Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O mantra da servidão voluntária

Mauro Chaves, articulista sabático do Estado de S.Paulo, é, literalmente, o ‘Zé Ladainha’, repetindo-se em hercúleos e medíocres esforços retóricos, incapaz de uma ideia original e fervoroso devoto da distorção jornalística exercida no diário da famiglia Mesquita. Nada mais apropriado, pois se trata de um dos mais sólidos ‘templos da mentira’ midiática brasileira.

O mantra sofismático de Chaves e do Estadão – o alinhamento é importante para manter o emprego – é uma suposta ameaça a liberdade de imprensa na América Latina. Qualquer ser medianamente desperto sabe que ela, a ameaça, não existe.

Na verdade, os grandes grupos midiáticos reacionários e seus ventríloquos estão atordoados com duas coisas:

1. A chegada à presidência de líderes populares com ampla sintonia com o povo e, por isso, não mais precisam de intermediários na sua comunicação, papel antes representado por jornais e revistas, invariavelmente controlados por oligarcas e plutocratas que não estão acostumados a ser relegados a plano secundário. São golpistas a maior parte do tempo e sabotam a democracia com suas falcatruas insolentes, apesar de alegarem defendê-la. Para essa súcia, a ascensão social dos mais pobres é um disparate, especialmente porque estes não dão atenção às inverdades diárias propaladas por Mesquitas, Civitas, Frias e Marinhos. Esses clãs familiares – espécies de ‘casa nostra’ da mídia – passam a ser vistos como realmente são: mentirosos contumazes.

2. As rápidas transformações tecnológicas do mundo informacional permitiram uma explosão de fontes alternativas de informação muito mais confiáveis do que jornais e revistas tradicionais enclausurados em seus vis preconceitos que ofertam apenas textos de baixa qualidade, o que faz suspeitar que boa parte dos analfabetos funcionais brasileiros trabalham na ‘grande imprensa’ e isso não exclui os diretores de redação – em geral, mentecaptos que exercem a função apenas por vínculos familiares ou são escolhidos a dedo pela falta de qualquer traço distintivo de dignidade.

Exigir discernimento é um paradoxo

Os jornalistas mais capacitados estão migrando em massa para a internet e aos jornalões e revistões interessa apenas os ‘alugadores de pena’, ou seja, aqueles ‘que servem, pedem para servir’, implorando por atenção através de uma notável e inconfundível subserviência, qualificando-os a plena ‘servidão voluntária’.

Mas voltando ao início, o estranho no artigo de Mauro Chaves (‘Escracho institucional’, O Estado de S. Paulo, 11/9/2010.) é que ele fala em ‘oligarquias… predatórias’, mas convenientemente não lhe passa pela cabeça os malefícios da oligarquia midiática brasileira que, como o Estadão, sempre apoiou os mais abomináveis coronéis. Na verdade, exigir tal discernimento intelectual diante da inópia dominante nas redações é um paradoxo.

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Professor de História, Geografia e Atualidades, Sertãozinho, SP