Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O que podemos aprender com Boris?

Na web 2.0, há o que chamamos de ‘excesso de informação’ e ‘excesso de reinformação’, em puro neologismo. O primeiro se refere à quantidade colossal de informações com as quais somos bombardeados a cada segundo. O segundo termo trata da repetição de notícias já conhecidas, já postadas ou comentadas. Neste caso, relatar novamente todo o caso Casoy seria ‘reinformação’.

Afinal, o que podemos aprender com Boris Casoy? Há quem fale ‘merda’ em público, como Lula fez e faz, e há quem fale ‘merda’ nos bastidores, como é o caso do jornalista citado. A grande questão é: com a web 2.0, não há mais bastidores. Isso não significa uma aceitação livre, espontânea ou inconsciente de uma não privação. A falta de bastidores nesse contexto retrata toda sujeira que sempre ocorreu nos meios públicos e privados, principalmente no jornalismo, só que agora todas as pessoas podem ter acesso a esses pensamentos ‘íntimos’.

De um jornalista consagrado, que acha que garis não possuem motivos para desejarem um feliz ano novo, até um político que esconde dinheiro público nas meias e nas cuecas, não há grandes diferenciações. Vivemos em um Estado de direito e cada pessoa faz o que bem entender, respondendo, depois, aos atos excessivos e contraditórios à lei.

Mas o entrave principal se relaciona à imagem pessoal. Políticos e partidos políticos são as instituições mais desacreditadas desse país. Falar mal de políticos é dever da imprensa, da população e de qualquer um que queira. Quando um jornalista da grande e tradicional imprensa comete deslizes que beiram o preconceito e a humilhação, algo muito sério está acontecendo.

Símbolo da imprensa tradicional

O que acontece, afinal, não é muito diferente do que sempre ocorreu nos ‘bastidores’. O caso Casoy só demonstra que jornalistas também são preconceituosos, racistas, cometem deslizes e gafes. Jornalista também é humano e também erra, mas pedir desculpas somente aos garis e aos telespectadores da Band prova que Boris Casoy não tem a mínima noção da repercussão que seu preconceito social está tendo. Casoy vive na mídia tradicional, analógica e elitista. Em apenas dois dias desde que o vídeo caiu no YouTube, mais de 100 mil pessoas já o assistiram. As redes sociais como Orkut, Facebook e Twitter estão sendo infestadas por usuários inconformados com os atos do jornalista que, por conseqüência, leva o nome da Bandeirantes. Porém, que atire a primeira pedra o internauta que nunca cometeu uma gafe dessas.

Entretanto, mais uma vez é provado que o buraco é mais embaixo. A mídia tradicional, a grande imprensa e grande parte dos jornalistas mais consagrados desse país não estão sabendo lidar com as novas ferramentas digitais. Tudo é filmado, fotografado ou gravado. Um mínimo deslize pode fazer com que imensas companhias estejam fadadas ao fracasso. O que dizer de um antigo jornalista da estrutura jurássica da mídia brasileira?

Mais do que um simples case de assessoria de imprensa por parte de Casoy ou da Band, o vídeo que gerou toda essa discussão demonstra que aqueles que possuem o papel de garimpar o dia-a-dia e apresentar aos consumidores uma informação apurada, bem editada e ‘limpa’, não estão sabendo nem ao menos vasculhar o que dizem a respeito deles mesmos. Boris Casoy não deve ser lembrado como o jornalista do jargão ‘isso é uma vergonha’, nem mesmo ser relacionado aos garis que humilhou. Boris Casoy deve ser o símbolo da imprensa tradicional que, caso não faça nada para mudar, será massacrada pela revolução digital.

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O vídeo com o comentário de Boris Casoy (31/12/2009)

 

O pedido de desculpas de Boris Casoy (01/01/2010)

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Jornalista e blogueiro, pós-graduado em Assessoria de Imprensa, Gestão da Comunicação e Marketing, São Paulo, SP