Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O jornalismo, o jornalista e os bens simbólicos

Rádio, televisão, jornal, revista e livros são meios eficazes de comunicação; eles são ‘os olhos e os ouvidos da sociedade’, como afirmava o jurista Ruy Barbosa. Abrangem quase todos os territórios, informando/formando/divertindo as pessoas com as coisas mais diversas e criativas. Os meios de comunicação são importantes para a sociedade hodierna, como nos lembrou o jornalista Rodrigo Manzano no artigo ‘Hoje não tem jornal’ [Revista Imprensa, 15/02/2008]:

‘Pois bem, agora responda: o quanto os jornais farão falta a você? O quanto eles correspondem àquilo que você precisa no seu cotidiano, ou àquilo que sacia sua fome e sua sede de informação? Se, a partir de amanhã, um decreto fosse baixado por uma entidade superiormente poderosa e nele estivesse determinado que todo e qualquer ser humano precisa se informar longe dos jornais, revistas, televisão, rádio e internet, sua vida ficaria melhor ou pior?’

Pois bem, esses meios são o espaço das pessoas trabalharem na transformação do mundo e renovação da sociedade. Nos bastidores desses meios de comunicação ficam os profissionais comprometidos com os valores éticos de informar bem: competência e honestidade. Assim é o jornalista, o agente, por excelência, da informação. No entanto, de certa forma, todo cidadão é chamado a informar de forma eficiente.

Ser jornalista é ser acima de tudo cidadão, pessoa bem formada e informada a serviço, antes de mais nada, da sociedade. Ele deve agir com ética na ação correta e verossímil. Tudo para formar compromisso, cidadania e liberdade. Assim, o jornalista deve comunicar, observando a importância de sua profissão para a comunidade a quem ele serve.

Responsabilidade e esclarecimento

Desse modo, a sociedade deve também valorizar os jornalistas, exigindo qualidade na formação e mais liberdade para o serviço da informação. Saber das notícias é formar opinião, construindo um país com menos desigualdades e corrupção. A partir disso, o jornalista torna-se, também, observador minucioso das práticas perversas contra a dignidade humana. Agente vigilante em prol da cidadania e da liberdade. Portanto, os meios de comunicação são importantes mecanismos de estrutura social e suas complexas redes de conexão. Tudo isso mediado pelo jornalismo, em sua dinâmica de ajudar na construção da sociedade.

Todas as sociedades desenvolvidas sentem a necessidade de manter seus cidadãos informados, comunicativos e unidos. Para tanto, existe o jornalismo. Serviço social importantíssimo para todas as pessoas, em todos os tempos. Jornalismo é sinônimo de informação; por ele, os diversos grupos que formam a sociedade mantêm-se atualizados. Tal função é interessante porque remonta a valores e idéias que os estudiosos chamam de bens simbólicos.

Estes podem ser informativos, mas também geram opiniões que determinam a forma como as pessoas entendem o mundo. Também influenciam no comportamento, nas decisões políticas, sociais, econômicas e morais de uma sociedade.

Todo esse complexo de valores pode ajudar a desenvolver a coletividade de forma muito eficaz. Informar com ética, competência e cidadania é formar e educar para a vida. O que gera, nas diversas camadas sociais, um senso de responsabilidade e esclarecimento. Assim, o jornalista deve ser o agente do esclarecimento, aquele que contribui para o bom êxito do desenvolvimento humano.

Cultura de mercado

Não é por acaso que o jornalismo, junto com as diversas formas de comunicação, detém um poder quase ilimitado. Ele convence e, por isso, também pode ser utilizado para dominar, informando de acordo com os interesses das elites. Então, o jornalismo deixa de servir ao bem público e passa a ser usado para deturpar e esconder a realidade, como nos alertava Gramsci na suas reflexões sobre a função dos intelectuais e dos jornalistas. São os intelectuais que formulam um grupo de idéias, crenças, relações sociais, a hegemonia, superestruturas de manutenção do status quo.

Entretanto, o que marca todo o mecanismo de enviar e receber notícias é o compromisso com o público (sociedade), apresentando às pessoas os fatos cotidianos, para gerar opinião. Em todos os serviços prestados à sociedade, o objetivo do jornalista deve ser a cidadania, o bem-estar do povo e a fidelidade para com a realidade do mundo, construída historicamente.

Dado isso, reflete-se o papel do jornalista como agente cultural. Aqui a nossa reflexão vai além do senso comum que pensa a cultura como erudita e clássica. Nosso pensamento destaca a literatura, a dança e as artes plásticas, vindas da manifestação popular, original que se tem no interior do Brasil, por exemplo, e que muitas vezes são exploradas por agentes do mercado como caricatura exótica tupiniquim a serviço da mass media. Mercadoria lucrativa, os bens de consumo de massa que se vendem por aí: imagens, sons e o pensamento pop. Eles são consumidos em alta escala, gerando bilhões de dólares para a indústria cultural, que os fazem ao modo de produção taylorista/fordista. Qual o papel do jornalismo nisso tudo? Combatemos ou solidificamos a cultura de mercado dos nossos bens simbólicos?

Um espaço social decente e digno

Hoje muita gente no Brasil tem televisão, ouve rádio, lê jornais e livros, navega na internet muito mais que nos anos anteriores. Entretanto, a involução cultural se solidifica principalmente quando se fala do acesso do pobre e carente à cultura vendida do cinema, do teatro e a da biblioteca. Para os jovens sem recursos, por exemplo, a única fonte de informação é a televisão, que simplesmente dá entretenimento e fornece a cultura hegemônica dos poderosos.

Por isso, a cultura como passaporte para emancipação não consegue fornecer uma análise crítica da realidade à luz de instrumentais vindos da diversidade cultural popular, traduzidos em bens: os livros, os museus, a boa música e o cinema.

No entanto, é possível pensar na cultura como uma forma salutar de mudança social e o jornalista como agente cultural qualificado para tal feitura. Porque uma boa formação cultural prepara a pessoa para viver num espaço social decente, crítico, justo e digno.

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Jornalista, escritor e professor auxiliar na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Itapetinga (BA)