Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O novo jornalista dos 140 caracteres

A figura do jornalista tal como a conhecemos, estereotipada, já não se encaixa no novo perfil do jornalismo 2.0. A aldeia global vem sendo discutida desde a década de 90, mas só agora parece ganhar forma e se incorporar à nova geração de jornalistas. Os focas de hoje nem de longe podem ser comparados aos Ricardos Noblats em seus tempos de meninice, quando começavam a fazer jornalismo nas redações do país.

É natural, e também fundamental, que ao longo da história a profissão se adapte à realidade. Afinal, quando se lida diariamente com fatos, com a novidade, a incorporação de certos trejeitos é feita quase inconscientemente. Não se trata apenas do aparato tecnológico na produção jornalística, seja ela no rádio, na TV, no impresso ou no eletrônico. A própria figura do profissional na sua esfera particular ganhou outra dimensão.

Até pouco tempo atrás, a imagem desse ofício era padronizada. Os estudantes das faculdades de Jornalismo de todo o país encaixavam-se, ou deveriam se encaixar neste modelo. Um sujeito cheio de opiniões sobre a sua sociedade, crítico de política, consumidor de cafeína até o deadline e de umas “biras” ao final do dia para relaxar. O ambiente depois do expediente era costumeiramente o de bares frequentados por colegas de profissão, que à noite “demarcavam” seus territórios formando uma espécie de nicho intelectual onde teorias e discursos eram formados.

Essa identidade chapada não faz mais tanto sucesso entre os focas, que parecem se assemelhar cada vez menos a seus mestres e entre si. O jovem jornalista que está surgindo nas redações é fruto dessa ciberdesterritorialização. Ele tem pensamentos e vontades muito diferentes daqueles que assinam livros técnicos das bibliotecas universitárias. Apesar dos fundamentos da profissão não mudarem, algumas funções que antes eram de grande prestígio hoje já não são mais tão cobiçadas, ou são até obsoletas. O complexo de Clark Kent, do jornalista super-herói, que nunca foi totalmente possível, deixou de ser idealizado pelos principiantes.

Muitas vezes, o importante é o e daí

Essas mudanças querem dizer que a paixão e a vontade de mudar alcançaram outras dimensões. Num país burocrata, como o Brasil, não se podem fazer grandes coisas como se pensava poder no passado. Deixou-se de lado a discussão de uma forma de governo e/ou de um sistema econômico ideal. A revolução foi superada. Agora se parece pensar não mais em como mudar o todo, mas sim em como se adaptar a ele. Com a globalização da mídia se sai da padronização de um perfil.

A liberdade de expressão nunca esteve tão à flor da pele. O jornalista tem o poder de falar e ser ouvido por um grande público, mas não é o único que pode fazer isso. É possível fazer um diálogo. E os novos profissionais da imprensa, que cresceram em meio a essa transição, parecem entender isso. Se antes eram os jornalistas que mobilizavam e chamavam a atenção da população para algo, agora, muitas vezes, é a própria população que os chama.

O jornalista 2.0 tende a pensar diferente de seus colegas, mas sabe que seu público, em geral, está mais interessado na informação do que na opinião. A informação precisa ser útil, dizer alguma coisa que altere de fato o dia a dia de quem a consome.

O modo de fazer jornalismo se moldou no decorrer dos anos, sendo cada vez mais compacto e direto. Isto garante hoje extrema importância na nova rotina corrida e turbulenta de seus leitores, ouvintes, telespectadores e, por que não, coautores. Em tempos de instantaneidade, muitas vezes o e daí de uma notícia vale mais do que o que, quem, quando, onde, como e por quê.

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[Raquel da Cruz é estudante de Jornalismo, Itajaí, SC]