Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Os balões do Fantástico

A reportagem sobre balões do Fantástico de domingo (27/6 – ver aqui), mostrou o balão que teria causado o incêndio no Morro dos Cabritos, no Rio. Mas, se foi aquele balãozinho que causou o incêndio, então como ele estava ali, intacto?


Outras observações:


1. No dia do incêndio, a cidade estava com vento forte, o que impede a soltura de balões;


2. Na zona sul (área nobre) quase não tem baloeiro, raramente se vê balão;


3. O incêndio estranhamente começou nas beiradas do morro (até onde as pessoas chegam), em vários pontos ao mesmo tempo;


4. Aquela é área de frequente reflorestamento, onde a prefeitura paga as pessoas para cuidar e reflorestar quando necessário; então, sem fogo não tem novo contrato com a prefeitura;


5. Em pleno incêndio, ignorando a obrigatoriedade de investigar, o prefeito Eduardo Paes declarou como culpado o baloeiro e ainda aplicou uma pena, aumentando a recompensa por denúncias e iniciando uma caçada, como no velho-oeste, afirmando que faria um contrato de emergência (sem licitação) para reflorestar a área.


Assunto complicado


Em vista disso, denuncio os erros da reportagem do Fantástico:


** Para causar o incêndio, aquele balão não teria que ter pegado fogo antes?


** A Globo precisa defender a democracia, baseada em julgamentos justos; então por que acreditou piamente no prefeito e não o questionou? Jornalismo sério é questionador.


** Por que a Globo não questiona que logo no Rio, o estado ‘mais seguro do país’, não se oferece recompensa contra assassinos, traficantes e estupradores?


** Por que a Rede Globo não muda de estratégia contra os balões, uma atividade de 300 anos que realmente tem seu risco, mas que é eterna? Pois se nos últimos 80 anos de proibição os balões só vêm crescendo, então por que não respeitar a lei que diz que só é proibido o balão que possa causar incêndio? Além disso, poderia fazer campanhas mostrando o real perigo e as alternativas existentes – que hoje é o ‘balão sem fogo’ (balão grande, de baloeiro profissional, como o mostrado no programa Antena Paulista de domingo, 27/6). Estes serão, no futuro, os balões regulamentados, 100% seguros, se forem pequenos, tiverem pouco peso e usarem bucha segura, de fonte térmica auto-extinguível.


** O Fantástico lembrou um caso de 2008, da massoterapeuta que teria se queimado com um balão que entrou pela sua janela, mas não lembrou que naquele dia os bombeiros disseram que aquilo não era um balão, que era algo que não podia voar; o programa não lembrou que a mulher havia feito seguro das mãos e que até hoje a seguradora não pagou, pois identificou várias inconsistências na história por ela contada.


Dias após o incêndio no Morro dos Cabritos, a Radio Tupi fez uma enquete sobre se baloeiro é criminoso, e a população decretou: 94% dizem que não.


O assunto é complicado, porque brasileiro adora balão; mas a estratégia tem que mudar, para segurança da sociedade.

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Administrador, empresário e consultor de empresas, diretor-presidente da União dos Artistas do Papel (UniãoAP)