Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

O lucrativo mercado das celebridades

‘Enquanto as revistas femininas tradicionais lutam para manter a circulação, as revistas semanais de celebridades estão vendendo mais de 7 milhões de exemplares por semana.’

Não fosse pelo número de exemplares vendidos, poderíamos acreditar que a informação acima (publicada no New York Sun no sábado, 26/7) se refira ao que acontece no mercado editorial brasileiro. Aqui, não se consegue chegar às mesmas vendas, mas o número de publicações do setor é o mesmo: oito lá (People, US Weekly, In Touch, Star, Life & Style Weekly e OK, esta importada da Inglaterra), oito aqui (Caras, Quem Acontece, Contigo, IstoÉ Gente, Chega Mais, Amiga, Minha Novela, Tititi e Fuxico).

O que essas revistas, lá como cá, trouxeram de novo ao mercado editorial foi trocar informação e serviço pela fofoca pura e simples, de preferência em fotos. Os textos entram para mostrar aos leitores como vivem as estrelas, explicando o que elas comem, o que vestem, como decoram suas casas, que lugares freqüentam e, mais do que tudo, com quem ficam – ou deixam de ficar. O importante é mostrar ao leitor quem as estrelas (de Hollywood lá, da Globo aqui) estão namorando.

Coisa de adolescente ou de jovens imaturos e insatisfeitos? Talvez. Os pesquisadores americanos, que adoram um rótulo, até já deram um nome a esse público-leitor. São os millenials, termo que com certeza logo será adotado pelos marqueteiros brasileiros, embora ninguém saiba direito o que quer dizer. Como explica o vice-presidente da companhia de pesquisas DYG Inc:

Ninguém sabe exatamente quem são os millenials. A maioria diz que eles nasceram entre 1976 e o começo dos anos 1990. Os mais velhos têm 30 e os mais novos estão pelos 14 anos. Este grupo, que cresceu com a internet, soma mais de 70 milhões de pessoas e já é tão grande quanto a geração dos baby-boomers. A maioria dos publishers de revistas, que tem boa parte de seus leitores entre os baby-boomers, quer, desesperadamente, atrair esse grupo, mas encontra dificuldades na tarefa. As únicas publicações que, até agora, conseguem atrair um número cada vez maior desses leitores são as revistas de celebridades. Nos últimos seis meses, In Touch aumentou seu número de páginas em 33,5%, e Life Style cresceu 21%.

Na opinião do professor Sami Husni, da Universidade do Mississipi, uma das maiores autoridades em mercado de revistas nos Estados Unidos, o sucesso deste tipo de publicação acabou com a distância que antigamente havia entre o público e seus ídolos: ‘Hoje as jovens falam das estrelas como se elas fossem membros da família’. A jornalista Bonie Fuller, considerada a criadora das novas revistas de celebridades, diz que hoje ‘há uma linha muito tênue entre vida real e ser estrela de um reality show‘.

Famosos e sexo

Tornar-se celebridade, ao que tudo indica, está virando até uma forma de protesto, a julgar pelas funcionárias que, demitidas pela Varig, resolveram – a exemplo das demitidas da Enron norte-americana – aparecer nuas na Playboy brasileira. Sem chance de trabalho, as demitidas aproveitam a chance de ganhar dinheiro e, quem sabe, começar uma nova carreira.

Não se pode negar que o fascínio pela vida alheia – em especial a das celebridades – tomou conta da imprensa. Não se pode negar que a indústria da comunicação tem que procurar aproveitar as tendências do momento. O que se pode – e deve – é questionar a postura da imprensa, que acaba alimentando essa onda sem qualquer senso crítico. O bom texto, a prestação de serviço e a informação relevante cedem seu espaço a fotos de autenticidade às vezes suspeita e de relevância jornalística zero.

O que devemos nos perguntar é: que tipo de leitores teremos no futuro, se os jovens de hoje só conseguem se interessar por uma revista se ela for recheada de fotos e fofocas?

Se esses leitores se voltarem mais e mais para a internet como sua fonte primária de informações (nos sites de busca e nos blogs), a mídia impressa vai continuar vendo suas tiragens cair. Ou então, como começa a acontecer com as revistas femininas, vai trocar seu objetivo prioritário (a prestação de serviços) por perfis e entrevistas com famosos. Intercalados por matérias de sexo, claro.

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Jornalista