Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O que seria se fosse?

Desde muito cedo, lá pelos meus 18, 19 anos, aprendi a reconhecer armadilhas da mente. Creio que foi numa discussão com uma namorada que exigia amor eterno e condicionava sua felicidade a essa hipoteca. Naquela oportunidade percebi que questões que genericamente podem ser classificadas como ‘o que seria se fosse’ não merecem ser discutidas, pois são irrelevantes. Criam uma grande perturbação e não representam nada de objetivo, pois efetivamente se está discutindo uma possibilidade futura que não é realidade. Pode vir a ser, mas ainda não é!

O caso das pesquisas de opinião se enquadra nesse modelo. O Ibope, o Datafolha e outros institutos estão a cada duas semanas a perguntar a 2 mil cidadãos de uma centena e meia de municípios o seguinte: ‘Se a eleição para presidente fosse hoje, em quem você votaria?’ Ou seja: uma típica questão ‘o que seria se fosse’.

Inúmeras ressalvas

O problema é que a eleição não é agora e, portanto toda resposta dada é uma mera especulação dos eleitores. Em cima dessas especulações criam-se manchetes nos jornais e incendeiam-se as polêmicas políticas numa nítida e artificial criação de fatos noticiosos. O pior de tudo é que a imprensa divulga essas pesquisas sem uma única linha de crítica à verossimilhança dos resultados com a questão proposta.

Devemos nos lembrar que mesmo nas antevésperas das eleições os resultados obtidos informam projeções que não se confirmam no resultado final. Sempre observamos distorções significativas nos resultados, mesmo com as chamadas pesquisas de boca-de-urna. Eleição é um fenômeno psicossocial, não é racional, muito menos estatístico. O uso de estatística para metrificar atitudes humanas é uma aproximação utilizada com inúmeras ressalvas e dessa forma deve ser considerada.

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Químico e especialista em gestão empresarial, 56 anos, consultor de organização ibero-americana de ciência e tecnologia