Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Os jornalistas que se amam

Afora algumas centenas de jornalistas dos jornais mais pomposos que têm chances de ganhar um, quem realmente se importa com os prêmios Pulitzer de jornalismo? A pergunta, desdenhosa, é feita pelo ácido articulista Jack Shafer, da Slate [6/4/04]. ‘Duvido que um em cada 10 mil leitores de jornal saiba dizer no dia seguinte ao Pulitzer quem levou o prêmio de reportagem explicativa’, afirma. ‘Em um mundo ideal, os prêmios seriam tratados como notas de rodapé em vez de virar manchete’, como ocorre hoje em dia, principalmente nos jornais que ganharam prêmios.

Até certo ponto, não há como discordar de Shafer quando diz que, se o Pulitzer fosse notícia de fato, e não mera gabolice, a primeira página do Washington Post não sairia no dia seguinte à premiação com a manchete principal ‘Shadid, do Post, ganha Pulitzer por cobertura no Iraque; Los Angeles Times leva cinco prêmios’, mas sim o contrário – ‘Los Angeles Times leva cinco Pulitzers; Shadid, do Post, ganha um por cobertura no Iraque’. Shafer concorda com a teoria expressa por Alexander Cockburn numa coluna do Wall Street Journal, de 1984, em que afirma que o Pulitzer é uma espécie de show business, ‘um ritual de autopromoção em que jornalistas dão prêmios a si mesmos e depois gritam para o público ouvir’.

Shafer diz que de forma alguma o Pulitzer deveria ocupar as capas dos jornalões americanos. Em primeiro lugar, porque o prêmio é pequeno, de US$ 10 mil. ‘Tem gente ganhando isso todos os dias e não é capa de jornal’, diz. Em segundo, o prêmio não condecora o melhor jornalismo do ano, mas apenas o melhor jornalismo dos jornais. ‘Até o Oscar é mais ecumênico que o Pulitzer ao premiar filmes estrangeiros, curtas-metragens, quesitos técnicos’ etc.

‘A única forma de tornar o Pulitzer importante seria transformá-lo em um honesto inventário do jornalismo’, afirma o colunista da Slate. Enquanto Cockburn sugere que ao lado das melhores reportagens do ano sejam noticiados também os maiores erros, Shafer vai além: ‘Eu daria prêmios à pior página de editoriais, ao jornal local de mais rabo-preso, à crítica mais previsível…’ e por aí Shafer vai.