Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Para não deixar esquecer

O Newseum é, hoje, o mais importante museu de jornalismo do mundo. Localizado em Washington, EUA, é permanentemente notado por quem legisla, executa e julga as diversas questões da vida, a partir da capital norte-americana.

Do seu prédio monumental, significativamente branco como outras grandes construções do poder da capital avistam-se o Capitólio e a Casa Branca e o Newseum parece fazer corpo-a-corpo com outros Poderes, para afirmá-los ou contrapor-se a eles. Um exemplo da arquitetura que lembra o quarto poder e suas mensagens imanentes, como a liberdade de expressão.

No Newseum, a imprensa mostra suas armas e seu protagonismo nas grandes narrativas e no seu papel no cotidiano do mundo. Mostra suas origens, heróis e vilões, mártires e tycoons. Mostra a evolução da tecnologia em coleções de periódicos e primeiras páginas de revistas fundadoras de estilos jornalísticos como a Time ou a Life. Mostra biografias de seus criadores, como a de Henry Luce (1898-1967). Mostra as primeiras páginas diárias, online, dos principais jornais regionais e nacionais, arquivos quase infinitos de imagens e sons, de todos os lugares do mundo, ao alcance dos fones de ouvidos e moderníssimas telas.

Memória afetiva

O Newseum demonstra, por meio de instalações que, queiramos ou não, algumas notícias estão impressas em nossas almas: nascimentos e perdas, vitórias e derrotas. Acontecimentos dos quais é inútil tentar escapar e, se possível, nos esvaziaria.

Um memorial homenageia jornalistas vítimas da intolerância. E ali, longe do Brasil, a principal instituição da memória do jornalismo mundial não deixou cair no esquecimento um dos maiores crimes cometidos contra jornalistas no período da ditadura militar brasileira: o assassinato de Vladimir Herzog, em 25 de outubro de 1975, em uma cela da Operação Bandeirante (OBAN), em São Paulo. A ver como o fato, ocorrido há 34 anos, será lembrado pela imprensa brasileira nos próximos dias.

Dentro do Newseum encontra-se um fragmento do Muro de Berlim, em cuja instalação experimenta-se o autoritarismo do que foi aquele lugar. De um lado, ocidental, os grafites preservados e do outro, oriental, a aridez da expressão nenhuma. E também uma madeleine amarga, que guarda restos retorcidos de uma antena de transmissão de televisão instalada no World Trade Center, de Nova York, destruído em 11 de setembro de 2001. As paredes da sala estampam as primeiras páginas da cobertura do atentado terrorista, produzidas por jornais do mundo todo.

Um museu, como lugar de culto, pode ser vazio e desalmado, depósito de fantasmas e efemérides, perdido no tempo, sem significado e depressivo. Mas, longe disso, o Newseum é lugar de ação, exemplo de organização de memórias afetivas e lobby do jornalismo, da liberdade de imprensa e da democracia, em um dos mais importantes centros políticos mundiais.

******

Jornalista, professor da ECA-USP e diretor-geral da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje)