Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Globo

TELEVISÃO
Elena Corrêa

Diante de uma nova página

‘Uma tarde com Sonia Braga na Confeitaria Colombo, casa fundada em 1894 e que representa um retrato vivo da belle époque carioca, e o resultado do bate-papo preencheria páginas e páginas. Não que ela tenha muito a contar sobre Tonia, a artista plástica que marcará sua volta a uma novela inteira da Rede Globo, ‘Páginas da vida’. Ela própria brinca ao ser indagada por um garçom da confeitaria se a novela está bem: ‘Eu acho que está, né? As minhas páginas ainda estão em branco…’.

Explica-se: Sonia só entrará em ‘Páginas da vida’ na segunda fase da trama, que deve começar esta semana, e, até a tarde desta entrevista, ela só tinha gravado uma cena. Difícil mesmo foi manter um diálogo sem interrupções. Freqüentadora da Colombo há décadas, a todo momento a atriz era assediada por funcionários e habitués da confeitaria que vinham saudá-la. Sonia estava contando que deixou sua casa em Niterói e resolveu alugar um apartamento no Leblon, quando Seu Orlando, garçom há 54 anos na Colombo, veio cumprimentá-la: ‘Essa é a número 1 da Colombo. Tem um prato aqui que se chama Sonia Braga’, conta ele, logo em seguida trazendo o cardápio para ela ver.

– Eu venho exatamente antes do Getúlio Vargas e em seguida vem o Villa-Lobos – diverte-se a atriz, referindo-se aos nomes dos pratos. – E olha as fotos! Gente, eu e Santos Dumont, os dois que viajam (risos).

Bem, voltemos à entrevista. Ela termina de contar que se mudou para o Leblon para ficar mais perto das gravações da novela. E explica, de novo, que a primeira vez que foi para os Estados Unidos não foi em busca de emprego. Foi atendendo a um convite da Metro para filmar ‘Gabriela’. A partir daí, outros convites vieram de fora. E também a vontade de aprender outro idioma, já que só falava português…

– Fiquei esses anos todos aprendendo inglês. Como aprendi tarde, não falo sem sotaque. Mas acho bonito. O mundo tem que se aceitar com todos os seus sotaques.

Nesse ponto, o capuccino já tinha acabado, os sanduíches sido devorados, e Seu Orlando reaparece solicito. Até ‘arranha’ no inglês:

-5 Quer uma torrada? Vou fazer. Quer? Toast com manteiga?

Sonia aceita. Pede uma xícara de café com leite (‘daquelas grandonas’, especifica) e continua contando que viajou muito levada pela sua ‘essência cigana’, namorou muito também, mas só com um dos namorados teve vontade de ter filho. A relação acabou antes que a família se formasse. Ela não cita nomes:

– Não é questão de privacidade, é respeito. São pessoas que são meus amigos.

Ela também não dá nome ao tipo de exercício que faz no Jardim Botânico, acompanhada de um casal. É filosofia oriental?

– É tudo. Não é isso, mas é de onde vem os movimentos. É uma integração com a natureza – diz ela. – Acho cabível para a personagem, mas não sei se o Jayme (Monjardim, diretor) ou o Manoel Carlos (autor) vão usar.

Nova pausa. Agora para Maria, irmã de Sonia, apresentar um jovem que ela conheceu ainda criança, no Rio Comprido. A atriz pergunta como é mesmo o nome da mãe dele e manda beijos para ela.

Voltando à novela, Sonia diz que, como um dos seus grandes problemas é não ter rotina, está adorando ter roteiro de gravação, roteiro de vida…

– Porque quando não estou trabalhando só vou para a cama sabendo que vou acordar. Pelo menos eu espero (acordar), né? – brinca.

E, de quebra, Sonia ainda vai ter a chance de encontrar amigos de longa data em ‘Páginas da vida’. Com Tarcísio Meira e Regina Duarte, ela contracenou em ‘Irmãos Coragem’ (‘Eu era a rival da índia Potira, entrei para causar problema na vida dela. Tadinha, era tão boazinha a índia Potira, lembra?’, recorda Sonia). Em sua segunda novela, ‘Espelho mágico’, ela era Cíntia Levi, uma atriz que tentava seduzir o personagem de Tarcísio, com quem formará par romântico na trama de Manoel Carlos. Aliás, foi ali que ela virou a Tigresa da música de Caetano Veloso.

Renata Sorrah e Marcos Paulo, que também entrarão na segunda fase da novela, são outros amigos das antigas. Marcos Paulo foi o primeiro que conheceu, já que ela estreou na TV fazendo o programa ‘Jardim encantado’, com Vicente Sesso, pai do ator. E Renata é sua comadre:

– Sou madrinha da Mariana, a afilhada que nunca vejo. Isso parece poesia, né?

Garçom à vista! Ela pede:

– Tem brigadeiro?

Em seguida, jura que tem problema com a balança, mas também adora comer. Não gosta de ginástica, porque, segundo ela, tem uma natureza preguiçosa. Parou de fumar, diz que raramente bebe…

– E tomo muita água. É o grande segredo! Então, vamos aproveitar enquanto tem!

Só que, aos 56 anos, uma passadinha pelas mãos de Ivo Pitanguy para um lifting ajudou a fugir do estigma de só ganhar papel de ‘mãezona’ tanto no cinema quanto na TV. E já que, no terceiro brigadeiro, o assunto é televisão, após apontar as novelas brasileiras como as melhores do mundo, ela destaca seu desejo de que esse mesmo investimento fosse feito em cultura para criança: ‘Que tivesse essa mesma energia para educação, alfabetização, como tinha Vila Sésamo’, diz ela, que atuou no programa nos anos 70. Se ela abraçaria novamente um projeto como este?

– Com certeza. Mas eu sou uma atriz. Quero saber onde está a pessoa que o faça.

Fica a sugestão.’



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