Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Protestos violentos atingem jornalistas

Jornalistas que cobrem a revolta dos jovens nos subúrbios de Paris e regiões próximas também são alvos da violência dos protestantes. No sábado (5/11), a jornalista coreana Mihye Kim, da emissora de TV KBS, foi agredida por cinco jovens em Aubervilliers, logo após ter entrevistado moradores perto de um armazém que havia sido incendiado na noite anterior. ‘Eles me falaram que eu não tinha o direito de filmar no território deles e que eu deveria, portanto, dar dinheiro a eles. Quando recusei, eles tentaram tirar a câmera das mãos do cinegrafista. Eu peguei a câmera e eles me bateram forte na cabeça’, relatou Mihye. A polícia ouviu os gritos da jornalista e perseguiu os jovens. Mihye foi levada inconsciente para o hospital, onde ficou internada por uma noite.


O cinegrafista Mady Diawara, do canal France 3, também foi agredido. Na sexta-feira (4/11), ele foi atingido no rosto com uma pedra enquanto fazia uma matéria sobre o fim do Ramadã em Montfermeil. ‘Eu estava no meio de uma entrevista e não vi nada vir na minha direção’, afirma Diawara.


Um repórter, um cinegrafista e um assistente de áudio do canal France 2 foram atacados por dezenas de jovens em Aulnay-sous-Bois na noite de quarta-feira (2/11) e tiveram que abandonar o carro de reportagem, que foi posteriormente incendiado.


Emmanuelle Maurel, chefe de notícias do Le Parisien, afirmou que o jornal está tentando entrevistar os manifestantes, mas em alguns distritos o diálogo é completamente impossível. ‘Um jornalista foi verbalmente agredido, assim como um repórter da rádio RTL’, conta Emmanuelle.


Diante desta onda de ataques, um repórter da TV alemã ARD afirmou que a equipe não irá mais trabalhar à noite. Elaine Cobber, da rede CBS, disse que não mandará mais cinegrafistas para filmar os tumultos porque a situação está muito perigosa. ‘Estamos usando imagens de agências de notícias’, completou.


A organização Repórteres Sem Fronteiras [7/11/05] mostrou-se preocupada com o fato dos ataques atrapalharem o trabalho da imprensa. ‘Nós lastimamos os ataques violentos que aconteceram com jornalistas nos últimos dias, quando eles cobriam eventos em campo e conversavam com todos os lados envolvidos. Não é normal que os jornalistas temam ser atacados e tenham que depender da proteção da polícia’, declarou a organização em seu sítio.


Embora jornalistas estrangeiros tenham sido atacados, o correspondente Jacques Allaman, da Radio Suisse Romande, afirmou que a situação é razoavelmente tranqüila para eles. O jornalista português Daniel Rosário afirmou que, quando foi entrevistar os jovens nos subúrbios, avisou logo que não era francês.


Para os Repórteres Sem Fronteiras, os ataques à imprensa ocorrem porque os manifestantes acabam por identificá-la com as autoridades. A organização ressalta que a agressão aos jornalistas é ruim não apenas para eles, pois leva ao bloqueio das notícias, o que prejudica os próprios manifestantes.


Blogueiros presos por apoio a vandalismo


Dois blogueiros – um jovem francês de 16 anos e o outro de Gana de 18 anos – foram detidos por autoridades na França por serem suspeitos de encorajar as pessoas a participarem de atos de vandalismo nos subúrbios de Paris, noticia John Plunkett [The Guardian, 9/11/05]. Os dois jovens estão sob investigação, o que é um passo curto para acusações formais sob a lei francesa, por ‘incitar danos às pessoas e à propriedade via internet’.


Os blogs foram suspensos no último fim de semana. Um deles era chamado ‘Sarkodead’, em referência ao ministro do Interior Nicholas Sarkozy, que usou termos depreciativos para qualificar os manifestantes e vem sendo muito criticado em blogs franceses. O outro tinha o nome de ‘Hardcore’.


Os blogueiros franceses estão divididos sobre qual atitude tomar em relação aos ataques. Alguns tentam acalmar a situação, enquanto outros tentam colocar ainda mais lenha na fogueira. ‘Se qualquer um no subúrbio estiver lendo isto e está participando dos tumultos, tente fazer isto na vizinhança do prefeito. Eu aposto que você vai conseguir uma reação muito mais rápida e você pode voltar para o seu bairro que não foi destruído’, afirmou o blogueiro que se identificou como ‘BobColoredGlasses’.