Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O papel da imprensa na política brasileira

A grande imprensa, de modo geral, tem a preocupação de superar nitidamente a informação da opinião na cobertura política; e é possível dizer que essa mudança no noticiário político é fruto de dois processos de transformação ocorridos nas últimas décadas: um afetou os jornais e o outro, o perfil do leitor.

Como não existe um público partidarizado (venda de pouco mais de 300 mil exemplares, que significa dirigir-se a uma média de 500 mil leitores aproximadamente, atualmente), os jornais, na tentativa de conquistar e manter escalas de tiragens economicamente viáveis, foram obrigados a se voltar para um universo cada vez mais amplo, cativando um público plural, composto por leitores com as mais variadas simpatias políticas e as mais variadas visões de mundo.

O importante, hoje, é deixar claro para o leitor que vendem informação, e não opinião embrulhada em notícia. Vale mais uma interpretação dos fatos, o que é completamente diferente de opinião. E isso vale também para a televisão, que atinge um público muito maior que os jornais impressos.

Diversidade cultural

O desafio de ir além, fazer a diferença diante da opinião pública e dos poderosos, se baseia na ética fundamentada em exercer a profissão, de forma a que prevaleça a notícia clara e objetiva. O bom jornalista está em constante aprendizagem, cada dia é um estudo diferente, algo que se conquista positivamente ou negativamente no meio noticiário, marcado pela diversidade de culturas, fontes, tempo, geografia, enfim, basta que se leia e muito para estar em contato com as mais infinitas possibilidades de conhecimento. O jornalista deve estar antenado aos anseios de seu público, admitindo, quando necessário, suas falhas e imperfeições.

A isenção é o fator mais complexo em uma cobertura política feita por qualquer jornalista, uma vez que este é subjetivo, mas sua opinião ou a preferência do veículo em que trabalha por algum partido político deve ser mantida em total sigilo, uma vez que o povo deve ser conduzido ao voto, e não induzido.

É impossível em um país democrata, que as leis sejam impostas aos meios de comunicação, pois a imparcialidade deve ser mantida em épocas de candidatura política, conforme a própria Constituição Federal, artigo 220, o qual dá total liberdade de informação à imprensa, mas não atenta contra a ética jornalística, que respeita as diversidades, mesmo que corruptas e inescrupulosas.

O jornal perde a credibilidade e grande parte do seu público caso transpareça sua preferência política, uma vez que a grande massa de telespectadores, ouvintes ou leitores é formada por esquerdos, direitos, tucanos, petistas, enfim, a própria diversidade cultural impõe os padrões de preferência. A informação permite ao cidadão o conhecimento necessário para que a sua opinião vença diante de tantos problemas sociais que o país vive atualmente: corrupção, criminalidade, tráfico de drogas, péssima qualidade de ensino e saúde etc.

Linguagem antiacadêmica e panfletária

Os meios de comunicação, por sua vez, têm o dever de apurar os fatos, expondo-os de maneira clara e objetiva à população. A ética e o respeito pelo outro não devem se desvincular jamais. São como paradigmas humanos que caminham lado a lado, tornando impossível, sobretudo nos meios de comunicação em massa, os jornalistas distanciarem-se do limite da convivência em sociedade. É como, por exemplo, achar que uma pessoa entende de literatura sem ao menos conhecer Euclides da Cunha ou Lima Barreto.

E a escolha dos dois para exemplificar o fato não é aleatória. O primeiro possuía um estilo rebuscado de escrever (barroco científico). Sua obra era marcada por nítidas influências deterministas. Sua obra-prima, Os sertões (1902), é posta entre a literatura e a sociologia, baseada na Guerra de Canudos. É também considerada um marco da independência intelectual brasileira. Lima Barreto, por sua vez, possui um estilo que era fruto da combinação explosiva de sua vida pessoal com a racista República Velha. Seus romances são uma mistura de ficção, documentário e crítica, além de profundamente autobiográficos. O preconceito racial, as oligarquias corruptas, a burocracia, o militarismo, os políticos e os intelectuais são os alvos prediletos de suas críticas. Foi um escritor eminentemente brasileiro. Romancista da vida dos subúrbios, da gente humilde, dos marginalizados (mulatos, loucos, alcoólatras, pobres). Linguagem antiacadêmica, informal, jornalística e panfletária. A espontaneidade é a sua marca. Entre suas principais obras estão Recordações do escrivão Isaías Caminha e Triste fim de Policarpo Quaresma, uma das obras-primas da literatura brasileira.

Diversificação do fluxo de informações

Ambos os autores, apesar de ‘não serem jornalistas’, exerciam o papel principal destes profissionais: denúncia da verdadeira realidade brasileira – retrato do Brasil pobre, doente, atrasado, corrupto e desorganizado como nação, além dos tipos humanos marginalizados – o sertanejo nordestino, o caipira do interior de São Paulo e o suburbano do Rio de Janeiro. Realidades que há mais de séculos permeiam o país.

A notícia ou reportagem possui duas vertentes: o direito à informação e a liberdade de informar. Essa liberdade deve ser anexa ao conhecimento sobre determinado assunto e a racionalidade com que será transmitida, codificada ao público. No Brasil, as redes de televisão operam com base em valores da classe consumidora de São Paulo e do Rio de Janeiro, portanto, se faz extremamente necessário atribuir a cada país o controle da informação que circula em seu território, não como censura, mas uma vez que a informação tornou-se tão abundante, torna-se obrigatório selecioná-la com base nos critérios do que é verdadeiro e o que não é.

Afinal, a capacidade de decisão das pessoas depende das informações que recebe. A democracia é o exercício do poder. Portanto, não há dúvida quanto à diversificação do fluxo de informações e a seleção destas, não se tratando de competição política, mas de um controle da sociedade industrial e atualmente informatizada.

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Estudante do 4º ano de Jornalismo nas Faculdades Integradas Teresa D´Ávila (Fatea), Lorena, SP; aluna responsável pelo jornal-laboratório [In]Formação