Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Os nomes dos homens

Geraldo Alckmin quer ser conhecido em sua campanha à presidência como ‘Geraldo’ apenas. Por vários motivos. O motivo imediato: ‘Alckmin’ nem sempre é fácil pronunciar. No Nordeste ouvi pessoas falando ‘Alquemén’… ‘Míquen’… Não pega.

Outro problema: ‘Alckmin’ está associado ao Opus Dei (e a toda uma carga polêmica negativa). Mauro Santayana escreveu recentemente que ‘Alckmin se identifica, em suas idéias e em seu desempenho administrativo, com Fernando Henrique, no neoliberalismo militante, embora sob as bênçãos da Opus Dei e não pelo soberbo ateísmo do sociólogo’. Um simples ‘Geraldo’ jamais teria recebido orientações da prelazia dentro do Palácio dos Bandeirantes…

‘Geraldo’ é ‘geral’, genérico, lembra o geraldino, o indivíduo que quando vai ao estádio de futebol fica na geral. Temos o Geraldinho e o Geraldão, do cartunista Glauco. Enfim, ‘Geraldo’ é mais acessível, mais audível, é o nome que o candidato precisa divulgar agora, deixando o sobrenome difícil para o futuro. ‘Geraldo’ vai vingar, mas só se a mídia quiser.

Mil campanhas

‘Lula’ era apelido. O nosso atual presidente não podia usá-lo, a legislação eleitoral proibia. Por isso alterou seu nome judicialmente: Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo com um ‘da Silva’, ‘Lula’ era ainda mais popular, com outra vantagem. No conhecido filme italiano La classe operaria va in paradiso (1971), um dos personagens chama-se Lula e outro, o protagonista, perde um dedo em acidente de trabalho na fábrica e é envolvido em movimento de protesto. Lula menciona o filme, explicando que a classe operária chegou ao governo, mas ‘de forma sóbria, madura’…

Anthony William Matheus de Oliveira tornou-se o ‘Garotinho’ quando radialista de futebol. Para o ambiente do rádio, tudo bem. No mundo da política, virou piada pronta. O próprio ex-governador do Rio já repetiu o trocadilho. Em 1998, a Folha de S.Paulo perguntou-lhe se pensava disputar a presidência em 2002. Resposta, entre risos: ‘Não, eu sou muito Garotinho ainda!’ (E o mais engraçado é que disputou!)

Também nas eleições de 2002, José Serra empenhou-se em difundir o ‘Zé Serra’. O hipocorístico ‘Zé’ compõe com o sobrenome uma só palavra, ‘zesserra’, melhor do que o ‘José Serra’, em que a oxítona esbarra na paroxítona.

O bordão ‘meu nome é Enéas’ valeu por mil campanhas de propaganda política. O deputado federal Enéas Carneiro transformou o seu nome em slogan, literalmente. Slogan, segundo a etimologia, significa originariamente ‘grito de guerra’.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br