Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O melhor museu do mundo é brasileiro…

Quadro no alto à esquerda da Primeira Página da Folha de S.Paulo (27/9/04), sob o título ‘Especialistas elegem museus’, informa: ‘Críticos e artistas ouvidos pela Folha escolhem seus museus preferidos; 43 instituições de todo o mundo foram mencionadas, 13 delas no Brasil’ (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cp27092004.htm).

O quadro mostra que o Masp, em São Paulo, está em primeiro lugar (ao lado do MoMA, de Nova York e do Prado, de Madri), com 6 citações, contra museuzinhos como o Louvre e o Metropolitan-NY, que só tiveram 3.

Orgulhem-se, bugres!, parece dizer a capa da Folha. Não somos subdesenvolvidos afinal! Nosso melhor museu é tão bom quanto o MoMA e o Prado, e duas vezes melhor que o Louvre e o Metro! Finalmente, reconheceram nosso valor! Celebrai! Soai os sinos!

Todos sabemos da tradicional discrepância entre manchetes e conteúdo de reportagens. Às vezes, é necessário: simplesmente não há espaço para encaixar todas as nuances da matéria na manchete. Em outras, é pura má-fé. E, muitas vezes, como nessa, é burrice.

Brasil de fora

Faz até sentido publicar uma chamada instigante, mas editar uma manchete impossível só queima o filme do jornal. Qualquer um que entenda minimamente de museus sabe que o Masp, por melhor que seja, não é tão bom quanto o Prado e nem duas vezes melhor do que o Louvre. E quem vê uma manchete que diga que é, não vai pensar ‘meu deus, como o Masp subiu de categoria e eu nem percebi!’. Não, pelo contrário, vai pensar: ‘Meu deus, quem foi que enlouqueceu na Folha?’

Aí você abre o jornal e tudo se explica. Lá dentro, na primeira página do caderno de Turismo, o lide da matéria é:

‘A Folha ouviu 15 especialistas brasileiros, que escolheram suas 43 instituições preferidas em 13 países; Masp, Prado e MoMA foram os mais citados’ (grifo meu, naturalmente).

O primeiro parágrafo da matéria (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/turismo/fx2709200401.htm) só faz confirmar o mal-entendido:

‘A Folha convidou 15 críticos, curadores e artistas plásticos brasileiros para escolher os seus museus nacionais e estrangeiros prediletos. Foram citados 43 museus no mundo, sendo 13 no Brasil.’

Ah, tá, diz o discerning reader, subitamente entendendo tudo. Os experts são brasileiros! E como se fosse uma pegadinha, como se a Folha ainda quisesse zoar de mim (ah, vai dizer que você acreditou mesmo que o Masp era tão bom quanto o Prado?), o jornal ainda esfrega na cara dos seus leitores os irrepreensíveis e imparciais critérios dos seus experts.

Diz um dos artistas plásticos, com citação de destaque (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/turismo/fx2709200402.htm):

‘Escolho o Masp pela sua importância no desenvolvimento da minha carreira como artista e pelo apoio dado pelo professor Pietro Maria Bardi, diretor do museu por muitos anos, a toda uma geração contestatória às próprias instituições’ (grifo meu).

Afinal, o Louvre, aquele museuzinho, nunca deve ter ajudado a carreira de nenhum dos nossos experts tupiniquins! Quem mandou ser egoísta! Ficou em segundo lugar, bem-feito!

A triste verdade, se é que não ficou dolorosamente claro, é que uma lista dos melhores museus do mundo, elaborada por experts mundiais, não incluiria o Brasil. Uma lista dos melhores autores do mundo, elaborada por experts mundiais, também não incluiria o Brasil. E etc.

A não ser, claro, que a lista seja feita por brasileiros.

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Colunista de internet da Tribuna da Imprensa, editor do Guia de Blog SobreSites (http://www.sobresites.com/blog), mantém o blog Liberal Libertário Libertino (http://www.liberallibertariolibertino.blogspot.com/); e-mail (cruzalmeida@sobresites.com)