Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O Estado de S. Paulo



GUERRA DAS CHARGES
Helio Jaguaribe

O sagrado e o racional

‘As violentas manifestações de protesto nos países islâmicos contra a publicação, em jornais europeus, de caricaturas ridicularizantes do profeta Maomé estão suscitando um novo momento de reflexão sobre os limites – se acaso algum se admita – da liberdade de imprensa. Pouco importa, para a questão em debate, o fato de se ter comprovado que tais manifestações não foram espontâneas, mas ocorreram, meses após a publicação daquelas caricaturas, pela coordenada mobilização de um grupo de líderes religiosos. O que está em jogo, num primeiro momento, é determinar se entre os limites a que deva se submeter à liberdade de imprensa figure o respeito ao sagrado. Num plano mais profundo, situa-se a complexa relação entre o sagrado e o racional. Pode o sagrado ser legitimamente objeto de crítica racional?

A questão da liberdade de imprensa se encontra, em nossos dias, submetida a uma grande duplicidade. Duplicidade, por um lado, por parte de sociedades sujeitas a regimes de intolerância por razões políticas, como na Coréia do Norte, ou religiosas, como nos países islâmicos. Em tais sociedades a imprensa é submetida ao mais estrito controle, mas nelas são freqüentes reivindicações de liberdade de imprensa com relação à manifestação de suas ideologias em países ocidentais, como constantemente ocorre com grupos islâmicos radicados na Europa.

Outra e, em muitos sentidos, mais grave duplicidade em matéria de liberdade de imprensa se observa em países ocidentais. Assim, nos EUA, uma autocensura é exercida na quase totalidade dos jornais relativamente a temas ou assuntos que afetem o interesse nacional norte-americano e, em ampla medida, sejam considerados desrespeitosos com relação ao presidente da República e a altas instituições do país. Contrastante atitude se observa no Brasil, onde críticas as mais descabidas a nosso país, procedentes do exterior, encontram espaço de divulgação na nossa imprensa.

Igual duplicidade se pode constatar, no mundo ocidental, no que diz respeito ao sagrado. A mesma liberdade de caricaturar Maomé dificilmente encontraria espaço jornalístico para vexatórias caricaturas da Virgem Maria ou de Jesus Cristo. Isso não obstante o fato de as sociedades ocidentais, contrastando com as islâmicas, serem predominantemente agnósticas – quase totalmente na Dinamarca e demais países nórdicos.

Impõe-se, assim, ainda que muito sucintamente, uma reflexão sobre o que seja o sagrado e sobre a medida em que sejam legítimas as críticas racionais a que possa ser submetido.

O sentimento do sagrado figura entre os mais antigos sentimentos do homem. No Paleolítico Superior essa relação se exprime em pinturas rupestres e por ritos que puderam ser reconstituídos. No Neolítico esse sentimento conduziria à adoração de deusas da fertilidade e, na idade do bronze, a diversas modalidades de politeísmo, das quais retivemos, particularmente, a helênica. Esse sentimento conduziria, finalmente, às grandes religiões monoteístas. O que pensar do sagrado nas condições culturais de nossos dias?

Em matéria tão complexa, em que se diferenciam no mundo ocidental agnósticos e crentes, cabe admitir que predomina, de forma amplamente consensual, o reconhecimento de que se impõe a todos uma atitude de respeito com relação ao sentimento do sagrado por parte dos seguidores das grandes religiões. Essa atitude de respeito deixa de ser consensual e ampla com relação a ‘religiões primitivas’, consideradas parte do folclore mesmo quando, como no caso do nosso país, significativa parcela da população participa de tais crenças.

É a partir dessas considerações que se pode constatar, no mundo ocidental, o fato de que o que está em jogo, no tocante ao sagrado, é a medida em que se consideram satisfatoriamente ‘racionais’ as crenças implicadas num sentimento do sagrado. As crenças judaico-cristãs se beneficiam dessa presunção. Assim, quanto menos racionais forem consideradas as crenças religiosas, tanto menor o respeito que suscitam seus sentimentos do sagrado.

Ante os inúmeros aspectos que essa matéria comporta, salientarei apenas dois, que se situam em diferentes planos. O primeiro aspecto a ressaltar é o da absoluta legitimidade de todas as críticas racionais ao sagrado. A razão é o supremo atributo de homem e a ela deve estar sujeito tudo com que o homem se relacione. Crítica racional, entretanto, não tem nada que ver com escárnio ou insulto, e sim com objetivas modalidades de análise científico-filosófica. Essas mesmas análises que legitimamente conduzem muitos ao agnosticismo.

Outro distinto aspecto de relacionamento com o sagrado decorre de uma dupla consideração. A primeira diz respeito à intrínseca respeitabilidade que as modalidades do sagrado apresentam no âmbito de cada cultura. Dessa respeitabilidade cultural se reveste, no mundo ocidental, o sagrado judaico-cristão. A segunda consideração é de caráter social. Requerem respeito, no seu respectivo âmbito de vigência cultural, ou em razão deste, as modalidades do sagrado partilhadas por amplos contingentes humanos. É nesse sentido que merece reprovação e, se necessário, interdição pública a divulgação pela imprensa de caricaturas e outras manifestações ofensivas a uma grande religião, como a maometana. Igual consideração cabe se fazer, no caso do Brasil, em relação a crenças e ritos primitivos de que participam amplos setores da população, dos evangélicos ao candomblé, sem prejuízo da crítica racional à que fazem jus.

Helio Jaguaribe é decano emérito do Instituto de Estudos Políticos e Sociais (Iepes)’

Martin Jacques

Europa não pode manter o desprezo

‘Será que a discussão por causa das charges dinamarquesas realmente pode ser reduzida a uma questão de liberdade de expressão? Mesmo que acreditemos que a liberdade de expressão é um valor fundamental, isso não nos dá carta branca para dizermos o que queremos em qualquer contexto, independentemente das conseqüências ou efeitos. O respeito pelos outros, especialmente num mundo cada vez mais interdependente, é um valor no mínimo de igual importância.

A Europa nunca precisou se preocupar muito com o contexto ou os efeitos porque durante cerca de 200 anos dominou e colonizou a maior parte do mundo. Tal era a onipotência da Europa que ela nunca precisou levar em consideração as sensibilidades, crenças e atitudes daqueles que colonizava, por mais sagradas e sensíveis que pudessem ser.

Ao contrário, os países europeus impuseram seus governantes, religião, crenças, idiomas, hierarquia racial e costumes sobre aqueles para quem eram totalmente estranhos. Há uma profunda hipocrisia – e uma enorme ignorância histórica – quando os europeus se queixam dos problemas causados pelas minorias étnicas e religiosas no seu meio, pois é exatamente isso que o regime colonial europeu significou para povos em todo o mundo.

Com uma diferença crucial, é claro, as minorias brancas cantam de galo enquanto as novas minorias étnicas da Europa são marginalizadas, excluídas e punidas, como mostram os eventos recentes.

Mas não é mais possível que a Europa continue ignorando as sensibilidades dos povos com diferentes valores, culturas e religiões.

Primeiro por que a Europa ocidental agora tem uma grande parcela de minorias cujas origens são muito diferentes da população anfitriã e são ligadas às suas raízes de diversas maneiras. Se as sociedades européias quiserem viver com algum tipo de paz e harmonia domésticas – em vez de numa situação de balcanização e repressão – então, elas precisam encontrar formas de integrar essas minorias em condições bem mais igualitárias do que até agora conseguiram. Isso precisa significar, entre outras coisas, respeito pelos valores delas.

Segundo, está patentemente claro, falando em termos globais, que a Europa importa bem menos que costumava importar e, no futuro, contará cada vez menos. Precisamos não apenas aprender a compartilhar nossa terra natal com povos de diferentes raízes, mas também precisamos aprender a compartilhar o mundo com povos diferentes de uma forma muito diversa da que tem sido a prática européia.

A Europa tem pouca experiência nisso, e a experiência que tem está principalmente confinada a menos de meio século. As velhas atitudes de superioridade e desdém – revestidas como liberdade de expressão, progresso ou seja o que for – ainda são muito poderosas. E como muitos liberais gostam de pensar, não estão necessariamente em declínio.

Ao contrário, a intolerância racial está aumentando, mesmo em países antes considerados tolerantes. O governo dinamarquês depende para governar de um partido racista de extrema direita que conquistou 13% das cadeiras do Congresso na última eleição. A decisão do Jyllands-Posten de publicar as caricaturas – e dos jornais da França, Alemanha, Itália e outros lugares de reproduzi-las – assenta-se não tanto na tradição da liberdade de expressão, mas mais no desprezo europeu por outras culturas e religiões. Foi um insulto deliberado e calculado às crenças de outrem, neste caso, os muçulmanos.

Este tipo de mentalidade, que combina eurocentrismo, velhas atitudes coloniais de supremacia, racismo, provincianismo e pura ignorância, serão nefastos ao nosso continente no futuro. A Europa tem de aprender a viver dentro do e com o mundo e não dominá-lo, não pressupor que é superior ou mais virtuosa. Qualquer continente que tenha infligido tanta brutalidade sobre o mundo durante um período de 200 anos tem muito pouco do que se orgulhar e muito em relação ao que deve ser modesto e humilde, embora esta seja raramente a forma como nossa história é apresentada na Grã-Bretanha, sem falar em outros países.

Vale lembrar que, enquanto partes da Europa tiveram liberdade de expressão (e democracia) durante muitas décadas, às suas colônias nada disso era concedido. Mas quando se trata de nossos ‘nobres valores’, nosso registro colonial é sempre escrito fora do roteiro original.

Esta atitude de menosprezo, de suposta superioridade, será cada vez mais difícil de sustentar. Estamos indo na direção de um mundo no qual o Ocidente não será mais capaz de dar as ordens como uma vez deu. A China e a Índia se tornarão grandes participantes globais com os Estados Unidos, a União Européia e o Japão. Pela primeira vez na História moderna, o Ocidente não mais será esmagadoramente dominante.

No final deste século, a probabilidade é que a Europa pareça completamente sem importância em comparação com a China e a Índia. Em tal mundo, a Europa será obrigada a observar e respeitar as sensibilidades dos outros. Poucos na Europa entendem ou admitem essas tendências. Um pequeno exemplo é a forte resistência manifestada no continente contra a proposta de aquisição da Arcelor pela Mittal Steel. Na raiz dessa oposição está um racismo muito mal disfarçado. Mas é melhor que a Europa se acostume a tais fenômenos, pois as aquisições por empresas indianas e chinesas vão se tornar tão comuns quanto as aquisições por parte de firmas americanas. Nosso continente está aferrado a um profundo provincianismo. Quando a Europa mandava no mundo isso não importava, porque o que acontecia na Europa se traduzia numa tendência global e num poderio global. Não mais. Agora é simplesmente provincianismo.

Quando a Europa dominava, não ocorriam reações ou ocorriam poucas reações ao seu comportamento em relação ao mundo não ocidental, pois as relações eram simplesmente desiguais demais. Agora – e no futuro, cada vez mais – será muito diferente. E o motivo dessas conseqüências dirão respeito não apenas ao comportamento no presente como também no passado.

Durante 200 anos, as potências dominantes também foram as potências coloniais – os países europeus, os Estados Unidos e o Japão. Nunca lhes foi exigido que pagassem suas dívidas pelo que fizeram àqueles a quem possuíram e trataram com desprezo. Os europeus têm tratado este capítulo de sua história preferindo esquecer. O mesmo acontece com o Japão, exceto que, neste caso, seus vizinhos não apenas se recusaram a esquecer, mas também estão ficando cada vez mais poderosos. Como resultado, o presente e o futuro do Japão estão constantemente sendo tocaiados por sua história. Esse mesmo futuro poderá também estar à espera da Europa. Podemos pensar que as guerras do ópio são ‘simplesmente história’, mas os chineses (com razão) não pensam assim.

Podemos achar que a fome em Bengala pertence ao século passado, mas não é isso que pensam os indianos. A Europa está rumando para um mundo muito diferente. Como vai reagir? Se prevalecer a atitude semelhante à dos dinamarqueses – um misto de defesa, medo, provincianismo e arrogância – então devemos temer pela capacidade da Europa de aprender a viver neste novo mundo. Existe uma outra forma, mas os indicativos não são muito promissores.

*Martin Jacques, membro visitante sênior de pesquisa do Instituto de Pesquisa da Ásia, da Universidade Nacional de Cingapura, escreveu para ‘The Guardian’’

O Estado de S. Paulo

Clérigo dá US$ 1 milhão por cabeça de cartunista

‘REUTERS, AFP E AP, ISLAMABAD – Um clérigo muçulmano ofereceu ontem US$ 1 milhão e um automóvel a quem matar ‘o autor dinamarquês’ das caricaturas de Maomé que revoltaram o mundo islâmico. ‘Quem ofende o profeta merece morrer’, sentenciou Mohamed Yousef Qureshi, líder espiritual muçulmano de Peshawar, cidade do noroeste do Paquistão, aparentemente desconhecendo que cada uma das 12 caricaturas difundidas em setembro pelo jornal dinamarquês Jylland-Posten tem um autor distinto.

‘Se o Ocidente oferece uma recompensa pelas cabeças de Osama bin Laden e Ayman al-Zawahiri (lugar-tenente do líder da Al-Qaeda), também posso anunciar um prêmio para quem matar o homem que cometeu sacrilégio contra o santo profeta’, insistiu o clérigo que para chegar ao montante da recompensa pôs dinheiro do próprio bolso e obteve a colaboração de membros da comunidade. As charges foram reproduzidas recentemente por jornais europeus em nome da liberdade de imprensa.

O anúncio coincidiu com novas manifestações em Karachi e Lahore, que levaram a Dinamarca a fechar temporariamente a embaixada em Islamabad, a capital do Paquistão.

Os distúrbios mais graves ocorreram em Karachi, onde a polícia usou granadas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Milhares de manifestantes bloquearam também as rodovias de acesso à cidade.

Mercados e lojas, escolas e universidades amanheceram fechados em Karachi e só alguns ônibus e trens funcionaram. No dia anterior, o Jaamat-i-Islami, movimento político mais influente do Paquistão, havia convocado uma greve de protesto contra a Dinamarca e a publicação das charges.

Em Lahore, no leste, palco de violentas manifestações desde segunda-feira, as autoridades policiais ordenaram a prisão do clérigo Hafiz Mohammad Saeed, fundador do grupo radical Lashkar-e-Taiba, que prometera fazer inflamado sermão nas orações de ontem. ‘Temíamos novas explosões de violência, por isso o prendemos’, informou um porta-voz do Ministério do Interior.

Pelo mesmo motivo, as forças de segurança prenderam 130 membros do grupo fundamentalista Shabab-e-Milli, que haviam convocado uma manifestação contra a Dinamarca e as caricaturas na cidade de Multan, centro do país.

Diante desse quadro, a Dinamarca decidiu fechar temporariamente a sede de sua embaixada no Paquistão. ‘O clima é de muita insegurança, o que impede nossa representação de levar a cabo suas tarefas consulares’, disse Lars Thuesen, porta-voz da chancelaria dinamarquesa. Os interesses dinamarqueses serão atendidos pela Embaixada da Alemanha.

O governo dinamarquês já havia fechado suas representações diplomáticas no Líbano, Síria, Irã e Indonésia e repatriado funcionários.

O porta-voz da chancelaria voltou a aconselhar os cidadãos dinamarqueses que estão no Paquistão a regressar imediatamente à Europa.’

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Líbia: 10 mortos em ataque a consulado italiano

‘REUTERS, EFE, AFP E AP, TRIPOLI – Uma multidão de irados muçulmanos incendiou ontem parte do edifício do consulado italiano em Bengasi, na Líbia, num incidente que provocou a morte de 10 pessoas e ferimentos em 55, informou um funcionário da representação. Forças de segurança entraram em choque com os manifestantes, tentando contê-los.

Eles protestavam contra ataques desfechados contra o Islã nos últimos dias pelo ministro das Reformas Institucionais da Itália, Roberto Calderoli. Representante da xenófoba Liga do Norte, Calderoli chegou a gabar-se de ter uma camiseta com as caricaturas do profeta Maomé publicadas recentemente pela imprensa européia, que desencadearam violenta onda de protesto no mundo islâmico. Ao tomar conhecimento dos incidentes de Bengasi, o primeiro-ministro italiano, Sílvio Berlusconi, exigiu que Calderoli deixasse o ministério.

Segundo a agência líbia Jana, as forças de segurança tentaram impedir que a multidão se aproximasse do prédio do consulado. ‘Contudo, alguns manifestantes conseguiram escapar ao cerco e penetraram no perímetro da representação diplomática, lançado contra ela coquetéis molotov’, acrescentou a agência. As autoridades líbias admitiram que muitos manifestantes ficaram feridos no choque com as forças de segurança, porém não confirmaram a existência de mortos.

Segundo informações da chancelaria italiana, os distúrbios ocorreram pouco depois das tradicionais orações das sextas-feiras. ‘As forças de segurança líbias controlam a situação’, acrescentou um porta-voz da chancelaria, sem mencionar o incêndio. O consulado italiano é a única representação diplomática estrangeira existente em Bengasi.

Em Roma, políticos da oposição classificaram de ‘irresponsável’ o comportamento do ministro de Berlusconi.’



POLÊMICA NA CULTURA
Me chama de stalinista

Marcelo Rubens Paiva

‘Se Alicinha Cavalcanti, ou, como a apelidaram no Rio, A-listinha Cavalcanti, não o convidou para a área VIP dos Stones, aqui vai, aqui tem: jazz no Geni, bar e restaurante com música ao vivo, que reinventa a noite paulistana. O novo pico da Bela Cintra, dos experientes Mark James, Maurizio Longobardi e Marcelinho Bassarani (Urbano e Grazia a Dio), abre e fecha cedo. Até as 21h, tome dois chopes e pague um. A banda ataca às 22h30. Às quintas, Bocato. Nós, boêmios que ralam, agradecemos. Sim, tem boêmio que rala. Pra sustentar comandas próprias e de agregados.

Já perguntei aqui, mas ninguém deu trela. Por que ônibus (Edu Chaves-Vila Madalena, Vila Zatts) ainda trafegam nas estreitas Ruas Aspicuelta e Fidalga, buzinando, esbarrando em boêmios, manobristas, casais discutindo relação, jogadores de futebol aposentados, escritores mal-humorados, playbas ‘dissituados’ (não tem no Aurélio), gente que não está na listinha da Alicinha, seguranças e garçons gente boa do Posto 6, Zé Menino, São Bento (novidade), Salve Jorge, São Cristóvão, Quitandinha (reformado), Genésio e Filial, faça chuva ou sol? Que atraso…

Carnaval no Rio também foi reinventado. Sambódromo? Alguns torcem o nariz: que virou programa da ‘comunidade’ paulista-endinheirada, que samba-enredo é amontoado de frases feitas, que desfile é para gringo ver e, nas alas, só tiazinhas ricas e turbinadas do interior, que escolas têm também dinheiro do tráfico e até já homenagearam chefões. Tudo bem, me’rmão, mas quando a bateria passa…

O pico do Rio voltou a ser o carnaval de rua. Blocos tiram a tradição do esquecimento. Do Bola Preta aos BoiTatá, Céu na Terra e Carmelitas, de Santa Tereza. Tem o Gigantes da Lira para crianças, em Laranjeiras, com bonecos como os do Recife. Crianças, mães, avós, todas fantasiadas atrás de marchinhas antigas (A Cabeleira do Zezé, Jardineira e Cidade Maravilhosa). Folia. Sem contar o Monobloco, do sambalanço, que vai pela orla e já é conhecido aqui; deu shows no BlenBlen. Tem até livro que mostra esse renascimento. É o recém-lançado Carnaval (Objetiva), de João Gabriel de Lima, romance sobre um paulista entre blocos cariocas, suor e bitira:

‘Uma mulher bonita e suada me aborda pelo lado esquerdo e me dá um leque. Quando eu começo a me abanar, ela segura meu braço e aponta o dedo para o centro do pedaço de papelão. Só então percebo que ali está a letra da música que todos cantam. ‘Te pego, me entrego, com samba no pé, do jeito que você quiser.’ Ela tenta me ensinar os versos, enquanto me abraça pela cintura. Ela vê que olho para os seus lábios borrados, gruda-os no meu ouvido e grita: ‘Beijei muuuuuuito hoje!’ De tempo em tempo no bloco já aprendi a diferenciar os hálitos – o dela é de uísque.’

Apresento o bloco Me Beija Que Eu Sou Cineasta. Recebi a sua ata por e-mail:

‘A Executiva Nacional do bloco carnavalesco Me Beija Que Eu Sou Cineasta se reuniu no Baixo Gávea. Ficou acertado que o bloco sairá do Baixo Gávea na quarta-feira de carnaval. A concentração será às 9 horas da manhã e a saída 11 horas pontualmente. Conhecendo o perfil dos nossos cineastas, o trajeto do bloco é uma volta completa na Praça Santos Dumont. Mais do que isso o nosso cinema não agüenta. A cor oficial do bloco é o roxo. Espiritualidade. Transformação. Os nomes propostos para compor o hino são: Otto, Lenine e João Falcão. Outros compositores podem se inscrever. Marcaremos uma cachaça para eleger o melhor. Não esquecer que o refrão deve ser ‘a retomada não basta, me beija que eu sou cineasta’. Como a classe é desunida mesmo, teremos várias alas! Uma delas é Madrinha da Bateria. Qualquer uma que queira pode ser madrinha de bateria, isso vale para os rapazes interessados no posto também. Outra ala que se formou foi Eu Dou pra Ser Atriz. Lembramos que outras alas podem se formar, inclusive a ala do Eu Sozinho. Eu, Natara, fui eleita em assembléia por voto direto da Executiva Nacional como porta-estandarte. Sim, terei um dublê caso o meu pequeno problema com bebida alcoólica não me permita concluir o trajeto. Para sair no bloco, o único requisito é que o proponente já tenha beijado pelo menos três cineastas de renome. Não importa o cargo que o cineasta ocupe. Vale qualquer categoria. De motorista, eletricista, continuísta até distribuidor; não temos preconceito. Caso você não tenha beijado nenhum cineasta, no dia do desfile teremos uma equipe de plantão para atender aos presentes. Lembre-se de que, se você declarar que beijou, nós vamos conferir a informação. Este é um bloco sério.’

Sugiro alas como O BNDES me Ignorou, Ancinav É a Tua, Me Chama de Stalinista Que Eu Gamo e Sem Ademar não Vai Rolar. A penúltima homenageia meu ex-editor Sérgio Sá Leitão, do MinC, e a última, Ademar de Oliveira, do Espaço Unibanco. Vou de poeta na Me Chama de Stalinista.

Ah, sim. Garotas da comunidade Meninas Boêmias de Família (do Orkut) avisam que sairão em bloco no que elas chamam de ‘quinta-feira de carnaval’, dia 22/02. Do Filial. Darão a volta na rotatória da Fidalga com a Aspicuelta e voltarão para o bar. Uma caminhada de uns 40 metros. Será que conseguem?’



TELEVISÃO
Keila Jimenez

Cruise no armário

‘O Multishow exibe hoje, às 22 h, o polêmico episódio de South Park que acabou com o sono de Tom Cruise. Cartman e sua turma conseguiram acabar com o bom humor do ator ao brincar com sua religião, a Cientologia, e com sua sexualidade. Bem, esse parece ser o real motivo da ira de Cruise.

No episódio, Tom Cruise resolve trancar-se no armário da casa de um dos personagens, dando início a uma certa comoção nacional em torno do fato. Eis que surgem as versões em cartoon da ex-mulher, Nicole Kidman, e do ator John Travolta, que são chamados para tentar tirar Tom do armário. Na conversa, Nicole dispara: ‘Tom, você não acha que já foi longe demais? Está na hora de sair do armário. Você não engana ninguém.’ John Travolta inclusive entra no armário pra convencer o colega a sair e acaba ficando por lá.

Cruise chegou a pedir à Paramount que o episódio não fosse reprisado nem exibido em outros países. Conseguiu impedir a reexibição na Inglaterra, mas nada pôde fazer para evitar a venda para outros países. Tirando esse sai não sai do armário, o episódio até que está entre os mais lights da série, que costuma pegar pesado com todo mundo.’



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Gugu com um pé na Record?

‘Não é de hoje que a Record está de olho em Gugu. Agora, a proposta é real e milionária, feita pelo presidente da Rede. Desde 1997, o bispo Honorilton Gonçalvez, manda-chuva da casa, negocia com Gugu. Na época, a Record seguia uma linha mais popular e tê-lo no casting representava um golpe na concorrente direta e vice-líder. O cenário agora é outro. A Record quer se sofisticar e atingir o padrão Globo de qualidade, mas Gugu seria uma opção para fortalecer a audiência do domingo, ainda sem força na emissora.’



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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

O Globo

Agência Carta Maior

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