Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Pena de morte a homossexuais em Uganda

Estou muito preocupado com os rumos da tramitação do projeto de lei que prevê a pena de morte para homossexuais em Uganda. Igualmente preocupado fico com o tratamento que a imprensa brasileira tem dado a esse tema. Buscando informações na internet, encontrei pouco material produzido pelos grandes jornais e, a mais das vezes, inspirado pela manifestação do sr. Barack Obama.

Então é isso? A notícia é o que o presidente dos Estados Unidos pensa sobre esse projeto de lei? A ameaça inqualificável aos cidadãos daquele país não é bastante para sensibilizar nossa imprensa? Seria suficiente para tocar o senso moral da sociedade brasileira e, se sim, isso seria possível sem a atuação da grande imprensa? Penso que ela prestaria um grande serviço se, além de noticiar esse descalabro, discutisse a argumentação dos defensores do projeto. Afinal, o viés religioso dos que defendem o projeto e o dos que se calam perante ele, a visão da sodomia como prática criminosa e exclusiva de homossexuais, a viabilidade de reabilitação, a particularização do lesbianismo e a previsão de notificação compulsória também estão presentes nos corações e mentes de nossos cidadãos.

Obrigado pela atenção e parabéns pelo trabalho indispensável das senhoras e senhores. Saúde.

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É praticamente impossível entender os fatos que vêm Niger da forma que estão sendo noticiados. O Último Segundo, jornal do iG, procurou dar um panorama geral dos acontecimentos (ver aqui) mas derrapou no final do texto. No último parágrafo da matéria lê-se:

‘A França, que teve Níger como colônia até sua independência em 1960, pediu seus cidadãos que não saiam às ruas. O gigante francês da energia nuclear Areva é o maior empregador privado no país.’

Ficamos sem saber porque os empregados da Areva devem temer represálias. A empresa tem alguma ligação com os golpistas ou com o presidente deposto?

No G1 a cobertura também foi ambígua (ver aqui). O texto começa dizendo que o golpe teve sucesso: ‘`O golpe foi bem sucedido. Está sendo liderado pelo major Adamou Harouna´, disse um militar.’ Mas a matéria termina com a alegação de que ocorreu uma tentativa de golpe: ‘Uma fonte da diplomacia francesa classificou o incidente como uma tentativa de golpe, mas disse que a batalha durou pouco.’ Quem venceu a batalha? Os partidários do presidente ou seus opositores?

No Estadão vemos que o presidente foi deposto e preso (ver aqui). Os militares teriam dado o golpe em benefício do povo, mas o artigo termina com as seguintes informações:

‘Em sua gestão, a empresa energética francesa Areva começou a trabalhar na segunda maior mina de urânio do mundo, investindo o que se estima ser US$ 1,5 bilhão no projeto. A Corporação Nacional de Petróleo da China assinou um contrato de US$ 5 bilhões em 2008 na área de petróleo dentro de três anos.’

O Estadão não informa se o golpe teve alguma relação com estes empreendimentos, nem quem estava tirando proveito destes contratos bilionários. Nos textos citados não há qualquer referência às propostas políticas, econômicas e sociais do governo deposto e dos golpistas. Este é um golpe de esquerda contra a direita, da direita contra a esquerda, da direita contra a direita ou da esquerda contra a esquerda? (Fábio de Oliveira Ribeiro, advogado, Osasco, SP)

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Analista de sistemas, São Paulo, SP