarão escolas e
hospitais via internet de banda larga, e na operação do futuro Satélite
Geoestacionário Brasileiro (SGB), planejado para prestar, entre outros, serviços
de comunicações militares e segurança de vôo. É claro que todos esses serviços
poderão ser prestados com a mesma segurança e confiabilidade – e por menores
custos – pelas operadoras privadas de telecomunicações do País, como ocorre,
aliás, em muitos países.


Os investimentos para os projetos de inclusão digital do governo Lula nos
próximos três anos são da ordem de R$ 2,5 bilhões e R$ 3 bilhões, segundo prevê
o ministro das Comunicações, Hélio Costa.


Para o PT e seus aliados, a recriação de uma estatal como a Telebrás é um
prato apetitoso. Segundo observadores independentes, a criação de centenas de
cargos nessa nova empresa, a começar pela diretoria, amplia o espaço para
barganhas e para o aparelhamento do Estado.


A QUASE FALIDA


Nascida em 1999, no auge da bolha da web, a Eletronet tem como sócias a
Lightpar (Eletrobrás) e a AES Bandeirante. O começo de suas operações ocorreu no
momento de refluxo dos negócios setoriais, logo depois do estouro da bolha. Seu
desempenho, como se poderia esperar, foi catastrófico, resultando em calote de
mais de R$ 400 milhões para seus fornecedores.


Paralelamente à reativação da Telebrás, o governo está decidido a recuperar a
Eletronet e mantê-la na condição de estatal, pensando em usar intensamente sua
rede de 16 mil quilômetros de cabos de fibra óptica instalada sobre as torres de
transmissão de energia de alta tensão da Eletrobrás. O Ministério da Comunicação
Social está de olho nessa rede para ampliar a cobertura da TV Brasil.


Mesmo enterrada em dívidas, a Eletronet não paralisou suas atividades. A
Eletrobrás afastou a sócia AES e assumiu as operações, passando a prestar
serviços a 20 clientes. Mas não assumiu as dívidas da empresa, que já devem ter
ultrapassado R$ 550 milhões.


Segundo estudo elaborado por J. P. Martinez, consultor e analista de
telecomunicações, ‘estatais como a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa
Econômica Federal, apoiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), vêm bancando a operação dos serviços e podem negociar a
aquisição da empresa’.


APOIAR A IBIQUITY?


O terceiro e mais surpreendente projeto em gestação no governo visa à
introdução do rádio digital no Brasil. Foi anunciado há duas semanas pelo
próprio ministro Hélio Costa. O padrão de rádio digital Iboc (conhecido também
pelo nome comercial de HD Radio), criado pela empresa americana Ibiquity, ainda
não está plenamente amadurecido do ponto de vista tecnológico para ser adotado
pelas emissoras brasileiras.


Como saída para essa dificuldade, o ministro Hélio Costa sugere que o governo
brasileiro faça uma parceria estratégica com a Ibiquity, para ajudá-la a
concluir o desenvolvimento da tecnologia. E faz uma proposta realmente criativa,
leitor: o governo ajudaria uma empresa brasileira, privada ou estatal, a
associar-se à Ibiquity, com recursos do BNDES.


Todo esse apoio na expectativa de que a empresa americana conclua o
desenvolvimento do padrão digital Iboc e, em contrapartida, se instale no
Brasil, para fabricar e exportar equipamentos digitais para a América Latina.
Para alguns analistas, a Ibiquity precisa de, no mínimo, US$ 100 milhões.


Se concretizado, o generoso projeto de Hélio Costa pode ser providencial para
a empresa americana, mas traz sérios riscos ao Brasil.


Vale lembrar que o padrão de rádio digital Iboc tem quatro problemas não
resolvidos: 1) atraso (delay) de oito segundos entre o sinal analógico e o
digital, com a repetição ou a eliminação de palavras essenciais ao entendimento
de notícias ou à audição de música; 2) ruídos e interferências em canais
vizinhos, tanto em AM como em FM, especialmente à noite; 3) diferença de alcance
das transmissões analógicas e digitais, com problemas de instabilidade nos
pontos de limite das transmissões digitais; 4) excessivo consumo de energia, que
impossibilita a produção de receptores portáteis, por esgotamento das baterias
em poucas horas.’



ROUBO NO MASP
Jotabê Medeiros


Para especialistas, governo precisa administrar o Masp; Estado se
oferece


‘Só há uma saída para tirar o Masp da crise aberta pelo furto de um Picasso e
um Portinari: estatizar o museu, transferindo a gestão para a Prefeitura, o
Estado ou a União. Essa é a solução defendida por intelectuais e museólogos. E o
Estado se mostra interessado.


‘Por mais precário que seja, ele tem mais perspectiva do que uma gestão
dessas. O Estado é um ente permanente. Senão, vamos deixar tudo na mão de
gangues e tribos’, diz o secretário adjunto de Cultura do Estado e
ex-superintendente do Museu de Arte Moderna (MAM), Ronaldo Bianchi. ‘É
federalizado, municipalizado ou estadualizado. E a gente topa gerir o Masp.’


‘Sem dúvida, existem hoje casos de museus geridos pelo governo e muito
bem-sucedidos’, observa o diretor da Pinacoteca, Marcelo Araújo. ‘Nesse momento,
o que funciona muito bem é o novo modelo de organização social (espécie de
parceria entre Estado e uma associação). É o modelo da Pinacoteca e do Museu da
Língua Portuguesa.’


‘Os sócios do Masp poderiam ser conselheiros e continuar acompanhando o
desenvolvimento da instituição, mas não seriam mais os únicos, isolados’,
observa o embaixador Rubens Barbosa, ex-conselheiro da instituição, que se
mostra cético, porém, quanto a uma intervenção drástica do governo.


Outros três motivos são enumerados para que o Município assuma a a gestão.
Primeiro: à exceção do Centro Cultural São Paulo, a Prefeitura não tem um museu
de porte. Depois, o Município já é o proprietário do terreno. Por fim, as obras
do acervo receberam grande investimento público desde a aquisição.


O ex-conservador-chefe do museu Luiz Marques, que trabalhou no Masp entre
1994 e 1997, considera que, no modelo atual, o museu se tornou inviável. ‘Hoje,
ele não tem recursos e não vai ter futuramente. É muito caro e vai se tornar
cada vez mais caro e é essa a realidade dos museus no mundo.’


Para o ex-secretário de Economia e Planejamento do Estado Andrea Calabi, a
‘governança viciada’ do Masp causa desconfiança aos patrocinadores. ‘Acho que a
comoção da população deveria motivar o poder público a intervir, para evitar o
roubo do próximo Picasso.’


O secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, preferiu não
comentar a proposta de estatização do museu. O Estado procurou o presidente do
Masp, Julio Neves, mas ele não quis comentar o assunto.’



Jotabê Medeiros


Obras de Van Gogh estão entre as mais valiosas do lote de 400
obras-primas


‘?O Escolar? e ?A Arlesiana? equivalem à ?Mona Lisa? para os acervos da
América Latina; coleção do Masp conta ainda com um conjunto inestimável de telas
de impressionistas franceses e renascentistas italianos


É consenso no mercado de arte que, atualmente, os quadros mais valiosos do
acervo do Museu de Arte de São Paulo (Masp) são as quatro telas de Vincent van
Gogh (1853-1890): os retratos A Arlesiana e O Escolar e as paisagens Banco de
Pedra no Jardim do Hospital Saint-Paul e Passeio ao Crepúsculo – todas
pertencentes aos dois últimos anos de vida do pintor holandês.


Van Gogh começou a se tornar ouro no mercado de artes em 1987, quando
celebravam o centenário de sua morte. Um quadro da série Os Girassóis, naquele
ano, alcançou quase US$ 40 milhões. Três anos depois, O Retrato do Dr. Gachet
foi arrematado por um milionário japonês pela então assombrosa quantia de US$ 83
milhões.


Para Jones Bergamin, da Bolsa de Arte do Rio, entre essas obras sob os
cuidados do Masp há duas que se destacam especialmente: O Escolar e A Arlesiana.
Seriam o equivalente à Mona Lisa para os museus da América Latina. A Arlesiana é
uma mulher do povo, e o menino Camille Roulin, de O Escolar, filho do carteiro.
Uma das últimas exposições que A Arlesiana integrou foi a mostra de Edgar Degas,
no Masp, que emparelhava influenciados e influenciadores do francês no mesmo
espaço.


MILHÕES


Essas duas telas podem atingir até US$ 80 milhões cada uma em um leilão
internacional, mas, na verdade, seus valores são inestimáveis para um museu –
jamais seria possível encontrar no mercado uma obra desse naipe.


Mas não é só. Segundo especialistas, das cerca de 8 mil obras do Masp,
existem pelo menos 400 obras-primas consideradas de valor inestimável. O museu
tem um respeitável acervo de impressionistas franceses – e isso é explicável
pelo gosto da elite paulista em determinada época, que era muito ligado ao gosto
da cultura francesa de então. Os quadros de Renoir, Degas, Cézanne e outros são
os mais valiosos desse lote. Os mais cortejados pelos críticos são as obras Baco
encontra Ariadne, de Eugène Delacroix, e A Canoa sobre o Epte, de Claude Monet.


Outro lote de grande relevância é o dos renascentistas italianos. O museu
reúne uma quantidade considerável dessas obras, como o Retrato do Cardeal
Cristoforo Madruzzo, de Ticiano, desde 1950 pertencente ao acervo do museu.
Nesse lote, pontifica A Ressurreição de Cristo, de Rafael.


Dizem que, para formar a coleção italiana, Bardi procurou mostrar-se maleável
e aproximar-se do seu rival na época, Ciccilo Matarazzo. Ciccilo tinha um
Modigliani em casa. Bardi queria o Modigliani e disse ao colega: ‘Modigliani é
um mestre.’ Ciccilo respondeu: ‘Então, compre meia dúzia para o Masp.’ Ele
comprou.’



Antonio Gonçalves Filho


Mercado negro, o provável destino das telas


‘É improvável que O Lavrador de Café de Portinari, furtado na quinta-feira do
Masp, seja oferecido no mercado negro nos próximos dias, mas certamente o
destino dele, segundo marchands de São Paulo e do Rio, deverá ser esse, se a
direção do Masp não for surpreendida antes com um pedido de resgate de possíveis
seqüestradores.


Dois profissionais do mercado de arte, os galeristas Soraia Cals e Ricardo
Camargo, acreditam que o furto das telas de Picasso e Portinari do Masp foi
encomendado. Soraia Cals vendeu há um mês, em leilão, para um colecionador de
São Paulo, uma tela de Portinari dos anos 40, Espantalho, por R$, 3,85 milhões.
Garante, a exemplo de Ricardo Camargo, que o mercado está aquecido – não para
pinturas como a do Masp, obviamente, catalogadas e fora de comércio. De qualquer
modo, outras obras de artistas igualmente famosos furtadas no Brasil já
apareceram em leilões fora daqui – até mesmo um Matisse oferecido pela internet
por um leiloeiro na Rússia.


Todos os marchands entrevistados pelo Estado mostraram indignação diante da
facilidade com que os ladrões conseguiram entrar no prédio do Masp, utilizando
apenas um pé-de-cabra e um macaco hidráulico. Soraia Cals e Ricardo Camargo
culpam a direção da instituição pela precária segurança. O local estava com o
alarme desligado na hora do furto e tem câmeras de segurança ultrapassadas,
incapazes de mostrar com nitidez o que se passa no interior do museu. ‘Como
alguém pode comandar um museu como o Masp sem pagar a conta de luz?’, pergunta o
marchand Camargo, seguido em coro por Soraia Cals. ‘É de uma incompetência
absoluta e os diretores deveriam ser responsabilizados criminalmente’, sugere a
galerista carioca.’



PROPAGANDA


O Estado de S. Paulo


Agência de publicidade tem aumento de receita de até 40%


‘Com a expansão do setor imobiliário, cresceu também a necessidade de
construtoras e incorporadoras de criar formas eficientes de divulgação dos
produtos. Por causa disso, a agência Eugênio, há quase 18 anos no mercado,
decidiu se reposicionar: desde 2006 passou a atender apenas empresas do setor
imobiliário.


Para dar conta de atender ao aumento da demanda, o número de funcionários da
agência subiu de 100 para 130. Além disso, a empresa também precisou abrir
escritórios em outras cidades, como Rio, Salvador, Brasília e Porto Alegre.


A sede em São Paulo, contudo, ficou pequena para abrigar tantos empregados
novos. ‘Vamos nos mudar em fevereiro. Hoje, não temos nem mil m² de área. Vamos
para um espaço com 1,8 mil m²’, disse o vice-presidente de criação da agência,
Carlos Valladão.


A empresa, que desenvolve peças publicitárias, comerciais para rádio e
televisão, anúncios e estratégias de marketing para as companhias do setor
imobiliário, tem registrado um faturamento entre 30% e 40% superior em 2007, na
comparação com o ano anterior.


‘Sempre atuamos com clientes do setor imobiliário, mas com o crescimento do
mercado decidimos nos dedicar exclusivamente a ele. Os resultados estão sendo
excelentes’, comemorou Valladão.’



JORNALISMO CULTURAL


Daniel Piza


Melhores do ano


‘Este ano editorial repetiu os últimos e trouxe número maior de destaques em
não-ficção, especialmente em biografias. Mas em termos de qualidade o destaque
vai enfim para a ficção. Li bons romances neste ano, curiosamente pequenos em
tamanho. O que mais me agradou, o que mais ficou na minha memória em cenas ou
climas, foi O Mar, de John Banville, escritor irlandês, dono de uma prosa que
mistura sensibilidade artística com senso científico. Na Praia, de Ian McEwan,
não tem a força de Reparação ou mesmo Sábado, mas é uma bela novela. Martin Amis
voltou ao seu melhor nível em Casa dos Encontros, um romance ‘russo’ em suas
conturbações emocionais e políticas. E Philip Roth continuou a demonstrar por
que é o maior de todos, com Homem Comum (original do ano passado, quando eu já o
tinha destacado) e Exit Ghost, este ainda não traduzido.


Outros bons autores de língua inglesa tiveram livros editados no Brasil em
2007, mas a meu ver abaixo do que podem, como John Updike, Julian Barnes, Don
DeLillo e J.M. Coetzee. Isso para não falar em O Castelo na Floresta, último
romance de Norman Mailer, uma das tantas perdas deste ano. Antes que me acusem
de só falar de autores anglófonos, confesso que não tive tempo para enfrentar As
Benevolentes, do francês Jonathan Littell, e que me diverti muito com Il Colore
del Sole, suspense do italiano Andrea Camilleri sobre o pintor Caravaggio, ainda
inédito em português.


Quanto aos brasileiros, O Filho Eterno, de Cristóvão Tezza, e O Sol se Põe em
São Paulo, de Bernardo Carvalho, são livros interessantes, mas, de novo, abaixo
do que cada autor poderia ter feito com a mesma história. Outra tônica foi a
grande quantidade de reedições ou novas traduções importantes. Livros de Onetti,
Waugh, Faulkner; relançamento do Borges completo; reavaliações como a de Paula
Fox, autora dos contos de Desesperados – muitos seriam os exemplos. Na poesia,
traduções de Emily Dickinson por José Lira, de Sylvia Plath por Rodrigo Garcia
Lopes e Maria Cristina Lenz de Macedo, além do clássico saxão Beowulf por Erick
Ramalho, merecem aplausos. O melhor livro de poesia brasileira que li, claro,
foi Meu Filho, Minha Filha, de Fabrício Carpinejar.


A lista de biografados ou perfilados brasileiros é grande: Dom Pedro II, Tim
Maia, Rubem Braga, Joaquim Nabuco (que comento na próxima semana), Anita
Malfatti, Oswald de Andrade (estas duas, reedições), Vinicius de Moraes (perfil
por Sergio Augusto e mais seu cancioneiro), Gilberto Freyre. A melhor, ou mais
completa, é a de Braga. Leu-se bastante, de novo, sobre a história brasileira,
em livros como 1808, de Laurentino Gomes, ou em artigos como os recuperados de
Raymundo Faoro, A República Inacabada, e na tese A República Consentida, de
Maria Tereza Chaves de Mello. Ensaios de Luiz Roncari, Leyla Perrone-Moisés,
Leda Tenório Mota e José Carlos Avellar também trouxeram ângulos novos para
velhas e boas discussões. O grande prêmio é de A Dança dos Deuses, de Hilário
Franco Júnior, um dos melhores sobre futebol.


Nos ensaios de autores estrangeiros, três temas foram dominantes: religião,
meio ambiente e modernismo. Religião foi assunto polêmico de Richard Dawkins e
Christopher Hitchens. O tema do meio ambiente teve boas contribuições de James
Lovelock e Michael Pollan. E a arte moderna está em livros traduzidos de T.J.
Clark e David Sylvester e em três outros lançados nos EUA que resenhei na semana
passada: Modernism, do historiador Peter Gay; o terceiro volume da biografia de
Picasso por John Richardson; The Rest Is Noise, do crítico Alex Ross. A ciência
também rendeu bons livros, como a biografia de Einstein por Walter Isaacson, Eu,
Primata, de Frans de Waal, Alucinações Musicais, de Oliver Sacks, e The Stuff of
Thought, mais recente de Steven Pinker.


Nesta área também se viu o admirável trabalho de tirar o atraso editorial
brasileiro. Livros de Samuel Pufendorf, Benjamin Constant e Trevor-Roper
preencheram algumas lacunas da biblioteca liberal. Ensaios de Literatura
Ocidental, de Eric Auerbach, e Piero della Francesca, de Roberto Longhi,
representam dois dos maiores críticos do século 20. De críticos na ativa
tampouco faltaram bons exemplos, como Shakespeare, the Thinker, de A.D. Nuttall,
e The Power of Art, de Simon Schama. Istambul, de Orhan Pamuk, os dois de Ashley
Kahn sobre jazz, Kind of Blue e A Love Supreme, e A Batalha pela Espanha, de
Antony Beevor, felizmente saíram aqui.


Já sei, citei muita coisa. Quer ir ao foco? Voto em cinco melhores: O Mar, de
John Banville; Homem Comum, de Philip Roth; Rubem Braga, de Marco Antonio de
Carvalho; Alucinações Musicais, de Oliver Sacks; Istambul, de Orhan Pamuk. Boas
festas.


DE LA MUSIQUE


Os CDs costumam ser minha segunda diversão de qualidade, embora não saiam
tantos CDs bons quanto livros bons. As cantoras brasileiras embalaram o ano:
Rosa Passos (que vi no Teatro Fecap), Roberta Sá, Marina de la Riva, Teresa
Cristina, Maria Rita, etc. – além da portuguesa Teresa Salgueiro (Tom Jazz), que
em Você e Eu só gravou canções brasileiras. Que Belo Estranho Dia pra se Ter
Alegria, de Roberta Sá, foi o que mais me alegrou. O mundo pop teve White
Stripes, Wilco, Paul McCartney, Björk, Joni Mitchell. Radiohead me parece um
grau mais original, com In Rainbows, e não por ter feito o lançamento na
internet. Mas pop m-e-s-m-o quem fez foi a encrenqueira, toxicômana e
talentosíssima Amy Winehouse. Em apresentações ao vivo ela não vai tão bem, mas
seu CD Back to Black é de uma força que havia muito não se escutava. Ela
cantando Rehab (‘no, no, no’), You Know I’m no Good e Love Is a Loosing Game (o
amor é um jogo de perdas) é, como se dizia no Pasquim, duca…


Num campo menos popular, trabalhos que mesclam gêneros como Welcome to the
Voice, de Steve Nieve, Contínua Amizade, de Hamilton de Holanda e André Mehmari,
e Con el Permiso de Bola, de Gonzalo Rubalcaba e Francisco Céspedes, são um
alento. E na chamada música ‘erudita’ também houve poucos e bons. Três
violoncelistas: Rostropovitch, morto neste ano e homenageado com a caixa Le
Violoncelle du Siècle; Yo-Yo Ma (que voltou a brilhar no Cultura Artística), com
Appassionato; Antonio Meneses (com Gérard Wyss), Música para Violoncelo e Piano
de Mendelssohn. E três jovens para reanimar esperanças: o violinista Vadim
Repin, o pianista Evgeny Kissin e o maestro Gustavo Dudamel.


CADERNOS DO CINEMA


Os melhores filmes que vi foram no começo do ano, dentro do ‘pacote’ do
Oscar, com destaque para Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood, bem melhor do
que Babel, de Alejandro Iñárritu, Borat, de Sacha Baron Cohen, A Rainha, de
Stephen Frears, e Vênus, de Roger Mitchell. Ainda não vi Império dos Sonhos, de
David Lynch, e A Maldição da Flor Dourada, de Zhang Yimou, dois cineastas que
admiro. Piaf, de Olivier Dahan, vale pela atriz, Marion Cotillard.


Quanto ao cinema brasileiro, diga o que quiser, mas variado e inquieto ele
tem sido. Tropa de Elite, de José Padilha, é o filme do ano, apesar dos
problemas, e tem o ator do ano, Wagner Moura. O Cheiro do Ralo, de Heitor
Dhalia, vive de um brilhante Selton Mello. O Passado, de Hector Babenco, e
Mutum, de Sandra Kogut, são filmes de poucas concessões. Em documentários,
novamente dependemos de Eduardo Coutinho e João Moreira Salles, mas não vi ainda
Jogo de Cena e não sou um dos entusiastas de Santiago, por beirar a
autocomiseração.


OUTROS DESTAQUES


Por motivos profissionais, não pude ir muito neste ano a concertos, teatros e
eventos noturnos em geral, mas não posso deixar de citar a peça dirigida por
Felipe Hirsch, Educação Sentimental do Vampiro, com textos de Dalton Trevisan, e
a nova coreografia do grupo Corpo, Breu, com música de Lenine. São pessoas que
não confundem ser experimental com ser impenetrável.


As exposições não foram numerosas também. Vi fotos de Miguel Rio Branco na
galeria Millan, revi no CCBB de São Paulo o Aleijadinho e Seu Tempo que tinha
visto no Rio, etc. Curiosamente, neste lamentável período do Masp (que agora
teve duas de suas obras mais valiosas furtadas!), ali curti Darwin e Goya.


POR QUE NÃO ME UFANO


Corte de gastos, privatizações ou concessões, melhora do ambiente de
negócios, reforma tributária sem aumento da carga, combate à corrupção e à
burocracia – muita, muita coisa pode e deve ser feita para ‘compensar a perda da
CPMF’, como dizem governo e imprensa. Em um ano ou dois os R$ 40 bilhões seriam
recuperados. Além disso, a arrecadação vem crescendo muito acima do PIB, e o
governo só fez aumentar despesa com pessoal, número de ministérios, cargos
comissionados, alíquotas de impostos… O problema não é só perder a CPMF de
repente; é adquirir competência administrativa de um ano para outro.’



LITERATURA
Ubiratan Brasil


Os conflitos entre a tradição e o moderno


‘Logo que seu livro de contos Para Alívio dos Impulsos Insuportáveis foi
publicado, em 2000, o americano Nathan Englander impressionou a crítica
especializada, que o comparou a pesos pesados como Phillip Roth, Saul Bellow e
Bernard Malamud. De quebra, foi selecionado pela revista The New Yorker como um
dos 20 escritores mais promissores do século que se inicia. Exageros à parte, a
prosa de Englander constrói histórias de amor, desilusão e heroísmo de uma forma
original, derrubando estereótipos e reforçando conflitos internos, como comprova
a edição brasileira, agora lançada pela Rocco (221 páginas, R$ 36).


O conto que empresta o título ao livro é um bom exemplo. Conta a tortuosa
história de Dov Binyamin que, apesar de todos os apelos, não consegue convencer
sua mulher a dividir a cama com ele. O problema já se arrastava por semanas.
Quanto mais Chava Bayla o rejeitava, mais Dov desejava estar ao seu lado.
Disposto a salvar seu casamento a qualquer custo, Dov Binyamin decide, então,
ouvir os conselhos do sábio rabino de sua comunidade, que lhe recomenda mais e
mais paciência. Mas como resistir às tentações carnais comuns a todo ser humano?
Para alívio dos impulsos insuportáveis, o rabino tem uma sugestão nada
convencional – Dov Binyamin deve procurar imediatamente uma prostituta.


‘Eu me interesso muito pelos elementos judeus, mas especialmente seus
aspectos universais’, conta Englander, jovem nova-iorquino nascido em 1970 e que
viveu durante muitos anos em Jerusalém. O tema inevitavelmente conduz aos
traumas de guerra, que o escritor trata de forma cortante.


O conto Os Acrobatas, por exemplo, um dos melhores do livro, narra a
trajetória de prisioneiros judeus que fogem da morte disfarçados de artistas de
circo. O improviso e a imaginação, ele parece recordar, já salvaram a vida de
muitos judeus ao longo dos anos. Já em O Vigésimo Sétimo Homem, conto que abre o
livro, Englander conduz o leitor até a antiga União Soviética, lembrando a
perseguição de Stalin aos escritores judeus.


Englander fala em ritmo acelerado, mal respirando entre as frases. Ele
conversou com o Estado de Nova York, de onde confessou sua proximidade e
admiração com a literatura latino-americana – e, diferentemente dos americanos
que conhecem apenas autores de língua espanhola, Englander coloca Jorge Amado na
lista de seus preferidos, que conta ainda com Jorge Luis Borges e Julio
Cortázar.


Depois de conhecer a Argentina, ele ficou inspirado para escrever seu
primeiro romance, The Ministry of Special Cases, publicado neste ano nos Estados
Unidos, ainda sem previsão de lançamento no Brasil. A trama é arrepiante:
durante a pesada repressão militar argentina, nos anos 1970, uma família judia
fica intrigada quando um amigo do filho é levado pelo governo sem nenhuma
explicação, iniciando um pavoroso pesadelo no qual a existência do garoto é
simplesmente negada por todas as pessoas do governo. Ele simplesmente desaparece
sem deixar qualquer vestígio. ‘Decidi tratar aqui de temas que me são muito
caros, como comunidade, identidade e injustiça’, disse Englander, que concedeu a
seguinte entrevista.


Você precisou fazer muitas pesquisas, especialmente para escrever contos com
trama histórica, como O Vigésimo Sétimo Homem?


Fiz alguma, mas nada muito extensivo. Sempre me interessei por elementos
judaicos das histórias, mas o principal para mim é que a trama funcione,
independentemente da sua origem. Por isso que tomo liberdades quando escrevo e
nem sei se isso necessita ser justificado. Normalmente busco, nas pesquisas,
elementos que complementem o que imaginei. Em Os Acrobatas, por exemplo, gastei
a maior parte do tempo em bibliotecas tentando confirmar fatos sobre trens, da
mesma forma que utilizei uma enormidade de tempo caçando informações sobre a
compra de cabelos para A Peruca. Isso soa um tanto ridículo, não? (risos). Na
verdade, busco temas universais, daí meu amor pelos autores russos (Gogol,
Dostoievski e Chekhov) e também pelos latino-americanos, como Borges, Cortázar e
Jorge Amado. São maneiras diferentes de utilizar a linguagem, formas distintas
de ver o mundo. É por isso que, no primeiro conto, trato de escritores, tema que
me interessa muito.


A narrativa de O Vigésimo Sétimo Homem faz pensar que se trata de um caso
real.


Há detalhes verdadeiros, como a execução de 26 pessoas, mas não eram todas
escritores. Pouco se sabe sobre esse incidente e tudo o que consegui apurar
foram fatos contraditórios – mas já descobri que alguns detalhes deverão ser
revelados quando liberarem algumas gravações. É um assunto que me fascina,
sonhei em escrever sobre isso tão logo descobri a história dos assassinatos. E
meu desejo era criar um conto com final, mesmo que ficcional. E, antes que você
me pergunte, não se trata de uma trama política, mas sobre identidade. Em todo
caso, me agrada a idéia de essa história parecer terrivelmente política, que é
um dado onipresente, um detalhe invasor o suficiente para matar.


Você viveu em Jerusalém e o último conto, Essa É a Nossa Sabedoria, sobre as
experiências de um jovem em um bombardeio, parece autobiográfico. É verdade?


É verdade, esse conto é o que tem mais elementos biográficos e eu até abusei
ao escolher o nome Nathan para o personagem. Jerusalém é uma cidade explosiva em
todos os sentidos e foi adorável ter vivido lá.


Como é ser comparado a grandes autores do porte de Phillip Roth e Saul
Bellow?


Hum… (risos) Acho um tanto exagerado. Não é algo em que penso muito, pois
não vejo relação com a escrita. Claro que é algo encantador e
incompreensivelmente generoso, além de ser algo importante demais para ser
ignorado, muito pesado para ser desperdiçado. Enfim, algo lisonjeiro, mas apenas
isso.


Passados sete anos desde a primeira edição de Para Alívio dos Impulsos
Insuportáveis, como você revê agora sua obra? Faria alguma mudança?


As histórias que hoje estão disponíveis para os brasileiros são fruto do
melhor da minha capacidade naquela época. E acho que assim deve ficar. Claro
que, relendo algumas histórias, fiquei tentado a modificar um detalhe ou outro,
mas não acredito que seja o melhor caminho. Acredito que há algo errado quando
um escritor tenta produzir seu melhor texto. Isso é o oposto do ato de escrever,
pois qualquer livro tem de representar o melhor de seu potencial.


Depois de publicar um romance, você se sente tentado a retornar às narrativas
curtas?


Estou morrendo de vontade para voltar. Acho que é nesse estilo que me sinto à
vontade. Tanto que já estou ensaiando uma nova história. Há uma, aliás, que
venho rascunhando há anos. Amo os contos.


Seu romance, aliás, se passa na Argentina, país que você visitou há algum
tempo. O que mais o impressionou lá?


Bem, na verdade fui a convite de amigos que pretendiam se casar e passar a
lua-de-mel na Argentina, em 1991. Eu nunca me casei, mas posso garantir que tive
uma excelente lua-de-mel por lá (risos). Mas, falando sério, consegui transmitir
na história alguns detalhes pessoais, como os problemas da juventude em viver em
territórios aparentemente tranqüilos, mas que encobrem uma onda de maldade. E
aqui, mais uma vez, trato de temas que me são caros, como comunidade, identidade
e injustiça.’



MODO DE USAR
Francisco Quinteiro Pires


A poesia como ruptura de automatismos


‘Na estreante Modo de Usar & Co., a regra é buscar a quebra de
automatismos por meio da produção poética. A escolha do título do impresso sobre
poesia revela de saída a proposta de intervenção, um convite aos leitores para
observarem as escolhas e reações tidas como naturais sob outra luz.


A preocupação recai não mais somente sobre a novidade do conteúdo ou dos
autores, a qual se tornou uma obsessão cega nas publicações em estréia, mas
sobre a possibilidade de seus conteúdos transformarem os parâmetros vigentes e
repensarem os cenários nos quais os leitores estão inseridos, o que não deixa de
ter lá a sua novidade. É a função repensada – para ser renovada – no universo
atual do utilitarismo extremado que a tudo invade, das relações humanas aos
espíritos, e que dita a submissão à reprodução incessante das coisas e à
uniformização de comportamentos.


Quando faz uma crítica aos padrões e aos cânones, a revista afirma que não
busca uma revisão oportunista, mera substituição de nomes e medidas vigentes
pela instauração de outros conceitos que passam a ser hegemônicos e, por isso,
adotados. Os editores apostam na máxima de que um novo momento histórico impõe
novas necessidades, às quais poetas em gestação e os já mortos têm de responder.
E resumem sua posição no debate poético contemporâneo assim: ‘Forma e função,
uso como profanação do estático posto em movimento, Modo de Usar & Co.’


Fundada pelos poetas Angélica Freitas, Fabiano Calixto, Marília Garcia e
Ricardo Domeneck, com idades entre 30 e 40 anos, Modo de Usar & Co. (204
págs., R$ 20) traz os ensaios dos poetas-críticos Dirceu Villa sobre a obra de
Dom Tomás de Noronha – ‘figura singular, extravagante e boêmia’ – e Franklin
Alves Dassie sobre a obra de Sebastião Uchoa Leite (1935-2003) – ‘quem não se
contradiz/ não diz’. Franklin mostra como o uso pelo poeta pernambucano de
formas e procedimentos relacionados normalmente a uma poesia do mínimo e do
conciso não o filiam de modo passivo a essa estética. O ensaísta debate, para
além da perspectiva rasa, as implicações poéticas da obra de Uchoa Leite.


Trocando sugestões e críticas via e-mail, já que nenhum dos editores mora no
mesmo Estado, os quatro decidiram publicar traduções de poetas de outros
contextos histórico-culturais, cujos trabalhos são pouco vertidos para o
português, como Hans Arp, Pierre Albert-Birot, H.C. Artmann, Gerhard Rühm, Jack
Spicer, John Cage, Benjamín Prado, Gonzalo Rojas, Martín Gambarotta, etc.


Além das traduções, os editores-poetas trazem suas contribuições. Fabiano
Calixto publica o poema Animal Boy, em homenagem ao cineasta Rogério Sganzerla,
pródigo em referência a elementos contemporâneos e como que uma carta poética de
intenções, das quais o novo periódico está embebido.


Nascida para ser anual, mas com a intenção de ser semestral, Modo de Usar
& Co. pode ser comprada pelo e-mail revistamododeusar@gmail.com. Mais
informações no revistamododeusar.blogspot.com.’



ENTREVISTA / WALDEREZ DE BARROS
O Estado de S. Paulo


‘Numa montagem, admiro a simplicidade e a entrega’


‘A atriz Walderez de Barros tem 45 anos de carreira dedicada ao teatro, ao
cinema e à televisão. A semente artística foi plantada no teatro estudantil: o
início se deu com o diretor Fauzi Arap, no Centro Popular de Cultura, da UNE,
nos anos 1960, quando estudava filosofia na USP, na R. Maria Antônia. Foi
premiada pelas interpretações em peças de Sófocles, Eurípedes, Shakespeare,
Chekhov e Plínio Marcos. No cinema, fez Outras Estórias, de Pedro Bial, e
Copacabana, de Carla Camurati. Na TV, estreou com a revolucionária novela Beto
Rockfeller (1968), de Bráulio Pedroso, na TV Tupi. Sua última atividade
televisiva foi em Páginas da Vida (Rede Globo), de Manoel Carlos. Revelou neste
mês sua veia poética em uma exposição de gravuras inspiradas em seus poemas
inéditos, em cartaz até o dia 24 de janeiro no Espaço Cultural Monte Bianco (Rua
Dr. José de Queiroz Aranha, 222, 5083-1106). Desde agosto, ela está gravando
Alice, série dirigida por Karim Aïnouz e Sergio Machado para o canal pago HBO,
com estréia prevista para 2008.


Que atores ou atrizes cujo trabalho em teatro você acompanha?


Bibi Ferreira em primeiro lugar, sempre vou vê-la quando faz um trabalho.
Vejo tudo o que ela faz. Não perdia Paulo Autran. Eles são os grandes mestres do
teatro, com quem trabalhei e aprendi tudo.


Qual o diretor de teatro cujo trabalho admira em especial?


Há dois diretores: Jorge Takla e Gabriel Villela, com quem tenho trabalhado,
além do Marcio Aurelio. Tenho afinidade com a arte que eles fazem. O meu
trabalho com eles me abriu portas.


Dê um exemplo de criador teatral (intérprete, diretor ou dramaturgo) muito
bom, mas injustiçado.


Cleyde Yáconis não recebeu todas as glórias que merece, embora tenha recebido
muitas. Ela é a nossa grande dama do teatro, ao lado de Bibi Ferreira. Eu julgo
uma atriz pela ousadia do currículo, e ela tem um currículo que é invejável, é
boa em tudo o que faz.


Cite uma montagem teatral que frustrou suas melhores expectativas.


Eu vou com tanta paixão ao teatro que sempre vejo alguma coisa boa. Sempre
saio empolgada com alguma coisa: interpretação, direção ou texto. É difícil sair
arrasada, talvez porque saiba selecionar.


E uma criação teatral surpreendente: boa e pela qual você não dava nada.


Amigas Pero No Mucho, de Célia Forte. Achava que seria divertido, estavam
todos meus amigos lá, mas foi surpreendentemente bom, achei que ia ver só uma
bobagem.


A cena brasileira tem algumas montagens teatrais antológicas. Cite algumas
que tenham sido marcantes em sua vida.


A primeira vez que vi Cacilda Becker no começo dos anos 1960, na peça Em
Moeda Corrente do País, de Abílio Pereira de Almeida. Eu me lembro de ter saído
do teatro chorando, enlouquecida. A interpretação me marcou profundamente.


Que montagem lhe fez mal, de tão perturbadora?


Com o tempo, a gente tem um olhar diferente para o teatro: perde-se a
virgindade do olhar. As coisas mais marcantes aconteceram antes. Lembro-me das
peças do Fauzi Arap, de Pequenos Burgueses, de Máximo Górki, em que conheci o
Fauzi, com quem trabalhei e que passei a acompanhar.


E que espetáculo teatral mais a fez pensar?


As peças encenadas pelo Arena, às quais assisti quando ainda estava na
faculdade. Elas me abriram uma perspectiva política.


Comédia é um gênero menor?


Não, pelo contrário. É um gênero dificílimo de fazer. A primeira peça que eu
fiz com Gabriel Villela foi A Ponte e A Água de Piscina, do Alcides Nogueira,
que tem momentos de comédia que eu gostava muito de fazer, embora a peça não
fosse exatamente uma comédia. Com a montagem puxamos para comédia.


Cite uma peça difícil, mas boa.


O teatro do Plínio Marcos tem essa característica, e é necessário até
hoje.


Que peça escrita nos últimos dez anos mereceria, para você, um lugar na
história do teatro brasileiro.


Tenho carinho especial por Novas Diretrizes em Tempos de Paz, do Bosco
Brasil, montada com o Dan Stulbach. Ela tem um texto maravilhoso. Os textos do
Alcides Nogueira merecem um lugar de destaque, ele está escrevendo cada vez
melhor.


Qual texto dramático clássico brasileiro, de qualquer tempo, você
recomendaria encenações constantes?


Recomendo Chekhov sempre. Fiz três montagens de A Gaivota. Sempre é bom ter
um Chekhov em cartaz.


Que peças (ou autores) de peças (brasileiros ou estrangeiros) sempre
presentes nos cânones não mereceriam seu voto?


Se não gosto, não lembro o nome. Aclamam muito um autor e você vai para
conferir. Se não gosta, esquece o nome.


E um sempre ausente no qual você votaria?


Meu filho Léo Lama, que está escrevendo muito bem, com textos maravilhosos
que não foram devidamente montados. Logo ele vai estourar, estão descobrindo os
textos dele.


Que montagem (ou ator, autor, diretor) festejado pela crítica você
detestou?


Gerald Thomas. Vi uma e outra montagem, e não gostei. Percebi que o universo
dele não me interessa.


E de que montagem (ator, diretor, autor) demolida por críticos você
gostou?


Acontece muito de demolirem a montagem, mas não o artista. Uma crítica da
Mariangela (Alves de Lima) à peça A Rua da Amargura, do Gabriel Villela, foi
indelicada e muito injusta. Os críticos se equivocam profundamente, às
vezes.


Que virtude mais preza no bom teatro?


Gosto muito de espetáculos que estão na medida do que podem dar, quando se
descobre ali um tesouro. Aprecio as montagens despretensiosas, aquelas feitas
com poucos recursos, mas que têm ali sinceridade, entrega. Admiro a
simplicidade.


E o que mais a incomoda no mau teatro?


Não suporto pretensão. Quando vou assistir a um espetáculo muito pretensioso,
do ponto de vista intelectual, fico bem aborrecida.’



TELEVISÃO


Etienne Jacintho e Keila Jimenez


Eleição nada democrática


‘Melhor do que desligar a TV é assistir ao que ela tem de pior e criticar,
criticar e criticar. O que seria de nós, simples e mortais telespectadores, se
não fossem os fiascos de audiência, os micos, as obras ininteligíveis, os
arroz-de-festa, os engavetados, os ex-BBBs e todas as celeumas e mazelas dessa
fábrica de loucos.


Em um balanção de 2007, reunimos em divertidas categorias algumas das
atrações e artistas que foram assunto este ano, mesmo que em uma conversa de
bar.


Mas não espere uma lista de melhores do ano na telinha. Essa está na página
seguinte, devidamente votada pelo democrático júri popular.


A eleição abaixo foi realizada pela equipe do TV & Lazer, que criou
categorias e escolheu seus respectivos vencedores com total parcialidade e
escracho. Uma homenagem bem-humorada à reciclagem de programas e personagens
que, ainda assim, cativam a audiência. Porque, em se tratando de TV, quem mais
reclama é quem mais vê.


Tecla SAP


A proposta foi boa, mas quem entendeu a minissérie A Pedra do Reino?
Legendas, por favor!


Arroz-de-festa


Diego Hypólito ganhou medalha, foi comentarista, participou de novela…
Chega, não?


Diego Alemão


Categoria que retrata aqueles que prometiam, mas não deram em nada. Vencedor:
Donas de Casa Desesperadas, da Rede TV!


Vô, num vô!


Quem não vai no Rodrigo Hilbert (Duas Caras) ou na Camila Pitanga (Paraíso
Tropical)? Já o Cadelão de Ed Oliveira, também de Paraíso, e a Carola de
Fernanda Souza, em O Profeta, ganham um grande ‘num vô!’ Nas séries, todo mundo
vai no Jonathan Rhys-Meyers (The Tudors) e na Katherine Heigl (Grey’s Anatomy),
mas não dá para ir no Jorge Garcia (Lost) e nem na Ugly Betty de America
Ferrera.


A desinibida do Grajaú


Alzira (Flávia Alessandra) finge ser enfermeira em Duas Caras, mas gosta
mesmo é de dançar no poste.


Não faz me rir


Toma Lá, Dá Cá consegue ser pior do que Zorra Total no quesito sem graça.
Saudades de A Diarista.


Hematoma


Mais do que a Record, quem causou grande baixa nas produções da Globo foi a
Dança no Gelo, de Faustão. De fraturas a traumatismo craniano.


José Mayer


O maior pegador nas novelas no momento é Juvenal Antena (Antônio Fagundes).
Até Alzira caiu na dele. Vale lembrar que o papel seria do próprio Mayer em Duas
Caras.


Ex-BBB


Sem chance nenhuma de dar certo, o programa de Supla saiu do ar no SBT logo
após a primeira e única exibição. Pobre papito.


Mico do ano


O bordão ‘Dança Galvão!’ fez o locutor pagar micos seguidos no Pânico. Até a
Globo sofreu com a invasão de siris na tela


Saia do armário!


Ronaldo Ésper – aquele do vaso no cemitério – assumiu que é gay no Superpop.
Só Luciana Gimenez não sabia…


Lost


Quando você perde um episódio, não consegue entender mais nada da trama. Com
Heroes foi assim, até pela quantidade absurda de mutantes em cena.


Cabral


O televisivo que fez a grande descoberta do ano foi Silvio Santos, que
ensinou ao País no ar que ‘muçarela’ é com ‘ç’ e não com ‘s’.


Pingüim


Mais congelado que lasanha de caixinha, Ratinho passou o ano na geladeira do
SBT.


Merchan Neves


Eles criaram a piada e caíram nela. O Pânico foi um dos programas com mais
merchandisings este ano. Só faltou anunciar a manjada iogurteira Top Term.


Zizou


Em homenagem à cabeçada de Zidane, o título de mesa-redonda mais briguenta
vai para a clássica Mesa-Redonda da Gazeta.


Extreme Makeover


Que fique claro que Alinne Moraes é linda e que não temos dor-de-cotovelo.
Mas que ela mexeu no rosto em 2007, ah, mexeu…’



Keila Jimenez


Paraíso mandou bem na eleição dos melhores do ano na TV realizada pelo TV
& Lazer


‘Nem o criador imaginou o sucesso da criatura. Bebel (Camila Pitanga) e Olavo
(Wagner Moura) roubaram a cena literalmente em Paraíso Tropical. A musa de
‘catiguria’ do calçadão de Copa brilhou muito mais que o empresário invejoso, é
fato, mas juntos eles aqueceram o ibope da trama das 9 da Globo.


Reflexo sentido em nossa enquete, é claro. Com menos categorias abertas este
ano para a escolha do público, a votação dos melhores da TV foi promovida pelo
TV & Lazer entre os dias 16 e 19 de dezembro, no portal do Estadão. Bebel,
Olavo e Paraíso abocanharam três categorias.


Camila arrebentou, vencendo como melhor atriz, com 64% dos votos. A segunda
colocada, também de Paraíso, foi Alessandra Negrini.


Wagner Moura não teve concorrência. Bateu Tony Ramos – veja bem, isso não é
pouco uma vez que o peludo ator sempre leva os prêmios em nossa enquete anual.
Olavo rendeu a Wagner 58,1% dos votos na categoria melhor ator. Deixando de lado
a lavada do vilão global, Heitor Martinez foi bem com seu caricato Jacson em
Vidas Opostas.


Paraíso também surrou as concorrentes. O público a elegeu como a melhor
novela de 2007, com 52,2% dos votos. A trama que começou fraca em ibope,
conquistou seu espaço, encerrando sua jornada em alta na Globo, e com muita
repercussão na mídia. O segundo lugar ficou para Vidas Opostas (Record), com
23,1%, seguida por O Profeta, Duas Caras e Caminhos do Coração.


O melhor programa, de novo


Não deve mesmo ser fácil concorrer com as camisas incríveis do Agostinho
(Pedro Cardoso) ou com o corte de cabelo do Beiçola (Marcos Oliveira) – que nem
precisa falar em cena. É só aparecer, para arrancar gargalhadas. Tanto, que A
Grande Família sai mais uma vez consagrado como o melhor programa da enquete
promovida pelo TV & Lazer. Com 36,9% dos votos, o seriado venceu
concorrentes que deram o que falar neste ano, como Hoje em Dia (20,5%) e o
Pânico na TV (18,5%), e outros que já tiveram dias melhores, como Fantástico
(13,4%) e Caldeirão do Huck (10,4%).


Com uma direção de arte impecável, roteiros sagazes e um elenco que dispensa
qualquer comentário, o programa mantém o mesmo fôlego desde a estréia, em 2001,
levando ao ar uma mistura pop interessante – a de um humor popular, mas de
piadas inteligentes e situações absurdas, nunca descambando para a vulgaridade
que os humorísticos da TV aberta costumam oferecer.


Não é à toa, então, que tenha vencido como o melhor humorístico simplesmente
três vezes (2003, 2004 e 2005) e saído vencedor também como melhor programa em
2003 e 2005.


Jornalístico


Categoria disputada, mas sem novidades. Quem levou a melhor entre os
jornalísticos foi o Jornal Nacional (25,7%) , mas passou longe da vitória fácil
de eleições anteriores. O noticiário disputou voto a voto com o Jornal da
Record, que ficou com 25,3% dos votos. Em terceiro lugar outro global, o Jornal
da Globo, seguido pelo Jornal da Band e Jornal da Cultura.’



Mário Viana


Da arte de dar nome aos bois


‘Batizar um filho é a maior complicação. Imagine, então, o que é encontrar
nome para 45, 50, às vezes mais, criaturas nascidas da imaginação. Antes mesmo
da trama de uma novela ganhar força, o cérebro do dramaturgo ferve ao buscar o
nome certo para cada personagem. Sim, cada personagem deve ter o nome certo –
mesmo que seja Dorgival. Numa obra que consome R$ 250 mil por dia, nada pode ser
aleatório.


Em Sete Pecados, Walcyr Carrasco não perdeu tempo com sutilezas. Dante e
Beatriz são uma óbvia referência ao escritor italiano Dante Alighieri, autor do
clássico Divina Comédia, e sua musa. Na trama, Beatriz é protegida pelo anjo da
guarda Custódia (Claudia Jimenez). No dicionário, custódia é o ato de proteger e
é também o nome do vaso em que se guarda a hóstia, nas igrejas católicas. Já o
casal mais popular da novela, Romeu e Juju, vive uma história de amor proibido,
como se fossem os personagens de Shakespeare na idade madura.


Na Record, a estreante Gisele Joras também foi explícita em Amor e Intrigas.
Celeste (Denise del Vecchio) é uma personagem alegre, pra cima, do bem –
celestial, mesmo. Já a vilã Dorotéia (Ester Góes) é dura, seca, impiedosa. Não
dá pra esperar outro comportamento de uma mulher com esse nome. Em Caminhos do
Coração, a mocinha é uma pureza só. E, portanto, se chama Maria – nome da mãe de
Jesus em emissora evangélica pega bem pra caramba.


Dos autores estrelares, nenhum vai mais longe que o blogueiro Aguinaldo
Silva. Ele sempre traz para a linha de frente nomes que outros autores destinam
a empregadas, porteiros e personagens simplórios. Nazaré, a inesquecível vilã de
Senhora do Destino, é um exemplo. Duas Caras também carrega a marca do autor.
Alguém lembra de outra moça tão vistosa como Flávia Alessandra que levasse o
nome de Alzira? Nas novelas, Alziras quase sempre são tias, no máximo,
secretárias. É tão ousado como chamar o herói de Evilásio. Aguinaldo só
escorregou no Dorgival, um nome diferente demais – que me perdoe o sanfoneiro
potiguar Dorgival Dantas. E, como estamos falando de Duas Caras, alguma pista
deve haver no nome de Gioconda. De risonha, como diz o original italiano, a
Gioconda de Marília Pêra não tem nada. Aquela milionária lesadinha deve ter
algum segredo muito bem guardado.


e-mail: mvianinha@hotmail.com.br’



Etienne Jacintho


Lost volta dia 31 de janeiro


‘Uma boa notícia para os fãs de Lost: a 4ª temporada estréia no dia 31 de
janeiro nos EUA. Infelizmente, só há oito episódios prontos por causa da greve
dos roteiristas, mas já dá para ter uma amostra dos flashfowards na história.


A ABC liberou também mais um trailer da nova temporada, desta vez com a data
certa do retorno da série, e vale a pena ver. O vídeo lança mais uma incógnita
no mundo de Lost: o letreiro avisa que o suposto resgate chegou – e mostra um
helicóptero -, mas ‘alguns sobreviventes vão deixar a ilha e outros, não.’


Bom, Kate e Jack estão entre os resgatados, como foi visto no último episódio
da última temporada, mas o trailer termina com a cena em que os dois se
encontram no aeroporto e Jack grita para Kate: ‘Nós temos que voltar!’


Quem quiser assistir aos trailers, podcasts e vídeos sobre Lost, basta entrar
no site da ABC (http://abc.go.com).


O canal também estreará as séries Cashmere Mafia, no dia 3 de janeiro, e Eli
Stone, dia 31.


A primeira traz Lucy Liu no elenco e conta as peripécias de quatro amigas e
super executivas em Nova York – bem no estilo Sex and the City. Já Eli Stone é
uma espécie de Ally McBeal, mas com personagem masculino no papel principal. O
astro é Johnny Lee Miller (de Trainspotting), ex-namorado de Angelina
Jolie.’



Alline Dauroiz


‘No SBT ninguém me via’


‘Rodrigo Veronese pode sim dizer que a vingança é um prato que se come
quente. Logo após ser trocado em uma novelinha B do SBT por Dado Dolabella –
veja bem, isso não é nada bom – o ator emplacou seu primeiro papel na Globo.
Lucas de Paraíso Tropical, o terror das balzaquianas que viveu um romance com
Ana Luísa (Renée de Vielmond), saiu da novela e teve de voltar a pedido do
público.


A guinada lhe rendeu grana, fama e mais um bom personagem. Veronese estará no
núcleo cômico da próxima novela das 7 da Globo, Beleza Pura. Viverá um químico,
que morre ao tentar descobrir uma fórmula mágica, mas depois volta à história.


Em entrevista ao Estado, o ator revela os segredos de sua virada.


Depois de fazer sete novelas (no SBT e Record) o que sente em ser considerado
ator revelação de 2007?


Parece que só agora fui descoberto, né? Tento entender que para o grande
público eu era desconhecido, porque trabalhei em emissoras que, na ocasião,
tinham pouco ibope. Eu inverti a gramática da coisa, porque se fosse entender
como ator revelação, realmente é meio frustrante. Tenho uma carreira de 17 anos
(Veronese tem 37 anos). Não gosto de sentir que ainda tenho de provar minha
competência.


Qual a diferença de fazer uma novela na Record, no SBT e na Globo?


Trabalhei na Record de 1997 a 2000 (antes da nova fase de teledramaturgia),
quando a novela dava só 6 pontos de audiência. O que eu sentia na Record, e
sinto até hoje no SBT, é que você faz um trabalho, mas ninguém te vê. O
termômetro do sucesso é a sua família, seus amigos … O assédio da imprensa é
menor. Não há críticas positivas nem negativas. Já a Globo te transforma em
celebridade, que é o grande ponto negativo. Você vira uma pessoa pública.


Fez curso de ator?


Fui descoberto na balada, comecei a fazer propaganda e passei a ser disputado
pelas maiores agências de modelos de São Paulo. Graças a uma das campanhas
publicitárias fui parar na oficina de atores da Globo: um curso de seis meses,
do qual saí um pouco antes, para ser contratado pela Record. Tirando isso, nunca
fiz curso, mas não sinto falta. Sou preguiçoso.


Como você se prepara para seus personagens?


Gosto do dom da observação. Meu forte é a ‘antropologia visual’. Vejo muito
filme e TV.


Por que demorou para ser reconhecido?


Porque demorei para ir para a Globo. Nas vezes em que a Globo me chamou, eu
estava contratado em São Paulo. Recusei dois convites lá. Quando fazia novela na
Record, fui convidado para Laços de Família, para o papel do protagonista Edu
(que lançou Reynaldo Gianecchini). Mas tem um lance muito doido. Lembro de ter
uns 25 anos e as pessoas me perguntarem: ‘E a Globo?’. E eu respondia: ‘Vou
estrear na Globo com 37 anos, numa novela do Gilberto Braga’.Isso se profetizou.
Acho que atores que explodem com fama mais tarde têm uma carreira mais
estabilizada, porque têm maturidade. Comecei a fazer novela com 27 anos. O
Marcelo Antony estourou na Globo com trinta e poucos anos, o Wagner Moura está
estourando agora.Assim é mais fácil administrar essa loucura do assédio sem
pirar.’

CONTINUA …


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Folha de S. Paulo – 1


Folha de S. Paulo – 2


O Estado de S. Paulo – 1


O Estado de S. Paulo – 2


O Estado de S. Paulo – 3


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