Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Polícia faz ronda em casa de repórter da Folha

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 20 de maio de 2008


POLÍCIA
Folha de S. Paulo


PM apura ronda de policiais em casa de repórter no Rio


‘O comando da Polícia Militar do Rio determinou a abertura de averiguação para apurar as razões da presença de PMs nas vizinhanças do apartamento do repórter da Folha Raphael Gomide. O jornal publicou na edição de anteontem, no caderno Mais!, reportagem em que Gomide relatava como são treinados os recrutas que entram na corporação.


Aprovado em todas as etapas -inclusive no exame de pesquisa social-, Gomide ingressou no Curso de Formação de Soldados, no qual permaneceu de 3 a 25 de janeiro. Desde essa data, há quase quatro meses, está desligado da corporação.


Ontem, dia seguinte ao da veiculação da reportagem -que mostra da falta de papel higiênico para os alunos até os poucos tiros disparados no treinamento-, um subtenente e um sargento da PM, vestidos com roupas civis, estiveram no prédio em que o repórter mora e interrogaram dois porteiros, a síndica e uma moradora. Mostraram fotografias e cópias de documentos pessoais do jornalista e fizeram perguntas sobre seu comportamento.


À noite, o comandante-geral da PM, coronel Gilson Pitta Lopes, disse à Folha não ter partido nem dele nem do comando do Estado-Maior da corporação ordem para que PMs fossem à casa do jornalista. Por volta das 19h30, um PM fardado encontrava-se na porta do prédio em que mora Gomide.


Pitta Lopes afirmou que determinou abertura de averiguação sumária para apurar o que levou os policiais ao endereço, ‘para dar uma resposta imediata’. De acordo com ele, a PM tem como tarefa acompanhar o cotidiano daqueles que deixam a corporação. Mas reconheceu que visitas como a de ontem ‘não são rotina’.


A averiguação sumária poderá resultar em IPM (Inquérito Policial Militar) caso conclua que houve irregularidades na ida dos policiais ao prédio de Gomide. O comandante-geral afirmou que a investigação interna foi ordenada pelo governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) e pelo secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame.


Cabral Filho afirmou ontem, em Paris, ter determinado ao secretário de Segurança ‘rigor máximo’ para investigar a presença dos PMs no prédio em que mora o repórter da Folha.


‘O governador não tolera e não aceitará qualquer ação de ameaça ou intimidação à liberdade de imprensa -muito menos em seu governo’, diz mensagem divulgada pelo Núcleo de Imprensa. Conforme o texto, Cabral Filho ‘determinou que as apurações sejam feitas o mais rapidamente possível’ para identificar os ‘envolvidos nesta atitude absolutamente abominável e condenável’.


Reportagem positiva


Os dois policiais que estiveram de manhã na casa de Gomide trabalham no Centro de Recrutamento e Seleção da PM. Segundo Pitta Lopes, a ordem para que fossem ao prédio partiu do comando da unidade.


Para ele, a presença dos policiais no edifício de Gomide não deve ser interpretada como uma ação intimidatória.


‘Em momento algum houve por parte do comando da corporação demanda para proceder de forma ameaçadora ou intimidatória. Eles [os PMs] se apresentaram como policiais militares, disseram o motivo pelo qual estavam ali e foram muito bem recebidos’, disse.


‘A matéria foi muito bem escrita. Não vimos nada de negativo para a nossa instituição. O jornalista não viu apenas as nossas mazelas. Encaramos [a reportagem] como positiva. A reportagem foi muito bem aceita pelo comando da corporação. A imprensa é bem-vinda. A PM sempre demonstrou transparência’, afirmou o comandante da PM.


De acordo com ele, as informações da reportagem serão aproveitadas pela PM na preparação de novos cursos de recrutamento. ‘É mais uma lição’, acrescentou ele, que pediu ‘mil desculpas’ ao jornalista pelo incômodo causado.


O governador em exercício do Rio, Luiz Fernando Pezão, telefonou à noite para Gomide. Reconheceu que era constrangedora a presença da polícia em torno do prédio do repórter e afirmou que reforçaria com a Secretaria de Segurança a determinação de impedir que a situação se repetisse.’


 


TV ASSEMBLÉIA
Vaz de Lima, Donisete Braga e Edmir Chedid


Os novos caminhos da TV Assembléia


‘UMA SOCIEDADE democrática, republicana e pluralista sustenta-se no pleno funcionamento de suas instituições e na participação consciente dos seus integrantes. A livre circulação de idéias e informações é simultaneamente condição e garantia para o exercício de uma cidadania ativa e influente.


A permanente revolução por que vêm passando os meios de comunicação tem proporcionado o conhecimento cada vez mais detalhado e preciso da nossa realidade. E o poder público, em todas as suas instâncias, vale-se das novas tecnologias ao cumprir seu dever de prestar contas ao povo.


É nesse panorama que se inscreve a criação da Fundação 9 de Julho de Rádio e Televisão, por meio de lei estadual que nasceu de iniciativa da Mesa Diretora e contou com entusiasmado apoio e contribuições de todas as bancadas da Assembléia Legislativa de São Paulo.


A fundação permitirá um extraordinário avanço nas atividades da TV Assembléia, na medida em que atende às exigências legais para pleitear no Ministério das Comunicações um canal aberto dentro da nascente televisão digital.


A TV Assembléia, hoje limitada ao serviço por assinatura, impõe por isso mesmo um custo aos paulistas que dela se servem para acompanhar o desempenho de seus representantes, restringindo assim o acesso dos mais pobres.


E, ao compartilhar o tempo de programação com emissoras ligadas a várias Câmaras Municipais, inclusive na capital, sofre restrição de horários e, portanto, no volume de conteúdo capaz de transmitir. Na televisão digital, a TV Assembléia terá à sua disposição as 24 horas do dia e poderá ser assistida gratuitamente, o que permitirá democratizar a informação.


Será possível, por exemplo, dar o devido e integral destaque não só aos debates e votações em plenário mas também às reuniões de comissões, parte fundamental da ação legislativa.


É aí que deputados recolhem da sociedade civil avaliações e subsídios indispensáveis para a formulação de propostas adequadas às novas exigências colocadas pela dinâmica da vida política, econômica, social e cultural do nosso Estado.


Trata-se de prática essencial para o bom metabolismo da democracia.


Trabalhadores, empresários, profissionais liberais, donas de casa, estudantes, individualmente ou por meio de entidades, trazem seus pontos de vista e encontram ambiente apropriado à sua expressão. Para os parlamentares, cresce o desafio de corresponder às expectativas dos eleitores, na medida em que mais divulgação significa maior fiscalização. E, para dar conta dessa responsabilidade, certamente estarão, deputados e deputadas, dedicados a se ocupar mais ainda da qualificação que lhes é requerida.


Com a futura e esperada concessão da emissora de rádio, pode-se antever a potencialização dos mecanismos de aproximação entre eleitores e eleitos.


Vale registrar que hoje já é possível, pela internet, ter acesso em tempo real a todos os debates e votações. A TV Web, abrigada desde o ano passado no portal da Assembléia paulista (www.al.sp.gov.br), registra tudo o que acontece nos seis plenários da Casa.


A lei que criou a Fundação 9 de Julho prevê autonomia administrativa, financeira, orçamentária e de gestão, mediante uma diversificada rede de fontes de receita, em que se destacam recursos próprios, transferências de naturezas diversas e renda de apoio cultural e de serviços prestados.


Um Conselho Curador, com ampla e equilibrada distribuição partidária e representação dos funcionários, tratará de aprovar o estatuto da fundação e indicar a Diretoria Executiva (três membros) e o Conselho Fiscal (cinco membros).


Cuidou ainda a lei de definir claramente os objetivos de uma programação de conteúdo informativo, institucional, educativo, cultural e de interesse público e social da população. E de vedar seu uso com finalidade político-partidária ou de natureza comercial. Uma programação, enfim, destinada à promoção da cidadania e da educação política, acessível a toda a população.


A correta informação, sem nenhum filtro, deixando a cada um a formação de seu juízo, mantém a vitalidade da democracia.


A Fundação 9 de Julho, inserindo a TV Alesp em canal aberto na nova TV digital, vai aprofundar a inequívoca opção pela transparência que tem orientado as ações da atual Mesa Diretora da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.


JOSÉ CARLOS VAZ DE LIMA, 55, deputado estadual pelo PSDB, é presidente da Alesp (Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo).


DONISETE PEREIRA BRAGA, 41, deputado estadual pelo PT, é primeiro secretário da Alesp.


EDMIR JOSÉ ABI CHEDID, 42, deputado estadual pelo DEM, é segundo secretário da Alesp.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Invasão hollywoodiana


‘Começou na quinta, com reportagens no ‘Variety’ sobre a indústria do cinema no Brasil, o êxito de José Padilha, Fernando Meirelles e Walter Salles -e, no enunciado principal, o aumento das co-produções e ‘alianças’ de brasileiros e americanos. A publicação escolheu dez cineastas emergentes nos quais investir, inclusive o filho do chanceler Celso Amorim, Vicente. Começou Cannes e tome mais notícia de ‘alianças’.


Até que o ‘Hollywood Reporter’, depois ‘Variety’ e agências deram que José Padilha, de ‘Tropa de Elite’, fechou com a Warner para filmar ‘A Willing Patriot’, patriota de bom grado. No roteiro, um americano se infiltra na Tríplice Fronteira para desmontar a ‘rede terrorista’. E não adianta Amorim e o país repisarem, pela enésima vez, que não existe a tal rede por aqui.


‘THE ALCHEMIST’


E saiu no ‘Variety’, depois no ‘Los Angeles Times’, no ‘New York Times’, no E!, a notícia de que, 14 anos após Paulo Coelho ceder direitos sobre o livro ‘O Alquimista’ à Warner Bros., o filme deve iniciar produção no segundo semestre, mas agora pela Weinstein. Harvey Weinstein afirma que ‘o filme será uma ponte para o Oriente Médio’.


‘THE SON OF BRAZIL’


O mesmo ‘Variety’ deu, por fim, que a LC Barreto, ‘a grande produtora brasileira de quase meio século’, filma a partir do meio do ano ‘The Son of Brazil’ -sobre ‘os primeiros anos do presidente do Brasil’, a viagem para São Paulo, a vida de engraxate, a prisão do irmão. Luiz Carlos Barreto, o produtor, disse à publicação ser ‘uma fábula’.


PETROBRAS BATE MICROSOFT


Na manchete dos sites e portais, mas sem registro na escalada da Globo, ‘Petrobras bate Microsoft e é terceira empresa das Américas’. Continua atrás das americanas Exxon Mobil e General Electric, segundo a Economática.


Ontem também, o ‘Le Monde’ deu a longa reportagem ‘Empresas de emergentes são as mais rentáveis’, segundo a Ernst & Young. E ‘os Brics concentram mais da metade das novas campeãs’, com 53% em número e 68% no valor.


A UNIÃO SUL-AMERICANA


A agência espanhola Efe, no Terra, por toda a região, a francesa AFP, no Google, e jornais locais dão que, para Nelson Jobim, ‘o Conselho Sul-Americano de Defesa tem o total respaldo das nações’, Colômbia inclusive. Foi em La Paz, fechando o giro do ministro pela América do Sul. O Conselho que ‘toma corpo’ vai agora para deliberação na União Sul-Americana de Nações, na sexta, em Brasília.


LULA VS. CHÁVEZ


O editor internacional do ‘Le Monde’, Eric Le Boucher, escreveu domingo um longo artigo sobre o ‘jogo Hugo Chávez-Lula’, de caminhos alternativos para a esquerda latino-americana. Lista êxitos e fracassos, a corrupção em especial, sem definir vitória.


E COM LUGO


O ‘Los Angeles Times’ deu o ‘ressentimento crescente’ no Paraguai com o Brasil.


Já o paraguaio ‘ABC Color’ anda contido, falando agora da ‘mesa de negociações’ que os dois países vão estabelecer -e da presença no Paraguai do ‘homem de confiança’ de Lula, Marco Aurélio Garcia.


A NOVA FRENTE


A multinacional Suez levou a outra usina do rio Madeira, com enunciados nas páginas iniciais e escaladas, mas sites ambientalistas no exterior já noticiam que esta semana, em Altamira, ‘Índios devem fazer uma manifestação em massa contra seis usinas’, agora no rio Xingu. Está sendo prevista ‘a maior reunião indígena em quase 20 anos na Amazônia’.


OS MESMOS ERROS?


Em sua página de editoriais, o ‘Times of India’ reproduz declarações de Marina Silva no fórum sobre aquecimento, em fevereiro. No título, ‘Nós deveríamos repetir os erros das nações desenvolvidas?’.’


 


FRAUDE
Folha de S. Paulo


Ex-executivos da AOL teriam inflado receita


‘A SEC (que fiscaliza o mercado de capitais dos Estados Unidos, equivalente à CVM) acusou ex-executivos do grupo AOL-Time Warner de fraudes que fizeram com a empresa inflasse em US$ 1 bilhão a sua receita com o setor de publicidade on-line entre 2000 e 2002.


Quatro dos ex-funcionários negaram as acusações, e os demais fizeram um acordo com a SEC em que não confirmam nem desmentem o crime.’


 


ATENTADO
Folha de S. Paulo


Jornalista presta depoimento hoje na corregedoria


‘O jornalista Edson Antonio Ferraz, 25, da TV Diário de Mogi das Cruzes, afiliada da Rede Globo, vítima de um atentado na quinta, prestará depoimento hoje na Corregedoria da Polícia Civil. Recentemente, Ferraz fez três reportagens denunciando crimes supostamente praticados por policiais civis da região de Mogi.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record ‘namora’ Televisa, parceira do SBT


‘A Record iniciou uma negociação com a rede mexicana Televisa, parceira histórica do SBT. A Televisa é a maior produtora de novelas do mundo.


Firmada em 2000, a parceria da Televisa com o SBT não permitia à rede de Silvio Santos produzir novelas com textos brasileiros. No início deste ano, o SBT antecipou a quitação do contrato para produzir ‘Revelação’, de Íris Abravanel.


Com o fim do acordo com o SBT, a Televisa passou a procurar outras redes brasileiras, principalmente a Record, que também tem sido assediada pela TV Azteca, de Ricardo Salinas. O empresário está abrindo bancos no Brasil e chegou a propor uma sociedade com Edir Macedo na Record.


Reservadamente, executivos da Record afirmam que a parceria com a Televisa é mais bem-vista do que a com a Azteca, mas acreditam que ambas têm poucas chances de vingar.


A Televisa tem ‘produtos mais interessantes’ para a Record. Porém, a emissora quer total liberdade de adaptação de textos mexicanos, algo que a Televisa não concedeu ao SBT, e autonomia para tirar do ar novelas que não derem certo. Quer também a possibilidade de produzir para o México.


A parceria com uma das mexicanas ajudaria a Record a implantar seu terceiro horário de novelas. Para tanto, no segundo semestre a emissora deve construir um novo estúdio no RecNov, seu complexo no Rio.


CHAPA QUENTE 1 A faixa das 23h à 1h das noites de sexta é a mais nova dor de cabeça dos executivos da Globo. Uma das apostas da programação que estreou em abril, o seriado ‘Dicas de um Sedutor’, de Luiz Fernando Guimarães, não emplacou. Sua última edição deu 14 pontos, contra 19 da Record. Tomou uma surra.


CHAPA QUENTE 2 Além de ‘Caminhos do Coração’, a Record tem outro trunfo às sextas, o ‘Câmera Record’, cópia descarada do ‘Globo Repórter’. O último programa bateu a Globo por 17 a 12 (‘Dicas…’ e ‘Jornal da Globo’).


CHAPA QUENTE 3 Na semana passada, Globo e Record empataram na média da manhã (das 7h às 12h) no Ibope da Grande São Paulo, com oito pontos cada uma.


DEBANDADA Depois de perder o contrato com a Câmara Municipal de São Paulo pela produção do canal de TV dos vereadores, a TV Cultura deve ficar também sem a parceria com a Assembléia Legislativa, que lhe rende cerca de R$ 1,1 milhão por mês.


SEM PRECONCEITO Aguinaldo Silva ainda não sabe se dois homens se beijarão em ‘Duas Caras’, mas não quer que isso seja chamado de ‘beijo gay’, para que uma ‘manifestação de carinho’ não se torne uma ‘ocorrência exótica’. Prefere ‘beijo entre iguais’.


PLACAR O segundo jogo do Corinthians pela Série B rendeu 19,4 pontos à Globo. No domingo, São Paulo x Atlético-PR marcou 19,7, mas sua participação no total de ligados foi menor.’


 


Heloisa Lupinacci


Reality mostra disputa por vaga de stylist


‘O mundo da moda serve de pano de fundo a ‘Os Fashionistas’, mais um reality show que explora os lados glamouroso e cruel desse mercado.


Mais uma vez, jovens que sempre sonharam em entrar nesse seleto -e bizarro- grupo se estapeiam na tentativa de se mostrarem mais competentes, preparados e criativos -e mais malvados.


Desta vez, no entanto, há um ingrediente que apimenta ainda mais a relação entre esses jovens. Eles são seis: cinco mulheres e um homem lindo, heterossexual e solteiro. E a câmera se esbalda em olhares tortos, bufadinhas e outras farpas visuais.


Em ‘Os Fashionistas’, que estréia hoje no canal People & Arts, os participantes buscam uma vaga de trabalho de stylist -profissional que trabalha com moda e comunicação. É, por exemplo, quem escolhe as modelos, as roupas, o cenário e as poses de um editorial de revista ou de uma campanha publicitária, ou seja, um profissional especializado em montar uma imagem de moda.


Os seis participantes do reality show se dividem em três duplas: uma vai trabalhar em uma revista; a segunda, em uma marca de cosméticos; e a última, em uma agência de relações públicas -em ‘Os Fashionistas’, a agência é, de longe, o mais cruel de todos os lugares.


OS FASHIONISTAS


Quando: hoje, às 21h


Onde: People & Arts’


 


CANNES
Silvana Arantes


Comparado a Pessoa, Oliveira ganha homenagem


‘O cineasta português Manoel de Oliveira, que completa cem anos em dezembro, recebeu ontem uma Palma de Ouro especial no 61º Festival de Cannes. O prêmio ‘não é pela longevidade, mas sim pela estima à sua obra’, disse o presidente do festival, Gilles Jacob, na cerimônia de homenagem.


Jacob montou um curta-tributo ao cineasta português, chamado ‘Um Dia na Vida de Manoel de Oliveira’. O filme reúne depoimentos do diretor e registros de suas participações em diversas edições do Festival de Cannes, sendo a mais recente no ano passado, como um dos diretores do longa ‘Cada um com Seu Cinema’.


Em depoimento a Jacob, Oliveira conta que certa vez recebeu, no hotel em que se hospedara em Cannes, um cartão anônimo com crítica aos seus ‘planos longos’. Dizia a mensagem: ‘O cinema é movimento. Pare de fazer fotos fixas’.


Bem-humorado, o diretor rebateu o emissário: ‘Plano não é foto. Num plano fixo pode haver muito movimento’.


Quando recebeu das mãos do ator Michel Piccoli a Palma de Ouro, Oliveira fez referência ao fato de nunca haver vencido o Festival de Cannes e se disse ‘muito emocionado’ por ‘finalmente’ receber o prêmio.


‘Finalmente’


Em tom mais sério, afirmou: ‘Gostei imensamente de receber [a Palma] desse jeito, porque não gosto de competição, de receber um prêmio contra os meus colegas. Esse é um belo modo de ganhar o prêmio’.


Os colegas cineastas de Manoel de Oliveira presentes ao Grande Teatro Lumière para a homenagem eram tantos que o diretor-geral do festival, Thierry Frémaux, decidiu citar apenas um, para representá-los: o norte-americano Clint Eastwood, que apresenta hoje seu concorrente à Palma de Ouro, ‘Exchange’ (a troca).


Frémaux recomendou a Eastwood e ao ator e diretor Sean Penn, presidente do júri, que visitem o Brasil, depois de observar que neste ano ‘há três centenários’ de personalidades relacionadas ao país: ‘O de Manoel de Oliveira, o de [Claude] Lévi-Strauss [pensador francês], que fez trabalhos a respeito na Amazônia, e o do [arquiteto] Oscar Niemeyer’.


Jacob, 78, chamou Oliveira de ‘um mistério de vitalidade que nos espanta’ e disse que, com ‘legendária modéstia’, o cineasta é avesso a elogios a ele e à sua obra. ‘Azar se te chateio’, afirmou o presidente do festival, antes de chamá-lo de gênio português, ao lado do escritor Fernando Pessoa.


Para encerrar a homenagem foi exibido o primeiro curta de Oliveira, ‘Douro, Faina Fluvial’ (1931). ‘Agora que ele já tem a Palma de Ouro, vamos a essa bela Caméra d’Or [prêmio do festival a diretores estreantes]’, disse Frémaux.


O cineasta se despediu dizendo: ‘Cresci ao longo de um século com o cinema, e hoje sei que foi o cinema que me fez crescer. Obrigado a todos, e viva o cinema!’.’


 


LUTO
Manuela Martinez


Cinzas de Zélia serão entregues hoje à família


‘O corpo da escritora Zélia Gattai, 91, foi cremado no final da manhã de ontem no Cemitério Jardim da Saudade, em Salvador. Ela morreu no sábado, de parada cardiorrespiratória, na capital baiana.


As cinzas da escritora, viúva do escritor Jorge Amado (1912-2001), deverão ser entregues à família ainda hoje. Serão depositadas amanhã em uma urna biodegradável e enterradas ao pé de uma mangueira no quintal da casa em Salvador onde Amado e Zélia moraram desde o começo da década de 60 até a morte do escritor.


As cinzas de Jorge Amado foram depositadas no mesmo local.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 20 de maio de 2008


TECNOLOGIA
O Estado de S. Paulo


Acordo Yahoo-Microsoft pode ser início de fusão


‘Um potencial acordo de parceria entre Microsoft e Yahoo, anunciado no domingo, pode se tornar o ponto de partida para uma completa aquisição, segundo analistas. Em relatório, o banco UBS diz que as negociações entre as empresas podem ser o prelúdio para uma eventual oferta de compra direta, porque é vital para a Microsoft adquirir o Yahoo em termos amistosos. Para o banco, uma eventual parceria agora deve se focar em anúncios em buscas e será vista como uma alternativa para um cenário no qual o Yahoo terceirizaria para o Google parte de suas vendas de propagandas em anúncios na web.’


 


INTERNET
Fabiana Cimieri


Site receberá denúncias de abuso


‘O governo federal lançará em agosto um site para receber denúncias de abuso sexual infantil e para rastrear crimes cibernéticos. O anúncio foi feito ontem pelo secretário especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, que participou da solenidade de lançamento do 3º Congresso Mundial de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.


O projeto é uma parceria entre a secretaria, a Polícia Federal e a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol). ‘Vamos receber denúncias e teremos um sistema de rastreamento que vai nos permitir muito mais rapidamente acionar a Polícia Federal, o que era um dos problemas. As denúncias chegavam de várias partes, muitas vezes até duplicadas, e não nos davam a devida dimensão do problema no Brasil’, explicou a subsecretária da Criança e do Adolescente, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, Carmem Oliveira.


Há três anos, o governo criou um serviço de discagem direta e gratuita em todos os Estados, o Disque 100, como uma ferramenta importante no combate à exploração sexual. O volume de chamadas diárias recebidas passou de 170 para 2 mil, das quais 90% se confirmam como denúncias efetivas. ‘Queremos reforçar o compromisso com a erradicação desse problema no País’, afirmou Paulo Vannuchi.


RECONHECIMENTO


A representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Marie Pierre Poirier, disse que iniciativas como essa refletem a determinação do governo brasileiro em acabar com a impunidade nos casos de exploração sexual. E esse foi um dos motivos, segundo ela, para o País ser escolhido como sede do congresso mundial, que será realizado de 25 a 28 de novembro e reunirá 3 mil pessoas.


A escolha do Brasil como sede do congresso, segundo Vannuchi, demonstra o reconhecimento internacional dos avanços nas estratégias de combate ao abuso sexual no País. Sua subsecretária, porém, ressaltou que, apesar do enfoque das políticas públicas para reduzir a violência doméstica, houve um aumento nos crimes cibernéticos contra crianças.


Pela primeira vez desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o cargo, a primeira-dama Marisa Letícia participou sozinha, como presidente do honra, de uma solenidade oficial. ‘Ajudei a trazer o evento para o Brasil. Como mãe, avó e primeira-dama, decidi participar do congresso porque quero ajudar a melhorar a situação das crianças.’’


 


ORTOGRAFIA
Tutty Vasquez


Perder o assento é…


‘Não se pode agradar a todos. Tem gente que vai sentir saudades do trema, há quem desde já lamente a extinção apenas parcial do hífen, comemora-se aqui e ali a volta do ‘k’, do ‘w’ e do ‘y’ ao abecedário. A unificação ortográfica da língua portuguesa praticada em sete países de três continentes gerou protesto com 35 mil assinaturas em Portugal.


Aqui no Brasil, como se sabe, só se fala de outras coisas. Ninguém parou para questionar sequer se Gisele Bündchen vai perder os dois pinguinhos em cima do ‘u’ ou se vamos ter de dizer ‘tranquilo’ como os argentinos. Calma aí: as mudanças não atingem a grafia de nomes próprios ou a pronúncia do idioma em geral.


Não há mesmo muito por que se preocupar com nada disso, a não ser, talvez, com a queda do acento agudo em palavra terminada em ‘eia’ ou ‘oia’. ‘Paranoia’ ainda vai, mas ‘ideia’, convenhamos, se já está em falta do jeito que é… Com o perdão do trocadilho, para botar uma idéia de pé, não basta lhe tirar o assento.’


 


FOTOGRAFIA
O Estado de S. Paulo


Imagem sintetiza o sentimento de uma época de transformação


‘Uma fotografia não publicada na época, e resgatada dos arquivos do seu autor 15 anos depois, transformou-se em uma das imagens-símbolo de 1968. Esse registro feito pelo fotojornalista Evandro Teixeira em junho de 1968, na Cinelândia, no Rio, para o Jornal do Brasil, inspirou o livro 68 Destinos: Passeata dos Cem Mil, que será lançado hoje. Não era a primeira vez que Teixeira cobria uma pauta desse tipo. Há 4 anos decidira utilizar sua câmera como uma forma de relatar o que estava acontecendo naquele momento no Brasil: ‘Acredito no poder da fotografia de transformar o mundo, criar uma consciência’, nos conta ele por telefone. Evandro Teixeira estreou no jornalismo carioca vindo da Bahia, em 1958: ‘Comecei no Diário da Noite em 1958, na época do jornalismo romântico’, lembra. E de lá para cá, nesses 50 anos de profissão, a maior parte deles no JB, foram inúmeros os acontecimentos políticos brasileiros que ele acompanhou. ‘Isso quando existia um jornalismo investigativo, no qual repórter e fotógrafo corriam atrás da notícia.’


Mas naquele dia de junho, ele estava incumbido de acompanhar Vladimir Palmeira, então presidente da UME, na passeata. Havia boatos de que Palmeira seria preso e de que teria mais um embate violento com a polícia, como outros que ele já havia fotografado. O AI-5 ainda não tinha sido decretado e, embora os momentos já fossem bem complicados, a passeata foi tranqüila. ‘Esperamos alguma violência, mas foi bem calmo. Acompanhei o Vladimir o dia todo e não aconteceu nada.’ A foto da marcha que se tornou um símbolo foi feita justamente neste dia. Vladimir discursava e Teixeira fotografou a multidão que o ouvia. Nada de mais, uma imagem bastante usual e comum nesse tipo de cobertura. Olhando o material feito por ele naquela época encontramos imagens muito mais marcantes, como a vista área da cavalaria perseguindo estudantes, carros incendiados ou do manifestante caído apanhando dos policiais. A imagem da passeata foi para a gaveta. Anos mais tarde, em 1983, ele resolveu publicar um livro sobre seu trabalho no jornalismo. Os designers que chamou para ajudá-lo ao verem a foto se encontram na imagem. E uma surpresa: ‘Agora casados, eles não se conheciam na época e se deram conta que havia participado do mesmo evento anos antes’, relata Teixeira. Foi assim que nasceu o projeto do livro 68 Destinos – Passeata dos Cem Mil. Teve início, então, a busca de pessoas que haviam estado na Cinelândia para saber o que havia acontecido com suas vidas e como aquele ano as havia afetado. O mais importante do reencontro dessas pessoas, porém, foi a reflexão sobre 1968 que, para muitos, ‘ainda não terminou’ e outros preferem esquecer. A foto de Teixeira sintetiza bem o sentimento de uma época de profundas e dolorosas transformações em várias partes do mundo. O rosto dos manifestantes espelha um momento da história do País. Fase esta que nosso fotojornalismo ajudou a construir em imagens, quando a foto no jornal não era mera ilustração, mas informação, voz. ‘Não era como o jornalismo de hoje, que é pautado pela pressa e falta de profundidade.’ Imagens que vistas agora com a distância do tempo lhe dão a certeza de ter feito a escolha certa em relação à carreira: ‘O jornalismo me deu o mundo!’’


 


ROBERTO CARLOS
Jotabê Medeiros


Cantor paga processo, mas livro segue proibido


‘Decisão da juíza Márcia Cristina Cardoso de Barros, da 20ª Vara Cível do Rio de Janeiro, no dia 1º deste mês, manteve a proibição do livro Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo César Araújo, sob a justificativa de que o acordo entre as partes no Foro Criminal de São Paulo, em 27 de abril do ano passado, já tinha decidido a questão. A advogada do escritor, Deborah Sztajnberg, entraria com recurso, entendendo que a decisão acata os argumentos de Araújo.


Com a decisão, Roberto Carlos viu-se obrigado a pagar as custas judiciais (que somaram R$ 1 mil, segundo seus advogados). Houve uma interpretação de que o fato de ele ter de pagar significaria uma derrota jurídica, mas o advogado Marcos Antonio Campos, que defende o cantor no processo, esclareceu que o acordo na esfera criminal, no ano passado, já previa que Roberto desistiria conseqüentemente da ação cível.


‘Uma das cláusulas do acordo é que o processo cível seria extinto. Só que o Roberto tem de pagar porque ele abriu mão do processo. Era parte do acordo’, explicou Campos.


Já Paulo César Araújo considera que a vitória foi favorável à sua causa, porque a juíza Márcia Cristina Cardoso de Barros acabou concordando com os argumentos de sua defesa de que não houve invasão de privacidade nem uso indevido da imagem de Roberto. ‘A juíza desmontou os argumentos deles um a um. Ela entrou no mérito, reconheceu tudo. Isso demonstra o absurdo dessa proibição. Vamos continuar a luta’, disse.


No despacho, Márcia argumenta que ‘as pessoas célebres, em face do interesse que despertam na sociedade, sofrem restrição no seu direto à imagem. Admite-se que elas tacitamente consentem na propagação de sua imagem como uma conseqüência natural da própria notoriedade que desfrutam’. A juíza também ponderou que, em função de Roberto Carlos ser portador da doença chamada TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), ‘o interesse processual não pode firmar-se na obsessão compulsiva de tudo controlar sobre si mesmo (…)’.


Sobre a reclamação do cantor de que o autor do livro estaria obtendo indevidamente ganhos financeiros, a juíza diz em seu despacho que o uso não autorizado de imagem alheia é legítimo ‘sempre que indispensável à afirmação de outro direito fundamental, especialmente o direito à informação’. Por isso, acrescentou ela, ficaria justificada a utilização da imagem alheia ‘mesmo na presença de finalidade comercial, que acompanha os meios de comunicação no regime capitalista’.


‘A gente não concorda com o que a juíza afirma, mas não tenho por que recorrer, já que ela acatou nosso pedido. É o ponto de vista dela, a gente respeita, mas não concorda’, disse o advogado Marcos Antonio Campos.’


 


TELEVISÃO
Shaonny Takaiama


Clima de interior


‘As câmeras de alta definição estão trabalhando a todo vapor para a estréia da novela Revelação, do SBT, prevista para ir ao ar na primeira quinzena de junho.


Escrito por Íris Abravanel, mulher de Silvio Santos, este será o primeiro folhetim do SBT com duas cidades cenográficas, uma na sede da emissora na Rodovia Anhangüera, com 7.800 metros quadrados, e outra em Jundiaí, onde serão gravadas as cenas do núcleo da periferia.


Haverá ainda locações rurais na Fazenda Rio das Pedras, em Campinas. Já os dez primeiros capítulos da história foram gravados em Portugal e Madri. Para compor a cidade fictícia de Tirânia, a equipe de cenografia do SBT fez uma pesquisa arquitetônica em cidades do interior de São Paulo, como Itu e São Carlos.


A novela não é de época e, por isso, houve a preocupação de misturar fachadas típicas de cidade do interior com prédios modernos na cidade cenográfica do SBT. Exemplo disso é a Boate Tribal, que lembra uma casa noturna da Vila Olímpia.


Há ainda a reutilização de cenários de antigas novelas da casa: um bondinho usado em Éramos Seis está sendo reformado para Revelação.’


 


CANNES
Luiz Carlos Merten


Manoel de oliveira protagoniza um momento histórico


‘PALMA DE OURO: Podia-se prever o pior, no início da cerimônia em homenagem a Manoel de Oliveira no Festival de Cannes. Houve vaia monumental quando o diretor artístico do evento, Thierry Frémaux, anunciou a presença da ministra da Cultura da França. Por meio dela, a platéia de Cannes manifestava repúdio ao presidente Sarkozy. O que se seguiu foi um desses momentos bonitos que eternizam um grande festival. Michel Piccoli, um dos atores fetiches do grande Manoel, entregou a Palma de Ouro especial que Cannes outorgou ao diretor português por seu centenário. Antes da entrega, Frémaux lembrou que desde 2007 comemoram-se também os centenários de Niemeyer e Claude Lévi-Strauss. Um é brasileiro, outro fez a parte mais importante de suas pesquisas no Brasil – e Oliveira vai muito ao Festival de Cinema de São Paulo. Aproveitando a presença de Clint Eastwood na homenagem, Frémaux fez gracinha, disse que, se o xerife de Hollywood quiser viver 100 anos, um bom começo pode ser indo ao Brasil. O presidente do festival, Gilles Jacob, fez o curta Um Dia na Vida de Manoel para apresentar o homenageado. Oliveira conta que certa vez, em Cannes, recebeu um cartão apócrifo, que dizia que cinema é movimento, não fotografias. Ele retruca que seu estilo se baseia em planos de longa duração e pouca movimentação de câmera, mas são diferentes de fotos: há muito movimento ali. Chaplin, Hitchcock e Buñuel foram seus mestres. Ensinaram-lhe a ética e a estética do cinema. ‘Cresci ao longo de um século do cinema’, disse Oliveira. ‘E o cinema só me fez crescer.’ Aplaudido de pé, antes, durante e depois da cerimônia, Manoel de Oliveira forneceu ontem a Cannes um de seus grandes momentos, em todos os tempos.’


 


 


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