Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Pressão política ameaça liberdade de imprensa

A influência política prejudica cada vez mais a liberdade de imprensa na França. Jornalistas são ameaçados e processados, e editores-chefes ‘insubordinados’, despedidos, como noticia a Der Spiegel [4/7/06].


Há cerca de um ano, Cécilia, mulher do ministro do Interior Nicolas Sarkozy, foi flagrada por um paparazzi com o amante, Richard Attias, em Nova York – e a foto foi publicada na primeira página da Paris Match. A edição registrou recorde de vendas: 900 mil cópias. Depois disso, o humilhado Sarkozy partiu para o ataque. O ministro pediu ao amigo Arnaud Lagardère – proprietário de um conglomerado de mídia que inclui a Paris Match – para demitir Alain Genestar, editor-chefe da revista.


A princípio, Lagardère apenas desculpou-se com Sarkozy, pois não queria despedir Genestar. Porém, a ira do ministro não passou somente com o pedido de desculpas. Resultado: Genestar, que era editor-chefe desde 1999, teve de deixar a revista.


Ameaças constantes


Casos semelhantes vêm ocorrendo na França e as ameaças de políticos a editores são cada vez mais comuns. Aqueles que ainda insistem em publicar matérias investigativas são punidos criminalmente. Como muitos jornais lutam para sobreviver financeiramente, é mais fácil aceitar as ameaças dos políticos.


O diário France Soir, que já foi líder de vendas, tem agora apenas 35 mil leitores. O jornal de esquerda Libération, com uma tiragem de 76 mil cópias, demitiu o editor-chefe e co-fundador, Serge July, a pedido de Edouard de Rothschild, principal acionista da publicação. Até mesmo o Le Monde e o Le Figaro estão lutando contra a concorrência dos sítios e dos jornais gratuitos.


O Sindicato Nacional dos Jornalistas (SNJ-CGT, sigla em francês) informa que o problema econômico está ameaçando o pluralismo do jornalismo do país. No atual governo conservador, os jornalistas tornaram-se bodes expiatórios. O primeiro-ministro, Dominique de Villepin, que enfrenta críticas de seu próprio partido, processou recentemente quatro jornalistas por ‘difamação de um membro do governo’.


Um dos processados é o editor da Nouvel Observateur, por ter chamado o caso Clearstream – que investiga se o dinheiro da venda de navios de guerra a Taiwan, realizada pela França em 1991, estaria em contas bancárias secretas de políticos na Clearstream, sociedade bancária de Luxemburgo – de ‘plano de um paranóico’. Além dele, enfrentarão o tribunal o repórter Denis Robert, que trouxe à tona o escândalo, e dois escritores que publicaram um relatório sobre o abuso de poder de membros do alto escalão do governo.