Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O jornal e a lição de Goebbels

Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler e o segundo dirigente mais importante do nazismo, afirmava que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade. Ao que parece, a idéia de Goebbels tem influenciado o Globo, especialmente quando se trata de questionar o inimigo político nº 1 do jornal, o prefeito Cesar Maia.

Na edição do dia 17/9, em matéria de página inteira no ‘Segundo Caderno’, o Globo afirma que o custo das obras da Cidade da Música teve um crescimento de 633% em seu valor original.

Neste ponto, o jornal revive Goebbels e reitera uma informação falsa, divulgada pela primeira vez, no próprio Globo, em fevereiro deste ano, de que o custo da Cidade da Música teria sido estimado, inicialmente, em R$ 80 milhões.

Por conta da matéria, um vereador de oposição a Cesar Maia requereu e conseguiu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e um promotor do Ministério Público Estadual (MPE), atento leitor do Globo, solicitou a abertura de um Inquérito civil.

No entanto, ao ser questionado pela CPI e pelo MPE sobre a Cidade da Música, o Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro (TCM) relacionou todos os contratos que contam a história da obra e enviou um documento que desmente de forma cabal o jornal O Globo.

Crítica, sim; mentira, não

Na documentação remetida pelo TCM à CPI e ao MPE, fica-se sabendo que o valor da 1ª licitação (terraplenagem, demolições e limpeza do terreno) foi de R$ 2.883.440,60, com o contrato assinado no total de R$ 1.781.966,29. A 2ª licitação (fundações, impermeabilizações e supra-estrutura do prédio) foi divulgada com o valor de R$ 97.670.968,24, com a empresa vencedora assinando o contrato pelo montante de R$ 77.599.584,22.

Somente com as duas primeiras licitações, já é possível perceber que O Globo divulgou uma informação falsa. Mas, o TCM prosseguiu, informando as demais licitações, referentes a outras fases da obra. Na 3ª delas (obras de complementação da construção do prédio), o contrato foi assinado por R$ 145.051.309,00, quando o edital da concorrência estimava um custo de R$ 149.722.655,87.

Com isto, a CPI perdeu o seu objeto, pois afinal sua criação deveu-se a informação falsa divulgada pelo Globo, e o Inquérito civil, também baseado na matéria do jornal, a cada dia recebe mais e mais papéis, que ocuparão espaço nas prateleiras do MPE. Enquanto isto, temas mais consistentes são deixados de lado, como o não pagamento dos precatórios pelo governo do estado.

Uma coisa é ser contrário à Cidade da Música, ao elevado investimento que as obras tiveram. Este é um direito que cada cidadão tem. Outra é, a partir desta posição, criar e permanecer repetindo uma mentira. Provavelmente, O Globo acredita que na milésima vez ela se torne verdade.

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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ