Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Estado de S. Paulo – 2




INTERNET
Editorial


Crimes via internet


‘E m tempo algum, talvez desde a invenção da escrita, um instrumento de comunicação entre seres humanos evoluiu tanto e tão rapidamente, a ponto de tornar-se essencial, imprescindível à vida econômica, profissional, científica, social e cultural das pessoas, como a internet. E no campo da comunicação eletrônica talvez nada se mostre mais poderoso, como arma do bem e do mal – vacina e veneno -, do que o sistema das ‘comunidades virtuais’, entre as quais muito se destaca o Orkut, comunidade criada pelo programador turco Orkut Buyukkokten com a bela e pacífica idéia de ‘conectar as pessoas’. Ela poderia e pode ajudar as pessoas a trocar conhecimentos, desenvolver idéias em conjunto, chegar a informações importantes para suas respectivas atividades, qualidade de vida e melhoria nos relacionamentos sociais – mas também se presta a uma terrível, generalizada e impunível prática de crimes de variada natureza, como bem demonstrou matéria no caderno Link de nossa edição de segunda-feira, de autoria de Rodrigo Martins, dando conta da impressionante invasão que esse sistema virtual tem sofrido de criminosos bem reais.


‘O Orkut se tornou o maior repositório de criminosos da web brasileira’ – denunciou Thiago Tavares, da organização não-governamental (ONG) Safernet, dedicada a combater os crimes contra os direitos humanos praticados na internet. Segundo a ONG, o Orkut hoje é responsável por 48% dos casos reportados de pedofilia na web. Para a Policia Civil paulista, os crimes virtuais no Orkut respondem por 30% das denúncias recebidas pela delegacia de meios eletrônicos. São, realmente, vastas as possibilidades de práticas criminosas por meio das comunidades virtuais. Nelas os pedófilos podem divulgar seus endereços eletrônicos para trocar fotos de menores em situações eróticas; traficantes de entorpecentes podem fazer, livremente, propaganda da venda de suas drogas, como o ecstasy, LSD e lança-perfume; falsários podem comercializar receitas para a compra de remédios de tarja preta; praticantes irresponsáveis de ‘rachas’ automobilísticos podem combinar seus ‘pegas’ em horário e local certos – como na preferida avenida paulistana Jacu Pêssego, no bairro de Itaquera, antes da chegada das viaturas policiais que lá costumam aparecer por volta da meia-noite.


Para realizar suas transações pela internet – mais freqüentemente via Orkut -, os traficantes se utilizam de perfis falsos, contas bancárias de laranjas e celulares clonados. Divulgam abertamente seus ‘negócios’, em grupos de discussão sobre drogas e sobre música eletrônica, sentindo-se seguros quanto à sua impunidade, pelas dificuldades que sabem existir para sua identificação. Embora este não seja, decerto, um problema apenas brasileiro, a impunidade reinante em território nacional e o grande talento que existe neste país para a exploração no campo da comunicação eletrônica (e não somos uns dos campeões mundiais na produção de hackers?), com certeza nos dá um lugar ‘privilegiado’ na delinqüência via web. E aqui vem a questão óbvia e fundamental: como combater com eficiência esse vasto território criminal, especialmente sabendo-se que o Orkut é propriedade da empresa norte-americana Google, que lhe dá plena liberdade de funcionamento? Que leis de que país deverão ser aplicadas, nesse difícil combate?


Em nosso entender é o sistema que camufla as identidades, e deixa criminosos no anonimato, que deve ser usado em sua repressão. Assim como a reportagem obteve informações de práticas criminosas fazendo-se passar por consumidores interessados em obter drogas, também os órgãos policiais podem introduzir agentes nas comunidades virtuais, com capacidade técnica de tirar o melhor proveito das informações que nelas circulam, encontrando as brechas para chegar aos delinqüentes. A par disso, é necessário que se crie, em nosso país – a exemplo do que já existe em outros -, um arcabouço legal rigoroso, que torne pesadas as sanções contra os que buscam suas vítimas na internet, principalmente as jovens, pelo que pedófilos e traficantes deveriam ser os delinqüentes ‘preferenciais’ a serem punidos.’


Laura Greenhalgh


Uma aposta na modernidade Na mira, os sites de busca


‘Nem futurista, nem visionário. O americano Paul Saffo pode ser apresentado numa roda como um technological forecaster. Como não existe expressão exatamente do mesmo feitio em português, pode-se dizer que Saffo é um profissional da previsão no vasto mundo da tecnologia. Para tanto, estuda um bocado, vive de fazer cálculos, ouve e conversa muito, raramente inventa. Quando parte para uma aposta, é sinal de que tem lá suas garantias para ganhar o jogo.


Nesta entrevista exclusiva ao Aliás, de seu escritório em San Mateo, na Califórnia, ele crava algumas apostas: diz que a robótica será a indústria mais revolucionária e promissora nos próximos anos. ‘Nossos heróis em breve serão os construtores de robôs’, garante, antecipando a classe de empreendedores que irá substituir Bill Gates, da Microsoft, ou Jeff Bezos, da Amazon, na curiosidade planetária. Arrisca dizer que, no espaço de um a 20 anos, será descoberta, intencionalmente ou por acaso, a inteligência sintética – algo muito além do que entendemos por inteligência artificial. ‘E vai ter um impacto imprevisível’, comenta desconsolado o homem que gosta de prever tudo.


Paul Saffo critica tentativas de controle da web, a rede mundial, mas admite que o site de busca Google curvou-se à pressão do governo chinês operando naquele país com ferramentas que restringem a ação dos internautas. E fez por dinheiro? ‘Não só. O Google cresceu tremendamente. Indo nessa escalada, teria mesmo de fazer concessão’, avalia. Professor da Universidade de Stanford, na Califórnia, e membro do Institute for the Future, uma comunidade de pesquisa sem fins lucrativos sediada no Vale do Silício, Saffo hoje dedica mais tempo à sala de aula e aos textos que vem redigindo – alguns deles vão constar de um novo livro sobre a pragmática da previsão tecnológica. Continua dando consultoria para corporações, além de presidir o conselho científico da Samsung, gigante mundial no segmento de eletroeletrônicos.


Até onde vai a corrida tecnológica?


Vai longe. Eu poderia dizer que estamos vivendo um momento de explosão de possibilidades. Atravessamos uma espécie de período cambriano na área tecnológica. O cambriano, tal como sabemos, remonta a 540 milhões de anos, quando a vida, esse fascinante complexo multicelular, apareceu no planeta e a partir daí tudo mudou. É mais ou menos o que se dá hoje, quando surgem máquinas novas e incontáveis vias de comunicação, tornando o espaço cibernético cada vez mais complexo, mais imprevisível e mais interessante.


Há um marco para o início dessa era cambriana tecnológica?


Isso se deu com a mudança daquela velha conhecida que surgiu com a televisão, a mass media, para a comunicação pessoal nascida com a web, ou seja, a personal media. Na era da comunicação de massa, a televisão trazia o mundo para dentro da nossa sala de visitas, porém apenas o contemplávamos na condição de espectadores. Agora, esse fascinante mundo da mídia pessoal não só vai aonde estamos como provoca em nós a sede de resposta e interação.


O que dizer dos objetos inteligentes que a indústria não pára de pesquisar e produzir?


A era cambriana também compreende a revolução do sensor. Tudo o que acionamos tem sensor: da máquina que recolhe o pedágio nas estradas às videocâmeras. Estamos colocando nossos olhos, ouvidos e demais sentidos em computadores e networks. O sensorial está por toda parte e assim vamos, dia a dia, adaptando o mundo a isso. Mas o grande salto está para acontecer.


Qual é?


Robótica. A próxima grande indústria, com força comparável ao boom dos computadores pessoais nos anos 80 e à revolução da internet nos 90, será a robótica. Assim como nos acostumamos a ver Steve Jobs (um dos fundadores da Apple) e Bill Gates (da Microsoft) nas capas de revista dos anos 80, ou Jeff Bezos (da Amazon) nas manchetes dos anos 90 e agora a dupla dos fundadores do Google, eu aposto que dentro de dez anos nossos heróis serão os construtores de robôs.


Baseado em que o senhor crava a aposta?


Robôs são o resultado da fusão sensor, computador e internet. E tudo sem fio. Digo mais: não serão robôs humanóides, como aqueles com os quais sonhamos por tanto tempo, e nem custarão muito. Bom indicador dessa tendência é o Roomba, do iRobot, um aspirador de pó que custa menos de US$ 200 e faz tudo sozinho. Sabe o que está acontecendo? Os felizes proprietários do Roomba estão tão encantados com o robô-aspirador que costumam batizá-lo com nome próprio e o carregam para viajar nas férias. Exagero? O mesmo está acontecendo na indústria de brinquedos. Os lançamentos mais descolados para 2006 são robôs para o público infantil.


Então, mais e mais vamos lidar com a inteligência rudimentar dos objetos… Estamos preparados para conviver com outras formas de inteligência?


A miríade de impasses no planeta sugere que não estamos preparados nem para conviver entre nós mesmos, o que dizer da possibilidade de convivência com formas artificiais de inteligência? Os robôs que estão ali na esquina, à nossa espera, definitivamente não são as máquinas dos filmes de ficção científica. A geração de robôs que entra no mercado é meio bobinha. Nós é que preferimos acreditar que são máquinas espertas, até porque estamos doidos para nos afeiçoar a elas. Agora vou fazer uma previsão: posso estar errado, mas a verdadeira inteligência sintética poderá aparecer nos próximos anos. Nós, que por tanto tempo procuramos vida inteligente em algum lugar do cosmos, talvez venhamos a deparar com a primeira inteligência não-humana, que poderá ser encontrada intencional ou acidentalmente. Trata-se de uma invenção devastadora, algo completamente antinatural e não-biológico, que supera em muito aquilo que entendemos por inteligência artificial. Anote isso. Se vier a acontecer, terá conseqüências imprevisíveis.


Estamos acompanhando o crescimento exponencial da web, que conecta um número sempre maior de pessoas. Ainda assim, saímos da era da comunicação de massa para a comunicação pessoal?


Exatamente. A grande diferença entre a mass media e a personal media é que esta última, por definição, é uma viagem de mão dupla. Uma espécie de bate-e-volta. É o sujeito que vota em pesquisa de opinião on-line e sente que decide o jogo. Ou aquela rede de protestos que se armou na internet e acabou derrubando o governo das Filipinas, tempos atrás. É o blogueiro que consegue furar um grande jornal ao denunciar um político corrupto. Ou aquela pessoa que compra e vende no eBay. Há uma disposição pessoal em todos esses movimentos. O conceito de mídia também mudou: o celular deixou de ser apenas o telefone móvel. Ele é um equipamento de mídia, através do qual você assiste a um vídeo, troca mensagens com amigos, busca orientação quando está perdido, ouve música, tira fotografia… e até telefona.


Até que ponto o acesso móvel e sem fio da web, que vem conquistando terreno rapidamente, mudará comportamentos?


Quando se fala em tecnologia, é importante frisar o seguinte: cada passo adiante que o usuário dá é uma revolução pessoal. A tecnologia wireless, do celular ao GPS, inovou de verdade. Nos anos 90, a web levou o espaço cibernético para a nossa mesa de trabalho. Hoje o espaço cibernético é que nos acompanha. Ele nos segue onde trabalhamos, vivemos e nos divertimos. Não é à toa que estamos crescentemente comprando, vendendo e trocando na rede. Cada vez mais deixamos de ser clientes para ser assinantes.


Como assim?


Não compramos celulares, assinamos um pacote de serviços. Já podemos assinar carros, em vez de comprá-los. A diferença entre o produto e o serviço tende a sumir.


Isso afeta o comércio eletrônico?


Mesmo que apareçam outros gigantes do comércio eletrônico, a regra principal não vai mudar: os grandes só existirão se estimularem os pequenos. O espaço cibernético vai continuar interessando o mundo dos negócios? Sim, cada vez mais. Porque nele não existe distância entre dois pontos. Ele desenha novas adjacências, que por sua vez criam oportunidades. Estou muito atento ao casamento entre geografia cibernética e geografia física, por exemplo. Essa junção permite que seu telefone receba ofertas de acordo com o lugar onde você se encontra. Por exemplo, você poderá descer a Bush Street, em San Francisco, Califórnia, e receber pelo celular o convite de um bar a metros da sua localização, oferecendo-lhe uma taça de vinho bordeaux como cortesia.


O senhor diz que a alma da personal media reside no desejo coletivo de ser ouvido. Que impacto isso tem sobre mídias convencionais, como jornais e revistas?


Esse é um grande tempo para ser jornalista e um tempo árduo para ser publisher. Porque uma variedade incrível de novas formas de fazer jornalismo já está levando um certo caos aos modelos editoriais conhecidos. Veja a situação do publisher: o negócio dele depende de um triângulo onde o jornalista escreve, o leitor lê e o anunciante paga a conta. Mas hoje o anunciante migra para outros ambientes, como ficou provado com a quantidade de classificados que deixaram publicações impressas para ir para o eBay e assemelhados. Muita gente também troca a leitura no papel pela leitura na tela. Agora, então, com a onda de blogs, a confusão está armada.


Mas o jeito de processar a informação é diferente num blog e num jornal impresso.


Não estou dizendo que jornais e revistas vão desaparecer. Mas vai ser dolorido o processo de adaptação aos novos tempos. Impressos vão sumir do mapa, outros, ficarão mais fortes. Não tenho dúvida de que os impressos que sobreviverem terão de descobrir como integrar a versão em papel e a versão eletrônica. E poderá acontecer aquela situação bizarra, em que o rabo abana o cachorro, quando os produtos eletrônicos passarem a sustentar os impressos.


E os blogs?


Oh, os blogs… São mídia de transição. Vivem uma fase idealista e inocente, mas vão mudar. Já se disse que jornais são o rascunho da História. Os blogs serão o scratchpad da História, a memória temporária.


O senhor afirma que a internet personaliza a comunicação. Mas menciona o desejo coletivo de falar e ser ouvido.


O ideal é que as pessoas construam uma experiência coletiva no espaço cibernético. Minha preocupação, quando analiso essas relações, é o risco de isolamento. No tempo da mass media, era improvável o leitor não tomar conhecimento de algo do qual discordasse.


Difícil entender esse risco. Veja a China: o povo está saindo aos milhões de uma situação de isolamento ao se conectar à internet…


Mas o risco persiste. Falo do perigo de uma sociedade na qual internautas mergulham em profundas conversas apenas com pessoas que compartilham as mesmas visões. Como é que vai se formar a opinião pública? Disse Andy Warhol que toda pessoa deseja ter 15 minutos de fama. Ok. No espaço cibernético, as pessoas serão famosas por 15 segundos ou eventualmente por 15 nanossegundos. Tudo é fugaz. Só que a opinião pública resulta desse mix entre cultura e comunidade. Diante do fugaz, haverá uma hora em que a opinião única, singular, de um indivíduo apenas, poderá causar um impacto tremendo e se consolidar como a idéia certa no momento certo. Fico, sim, preocupado com espaços de informação que reforçam o que é preconcebido. São espaços fechados, como um jardim cercado de muralhas.


O senhor acha que a empresa Google capitulou diante das pressões do governo chinês, que exige filtros e ferramentas de segurança como condição para que o site de busca se expanda no país?


Não acho que Larry Page e Sergey Brin, fundadores do Google, tenham vendido a alma ao diabo para conquistar o mercado chinês. Aliás, o lema da empresa é ‘do no evil’, e eu realmente acho que o Google não é do mal. Acontece que quando se tem uma empresa como essa, com um crescimento espetacular como o que se vê hoje, fica-se menos poderoso, sabia? Para expandir o negócio tiveram de fazer concessões. Ok, isso me desapontou, mas, por outro lado, Page e Brin foram corajosos ao enfrentar as tentativas da administração norte-americana de controlar informações pessoais monitorando sites de busca.


Afinal, a privacidade está ameaçada na rede?


Depende. Se a revolução tecnológica continuar em bom ritmo, a privacidade vencerá porque seremos capazes de criar sistemas que irão superar o controle e o alcance dos bisbilhoteiros. Mas, se a revolução tecnológica perder velocidade, então os bisbilhoteiros vão vencer e serão capazes de espionar tudo o que fizermos. Não sei o que o futuro nos reserva, apenas está ficando claro que estruturas de poder de grandes companhias telefônicas estão sendo utilizadas por corpos governamentais no sentido de saber como se controlam as coisas… A salvação é acelerar a revolução tecnológica.


O senhor perde o sono quando pensa num mundo cada vez mais conectado, porém mais sujeito à expansão do fundamentalismo?


Não. Aliás, nessa discussão, continuo um velho otimista. Movimentos fundamentalistas, protagonizados por cristãos, judeus ou muçulmanos, são o que antropólogos chamam de ‘cultos em crise’, pois se definem pela ameaça que enxergam no outro. E também pelo desejo de voltar a tempos antigos e melhores. Essa é a grande diferença entre fundamentalismo e modernidade. O primeiro quer olhar pelo retrovisor para um tempo mítico, supostamente melhor. Já a modernidade quer olhar para a frente, acreditando sempre que o futuro será melhor que o passado.


Quem vai ganhar o embate?


As ondas de fundamentalismo não trazem nada de novo. São o suspiro de morte de algo muito velho. O que nos atinge não são conflitos religiosos, mas o confronto entre moderados e extremistas. Quem são os inimigos dos neoconservadores americanos? Os radicais islâmicos? Não. Ao contrário, sob certa medida, eles acabam funcionando como parceiros inesperados. Ambos conspiram contra pessoas sensíveis, que buscam caminhos para a humanidade. Ainda assim, continuo tranqüilo. A História me encoraja. Vai dar modernidade.’


Leões da web viram tigres de papel


Tom Keller Jr.


‘THE NEW YORK TIMES -Vamos brincar de ‘o que aconteceria se’? O que aconteceria se as autoridades chinesas simplesmente não tivessem obrigado o Google a excluir sites como o hrw.org (o website da Human Rights Watch) e o lesbian.com da versão chinesa dos resultados de seu mecanismo de busca? Ou se não tivessem insistido que o Yahoo! atendesse imediatamente sempre que o governo desconfiar da identidade de um de seus usuários de e-mail, como as autoridades têm feito?


O que aconteceria se eles tivessem estipulado que o diretor-presidente de qualquer empresa de internet que estivesse atuando na China tivesse que tatuar nas suas costas ‘Mao Tsé-tung – Luv U 4 Eva?’ (Mao Tsé-tung, Amo Você para Sempre)? Será que a empresa deixaria a China?


A coisa assustadora é que é possível fazer considerações sobre esta questão indo mais longe – e se a lei chinesa exigisse que as empresas de internet revelassem a identidade de todos os usuários que encaminham e-mails com brincadeiras de mau gosto ou quaisquer mensagens contendo as expressões ‘liberdade de expressão’, ‘Praça da Paz Celestial’ ou ‘Super Viciado’ porque tais atividades acarretassem dez anos de prisão?


‘Com todo o respeito à memória de Rick James, o rei do funk, precisamos acatar as leis dos países nos quais operamos’, poderia dizer um executivo.


E se – como uma prova de boa fé por ter permitido fazer negócio no que qualquer observador racional tem de admitir é agora o mercado de internet e tecnologia mais tentador do planeta – um executivo de cada empresa fosse obrigado a ajudar no espancamento de um blogueiro preso?


Nada muito enérgico, mas você teria de fazer de conta que é de verdade. E se ninguém tivesse que saber? Eles nunca saberiam, certo?


Sim, é um jogo fácil demais e não completamente justo. As questões que se apresentam na China são complexas e há muita gente que acredita que Bill Gates está certo quando diz, como fez na semana passada ao discutir a questão numa conferência patrocinada pela Microsoft em Lisboa, que ‘a capacidade de reter informações realmente não existe mais’.


Isso quer dizer que a Microsoft e a Google podem concordar com a censura disto ou a filtragem daquilo, mas no final, a censura não é uma adversária à altura da engenhosidade humana e dos intermináveis modos de a internet usar rodeios. ‘Talvez você possa tomar um site na web muito conhecido e dizer que algo não deveria estar lá’, disse Gates, ‘mas, se houver um desejo da população de saber algo, a coisa vai aparecer’.


Mas mesmo que isso seja verdade, as empresas ocidentais de tecnologia só podem culpar a si mesmas se usuários do mundo livre perguntam quando será solto Shi Tao, o jornalista cujo nome a Yahoo! entregou às autoridades chinesas e depois foi sentenciado a 10 anos de prisão. Ou se essas pessoas usam o ‘e se’ para ponderar sobre os limites morais de dizer que a lei local é a lei local.


Isso acontece em parte porque só recentemente alguns dos participantes fizeram esforços genuínos em favor da transparência nas suas transações com a China.


Há duas semanas, o Google tomou a ousada medida de admitir francamente que estava entrando no mercado chinês com um produto de busca censurado, modificado segundo as especificações do governo. Então, na semana passada, a Microsoft anunciou novas políticas que lhe possibilitarão acatar uma exigência do governo de fechar o blog de um cidadão (como aconteceu há cinco semanas com o popular blogger MSN em Pequim) embora mantendo blog visível fora da China.


Mas essas são pequenas vitórias, disse Julien Pain, do grupo Repórteres Sem Fronteiras, que rastreia a censura na internet na China, no mínimo porque as empresas ‘parecem agora aceitar a censura como uma coisa certa e simplesmente decidiram ser transparentes em relação a isso’.


Mesmo assim, para muitos, isso é um sinal de progresso.


E ainda assim as quatro empresas americanas com bagagem em relações públicas na China – Cisco, Yahoo!, Microsoft e agora a Google – não compareceram à audiência da semana retrasada da Reunião sobre Direitos Humanos do Congresso dos EUA. Ao menos três dessas empresas apresentaram declarações por escrito defendendo suas atividades na China, mas a ausência delas somente serviu para aumentar seu problema de imagem com manchetes do tipo ‘Firmas de Tecnologia Esnobam a Câmara’ e ‘Google Foge da Reunião no Congresso’ rodando pelo ciberespaço.


É surpreendente que o Google, o queridinho de tantos tecnófilos – que prometeu ‘não fazer o mal’ -, esteja agora sendo alvo de boicotes espontâneos, com internautas desiludidos procurando alternativas. Estes sinais da perda da inocência também mostram que a corrida pela China logo poderá oferecer um argumento de venda para empresas que não cooperam com regimes repressivos.


‘Hoje, sei que você não me merece’, escreveu um visitante do NoLuv4Google.org, um site onde os usuários podem ‘romper relações’ com o Google e boicotar oficialmente o gigante da busca no dia de São Valentim, no dia 14 (dia dos Namorados, nos EUA). ‘Você traiu meu amor e minha confiança. Agora, nossa relação acabou! Vou me conectar no IceRocket’.


O IceRocket é uma das várias alternativas de mecanismo de busca que aparecem no NoLuv4Google.org, que é comandado por um grupo chamado Students for Free Tibet (Estudantes a Favor da Liberdade do Tibete). O Clusty.com, um outro site de busca desenvolvido por vários cientistas da computação da Carnegie Mellon, é outro. O Clusty orgulhosamente declara que ‘nunca censura resultados de mecanismos de busca’ e nem exclui materiais ‘que seriam ilegais em governos não eleitos e não democráticos’.


Numa mensagem por e-mail, Mark Cuban, o fundador da IceRocket, foi mais contundente: ‘A IceRocket não censura e nem censurará. Indexamos mais de 1 milhão de blogs em língua chinesa. Não há chance de censurarmos ou bloquearmos qualquer coisa nesta vida’.


No dia 15, o subcomitê da Câmara sobre Direitos Humanos Globais realizará audiências sobre a questão como um todo e nas quais é esperada a presença das quatro empresas – Cisco, Yahoo!, Google e Microsoft, já que o comitê poderá intimá-las, se quiser. Presume-me que as empresas vão dizer que não podem ser dogmáticas em relação à censura ao fazer negócios na China, e se as empresas de internet dos EUA não atuarem na China, a mudança nunca chegará lá. Estes são argumentos difíceis de descartar, mas também são os ‘e se’. Um ‘e se’ que deve estar na mente das empresas quando comparecerem perante o Congresso talvez seja este: e se, daqui a anos, a grande barreira de censura da China cair e toda a extensão de nossos arranjos com o regime chinês se tornarem conhecidos?


‘Um dia, o povo chinês talvez possa poder ver os registros das conversações entre as empresas multinacionais de tecnologia e as autoridades chinesas’, escreveu Rebecca MacKinnon, pesquisadora da Faculdade de Direito de Harvard), no seu blog. ‘A previsão é que essas revelações não sejam muito lisonjeiras para as empresas envolvidas’.


TRADUÇÃO DE MARIA DE LOURDES BOTELHO’




TV DIGITAL
Ethevaldo Siqueira


Escolha do padrão digital pode surpreender


‘A decisão final do governo sobre o padrão tecnológico da TV digital brasileira poderá surpreender a todos quantos acreditavam na opção pessoal do ministro das Comunicações, Hélio Costa. Segundo fontes ligadas ao Palácio do Planalto, não existe a hipótese do ‘já ganhou’ ou do ‘gol de placa’ em favor de qualquer dos padrões ou sistemas. O governo federal – que já tem tantos problemas decorrentes da crise política – parece não estar disposto a criar mais polêmica, nem correr o risco de comprometer a ética do processo de escolha do padrão de TV digital a ser adotado.


Tudo pode mudar, portanto, naquilo que, segundo o ministro das Comunicações, já era convicção final. O governo quer ouvir todas as partes, examinar com muito mais cuidado e seriedade as diversas propostas e opções, antes de decidir. Os debates realizados na quarta-feira na Câmara dos Deputados fizeram o governo mudar seu calendário e sua postura. Para melhor, esperam todos.


Segundo as fontes de maior credibilidade ouvidas por esta coluna, a opinião do ministro Hélio Costa, ao apostar na vitória antecipada do padrão japonês, não é compartilhada pelos outros três ministros que integram o comitê da TV digital: Dilma Rousseff (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento).


Nenhum dos três padrões internacionais está fora do páreo – nem sequer uma quarta opção de um sistema híbrido que incorpore ‘ferramentas e padrões disponíveis no mundo, associados ao máximo de desenvolvimentos tecnológicos feitos no País’. Desse modo, ninguém está excluído do processo. Nem ‘a bola está na marca do pênalti’, como insiste Hélio Costa. Nem mesmo depois da entrega do relatório do CPqD, de avaliação das tecnologias concorrentes, ocorrida na sexta-feira mas, estranhamente, mantido em sigilo pelo Ministério das Comunicações.


A data do anúncio da decisão governamental foi postergada para 10 de março, mas pode ainda ser adiada por mais um ou dois meses, pois a idéia de fazer transmissões pioneiras em São Paulo durante a Copa do Mundo foi praticamente arquivada. Outra sugestão insistentemente defendida por Hélio Costa – de inaugurar a TV digital brasileira no dia 7 de setembro – parece não apenas inconveniente, mas tecnicamente impossível. A questão é demasiadamente relevante para se transformar em evento eleitoreiro.


A escolha do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) vai muito além da tecnologia, envolvendo objetivos industriais, comerciais, políticos e culturais. E é bom frisar que a proposta final para decisão do presidente Lula será dada pelo comitê da TV digital, composto de quatro ministros.


Algumas atitudes do ministro das Comunicações têm criado mal-estar até entre os representantes dos padrões internacionais. Ao receber o grupo do padrão DVB, europeu, foi constrangedor o gesto do ministro ao interromper de forma ríspida a representante da União Européia, que lhe havia passado às mãos um quadro comparativo das características dos três padrões. Hélio Costa disse que os dados do quadro estavam equivocados porque se referiam a transmissões via cabo e via satélite. ‘Não, excelência, referem-se a transmissões abertas em broadcasting’ – explicou a comissária européia. ‘Este papel não tem nenhum valor, minha senhora’- atalhou o ministro, atirando o papel com desprezo sobre a mesa, para grande mal-estar dos presentes.


MAIS DEBATE


O debate realizado na Câmara Federal, na quarta-feira, funcionou como verdadeira audiência pública, democrática e transparente, na opinião da maioria dos participantes. Foram mais de 50 apresentações, de representantes das tecnologias internacionais, das associações de radiodifusores, das emissoras de TV, da indústria, da universidade, dos consórcios nacionais de pesquisa e até de entidades civis interessadas no tema.


Como uma orquestra em uníssono, a maioria esmagadora das emissoras de TV – lideradas pela Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e pela Rede Globo – defendeu o padrão japonês (ISDB). Já a indústria deixou a questão do padrão em aberto, até porque tem representantes de todas as tecnologias. Mas pediu maior diálogo com o Ministério das Comunicações. Segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab, sua entidade não foi ouvida até aqui por Hélio Costa. No dia seguinte, o ministro, confundindo a identidade do dirigente, disse que Saab deveria deixar de lado sua posição de presidente da Philips, antes de reclamar. (Na verdade, o presidente da Philips é Marcos Magalhães.)


Só agora o debate parece ter atingido a amplitude exigida para que se faça um exame mais profundo do problema. Quanto ao prazo, a maioria dos interessados acha que não haverá nenhum prejuízo para o País se o debate prosseguir por mais dois ou três meses, à exceção das emissoras de TV – que querem uma decisão imediata.


A questão é tão relevante que não pode nem deve ser decidida sem que o governo tenha o mais alto grau de convicção sobre as vantagens, bem como das desvantagens, de uma opção final. E o máximo de ética e transparência.’




CRISE POLÍTICA
Daniel Piza


A irresponsabilidade geral da nação


‘Não há por que se espantar com a recuperação de Lula nas pesquisas de opinião, segundo as quais ele voltou ao índice de aprovação que tinha antes da crise iniciada em meados do ano passado. Muitos atribuem o fato à expansão de programas como o Bolsa Família, que seria garantia de voto nas classes baixas das regiões mais atrasadas, e à divisão da oposição, isto é, do PSDB, que também tem razões estratégicas para não proclamar o candidato agora. Além disso, o presidente tem uma mídia ‘espontânea’ para lá de generosa, o que assegura ampla divulgação de qualquer poste de luz que inaugure, coisa que ele tratou de fazer à exaustão neste início de ano. Mas o motivo maior é simples: é o refluxo da crise do mensalão – crise que a irresponsabilidade geral da nação transformou num episódio quase anedótico e encerrado.


Escrevi em setembro do ano passado: ‘Não pense que Lula, por se achar acima do bem e do mal, protegido no pedestal de mito, não saiba o que fez e, acima de tudo, não saiba o que quer. (…) Está de olho em 2006. Sua aprovação vem caindo rapidamente, mas ainda é alta: 50% acreditam nele, não o consideram nem corrupto nem incompetente. Os juros começaram a cair, o que pode ajudar o crescimento a ser mais razoável no ano que vem. E ele deve calcular que a crise, com seus muitos focos – a cassação de Jefferson, a propina de Severino, a prisão de Maluf -, tende a arrefecer até a virada de ano.’ Com perdão pelo trocadilho, bingo: Lula conseguiu jogar a culpa para o PT, dissociando sua imagem do partido que fundou e comandou durante um quarto de século, e circunscrever o escândalo ao Congresso, que apenas cassou os protagonistas do episódio e mais um punhado de coadjuvantes.


Tudo ficou como se o PT tivesse sido apanhado com a mão na cumbuca do caixa 2, da qual saiu mordido, jamais morto. A modalidade de fascismo que batizei de ‘todomundofazismo’ pergunta ‘E quem não rouba?’ e dá de ombros. E é nesses ombros da eterna complacência brasileira que Lula está sendo conduzido para as próximas eleições com força considerável. O velho e esquecido inconsciente freudiano contribui um monte: como a grande maioria das pessoas fez, faz ou faria o que os petistas fizeram, concede-se um perdão tácito. Este não é o país onde a metade dos trabalhadores não tem registro, onde a pirataria campeia solta, onde se dá mais propina que nota fiscal, onde os intelectuais vêem virtudes na malandragem? Pois então: Lula, o coitadinho que veio ‘lá de baixo’, é representativo dessa sociedade. A ‘novilíngua’ petista, o jargão burocrático que disfarça tudo, deu certo. (Vimos o idioma novamente em funcionamento nesta semana, quando o ministro Palocci, em quem o mercado e seus porta-vozes vêem credibilidade e austeridade, corrigiu seu depoimento sobre o uso irregular do avião de um empresário alegando ‘imprecisão terminológica’: ele teria sido ‘disponibilizado’, não alugado.) Graças à benevolência safada da suposta oposição, à ineficiência da imprensa e da Justiça e aos interesses financeiros em jogo, tudo foi apurado superficialmente e ninguém punido a sério. Nossos dois conhecidos personagens, o Meia-Boca e a Meia-Verdade, deram as cartas.


Pode verificar como poucas pessoas entenderam a essência do escândalo. A maioria não se deu conta de que o PT e seus aliados, sob comando da dupla Lula & Dirceu, fizeram uma armação ilimitada com o dinheiro público, aparelhando a máquina, trocando verbas e propinas por licitações das estatais, praticando a mais antiga usurpação latino-americana. Só que tudo isso está ficando na história como um pecadilho. Se a economia no dia-a-dia não está tão ruim – a inflação está baixa, o salário mínimo subiu, empregos formais estão surgindo – e o PSDB parece o velho e não o novo, por que se decidir agora sobre uma eleição que só ocorre daqui a oito meses? As campanhas, não os princípios, vão escrever o resultado dela. Mais uma vez.


CADERNOS DO CINEMA


É um bom filme Boa Noite e Boa Sorte, de George Clooney. David Strathairn, que encarna Ed Murrow, faz trabalho excelente, dosando a tensão e a ironia do jornalista que enfrentou a histeria macarthista. A história corre bem, pontuada por canções belamente interpretadas por Diane Reeves, e vemos como democracia e liberdade são valores que precisam sempre ser reafirmados, pois não são naturais para muita gente. Mas fiquei imaginando os diálogos que um Herman Mankiewicz escreveria para alguns temas que apenas são pincelados no filme: o debate sobre o que é editorialização (traduzido como ‘edição’ nas legendas, assim como ‘suíte’ virou ‘continuidade’), que não menciona as várias graduações entre a reportagem supostamente neutra e a panfletária; e as dúvidas que o protagonista tem e só aparecem na boca de outros (o colega que pergunta ‘E se estivermos errados?’ e o presidente da CBS que levanta a questão fundamental de que Murrow só defende quem não é comunista). O melhor é a crítica ao politicamente correto. Murrow fuma o tempo todo em frente à câmera, dois funcionários da mesma empresa namoram, os jornalistas defendem a idéia – tão estranha no Brasil – de que é possível ter qualidade e independência e atrair público. Bons tempos.


LABIRINTOS DO ORGULHO


Vejo discussões sobre a cena de Munique em que o agente Avner faz sexo com a mulher enquanto é atormentado pelas imagens dos atletas israelenses sendo metralhados pelos terroristas. Bem, para alguém de sua profissão, que acaba de ver tudo que viu em sua ‘missão’, deve ser difícil tomar consciência da inutilidade da vingança e encontrar refúgio imediato na relação amorosa. Tampouco é verdade que as torres aparecem ao final como símbolo da necessidade de revidar ataques. É a mesma observação de que lar e pátria se conflitam. Outra discussão curiosa é sobre a cena de Free Zone em que Rebeca sai correndo enquanto a israelense e a palestina batem boca. Há quem tenha dito que ela foge com o dinheiro que é pivô daquela briga, o que seria uma alusão à interferência americana. Menos, menos: ela simplesmente desiste de entender.


Não há melhor sinal de toda essa dificuldade labiríntica do que o caso da charge de Maomé publicada por um jornal dinamarquês. Liberdade de expressão não serve para deixar impune quem ofende ou calunia os outros. Mas a reação à irresponsabilidade do jornal não é menos deplorável; para os islâmicos, não bastam desculpas e indenizações. Protestos politicamente insuflados causaram mortes e um enorme imbróglio diplomático – e mostraram como o fundamentalismo vê em qualquer coisa um pretexto para a guerra santa contra Israel, prontamente simbolizada em charges sobre Hitler e o holocausto. O muro mais difícil de derrubar é o interior. DE LA MUSIQUE


Para quem não agüenta mais ler que Mozart fez muita música ‘fácil’, é bom ler o crítico Andrew Clark: ‘Mozart trabalhou dentro das estritas formas musicais de seu tempo, mas transcendeu as limitações de seus contemporâneos. O que o capacitou para isso foi seu senso de invenção e improviso, tanto na harmonia como na melodia. Ninguém mais fez que escalas e simples passagens melódicas soassem tão interessantes. O material em si não é ‘difícil’, mas Mozart acrescenta ingredientes que evitam que soe rotineiro. Mesmo quando ele introduz dissonâncias, a música nunca é feia. Em seu estado mais elevado, é a expressão da máxima beleza. É isso que a faz imortal.’


E para quem não entende que gênios não são sobre-humanos: ‘Se Mozart tivesse vivido na Sibéria ou no Saara, não teria escrito música em tal proporção e profundidade como a Sinfonia Concertante para Violino e Viola. Se tivesse nascido hoje, tenho dúvida se sequer estaria escrevendo música. Mas a maravilha de Mozart é que nenhum ‘se’ é necessário. Ele é um caso raro de um homem, um tempo, um lugar, a fusão dos quais nos deu um legado musical que é celestial exatamente por sua humanidade.’ O texto de Clark pode ser lido em www.financialexpress-bd.com.


POR QUE NÃO ME UFANO


Os defensores das cotas ‘raciais’ deveriam se perguntar por que elas agradam tanto aos políticos de qualquer tendência, que logo tratam de aprová-las. Afinal, reservar 50% das vagas em faculdades para estudantes do ensino público, ou 5% das vagas de professores para negros e índios, é o tipo de medida que parece resolver um problema complexo com um simples decreto. Ao gosto da demagogia, a questão do mérito fica sempre em segundo plano. Todas as medidas sobre educação tomadas no Brasil se concentram na aparência, nunca no conteúdo, porque é disso exatamente que a política se alimenta.’




MEMÓRIA / ZÓZIMO AMARAL
Ubiratan Brasil


A rotina inovadora do colunista Zózimo


‘Quando morreu, em novembro de 1997, Zózimo Barrozo do Amaral deixou um conjunto com mais de 170 mil notas, publicadas ao longo de 28 anos de trabalho na imprensa. Não era um conjunto qualquer – um dos pioneiros em romper com os padrões do chamado colunismo social, Zózimo consagrou, primeiro no Jornal do Brasil, depois no Globo, um estilo de texto que, recheado de notícias, contava ainda com seu senso de humor e ironia característicos. Qualidades tão marcantes que, depois de sua morte, aos 56 anos, a direção de O Globo decidiu acabar com a coluna.


O material ficou sob a guarda do filho do colunista, Fernando Barrozo do Amaral, que, depois de microfilmar e digitalizar as notas, para que não se perdessem com o envelhecimento do papel, decidiu editá-las e publicá-las. ‘A cada leitura, aumentava em mim a vontade de colocar uma parte disso num livro’, comenta Fernando. Afinal, além de inovar, Zózimo comandou sua coluna durante a ditadura militar, época em que a imprensa era estritamente vigiada pela censura, o que exigia um profundo discernimento para não se conformar com notícias de aniversários de grã-finos e outras amenidades.


Vem daí o grande interesse despertado pelo livro Zózimo, Diariamente, lançado agora pela editora EP&A. Como ainda não foi distribuída em larga escala (os responsáveis negociam com grandes editoras), a obra pode ser encontrada por ora apenas na Livraria Cultura e, no Rio, nas livrarias Travessa e Argumento.


O livro recebeu o devido acabamento de Fernando, que tomou depoimentos de pessoas que, de diferentes formas, conviveram com seu pai. Entrevistados como integrantes da equipe de Zózimo, informantes e personagens da coluna, amigos, jornalistas, e suas duas mulheres. O resultado é o perfeito retrato da vitória da inteligência sobre a truculência.


Zózimo começou a carreira em 1966, quando assumiu em O Globo a coluna Carlos Swann, que fora escrita antes por Ibrahim Sued e hoje está sob a responsabilidade de Ancelmo Góis. O Brasil vivia sob o governo do marechal Humberto Castello Branco e, segundo Elio Gaspari, autor do prefácio, o colunista social não corria o risco de ser censurado ou preso. ‘O perigo morava na avacalhação profissional’, observa. ‘O veneno estava no elogio.’ Afinal, quem tinha dinheiro não queria aparecer – um corretor da bolsa de valores, por exemplo, foi preso depois de dar uma festa para o pessoal de um festival internacional de cinema. Afinal, todos atos eram, regra geral, passíveis de investigação.


Zózimo queria assumir o comando de uma coluna e não apenas ser um sombra – afinal, quando ligavam n’O Globo, as pessoas queriam falar com Carlos Swann, sem suspeitar que tal figura não existia. A chance veio com o convite de Alberto Dines para assinar sua própria coluna no JB. Assim, no dia 4 de fevereiro de 1969, Zózimo, aos 27 anos, passou a ser conhecido do grande público, oferecendo uma mistura bem equilibrada de temas como política,cultura e sociedade.


Era o momento em que a ditadura se escancarava, torturando e afugentando para fora do País os chamados ‘inimigos do regime’. Assim, mesmo com todos os cuidados, era impossível descobrir o que desagradaria os militares. Poucos dias depois de sua estréia, Zózimo noticiou que o general Costa e Silva, então presidente, encontrara-se com o colega paraguaio, o ditador Alfredo Stroessner, em Foz do Iguaçu. Nenhum problema não fosse um detalhe: o colunista informou que a centena de guarda-costas de Stroessner obrigou o governador do Paraná a se identificar três vezes, numa das quais até recebeu voz de prisão. Contou ainda que o ministro do Exército, Aurélio de Lyra Tavares, chegou a ser empurrado e quase caiu.


Dois dias depois, Zózimo estava preso no quartel da Polícia do Exército, onde não foi torturado mas conheceu o incômodo da carceragem. A própria prisão, no entanto, não mereceu destaque em sua coluna, só conhecida pelo despacho de agências de notícias. Zózimo prezava o leitor, de quem buscava ao menos um sorriso a cada leitura. ‘Enquanto houver champanhe, há esperança’ era uma das frases espirituosas de quem se tornou referência não apenas por moldar o colunismo social mas por prestigiar a notícia.’




TELEVISÃO
Taíssa Stivanin


Bonitinho, mas nada ordinário


‘Reynaldo Gianecchini, 33 anos, é a personificação do galã global. Boa-pinta, simpático, sorridente, jeito de bom moço, daqueles que nunca se zangam. É disciplinado – durante a nossa entrevista, preocupou-se o tempo todo com o horário da gravação – e vaidoso. Não posou para as fotos sem antes arrumar o cabelo e passar pancake no rosto. Ex-modelo, bacharel em Direito pela PUC de São Paulo, estreou na TV sem surpresa, como protagonista de novela das 9 em Laços de Família (2000), de Manoel Carlos.


Inexperiente, foi reconhecido pela beleza acima da média. Na época, só pela beleza. Seria ele um novo cigano Igor, o legendário boneco de cera interpretado por Ricardo Machi em Explode Coração? Rotulado pela síndrome do cigano, Giane teve de encarar o ofício de ator. Deixou de ser só o bonitão casado com a jornalista Marília Gabriela para agora surpreender a platéia como o mecânico Pascoal, em Belíssima. O jeitão bronco, o timbre de voz, as mãos sujas de graxa, o macacão velho e as cenas com Cláudia Raia, a Safira, têm bombado a audiência. Na nossa conversa, em uma mureta nos fundos do Projac, o complexo de estúdios da Globo no Rio, ele conta que pela primeira vez na vida está conseguindo se divertir na TV e interpretar alguém diferente dele mesmo.


Você sente alívio em interpretar um personagem diferente do galã de sempre?


Alívio não é bem a palavra. Eu estou começando a me divertir ao fazer um personagem. Talvez eu não tenha vivido isso antes, me divertir em cena. A responsabilidade de fazer drama, trazer aquela emoção, tristeza ou coisas sempre muito intensas era sempre mais forte do que tudo. Isso me impedia de sentir prazer na gravação. Hoje em dia, eu gravo e parece que eu venho brincar. Eu me divirto, faço as cenas rindo.


O que muda?


O estado emocional. Para você gravar uma cena de drama e uma de comédia, como no caso do Pascoal, o estado emocional é outro. É menos desgastante fazer comédia, o que não significa que seja fácil. O drama é cansativo, você vai encontrar dentro de você a tristeza para viver aquilo, a gente sai do estúdio arrasado. Com o Pascoal não. Saio rindo, saio feliz.


Você chegou a estudar um pouco de comédia quando soube do personagem?


Sempre me questionei se saberia fazer. Sempre adorei, mas me sentia inseguro. Então fui estudar em Los Angeles, fiquei oito meses nos Estados Unidos. Eram cursos livres, nenhuma escola famosa. Como lá eu não tinha essa coisa do galã, ninguém me tratava como e nem tinha essa imagem de mim, fiquei solto. Até porque tinha gente muito mais bonita do que eu nas aulas. Livre dessa imagem, o professor me dava as cenas mais esquisitas para fazer, não só papéis românticos. Pratiquei, fiz muitas cenas de comédia. No Brasil tive algumas experiências legais: duas vezes no Casseta & Planeta e no último episódio do Sai de Baixo.


Como foi a temporada em Los Angeles?


Eu morava sozinho em um apartamento e me matriculei em cursos para estudar de domingo a domingo. Não tinha folga. Fiz aulas de interpretação, dança, canto. Também fiz pilates, ioga, coisas do corpo que eu acho que ajudam no trabalho no ator. Foi uma das épocas mais legais da minha carreira, de poder sentar em uma praça e olhar as pessoas tranqüilo, observar. É tão difícil no Brasil, temos tão pouca privacidade para ir aos lugares.


Fez amigos e contatos por lá?


Fiz muito amigos, gente que não tinha a menor noção de que eu trabalhava na TV e, se tinha, isso não era importante para eles. Lá não existe esse deslumbramento todo, aqui geralmente as pessoas se aproximam tão deslumbradas porque você faz televisão e fica difícil fazer amigos. Até porque você nunca sabe se as pessoas estão interessadas naquilo que você é ou naquilo que você representa.


Não fui a Los Angeles para fazer contatos, mas lá a gente vive em função do cinema. Só tem gente que trabalha com cinema, ator, diretor, roteirista, todo mundo se conhece. Fiz contatos naturalmente, mas não com a intenção de fazer testes ou entrar no mercado. Para mim o que importava era estudar, estou com esse projeto desde que estreei na televisão, porque nunca tive tempo, fui emendando uma coisa na outra. Eu tenho consciência da necessidade que é o estudo na minha vida, sou muito verde ainda.


Você usou o que aprendeu para compor o Pascoal?


O Pascoal foi o primeiro personagem que eu tive que fazer uma composição e trazer elementos muito diferentes de mim. Na verdade ele é uma mistura de várias referências que eu achava interessante. Como ele é ingênuo, eu já achei que de cara ele deveria ter vindo do interior, tinha que ter sotaque, e fui buscar isso na minha terra (Birigüi, interior de São Paulo). Eles falam com sotaque, não errado, pelo amor de Deus, não põe isso que eles ficam putos se eu disser que eles falam errado! O sotaque é de Birigüi, o erre mais puxado. Como ele é ingênuo, transparente de alma, eu me inspirei muito no meu sobrinho, também. Tem coisas do Pascoal que eu faço que são quase uma cópia do meu sobrinho.


O que, por exemplo?


Coisas de criança, a maneira de falar, como ‘Ô Giovanaaaaaa!!!’. Criança, que fala com ingenuidade no jeito. Tem também uma coisa que eu acho engraçadíssima no Pascoal: o mau humor. É uma característica forte dele. Eu adoro isso porque foge do traço do herói, do mocinho. Eu fui buscar inspiração lá em casa, onde tem uma das pessoas mais mal-humoradas que eu conheço: o Theodoro, filho da Marília. Ele é muito mal-humorado. Sempre ri muito desse jeito dele. Tinha horas que eu até achava que ele estava sacaneando, fazendo de brincadeira, mas não, ele estava mal-humorado mesmo, dando esporro em todo mundo.


Você contou isso para ele?


Contei e eu até avisei que falaria disso nas entrevistas. Mas eu falo isso para ele sempre. ‘Theodoro, você é a pessoa mais mal-humorada que eu conheci até hoje!’ Para compor o Pascoal, também teve a pesquisa de rua. São Paulo tem um linguajar muito específico. Algumas pessoas com quem eu encontro até dizem que o sotaque está exagerado, mas a cidade tem uma linguagem muito própria, principalmente motoboys, office-boys, o pessoal que vive mais na rua. Eles têm um jeito de falar tipo ‘tá ligado, mano’, ‘mina, é isso aí…’


Visitou muitas oficinas mecânicas?


Eu visitei duas oficinas na periferia de São Paulo. A mulher permeia demais o imaginário deles. Quando entra uma na oficina, causa uma tensão. Se é bonitinha e quer trocar pneu, os caras vêm atender, querem levar o carro na casa dela. Além das mulheres, o tesão por carro também é louco. Eles trocariam qualquer mulher por um carro, como eles chamam, ‘envenenado’.


Você adotou isso no personagem, essa forma de agir com as mulheres?


Acho que sim, mas meu personagem não é galinha. Ele só não resiste às mulheres. Como ele é instintivo, não pensa muito. A mulherada dá mole, ele vai, não é cafajeste. Essa história que ele vive com a Safira, que é boa, e com a Vitória, que é muito bonitinha, na cabeça ele separa muito bem. É a relação com base no sexo e a relação com base no amor. Para ele é possível, não se misturam as sintonias, não há conflitos. Não é imoral. Ele abre o jogo para a Safira: você é gostosa, essa é nossa relação. Ele não entende por que ela fica com ciúme.


O público está gostando de sua parceria com a Cláudia Raia no ar. Por que deu tão certo?


Por causa da comédia. A comédia é uma coisa que pega demais as pessoas. É uma descoberta para mim, um deleite. É impressionante como atinge as pessoas, é de fácil comunicação. Você pode falar a coisa mais séria na comédia que vai se comunicar de cara com o público. Talvez por isso. A relação deles é muita tesuda, gostosa de ver, também.


Quando você recebeu o convite do Silvio de Abreu, disse que estava interessado em fazer comédia?


A Denise Sarraceni (diretora), com quem eu já tinha trabalhado em Da Cor do Pecado, me procurou e disse que a próxima novela dela se passaria na Grécia. Eu queria estudar, então ela ofereceu o personagem do Henri Castelli, o Pedro, que era só uma participação. Um mês na Grécia, perfeito. Passou um ano que eu estava fora do ar, o Silvio falou: ‘Giane, você deveria fazer um personagem inteiro , a Globo nem vai aceitar que você faça só uma participação depois de tantas férias.’ (Gianecchini é contratado fixo da casa). Ele me ofereceu o Pascoal. Fiquei feliz de o Silvio acreditar em mim para fazer isso. Pouca gente tem a ousadia de oferecer papéis fora do padrão para alguém que não está acostumado. Acho legal quando as pessoas te dão a oportunidade de sair de um estereótipo… se deixar, você vai ficar a vida inteira fazendo mocinho, o cara romântico, o herói.


O Pascoal, apesar de ser diferente, ainda faz parte do imaginário feminino. Você acha que um dia vai interpretar um personagem que fuja disso?


Eu acho que posso, dá para fazer papéis que não tenham foco na beleza. Não sou um cara tão simétrico, eu tenho nariz torto.


O que é simetria?


Meu rosto não é aquela perfeição de simetria. Tem gente que em qualquer ângulo fica perfeito, não é meu caso.


A Marília voltou a atuar depois do casamento, você tem influência nisso?


Na verdade Marília sempre foi atriz, ela só se permitiu fazer isso agora. Com a idade, ela deve ter relaxado e falado: ‘Quer saber, vou me permitir fazer outras coisas que eu me propuser.’ Foi lá e fez bem para caramba. Mas isso não tem nada a ver comigo. Ela se despudorou para fazer coisas que dão prazer para ela. Não tem medo de arriscar na vida.’




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O Estado de S. Paulo


Sábado, 11 fevereiro de 2006




ELEIÇÕES 2006
Carlos Marchi


Campanha de Serra está na internet


‘Entrou no ar ontem o site www.joseserrapresidente.com.br, destinado a divulgar uma candidatura à Presidência que o prefeito de São Paulo ainda reluta em anunciar. O ponto de destaque do novo site é um manifesto de apoio a Serra, recentemente lançado e assinado por vários amigos, entre eles o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. A advogada Fátima Nieto, presidente do conselho do Instituto de Direito Político Eleitoral, disse que esse tipo de site configura propaganda eleitoral indevida.


Desde dezembro está no ar o site www.novapolitica.org.br, criado para apoiar a candidatura presidencial do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e registrado na Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) em nome de uma entidade chamada Juventude Latino-Americana pela Democracia (Julad), cujo presidente é o carioca Silvério Zebral. Este site também praticaria propaganda indevida.


MANIFESTO


O site de apoio a Serra foi criado pela jornalista Lu Fernandes, que é amiga e assessora informal de Serra há muito tempo, e pelo designer Aníbal Sá. O registro na Fapesp foi feito em nome da empresa Chabassus Lanchonete, que pertence à família do economista José Márcio Rego, um dos signatários do manifesto, que inclui ainda, entre outros, os cientistas políticos Gildo Marçal Brandão, José Álvaro Moisés e Maria Hermínia Tavares de Almeida, o economista Roberto Macedo e o sociólogo Brasílio Machado Júnior.


O espaço destaca a posição de Serra nas últimas pesquisas de opinião, divulga artigos que apóiam a sua candidatura a presidente direta ou indiretamente e exibe uma alentada biografia do candidato. Lu Fernandes disse que o site é ‘a favor da candidatura Serra e não contra a candidatura Alckmin’.


Já o site de apoio a Alckmin é bem mais tímido. Diz que o espaço ‘é uma iniciativa conjunta de diversas organizações da sociedade civil organizada’, mas não as cita. O Estado tentou falar com Zebral ontem, mas depois de atender à primeira ligação, ele desligou os telefones.


Na relação da coordenação nacional de uma ‘Frente Nacional da Sociedade Civil’ consta o nome de Aline Barabinot como responsável por Relações Internacionais. Ouvida pelo Estado, Aline disse não saber que seu nome constava do site e que ela ocupa o cargo de coordenadora de Relações Internacionais da Julad. Aline é filiada ao PSDB, mas contou que não tem preferências entre as pré-candidaturas de Serra e Alckmin.


PROBLEMAS


Em setembro de 2005, Alckmin entrou com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para eliminar o registro de vários sites com seu nome, feito na Fapesp por Carlos Donizete de Freitas. O TSE determinou que os registros – www.geraldopresidente.com.br, www.alckminpresidente.com.br, www.geraldoalckmin.com.br e www.geraldoalckminpresidente.com.br fossem cancelados.


Ainda no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o dono de uma gráfica de Rio das Ostras (RJ), certamente pensando que o então ministro da Fazenda, Pedro Malan, seria candidato à Presidência, registrou vários domínios com o nome dele. O TSE, acionado pelo advogado de Malan, mandou que todos eles fossem imediatamente cancelados.’




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Para advogada, é propaganda ilegal


‘O TSE tem sido tolerante no julgamento de possíveis excessos de propaganda eleitoral pela internet, reconhece a advogada Fátima Nieto. Mas no sentido estrito da Lei Eleitoral, diz ela, os sites de apoio às pré-candidaturas de José Serra e Geraldo Alckmin configuram propaganda eleitoral indevida e podem ser retirados da rede.


Ela explicou que os tribunais eleitorais têm sido tolerantes porque a internet é um meio de circulação relativamente restrita, considerando-se o total do eleitorado, e de caráter essencialmente volitivo – só entra num site quem decide previamente fazê-lo.


Mas, na letra fria da lei, acrescenta, um site pode fazer a propaganda que quiser de uma pessoa desde que não faça referências a cargos ou disputas eleitorais. Já no Orkut, entende Fátima, o rigor dos tribunais é menor ainda, porque não é uma forma elaborada de propaganda dirigida.


Ricardo Penteado, que foi advogado de Serra em 2004, diz que, se alguém pedir o cancelamento do site, será possível defendê-lo. Ele argumenta que ‘uma candidatura não nasce de inopino e é evidente que a sociedade tem todo direito de debater o surgimento dela’.’




CRISE DAS CHARGES
Ubiratan Brasil


A Bíblia dividida


‘Quando conversou com o Estado no ano passado, o crítico literário americano Harold Bloom preparava-se para uma grande controvérsia: seu mais recente livro, Jesus e Javé, examina os diversos personagens e personalidades de Jesus nos Evangelhos. Sua conclusão – de que a Bíblia hebraica dos judeus e o Antigo Testamento dos cristãos são livros diferentes, com propósitos políticos e religiosos distintos – levou-o a refutar qualquer idéia de uma herança judaico-cristã. A obra chega agora ao Brasil, sob a chancela da editora Objetiva (276 páginas, R$ 36).


Na época, ele defendia que não há relação nenhuma entre o mais ou menos histórico Jesus de Nazaré; o deus grego holístico dos mistérios, o teológico Jesus Cristo, e o demasiado humano Deus hebraico Jeová. ‘Quero dizer que os últimos 2 mil anos de religião ocidental são uma farsa, sobretudo nos EUA, porque somos cada vez mais uma sociedade tão teocrática quanto a do Irã’, voltou a comentar, na semana passada, em nova entrevista ao Estado.


Bloom partiu da constatação de que há pouca evidência de um Jesus histórico – quem ele foi, o que dizia. ‘Não há uma frase a respeito de Jesus em todo Novo Testamento, escrito por alguém que jamais conheceu o relutante Rei dos Judeus’, observa ele, que também examina a figura de Jeová (Yahweh, no original), que, ainda segundo o crítico, tem mais características em comum com o Jesus traçado por São Marcos do que com o Deus Pai cristão e o das tradições judaicas.


A idéia central de seu pensamento baseia-se na constatação de que o Novo Testamento não é tanto uma continuação do Antigo Testamento mas sim algo que o repudie. O que a maioria gosta de pensar como uma herança judaico-cristã é, para ele, uma ilusão, resultado de uma calculada leitura errada de passagens do Velho Testamento que fazem parecê-las profecias cristãs.


É significativo também para o crítico que todo o Novo Testamento tenha sido escrito em grego e não em aramaico, e que esteja repleto de conceitos gregos e elementos míticos pagãos. ‘Comecei a escrever Jesus e Javé quando me convenci de que cristãos e judeus supervalorizavam o texto bíblico e liam metáforas como se fossem verdadeiras’, afirma Bloom que, aos 76 anos, continua se lamentando de nunca ter vindo ao Brasil.’




***


‘Reclamam de charge, mas fazem silêncio diante de atos terroristas’


‘A voz marcada por suspiros é enganadora – nesta entrevista, Harold Bloom usa sua voz melodiosa para disparar contra George W. Bush, a quem trata por ‘pesadelo’, e contra ortodoxos de todas as linhas.


A religião e a Bíblia foram temas constantes em sua obra, mas seu recente livro, Jesus e Javé, é apontado como o mais explosivo. O que pensa sobre isso?


Não pensei em provocar ninguém, embora o livro tenha recebido críticas negativas nos Estados Unidos. Na verdade, esse tema sempre me acompanhou muito antes de eu publicar meus primeiros livros. Quando escrevi A Angústia da Influência, em 1973, havia ali uma seção sobre esse assunto, ou seja, comparando a relação entre Tanak (a Bíblia dos hebreus) e o Novo Testamento. Com o Livro de J, a necessidade tornou-se mais forte. Na verdade, nunca distingui crítica literária da crítica religiosa, pois estou convencido de que todas as distinções que fazemos são baseadas em posições políticas – algo de que não gosto, especialmente se observamos o que aconteceu nos Estados Unidos nos últimos cinco anos.


Aparentemente, o livro aponta a polêmica que deverá dominar o início deste século, contra o cristianismo e pró-judaísmo. Seria correto?


Não pretendi provocar uma polêmica cristã. Na verdade, pessoas como monges beneditinos e padres católicos e até alguns evangélicos reagiram favoravelmente ao livro. As reações mais iradas vieram dos ortodoxos e dos judeus conservadores, esses principalmente sobre o tratamento que dei a Jeová. Não acredito que o livro expresse alguma preferência por algum dos lados, pois sou estudioso de religiões mas agnóstico na prática. É difícil analisar isso. Comecei a escrever esse livro quando me convenci de que cristãos e judeus supervalorizavam o texto bíblico, liam metáforas como se fossem verdadeiras, talvez por não saberem como fazer a leitura correta. Mesmo sendo eruditos celebrados, eles realmente não têm idéia do que estão lendo.


O que pode explicar o fato de os Estados Unidos se tornarem um país religioso, mais até que outras nações ocidentais?


Eu não diria que seja um país religioso, mas uma forma de se dizer que os EUA continuam sendo uma democracia, o que de fato são, apesar do pesadelo chamado George W. Bush. Desde que ele assumiu o poder, somos hoje uma nação com um terço desse poder dominado pela plutocracia, outro terço pela oligarquia e o terço final pela teocracia. A verdadeira perspectiva do que hoje ocorre na América foi prevista pelo governador e senador da Louisiana entre os anos 20 e 30, Huey Long. Pouco antes de morrer (ele foi assassinado em 1935), ele disse: ‘Claro que teremos fascismo na América, mas nós a denominaremos democracia.’ É isso o que está ocorrendo aqui. Por isso que gosto de me referir a nosso presidente atual como Benito Bush (risos). O que chamamos de ‘religião americana’ é algo muito estranho. Veja só: a cada dois anos, o Instituto Gallup faz uma pesquisa sobre o assunto e me envia uma cópia. Pois bem, os números nunca variam: 93% dos americanos dizem acreditar em Deus, não importa de que forma. Já 89%, ou seja, quase 9 entre 10 americanos, dizem que Deus os ama em sua base pessoal e individual. É justamente contra isso que meu livro se levanta.


Uma das maiores críticas recebidas pelo livro está no fato de afirmar que tanto o cristianismo como o judaísmo surgiram como reações aos acontecimentos de cada época da história do homem.


Foram várias críticas. Não foi bem aceita também minha afirmação de que, ao contrário do que se pensa, o judaísmo é uma religião mais jovem que o cristianismo. São Paulo não inaugurou o cristianismo, mas foi convertido por uma comunidade helenística, provavelmente judaico-cristã, para uma doutrina que já existia. Ele se tornou o apóstolo ou grande propagador disso. E o que hoje chamamos de judaísmo não começou até o segundo século da nova era.


O que lhe atrai no agnosticismo?


Basta olhar o século passado. Tivemos o holocausto nazista e os 6 milhões de judeus mortos, os chineses assassinados por Mao, outros tantos russos por Lenin, os cambojanos por Pol Pot. É por isso que minhas inspirações religiosas surgem quando leio Shakespeare, Dante, Cervantes, Fernando Pessoa. Afinal, uma parte importante da nossa crença observa que o que chamamos de criação traz, muito próxima, a destruição. A criação e a queda não são dois eventos distintos na história do homem, mas tão somente um.


E o que o senhor pensa da atual controvérsia dos quadrinhos envolvendo os árabes e países europeus?


É uma situação delicada. Os muçulmanos nunca protestaram quando homens-bomba assassinam pessoas inocentes. Preferem o silêncio. O atual presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que consegue ser pior que Bush, provocou polêmica ao dizer que o Holocausto era um ‘mito.’ Vi na edição de hoje (quarta-feira) do New York Times a notícia de que um jornal iraniano promove um concurso de caricaturas sobre o Holocausto. Não deixa de ser uma apologia aos assassinos, aos destruidores de edifícios, ao terrorismo afinal. Tenho certeza que no Irã e nos países árabes devem existir intelectuais e pacifistas que estão se sentindo miseráveis e preocupados com o que está acontecendo.’


O Estado de S. Paulo


‘Aumenta abismo entre civilizações’


‘REUTERS, AFP, AP E EFE – Diante dos novos e violentos protestos contra a publicação de caricaturas de Maomé por jornais europeus que assolaram ontem o mundo muçulmano, o primeiro-ministro malaio, Abdala Badawi, alertou para o ‘abismo’ que se aprofunda entre o Islã e o Ocidente. Ele preside uma reunião de cerca de 60 políticos e personalidades muçulmanas e ocidentais que tentarão encontrar um denominador comum para reduzir os efeitos da grave crise.


‘Precisamos pôr um fim às agressões no campo das religiões e aos sacrilégios cometidos contra símbolos considerados sagrados pelos diferentes credos’, pediu Badawi, que exerce a presidência rotativa da Organização da Conferência Islâmica.


Crítico da política ocidental para o Oriente Médio, ele lembrou a época das cruzadas, da colonização com o propósito de controlar o petróleo e o gás e o que classificou de imposição do Estado de Israel ao mundo árabe. ‘Precisamos ser suficientemente corajosos e honestos para admitir que enquanto existir hegemonia e um lado tentar controlar e dominar o outro haverá animosidade e antagonismo entre as duas civilizações’, concluiu.


Destinado a uma troca de opiniões para eliminar ‘percepções errôneas’ que entorpecem as relações islâmico-ocidentais, o encontro transcorre a portas fechadas e terminará amanhã.


Iniciativas concretas no âmbito político para reduzir o efeito da crise serão levadas a cabo pela União Européia(UE) na próxima semana. Com esse objetivo, o chanceler da UE, Javier Solana, fará um giro pelos países de maioria islâmica, que deverá incluir a Malásia.


O mais grave protesto de ontem ocorreu em Nairóbi, capital do Quênia, onde a polícia dispersou, disparando para o ar, irados muçulmanos que tentavam tomar de assalto a residência do embaixador da Dinamarca. Houve correria e um queniano morreu atropelado por um automóvel. Eleva-se agora a 15 o total de mortos desde segunda-feira quando as manifestações se agravaram em países muçulmanos.


Em Teerã, capital do Irã, cerca de 500 xiitas voltaram a atacar com pedras e coquetéis molotov as sedes das embaixadas dinamarquesa, britânica e francesa. Nenhum diplomata ou funcionário ficou ferido, mas os prédios tiveram suas vidraças destruídas. As forças de segurança impediram a invasão das representações diplomáticos. Os xiitas iranianos ignoraram apelo para evitar a violência, feito durante as tradicionais orações das sextas-feiras, pela chancelaria iraniana e por Ahmad Khatami, o ex-presidente e um aiatolá moderado.


No Egito, as forças de segurança atuaram com rigor para conter os ânimos de fiéis muçulmanos que deixavam as mesquitas. No início pacíficas, as marchas de protesto, convocadas pela Irmandade Muçulmana, terminaram em distúrbios no Cairo e outras importantes cidades do país. Em Mahalla el-Kubra, no Delta do Nilo, os manifestantes gritavam em coro: ‘Osama bin Laden destrua Copenhague’ e ‘Deus é Grande’. Eles receberam a pedradas a polícia que reagiu disparando granadas lacrimogêneas e usando bastões. Pelo menos 20 manifestantes foram presos.


Houve novas manifestações também em Ancara, na Turquia. Uma multidão estimada em mais de 5 mil pessoas percorreu o centro da cidade, chamando a Dinamarca de ‘fantoche’ de Israel e dos Estados Unidos.


Ainda ontem, o primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, classificou as publicações pela imprensa francesa de irresponsáveis. E uma pesquisa de opinião mostrou que 53% dos franceses acham que os jornais cometeram um erro.’




FOTOJORNALISMO
O Estado de S. Paulo


Foto da Reuters sobre fome ganha prêmio mundial


‘REUTERS – Uma fotografia da agência de notícias Reuters, que mostra uma mulher com seu filho esperando em um centro de alimentação de emergência em Tahoua, Níger, venceu o prêmio de melhor foto de 2005 da World Press Photo, anunciou a organização na quinta-feira.


A imagem foi captada pelo fotógrafo canadense Finbarr O’Reilly em 1.º de agosto de 2005 no país afetado pela grave falta de alimentos. O presidente do júri, James Colton, disse que ‘esta foto tem tudo: beleza, horror e desespero. É simples, elegante e emocionante’. Ela foi escolhida entre 83.044 imagens tiradas por 4.448 fotógrafos profissionais de 122 países.


A foto do atentado de 14 de fevereiro de 2005 em Beirute contra o ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, do fotógrafo da Reuters Mohamed Azakir, foi a primeira colocada na categoria Fatos Inesperados.


A World Press Photo, uma prestigiosa organização com base em Amsterdã que atua na área de fotografias jornalísticas, realiza o concurso anualmente.’




TV DIGITAL
Denise Chrispim Marin


Debate sobre TV digital deve incluir indútria, diz Furlan


‘A escolha do modelo de TV digital para o Brasil deve observar questões relacionadas a mudanças no parque produtivo do País e na sua capacidade de exportação. Essa é a posição do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, nesse debate. Com o cuidado de não indicar preferência por nenhum dos modelos concorrentes – dos Estados Unidos, da União Européia e do Japão -, ele argumentou que o tema não deve ser analisado no governo apenas sob o ângulo do setor de telecomunicações, mas também de outros que serão afetados pela opção que será adotada.


Furlan informou que a Casa Civil da Presidência deverá promover na próxima semana uma reunião com todos os setores envolvidos – fabricantes de eletroeletrônicos, companhias de telefonia, redes de TV, instituições de pesquisa tecnológica e outros. As contrapartidas comerciais e tecnológicas das empresas e dos governos interessados no fornecimento desses modelos de TV digital ao Brasil também deverão ser levadas em conta. Ontem, Furlan não indicou pressa nenhuma na definição do padrão tecnológico.


‘A adoção da TV digital no Brasil marcará uma mudança de paradigma de tecnologia. É meu dever olhar o assunto sob o prisma do desenvolvimento tecnológico, da produção brasileira e das exportações’, afirmou.


Segundo ele, uma das mudanças com o uso da TV digital no País será o maior impulso na tendência de unificação, em um só produto eletroeletrônico, de várias funções hoje dispersas em diferentes aparelhos. Os produtos tenderão a se tornar interativos, o que deverá alterar as lógicas de produção, de venda e de publicidade.


Nas últimas semanas, o lobby dos fabricantes e dos governos americano, europeu e japonês se intensificou em Brasília. Também aumentou a pressão do ministro das Comunicações, Hélio Costa, em favor de uma decisão rápida e a indicação de sua preferência pelo modelo japonês, considerado mais eficiente pela TV Globo.’


Gerusa Marques


Escolha não depende mais só de Costa. E o ministro se cala


‘A ampliação do debate sobre a escolha do padrão de TV digital criou um constrangimento ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, que coordenava sozinho o processo de análise no governo. O governo acrescentou outros interlocutores ao debate ao perceber que a escolha não poderia ser tratada só como questão de decisão política e tecnológica, fechando-se os olhos para pontos importantes como a possibilidade de expansão comercial do Brasil no setor.


Essa percepção ganhou força quando Costa mostrou clara preferência pelo modelo japonês, o que foi contido com a criação do comitê de ministros, com a participação de Costa, Dilma, Antonio Palocci (Fazenda) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento). O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, patrocinou um amplo debate no plenário para que os setores envolvidos na definição do padrão digital pudessem se manifestar.


Hélio Costa começou a mostrar insatisfação na primeira reunião do comitê, semana passada, com a comissária européia para a Sociedade da Informação e Mídia, Viviane Reding, interlocutora do padrão europeu. Costa, dizem fontes, mostrou-se irritado com os dados apresentados pela comissária. No encontro com empresas de telefonia fixa, segundo relatos, Costa teria questionado com rispidez o interesse pela TV Digital: ‘Que diferença faz para vocês, vocês são fixos’. No mesmo dia, o ministro disse que o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab, era ‘desagradável’ e ‘mal-educado’ por ter criticado a condução do processo de escolha da TV digital.


Desde quarta-feira, porém, o ministro está silencioso. Falou pouco nas reuniões do comitê, cancelou duas entrevistas e a participação em um seminário. Na quinta-feira, manteve um tom ‘disciplinado’ na reunião com os representantes das empresas de telefonia celular. ‘Foi a ministra Dilma quem deu o ritmo na reunião’, relatou um participante. Ontem, Costa desmarcou entrevista coletiva por ‘excesso de agenda’, segundo sua assessoria de imprensa.’




TELEVISÃO
Taíssa Stivanin


A outra novela das 9, na Record


‘Haja rebanho para bancar os investimentos no núcleo de teledramaturgia da Record. Levando adiante o projeto ‘quero ser Globo’, a emissora está gastando cerca de R$ 25 milhões para bancar sua novela das 9, Cidadão Brasileiro, de Lauro César Muniz, que estréia no dia 13 de março. Autor da Globo, gastos de Globo, mão-de-obra da Globo. Basta dar uma volta pela cidade cenográfica montada na Fazenda Bela Manhã, perto de Bragança Paulista, interior de São Paulo, para notar que o sotaque da equipe vem lá de Jacarepaguá, mais precisamente do Projac, estúdios da platinada no Rio. Muitas caras conhecidas dos bastidores de outros programas e outras novelas.’Todo mundo aqui é carioca e da Globo’, confirma o diretor-geral Flávio Colatrello, dissidente que trocou a novelinha teen Malhação por uma proposta salarial irrecusável – e também para livrar-se do castigo de comandar o elenco mais inexperiente da emissora. ‘Eu os ensinei a falar’, brinca ele, dizendo que deveria ganhar comissão por cada ‘ator’ que formou na novelinha.


Há alguns meses, a Record descobriu que a Globo mantinha profissionais em esquema autônomo. Tratou de colocar headhunters em contato com eles, ofereceu mais dinheiro, benefícios e melhores condições de trabalho. Aconteceu no mercado de trabalho televisivo do Rio o milagre da multiplicação dos peixes e pães – neste caso, sem metonímias. Economia simples: oferta e demanda. Funcionários da casa relatam que já não havia mais espaço nas salas do Recursos Humanos da Record para fechar tantos contratos. Nem gavetas para receber currículos da concorrente.


O sucesso de Escrava Isaura e Prova de Amor, que alcançaram até 16 pontos de audiência em algumas médias semanais, fez a emissora acreditar definitivamente no núcleo de teledramaturgia. A ponto de abrir espaço até o fim do ano para mais um horário de novela, usando a fórmula do sanduíche proposta pelo diretor Walter Clark na programação da Globo. O esquema intercala um telejornal entre duas novelas. A Record vai seguir o modelo: uma trama das 6, outra das 7, um telejornal e uma novela das 9. Com isso, Cidadão Brasileiro vai concorrer diretamente com Jornal Nacional e Páginas da Vida, novela de Manoel Carlos, quando Belíssima acabar. As novas produções, que estão no ar até o fim do ano, devem gerar cerca de 300 empregos. O quartel-general do núcleo será no Rio, assim que acabar a construção dos cinco estúdios, que totalizam cerca de 10 mil metros quadrados. Colatrello também está programando a abertura de um departamento para administrar uma Oficina de Atores.


Nada mal para uma emissora que há nove anos estreava Canoa do Bagre, novela cujo ápice de investimento foi a explosão de um barco em Bertioga, produzida por uma empresa de efeitos especiais (!) de Alexandre Frota. E tinha Patrícia de Sabrit no elenco. Cidadão Brasileiro está em outra dimensão. Reúne nomes como Gracindo Júnior, Cecil Thiré, Tuca Andrada, Etti Fraser e Cleide Yáconis. Antônio é vivido por Gabriel Braga Nunes, galã que deu certo em Essas Mulheres. Dividida em três fases e um epílogo, contada de 1955 até 2006, a novela narra a história de Antônio, um mineiro que luta para vencer na vida e tem caráter duvidoso.


A odisséia de Antônio é cara: custa cerca de R$ 160 mil por capítulo, e no total são 200. Só a montagem cidade fictícia de Guará custou R$ 1,5 milhão. Tudo para bancar a criação de Lauro César Muniz, congelado na Globo desde 2000, quando escreveu a minissérie Aquarela do Brasil. ‘Cidadão Brasileiro é uma síntese do que fiz na TV e no teatro. Assim, abordarei temas que remetem às novelas Quarenta Anos depois, na Record, Escalada e O Casarão, na Globo, e Luar em Preto-e-Branco, peça encenada em 1992’, diz o autor. Antônio Maciel, personagem principal, remete a Antônio Dias, de Escalada (1972), e a João Maciel, de O Casarão (1975/1976). Sendo novela adulta, com cenas mais fortes, como fica a patrulha da Igreja Universal? Lauro César garante que está livre para criar. ‘Em nenhum momento recebi restrição a temas que abordei em Cidadão Brasileiro. E há, na minha novela, temas bastante fortes.’ A novela promete ser boa. Que venha o dízimo.’


Keila Jimenez


A salvadora das 7


‘A Globo começa a respirar aliviada. O diretor Wolf Maya iniciou esta semana as gravações de Cobras e Lagartos, sucessora da famigerada Bang Bang. A trama, de João Emanuel Carneiro, é a aposta da Globo para salvar a audiência no horário, que caiu mais de 10 pontos da última novela das 7 (A Lua Me Disse) para Bang Bang.


No elenco, algumas novidades como Lázaro Ramos, que faz sua primeira novela da rede. Ela será Foguinho, rapaz pobre que ganha a vida nas ruas do Rio como ‘homem-placa’. Lázaro fará par romântico com sua namorada na vida real, a atriz Taís Araújo. Ele será amigo de Duda, um dos protagonistas da história, vivido por Daniel de Oliveira. Duda será o herdeiro de uma fortuna, mas sofrerá muito antes de conseguir por a mão na fortuna.


Francisco Cuoco, Luís Mello, Marília Pera, Regiane Alves e Otávio Augusto integram o elenco, que também conta com Juliana Paes. À bela caberá um personagem importante, que abordará uma campanha social. A personagem de Juliana apanhará do marido no folhetim.


Cobras e Lagartos deve estrear em 24 de abril, um mês antes do previsto.’




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O Estado de S. Paulo


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