Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

O Super-Erramos

A primeira vítima foi Lula: dezenas, centenas de mensagens eletrônicas atribuíam ao presidente uma série de frases imbecis (tipo ‘a maior parte de nossas importações vem do exterior’, ou ‘a poluição não é problema: problema é a sujeira na água e no ar’, coisas assim).

Está certo, o presidente às vezes capricha, especialmente quando está no exterior (o que ocorre em grande parte do tempo). Só que as frases não eram dele – aliás, nem poderiam ser dele, já que muitas delas se referiam aos Estados Unidos, não ao Brasil. Este insignificante detalhe não preocupou nem um pouco os divulgadores das tais ‘informações’, muitos deles jornalistas. Afinal de contas, quem se importa com essas bobagens de verdade ou mentira?

Mas o pessoal poderia ter um pouquinho mais de cuidado. Este colunista viu na internet, há poucos anos, as mesmas frases, rigorosamente as mesmas. Só que eram atribuídas alternadamente a Al Gore e a George Bush, que disputaram a presidência dos Estados Unidos.

Simplificando: as frases eram velhas, já tinham sido atribuídas a outras pessoas, não poderiam ter sido ditas pelo presidente Lula. E daí? Bola pra frente, o importante é difamar. E a verdade, como já dizia Sir Winston Churchill, é uma coisinha tão frágil e preciosa que precisa ser protegida por uma muralha de mentiras.

 

Cuidado na leitura

Já existem endereços eletrônicos especializados em investigar e esclarecer as invenções da internet (este colunista gosta muito de um, em especial: o www.quatrocantos.com/lendas/28_corrupcao.htm).

Isto é essencial: um novo meio de comunicação, eficiente, rápido, barato, democrático por natureza, não pode ser distorcido a ponto de ficar sem qualquer credibilidade. Coisas como a falsa nomeação de um dos assassinos do índio pataxó são desinformações, são nocivas – até porque este caso é escandaloso por si só (a nomeação de filhos de magistrados), e não precisa ser apimentado com detalhes falsos (nenhum dos nomeados assassinou qualquer pessoa). Ao condimentar uma notícia verdadeira com temperos falsos, tira-se a credibilidade de tudo; reduz-se dramaticamente a utilidade informativa da internet.

O trabalho de limpeza da rede mundial, para dela extirpar a pedofilia, o racismo, a mentira, este vai levar muito tempo, muitos e muitos anos. Cada um de nós deve, portanto, precaver-se sozinho: pensar um pouco na notícia e verificar se há condições de acreditar nela, buscar um endereço eletrônico como o citado acima para ver se o caso já foi investigado, evitar auxiliar os mentirosos, o que acontece quando você passa a bobagem para a frente.

Vamos concordar num ponto: perder a internet como fonte de informação seria uma pena, não é mesmo?

 

Eta, nóis

A gente fala da internet mas os jornais também contribuem para o festival. Há tempos, um jornalista informou que, ao contrário do que havia publicado, o mercado de blindagem de automóveis não tinha triplicado: tinha caído em um terço.

 

Alô, Cofins!

Quando o Banco Central se recusou a baixar os juros, na reunião de janeiro, e manifestou receio de crescimento dos preços, nenhum veículo de comunicação fez a ligação óbvia: neste ano começa a vigorar a nova Cofins, mais do que duplicada. O objetivo dos juros altos é obrigar quem paga a nova Cofins a manter os preços apesar da alta dos custos.

Atenção, economistas: isso é bom para o país? É bom para os negócios? É bom para a vida da população?

 

Acusação e defesa

O leitor não precisa fazer nenhum esforço para notar que imprensa e Ministério Público trabalham juntos em muitos casos. Há informações sigilosas que chegam à imprensa antes que os advogados de defesa tomem conhecimento do que acontece. Os acusados são, com freqüência, condenados pela imprensa antes mesmo do julgamento pela Justiça – e, se a Justiça não os condena, é ela a condenada, por não ter cumprido aquilo que os jornais, rádios e tevês consideram sua obrigação.

Em freqüentes editoriais, diz-se que a hipertrofia do Ministério Público e sua colaboração com a imprensa contribuem para o futuro do país, ao dificultar a impunidade.

Pode ser. Mas democracia é defender-se contra o Estado, e não se submeter sempre que funcionários públicos acham que alguém deve ser condenado. A história da liberdade é escrita pela defesa, jamais pela acusação.

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(*) Jornalista