Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Programa eleitoral, convicção ou interesse?

Até outro dia, parecia normal que o tema educação fosse tratado estritamente no horário eleitoral como mais um problema do Brasil. Ora, nosso sistema político é centrado na aliança legítima dos partidos e a explosão discursiva é o instrumento de convencimento da população, utilizado tanto pelos candidatos quanto também pelos grandes órgãos de imprensa. Já se constitui um truísmo dizer que a educação, ou os problemas educacionais, se constituem como uma variável indispensável para as campanhas eleitorais. Nossa sociedade é atentada a sensibilizar-se ao problema das escolas, dos alunos, dos professores e, principalmente, da falta deles e delas, no período das eleições.

Não há pudores para as promessas e cada candidato utiliza uma grande parcela do seu espaço para esclarecimentos, ou seja, dizer o que vai fazer, o que já fez e, atualmente, o que não foi feito para que a educação no Brasil seja considerada um modelo para os outros países.

Pode se dizer que o avanço tecnológico e econômico proporcionou um maior acesso à informação, mas o que isso realmente representa? Bem, numa primeira vista seria a superação de certas barreiras que representam os limites de aprendizagem do ser humano. De fato, o acesso à informação foi e ainda é um dos grandes problemas do Brasil, porém não tanto pela quantidade de informações, mas pela qualidade e procedência das mesmas.

Quais os critérios para os gastos?

Nos últimos dias, fomos ‘atados’ a uma série de boatos e ameaças de cunho religioso e espiritual. Durante esse tempo, o moralismo ganhou novos quadros de atenção e mesmo percebendo ser um erro travar essa discussão, somos obrigados a nos posicionar. Não é apenas os candidatos e os partidos que estão envolvidos, mas quando esses assuntos ganham legitimidade, toda a população é ‘atada’ e, de certa forma, amordaçada por não ter a possibilidade de dizer a sua opinião.

Dessa forma, cumpre resgatar o tema educação como algo que não se deve simplesmente condenar ou tolerar nas campanhas eleitorais, mas gerir, inserir em sistemas de utilidade, regular para o bem de todos, fazer funcionar segundo um padrão ótimo. Trata-se, em suma, de nos orientarmos a nós mesmos, enquanto comunidade, para uma concepção de educação que substitua o privilégio especulativo eleitoral, ou seja, revogarmos a ideia de educação como algo que só importa em tempos de campanha. Esse desafio deve ser tomado por todos, portanto estabelecido em forma de consenso. Abaixo está um exemplo de como podemos nos mobilizar.

Quero aproveitar este momento para confessar o que mais me chocou na semana do dia do professor: descobrir, através do blog NaMaria, os gastos fenomenais de dinheiro público em assinaturas de jornais, revistas, apostilas, muitas vezes sem licitação, pelo governo de São Paulo. Todavia, poderia ser qualquer outro estado.

Talvez, numa primeira leitura, você não perceba haver problema nessas assinaturas, porém quando há um mergulho no assunto, descobrimos que para salvaguardar interesses próprios, os políticos corporativistas não medem esforços e sacrificam até a educação. Por exemplo, qual critério o governo (federal, estadual ou municipal), utiliza para assinar só o jornal ‘a’ sendo que há também o jornal ‘b’ no mercado? Por que não licitar entre as editoras? Qual o sentido de gastar milhares de reais com a Microsoft, se há softwares livres ou outros que prestam melhores serviços que os da Microsoft?

Descompromisso e descaso

Dentro dessa vertente, não podemos esquecer, aparece o consumo desenfreado dos produtos ofertados nesses espaços de informação, especialmente na mídia eletrônica que representa hoje o principal espaço de ocupação do tempo livre da população. Para ampliarmos nossa compreensão precisamos reconhecer qual o papel que nós, eleitores, ocupamos no contexto dessa nova realidade eleitoral midiática. A internet, por exemplo, está modificando a forma como nos relacionamos, como aprendemos, como compramos, como consultamos quando temos dúvidas e até mesmo como participamos da política. Hoje, nossa participação se dá quase integralmente através da mídia, o que confere aos órgãos de comunicação um considerável poder de convencimento, já que os meios não são menores e fracos; pelo contrário, são ingentes conglomerados que se comportam como qualquer outra empresa capitalista, com profundo lastro econômico e com a vantagem de poder pressionar governos e outras instâncias da sociedade em seu proveito político e ideológico.

Nosso objetivo não entra no mérito dos valores gastos nas assinaturas de jornais e revistas, pois eles estão disponíveis no blog citado e todos podem e devem acessar. O que merece, verdadeiramente, nossa atenção é a dedicação da webpesquisadora e a possibilidade que a rede proporciona. Nestas condições, há uma manifestação de comportamento responsável que procura solucionar uma das grandes dificuldades de nossa sociedade: o domínio absoluto do descompromisso e do descaso com o bem público, e essa deve ser a nossa principal preocupação.

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Psicólogo social, Porto Alegre, RS