Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Quando o mercado atropela a arrogância

Às vezes, o mercado é encarado como uma serpente de sete cabeças no cenário brasileiro de mídias. Quando isso acontece, quem detém o poder sobre algum capital se posiciona como se todos os espaços estivessem à sua disposição. Essa selvageria, em vários lugares, muitas vezes tem ressonância, seja pela baixa qualificação de quem dirige a mídia, pelo cunho coronelista dos detentores do capital ou pelo conservadorismo da própria sociedade.

A semana termina com um caso excepcional em Maceió, segundo relato do apresentador de um programa jornalístico na TV Com, o canal 12, Ildo Rafael. O prefeito de Maceió, forrozeiro Cícero Almeida, procurou a direção local da TV Com para pedir a cabeça (literalmente) do programa dele e de outra jornalista, a Maria Aparecida (semanal), porque, entre outras coisas, foram mostrados documentos que comprovam a compra de uma fazenda pelo prefeito, à vista, por R$ 6 milhões, recursos bem distantes do valor total dos salários do prefeito por quase oito anos de gestão.

Em muito pouco tempo, Aparecida se tornou para os políticos locais uma espécie de enfant gâté da mídia eletrônica. Seus programas são como um furacão, as notícias são curtas, mas fulminantes. É uma jornalista de Sergipe que veio ocupar um espaço disponível na imprensa alagoana. Os políticos têm um medo dela que se pelam. Por isso, seus programa são todos gravados por políticos e advogados da área, razão pela qual chovem ações contra ela na justiça local.

Papel da mídia alternativa

Resposta da TV Com: se ele tiver como desmentir, procure os jornalistas e desminta. Ele não respondeu, até porque está atolado num mar de lama: são denúncias para todos os lados e o Ministério Público está no encalço dele. O episódio está ajudando a converter centenas de radialistas e jornalistas até então simpáticos a Almeida em seus adversários – porque atualmente criticar o prefeito está dando audiência e ninguém quer perdê-la. Por essa, o prefeito não esperava. Ou seja, que seus aliados da folha de pagamentos da prefeitura se transformassem em seus principais críticos.

O surgimento de um canal alternativo para a veiculação de informações antes completamente obstruídas pela corrupção e pistolagem está parecendo a panaceia de um dos principais problemas sócio-políticos de Alagoas – e isso está ocorrendo também em diferentes lugares deste país, nesse novo momento da nossa vida política. Essa nova postura da mídia alternativa vai alterar a vida política do país? Sim, a longo prazo, aos poucos, aqui e alhures.

A mídia alternativa já exerceu e ainda irá exercer um papel alternativo fundamental na construção da sociedade brasileira.

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Jornalista e escritor