Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Poucos serão ricos e famosos

Tentamos por várias vezes buscar uma definição ideal para a profissão de jornalista nos dias atuais. Pesquisamos, lemos, relemos, recorremos ao dicionário, mas nada encontramos. E ainda nos deparamos com esta dúvida que nos perturba, nos embaraça, nos assusta. Jornalismo é sucesso? É exibicionismo? É arte? É dom? É fama? É beleza? É glamour? Ou é informação? Comunicação? Compromisso?

São tantos protótipos de jornalistas que nem mesmo nós, profissionais, sabemos ao certo o que somos. Já se ouviu muito, e se ouve até hoje, diferentes e inúmeras definições para a profissão e para os profissionais. Mas não recordo de ter ouvido ou lido algo como ‘para ser jornalista tem que ser bonito e fazer sucesso para dar autógrafos’. Mero sonho daqueles que saem da faculdade pensando que viraram estrelas que serão reconhecidos na rua como artistas globais. Já digo: se você quiser ser jornalista porque quer ser famoso, desista. Vai ser outra coisa na vida: artista, cantor, dançarina…

Tudo bem que ninguém esteja privado de sonhar, mas a realidade é mais tortuosa do que se imagina: trabalhar muito, comer mal, não ter vida pessoal, não ter fim de semana. Maiá Menezes, repórter do jornal O Globo, afirma: ‘Ser jornalista não é o que eu imaginei ser. Mas viver também é assim: surpreendente. O que importa é a meta: não permitir ser triturado pela engrenagem – que é dura, na maioria das vezes’.

Podemos até arriscar dizer que o jornalismo do século 21 se glamourizou, é até chique ser jornalista. Mas também, o que fazer se tantos jornalistas se transformaram em estrelas e tantas estrelas levaram seu brilho para as redações? Mas, na verdade, poucos serão ricos e famosos como Ana Paula Padrão, Fátima Bernardes, William Bonner; é dura, mas essa é a realidade. Rosângela Fernandes, 12 anos de profissão, hoje é editora-chefe do jornal Gazeta da Vizinhança e assessora de imprensa da prefeitura de Dois Vizinhos (PR). Ela defende a posição ética que o profissional de comunicação deve ter: ‘Eu acho que o que esses jornalistas conseguiram é pelo fato de que fazem um bom trabalho.’ E completa: ‘Esses que pensam em aparecer não vão durar no mercado.’

Bendito compromisso

É claro que temos que admitir que no jornalismo, assim como em diversas profissões, temos exceções, há bons ou ruins. O jornalista deve ser natural, sem impor presença, sem inventar situações. Nossa função é mostrar os outros e os fatos, não a nós. O que fazer com pessoas que acabam de sair da universidade com uma visão talvez distorcida da profissão, achando que mudarão o mundo e que será tudo um mar de rosas? Onde está o problema? Nossas universidades é que pecam?

Revirando material da faculdade, tentamos encontrar alguma disciplina que nos ensinasse a melhor técnica para dar autógrafos, mas não encontramos. O que aprendemos falava de ética, de técnicas de redação, de cultura, de história. Pode-se concluir que jornalismo não é fama, não é sucesso, não é estrelato, e sim uma profissão trabalhosa, difícil – e, para quem tem a vocação no sangue, prazerosa demais. Os jornalistas não podem se achar acima do bem e do mal. Fazemos parte da sociedade. Os jornalistas são trabalhadores e sua luta está inserida na luta de todos os trabalhadores.

Portanto, caros coleguinhas, realmente temos que ser profissionais e nos agarrarmos àquele bendito compromisso com a verdade dos fatos, sempre com muito respeito ao leitor. Assim, nosso reconhecimento vem com o tempo e com o trabalho. Conselho a quem está começando? Nenhum! Aprendemos com nossos próprios erros e acertos. O caminho é este.

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Jornalistas no sudoeste do Paraná