Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Para que time eles torcem?

Começou-se alegando que não haveria quórum, que os chefes de Estado árabes não haviam se interessado pelo evento – era a nota dominante nos três jornalões brasileiros, Estado, Folha e Globo. De fato, alguns presidentes e um par de reis convidados não compareceram ao evento. Mas um dedo de vivência na tumultuada região e um pouco de isenção produziriam um diagnostico bem diferente. É o que me proponho a estabelecer.


A Península Árabe vive há três décadas dramáticas transformações sociológicas sob o impacto do multiplicar por um fator acima de 15 as receitas de alguns de seus países. De repente, sobre alguns daqueles desertos desembarca o mais suntuoso e consumista estilo de vida. Armam-se os mais flagrantes contrastes e naturalmente cobiças entre tribos com direito a dirigir a Opec e outras, como na Síria, que seguiram empobrecidas.


Conheci um espirituoso engenheiro carioca que vendia obras pela região que a definia – ‘No Oriente Médio há país com petróleo e petróleo com país.’ Então, não ter Al-Assad (Síria) nem o rei Saud (Arábia Saudita), atolados nos seus próprios problemas internos, em Brasília não chega a ser um desdouro.


Infâmia do adjetivo


Mas a grande imprensa nacional acabou trocando de tecla: surgem os problemas de trânsito em Brasília para carpir. Não encontrei quem honestamente se ocupasse do núcleo vital dos comparecimentos à Cúpula. Afinal, ocupou-lhe a tribuna o presidente Bouteflika, eleito pelas urnas na Argélia, um país de importância política pivotal na África, alem de grande mercado para produtos brasileiros. Vieram à capital federal também o novo presidente do Iraque e o chefe da Liga Árabe. E uma figura fundamental, o líder da Palestina, Mahmud Abbas, homem sereno que conseguiu suspender os ataques terroristas contra Israel.


Aqui tivemos todos os presidentes sul-americanos por mais que a liderança brasileira desperte ciúmes entre irmãos. Grupo expressivo de governantes que o Brasil poderia perfeitamente liderar num bloco a lutar por causas de alta relevância para os interesses nacionais, como nossas exportações de manufaturados para os países presentes em Brasília e menos subsídios agrícolas dos europeus e americanos.


Mas os jornalões insistem em qualificar os êxitos do governo Lula como ‘aventureirismo escancaradamente adverso ao interesse nacional’ (Estadão, A3, 12/5/05). Foi ali também, na véspera, que a colunista Dora Kramer chegou à infâmia do adjetivo ‘na base dos impulsos de passeata’. Para que time ela torce?

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Diretor do IAAF (Instituto Afrânio Afonso Ferreira), Bahia