Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Picuinhas e mentiras

O link do Estadão.com não mente: “Dinamite é encontrada colada a viga do monotrilho em SP”. Ou seja, assim como o link, a manchete repete o texto, dizendo ter sido encontrada uma carga de dinamite colada com fita a uma viga do monotrilho em São Paulo. Lendo-se a matéria, encontra-se no texto que a carga de dinamite teria sido na verdade encontrada colada a uma coluna do monotrilho, e não à “viga” como informado no link e no título.

Picuinhas à parte, deixando-se de lado a desobrigação do jornalista e do redator chefe em conhecer a diferença entre viga e coluna, difícil é explicar por qual razão teriam sido usadas as palavras “viga” e “coluna” ao se referir ao mesmo fato, ou seja, de que foi encontrada uma carga de dinamite colada a uma coluna do monotrilho.

Cabe pensar a respeito: o que tal fato mal contado pode trazer ao leitor/eleitor? Que tipo de associação tal manchete pode provocar no leitor/eleitor? O quão conveniente é ignorar a diferença entre viga e coluna, dias após o acidente em que uma viga realmente despencou em uma obra do monotrilho em São Paulo? Estas coisas são como ignorâncias que vêm bem a calhar.

Mas o leitor/eleitor atento sabe muito bem compreender que o jornal se presta a este tipo de serviço, especialmente em ano eleitoral, como tem sido ao longo de décadas de sua existência, tentando atribuir causas misteriosas à incompetência da administração pública responsável pela obra, desviando a atenção do público em geral. A quem interessaria “explodir” a coluna ou a viga (que antes, em 9 de junho de 2014, caiu sem atentado algum)? A quem interessaria espalhar que foi flagrada uma tentativa não bem sucedida de atentado a bomba contra uma obra como o monotrilho? Basta verificar quem se responsabiliza de fato pela obra para saber as respostas. Flagrante e vergonhosa manobra, a qual no mínimo conta com a ajuda do jornal, ainda mais em matéria não assinada.

Engano recorrente

O jornalista Mario Sergio Conti foi desproporcionalmente humilhado em quase todos os jornais pelo seu grave erro jornalístico ao publicar uma entrevista que, primeiro, não era uma entrevista, era uma conversa informal de vizinho de poltrona de avião, com um cidadão supostamente conhecido do público; segundo, o cidadão não era quem ele pensava que era, pois era apenas um sósia profissional! O jornalista Mauro Betting, ávido de vingança, publicou uma matéria destruindo Mario Sergio Conti por seu engano (ver aqui). Lamentável e visível oportunismo.

Mas mesmo com tanta vigilância contra o erro de jornalistas na web, e em meio a tanta atenção e estado de alerta que o caso do falso Felipão provocou, muito pior do que um jornalista confundir uma personalidade com um sósia é perceber que se confunde uma “personalidade futebolística” com outra “personalidade futebolística”, seja lá que importância tenha uma personalidade futebolística. Foi o que aconteceu no domingo (6/7) com a Globo News, contando com a participação da experiente Leilane Neubarth.

Em matéria gravada sobre a ausência de Neymar e seus possíveis substitutos, a jornalista inicia a matéria dizendo os nomes dos atletas, confirmados pelos caracteres exibidos no vídeo: os substitutos prováveis são William ou Oscar. Isso mesmo, Oscar. Leilane fala William ou Oscar e no texto escrito na tela aparecem exatamente estes nomes. Seguindo a matéria, são exibidas entrevistas, primeiro com William, logo em seguida com Bernard, e mesmo aparecendo o atleta Bernard na tela, os caracteres informam o nome de Oscar. 

Ou seja, mesmo com o rosto de Bernard aparecendo, a matéria erra no texto, nos caracteres e na fala da jornalista. Será que ninguém percebeu o engano? O link do vídeo está aqui.

Sinais de vida inteligente

De toda forma temos que comemorar os referidos e citados erros de Mario Sergio Conti e da Globo News em relação aos nomes dos jogadores, já que o nomes dos fantoches deste circo grotesco chamado futebol profissional começam a ser célebre ou solenemente ignorados ou confundidos, mostrando a todos que o foco de pessoas com um pouco mais de seriedade e sinapses é outro: a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte… E cultura, e escolas, e hospitais, e consciência etc., etc., etc.

Os problemas do futebol empresarial extravasam dia a dia, nas colunas sociais e policiais, sem falar nas obras superfaturadas: notícias dão conta que o presidente de um país chama os diretores da Fifa de “velhos filhos da p…” por achar que o indisciplinado e antiesportivo atleta de seu país foi injustiçado, e logo em seguida o atleta resolve assumir sua culpa pela indisciplina… (Que exemplo esse presidente deu aos jovens e à educação dos jovens de seu país!)

Notícias dão conta que o empresário sócio da organização que coordena as atividades empresariais da Fifa está por trás dos desvios de ingressos para o evento.

Enfim, nesses dois exemplos apenas, vemos como se entrelaçam os nobres interesses e as preocupações com o futuro da humanidade nesse circo chamado futebol, o qual tem um grande apelo por sua função supostamente agregadora entre os povos do planeta, mas que no Brasil tem sido o grande parceiro das empresariais lavagens de dinheiro do crime organizado.

Pois bem, que se confundam os nomes desse circo, que se confundam as pessoas desse circo, mas que se trilhe por melhores dias para a humanidade, apesar dos circos e dos ópios do povo, pois parece que ainda há vida inteligente no planeta. E nos lugares onde há vida inteligente, o circo do futebol tem seu espaço muito reduzido e nomes futebolísticos suposta ou “unanimemente” importantes, no sentido “nelsonrodrigueano” da palavra, são facilmente confundidos ou esquecidos. Bons sinais para a humanidade.

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José Albino é engenheiro