Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Por que se dedicar ao rádio?

Nas muitas idas e vindas da Associação e nos diversos eventos que temos participado sentimo-nos como espécies em extinção ou habitantes de outro planeta. O que faz uma Associação de Ouvintes? Qual é o objetivo de vocês? Por que fundaram essa Associação? Essas e outras perguntas parecem tornar nossa luta é inglória, parece que estamos lutando pelo nada e que temos apenas o sonho utópico de que o rádio melhore em qualidade de emissão e de mensagem.

Às vezes temos a impressão que esta luta é impossível, que o fim do rádio (principalmente o AM) está próximo e que somente as mídias modernas sobreviverão. Parece até que não tem mais jeito lutar pelo rádio, pois os supostos proprietários não consideram o ouvinte como cliente, pois o mais importante para eles são os resultados da publicidade e o ganho econômico dos programas, sejam lá de que qualidade forem.

Não podemos acreditar que esta seja a visão da sociedade a respeito da organização popular que já derrubou governos ditatoriais e já promoveu várias mudanças no mundo. Não podemos nos abater ante essa incompreensão de nossa sociedade sobre os propósitos de um grupo que, embora pequeno e simples, tem uma luta verdadeira que deve ser reconhecida, respeitada e apoiada. No momento em que levantamos nossa voz em nome do rádio-cidadão, estamos lutando por uma sociedade melhor pautada numa comunicação livre e verdadeira. Muitos dos que não dão guarida à luta de um grupo que ama e valoriza o rádio o fazem porque estão mais interessados no ter e no poder do que na coletividade. Ousar e lutar pela mudança são pecados que os poderosos sempre barrarão e procurarão desenvolver empecilhos e caminhos tortuosos.

Melhor e mais rentável

A luta pelo rádio democrático e de boa qualidade deve, sim, ser uma bandeira da sociedade e deve envolver políticos, sindicalistas, educadores, militantes dos partidos, grupos da sociedade civil organizada e o povo em geral, pois comunicação verdadeira, desatrelada e cidadã é boa para o desenvolvimento da população e de grande importância para construção de um mundo pautado na ética, na solidariedade e cooperação entre indivíduos. Devemos buscar uma mídia que tenha uma programação que faça com que as pessoas sejam respeitadas no desejo de ter uma informação séria, um entretenimento sadio, uma comunicação responsável e um meio de comunicação que ofereça verdade, sinceridade e formação para a cidadania.

A luta pelo rádio deveria ser feita pelos que dominam este meio de comunicação, pois os ganhos econômicos seriam bem maiores se os ouvintes fossem aceitos, respeitados e valorizados. A prática tem demonstrado que geralmente os programas que colocam os ouvintes no ar e oportunizam sua participação informativa têm obtido maiores índices de audiência. Se o rádio acreditar no seu ouvinte, certamente ele será melhor; se os proprietários de rádio também forem ouvintes, com certeza ele irá melhorar; se os publicitários não se preocuparem só em vender mídia e lutarem também pela boa comunicação, com certeza teremos um rádio melhor e mais rentável em termos de apelo propagandístico.

Ouvinte merece respeito

Não podemos aceitar que o rádio se transforme em um espetáculo de baixaria, impropérios e divulgação de discriminação que hoje tem sido promovido por alguns comunicadores que têm grande audiência, apelando para a pobreza de espírito e para o discurso de baixo calão que supostamente tem mais apelo do que a divulgação de noções de civismo, ecologia e cultura. Não podemos aceitar o rádio que pense apenas no dinheiro e se esqueça da qualidade da mensagem e no papel que sempre teve na História do homem no planeta.

Já preconizaram várias vezes o fim do rádio (principalmente o AM) e já se fala muito na segmentação do mercado, como se o mercado destruísse o trabalho que o rádio tem feito para a educação do povo, para a melhoria da sociedade e para a construção de um mundo melhor. O rádio jamais acabará, mas precisa ser mudado e acompanhado pelos órgãos que gerem a comunicação em nosso país, pois não há acompanhamento das concessões – que são terceirizadas de forma absurda – sem que haja sequer acompanhamento dos órgãos responsáveis. A legalidade da comunicação vem sendo aviltada e o rádio vira mais uma vez sucursal de interesses que não são de seus usuários.

A luta por um rádio-cidadão pode parecer inglória, mas não o é, pois foi através desta luta que algumas mudanças têm sido sentidas no meio radiofônico que tem de respeitar seu usuário (o ouvinte), tratando-o como consumidor e ouvindo seu ponto de vista sobre o tipo de mensagem do rádio e o que se diz e se faz no seu desenvolvimento. O ouvinte de rádio merece respeito para o bem do rádio e de toda a sociedade.

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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE