Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Paulo Machado

‘Depois de ouvir falar sobre os recursos para habitação previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado pelo governo federal em janeiro deste ano, a leitora Erika Lopes de Brito Ferreira escreveu para esta Ouvidoria. Num trecho do texto faz a seguinte ressalva: ‘Lendo as matérias publicadas neste site da Agência Brasil, eu não consegui saber sequer qual a renda mínima que tenho que ter para obter financiamento da casa própria’.

Continuando sua mensagem, a leitora diz que ‘só se fala em financiamento de R$ 130 mil’. E pergunta: ‘Qual é o cidadão que paga R$ 150 de aluguel que vai fazer um financiamento nesse valor?’ Sua conclusão é: ‘Um valor desses nem os nossos netos conseguirão pagar!’

Entre 6 de janeiro e 26 de março, a Agência Brasil publicou 15 matérias sobre a política de habitação para famílias de baixa renda. No dia 22 de janeiro, data de lançamento do PAC, foi publicada uma notícia com declarações da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na qual afirmava que o público-alvo da maior parte dos recursos habitacionais previstos no programa era de pelo menos 4 milhões de famílias com renda mensal de até cinco salários mínimos.

Ao lermos as notícias sobre a divulgação dessa política pública, tomamos contato com um emaranhado de números, siglas, cifras e programas com informações que dificilmente respondem às dúvidas da cidadã que aspira ver seu direito à moradia contemplado, conforme previsto na Constituição.

Ao analisar o conteúdo das notícias observamos que quatro de cada cinco matérias contêm declarações de apenas um entrevistado, que, na maioria das vezes, se expressa em uma linguagem usada na comunicação entre políticos, empresários, ministros, especialistas ou entre investidores. Mas não em uma linguagem que o cidadão brasileiro, de cultura mediana, entenda facilmente, conforme orienta o Manual de Jornalismo da Radiobrás.

A Agência Brasil consegue divulgar as medidas que o governo pretende tomar em termos de investimento, mas, na maioria das vezes, não explica como os financiamentos se operacionalizam, a quem se destinam, quais são os critérios para ter acesso a eles e qual seria seu provável impacto na vida do cidadão que paga, por exemplo, R$ 150 de aluguel.

Um caminho necessário para o jornalismo da Agência Brasil é verificar com pessoas de fora do governo, especialistas e membros da sociedade civil quais as reais possibilidades de as políticas anunciadas se tornarem realidade para cada tipo de público-alvo. Nesse aspecto, as matérias não se aprofundam na apuração dos valores e das fontes de financiamento, podendo criar expectativas nos leitores que as políticas públicas talvez não consigam atender.

As notícias citam que entre a concepção do programa elaborado pelo governo federal e o cidadão há vários tipos de intermediários representados por instituições financeiras, construtoras, governos estaduais e prefeituras, que, por sua vez, estabelecem critérios, exigem garantias e fazem restrições. Mas a Agência Brasil não explica até que ponto esses intermediários podem tornar o caminho do dinheiro que financiará a casa própria da leitora Erika Lopes mais longo e demorado.

Até a próxima semana.’