Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O seio de Ms Jackson

Um presidente, herói de guerra, era amante da motorista. Outro presidente, o rei do charme, dividia Marilyn Monroe com o irmão, secretário da Justiça. Amante insaciável, compartilhava Judith Campbell com um capo da Cosa Nostra. E pediu a Marlene Dietrich um sexo oral rapidinho, ali mesmo na Casa Branca (foi atendido).

Houve, claro, Bill Clinton. Foi um grande presidente, mas corre o risco de ser lembrado na História por não resistir a uma mulher feia. O mundo inteiro discutiu seus charutos, não havia americano que não debatesse a sério sobre o que é verdadeiramente o sexo. Teria Clinton mentido ao dizer que não teve relação sexual com a srta. Lewinsky, já que, conforme a opinião que cansou de manifestar, sexo oral não é sexo?

Michael Jackson diz que dorme com crianças mas não é pedófilo (aliás, se gostasse mesmo de crianças, dificilmente brincaria de atirar um bebê pela janela). Há quem o defenda – embora, num caso anterior, ele tenha pago 20 milhões de dólares à família de um garoto com quem dormia sob o mesmo edredon para que desistisse de um processo de pedofilia.

Paris Hilton tem nome e sobrenome de coisa boa. Mas só se tornou mundialmente conhecida depois que um vídeo, em que aparece brincando de Kama-Sutra com o então namorado, surgiu estranhamente na internet. Virou estrela, a moça. Mas pode circular pelos Estados Unidos sem que a apontem na rua.

Não é espantoso que nossa imprensa noticie, como se fosse coisa séria, o escândalo causado pela exposição do seio de Janet Jackson na TV, na festa do SuperBowl? Não é fantástico noticiar sem estranheza que um país onde crianças pequenas discutiam o presidencial esperma no vestido da amante esteja preocupado com a exposição televisiva de dois segundos de seio?

Companheiros de imprensa, tratemos de coisa séria. O seio único de Janet Jackson já gastou espaço demais, tempo demais, papel demais. Merece ser noticiado, claro; mas rapidamente, como curiosidade. E despertando menos curiosidade pelo que é do que pelos efeitos que causou.

Quando é que alguém escreverá que, coincidentemente, o seio de Ms. Jackson virou a principal atração do Grammy?



Pagando para vender

Este colunista jura que leu no jornal que um desses laboratórios oficiais vai fazer um remédio ‘1.800% mais barato’ que o original. Devem estar dando dinheiro para quem for comprá-lo! Lembremos que um produto, quando está ‘100% mais barato’, sai de graça.



Pagando e vendendo

Um irmão do ‘1.800% mais barato’ é a mercadoria que ‘custa três vezes menos’. Bom, se custar uma vez menos sai de graça. Custando três vezes menos, só se derem dinheiro (e muito) para quem fizer a compra.

Não é tão difícil: na verdade, o jornalista queria dizer que o produto original custava 1.800% mais caro que o produzido pelo laboratório oficial. Como queria dizer que uma mercadoria custa um terço do preço. Nada de excessivamente complicado: basta aprender a diferença entre multiplicação e divisão. É simples assim.



Jóia rara

Esta saiu em revista: o fotógrafo alemão Helmut Newton foi viver na Áustria para fugir do nazismo. Dúvida pertinente: qual regime político estaria em vigor na Áustria naquela época? Sim, claro! O nazismo! Aliás, naquela época nem existia Áustria: o país simplesmente foi anexado pela Alemanha, como parte integrante do 3º Reich. E, diga-se de passagem, a Áustria aceitou a anexação (‘Anschluss’) sem grandes protestos.



Comer, comer

O título da receita é ‘Terrina de salmão com alcachofrinhas’. O texto, num jornal de primeira linha, começa assim: ‘Ingredientes: 800 g de filé mignon’. E segue por aí, sem nenhum salmão, sem nenhuma alcachofrinha.



Parabéns!

O Estado de S.Paulo merece cumprimentos. Na reportagem sobre as lamentações do presidente Lula a respeito da chuva no Nordeste (‘o Poder Público nunca tratou os pobres com decência’), recordou as declarações de Sua Excelência há exatamente um ano, quando se lamentava das enchentes daquela época. Em excelente boxe, o Estadão lembrou que Lula, em Petrópolis, prometeu mapear as áreas de risco e cuidar disso antes das chuvas – exatamente o que não foi feito até agora.

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(*) Jornalista, e-mail carlos@brickmann.com.br