Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

O príncipe e a banalização da guerra

Um desapontado príncipe Harry voltou para o Reino Unido, no fim de semana, após sua estada no Afeganistão ter virado destaque na imprensa mundial. Harry servia ao Exército Britânico desde dezembro, e pretendia voltar para casa apenas em abril. Para garantir sua segurança e a de sua tropa, o governo havia feito um acordo com os maiores veículos de comunicação do país: eles manteriam sigilo sobre a viagem e, em troca, teriam acesso a todo tipo de material na volta do príncipe.

A parceria foi estragada pelo sítio americano Drudge Report, que na semana passada decidiu acabar com o segredo e revelar o paradeiro de Harry. O Ministério da Defesa foi rápido em tirar o príncipe do Afeganistão, temendo represália de insurgentes. Desde então, o assunto ganhou destaque na mídia britânica. Fotos e vídeos foram mostrados incessantemente em jornais e emissoras de TV, com Harry classificado de ‘herói’.

Entretenimento

Em meio a perguntas sobre se a cobertura da atuação do príncipe poderia ajudar os britânicos a dar mais valor ao papel do Exército no Afeganistão, surgiram também questões sobre a relação entre o público e a mídia: teria a confiança nos veículos de comunicação sido abalada por se descobrir que eles fizeram um acordo com o governo?

O conhecido agente de celebridades Max Clifford afirmou no Guardian que o recrutamento de Harry foi um ‘exercício de relações públicas’ para melhorar a imagem do príncipe – visto no passado como um festeiro irresponsável. Já um colunista do Mail on Sunday ressaltou que o foco da cobertura no heroísmo de Harry e a crítica feita à mídia internacional – que quebrou o sigilo – servem de ‘propaganda’ para que os britânicos sintam que ‘nossos garotos estão vencendo no Afeganistão’.

Alguns críticos afirmaram que, em vez de se concentrar na parceria entre governo e imprensa ou no heroísmo de Harry, seria melhor que a cobertura abordasse o verdadeiro papel do Exército britânico no Afeganistão. Para o ex-soldado Leo Docherty, veterano das guerras do Iraque e Afeganistão, ‘esta cobertura mostra a guerra reduzida ao entretenimento, ignorando que jovens como Harry, britânicos e afegãos, estão tendo violentas mortes sem sentido’. ‘A única resposta para esta situação é o sentimento de ultraje, não o entretenimento’, escreveu ele no Independent on Sunday. Informações de Phil Hazlewood [AFP, 2/3/08].