Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Por uma Lei de Imprensa nazista

Eu matei a Lady Di. Isso mesmo. Fui eu. Não foram os paparazzi, nem o motorista bêbado, nem o namorado milionário, nem a Camila Parker (se bem que, neste caso, nunca se sabe…). E sabe por quê? Porque eu não agüentava mais notícia idiota sobre a Lady Di. Lady Di na África. Lady Di flagrada de topless. Lady Di espirrou diferente ontem. Lady Di voltou a espirrar normal hoje. Lady Di isso, Lady Di aquilo. Em pleno horário nobre (embora ‘nobre’, para mim, seja qualquer horário em potencial), Jornal Nacional, está lá o casal anunciando solenemente a última de… Lady Di. Enchi o saco. Desejei que ela morresse. Daí, ela morreu. No dia seguinte (juro!). Nunca mais desejei isso para ninguém, pois sei que não devo usar meus superpoderes para o mal. Só que era tarde (tadinha, afinal, a culpa não era dela).

É por essas e muitas outras que deixei de ver TV há muito tempo. Ainda resisto bravamente e leio jornais. Só que tem vezes (muitas!) em que dá vontade de por fogo na redação. Dia desses, por exemplo, estava lendo tranqüilamente minha Folha de S.Paulo, quando deparo com uma pequena, mas absolutamente oligofrênica, matéria a respeito de uma adolescente americana que tinha vencido um concurso de digitação rápida de celular. Como? Minha retina não é latrina, cidadão! Tem dó! O quê? Eu poderia não ter lido? Não dá, quando vi, já tinha lido. É tarde demais. Você está ali, passando os olhos pelo jornal, daí tromba com uma matéria dessas, vai lendo até o fim, progressivamente surpreso com a imbecilidade exposta a nu… e pronto! Leu…

Proibido achar que leitor seja imbecil

É por mais essas e muito mais outras que defendo uma lei de imprensa nazista. Ah, que falta nos faz um governante tipo Chávez, ou Fidel, Stalin, Hitler (atenção, chavistas e castristas, antes de terem um ataque histérico, não estou afirmando que esses senhores sejam iguais, mas apenas que têm algumas características em comum, sendo a que me interessa a aversão por quem pensa diferente deles). Com um sujeito desses comandando o Brasil, nossa Lei de Imprensa poderia ser mais ou menos assim:

Artigo 1º – Para ser jornalista será necessário ser… jornalista.

Parágrafo único – Por ‘jornalista’ entenda-se alguém que estudou para isso, da mesma forma que um ministro do STF precisou estudar pra ser bacharel em Direito.

Artigo 2º – O jornalista está obrigado a dizer apenas a verdade.

Parágrafo único – Por ‘verdade’ entenda-se aquilo que não é mentira. Na eventualidade de não se saber qual dos dois, que se mantenha calado.

Artigo 3º – O jornalista está proibido de partir do pressuposto que seu leitor seja um imbecil (ainda que haja fortes evidências nesse sentido).

‘Punição’ e ‘prêmio’

Parágrafo único – Por ‘imbecil’ entenda-se o leitor que acharia interessantes matérias do tipo ‘uma adolescente ganhou concurso de digitação em celular etc.’.

Artigo 4º – Todo jornalista, assim que se formar, terá implantado em sua orelha um rastreador com um chip. Esse chip terá, entre outras propriedades, a de produzir um choque elétrico entre 1 e 1.000 volts.

Parágrafo único – O leitor, ao assinar um jornal ou revista ou canal de TV, receberá um controle remoto dos jornalistas daquele veículo. Nesse controle, terá as opções ‘punição’ e ‘prêmio’. A função ‘punição’, quando acionada, desencadeará uma descarga elétrica no rastreador de seu jornalista de até 1 volt. Se vários leitores a apertarem ao mesmo tempo, o jornalista será sumariamente eliminado desta para melhor. Se vários apertarem em horários diferentes o jornalista passará horas sofrendo (sugere-se essa penalidade para casos extremos). A função ‘prêmio’, quando apertada várias vezes, dará direito a aumentos de salários.

Revogam-se as disposições em contrário.

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Médico e escritor, autor de Epitáfio e Dostoiévski vai ao cinema (este no prelo), ambos pela Nankin Editorial, Goiânia, GO