Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Por que as estatais gastam como empresas privadas?

Uma pergunta que ninguém responde: ‘Devem os governos e as empresas estatais fazer gastos com publicidade?’ E quem poderia melhor respondê-la? A imprensa, que, no entanto não o faz, por motivos óbvios.

Na máxima publicitária, a propaganda é a alma do negócio, e tudo aquilo que se faz, se produz e se quer vender, deve ser divulgado. Só assim as pessoas tomam conhecimento. É a regra do mercado, as ações de marketing, as promoções, pessoais e empresariais, a luta pela permanência e sobrevivência no mercado. São produtos, serviços, empresas e pessoas que precisam se expor publicamente para alcançar sucesso no mundo dos negócios. Entidades privadas em disputa.

Tem sentido empresas públicas, administrações municipais, estaduais e federais, órgãos executivos como prefeituras, governos de estados e até o governo federal gastarem verbas astronômicas para divulgar suas propostas e ações nos veículos de comunicação particulares? Ainda mais quando todos os poderes constituídos da República possuem meios próprios de divulgação?

Empresas estatais, quase todas monopolistas, não deveriam gastar com publicidade paga para divulgar seus feitos. Elas não têm concorrentes! É jogar dinheiro do contribuinte pelo ralo. E são milhões de reais por ano. Gastos inúteis para dizer que fizeram obras que são deveres do Estado. E quando executadas, a imprensa divulga, de graça.

Demissões sem piedade

Qual a razão de empresas como a Copasa e a Cemig, únicas fornecedoras dos serviços de água e energia, publicarem páginas inteiras de anúncios em jornais e revistas e peças publicitárias nas televisões, quase diariamente, para informar o que estão realizando? E propagando serem as melhores do Brasil? Como se houvesse possibilidades de escolha de outros fornecedores. Seus clientes, os consumidores, querem mesmo bons serviços e tarifas baixas.

Assim também se enquadra a Vale, tida como a maior empresa extrativista e exportadora de minérios da América Latina. Aqui no Brasil, ela tem o monopólio, não há concorrência. Para que, então, se gastam milhões de reais, R$238 milhões divulgados por ela mês passado? Simplesmente para mostrar e se contradizer que é uma empresa-cidadã, preocupada com a qualidade de vida, com o meio-ambiente, com as crianças carentes, que recebem bolsas de estudos, e depois, logo ao saber da ‘crise’, demitir sem piedade centenas de empregados, temendo a diminuição de seus lucros.

Suspender a publicidade?

O mesmo deve se repetir com outra gigante, a Petrobrás. Dona única de um negócio bilionário, gasta milhões em publicidade para dizer que encontrou mais petróleo, é uma das maiores do mundo, mas ao primeiro sinal de redução de lucros, com certeza vai dispensar milhares de funcionários. Diretos e terceirizados. Não seria mais sensato deixar de gastar em publicidade?

Tudo bem que Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal gastem alguns milhões de reais para divulgar seus serviços e convencer o povo de que são os melhores e os mais seguros no sistema financeiro. Afinal, neste mercado existem vários concorrentes que oferecem produtos idênticos ao mesmo público consumidor.

O momento é de crise. Verdadeira ou não, todos falam nela. Não seria o momento de governos, entidades públicas e empresas estatais, monopolistas em sua maioria, suspenderem imediatamente os investimentos que fazem em publicidade paga na mídia nacional? Economizariam muitos milhões de reais que poderiam evitar a demissão precipitada e sempre cruel de milhares de trabalhadores que não têm nada a ver com essa tal ‘crise’.

Resta esperar que alguém divulgue esta proposta aos interessados. E seria a própria mídia?

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Jornalista e mestre em Administração, Belo Horizonte, MG