Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Quanto custa poupar?

Uma pesquisa realizada em alguns países da América Latina, cujo objetivo se calcou, em cada país analisado, no estabelecimento da relação de como o cidadão destina sua remuneração ao consumo e, posteriormente, à poupança (ou ao menos deveria, segundo o noticiado), foi amplamente divulgada nos principais meios de comunicação brasileiros, criando certa dose de questionamentos acerca dos critérios adotados. De acordo com tal exame, no que tange às informações pertinentes ao território brasileiro, menos de um terço da população poupa efetivamente alguma parcela do salário percebido, o que, consoante o apregoado na referida pesquisa, pode trazer riscos à saúde financeira do trabalhador e de sua família, bem como comprometer seu desenvolvimento educacional.

Entretanto, tal entendimento carece de um melhor aclaramento para o receptor da informação veiculada. Tratando-se de Brasil, sabe-se que a grande massa da população aufere, em contrapartida ao colocar seus serviços à disposição das empresas, o tão minguado salário mínimo que sequer atende satisfatoriamente suas necessidades básicas, tais como alimentação, vestuário e habitação. Ademais, não se pode promover um parâmetro de correlação entre as economias dos países latinos, as quais costumam ser, embora assemelhadas, divergentes em certos aspectos, sobretudo o educacional.

O atribulado desenvolvimento profissional

Neste sentido, como se não bastasse a inflação que se afigura ocultamente nos itens de cesta básica, tão fundamentais à vida do brasileiro, há o inconveniente de se trilhar as árduas etapas antecedentes de um futuro melhor e, muitas das vezes, saber que se trata de uma missão quase impossível de ser realizada. O sustento da família, a manutenção da própria saúde, especialmente os gastos contingenciais, promovem consideravelmente um declive na vida do cidadão e, por conseguinte, estudar torna-se algo cada vez mais distante. Os que desempenham esta façanha ainda conseguem ingressar em cursos superiores e, de fato, iniciam a modificação de suas vidas através dos conhecimentos obtidos no meio acadêmico integrado à prática do ambiente laboral.

Desse modo, difundir uma idéia de que o brasileiro não possui o hábito de poupar certa parcela de seus rendimentos e, sobremaneira, de relegar objetivos voltados no intuito de alimentar seu conhecimento, pode ser caracterizado como desconhecimento do entorno ambiental avaliado, especialmente dos defensores dessa posição adotada no caso em tela. Todavia, trazer a lume as variáveis demarcatórias entre o querer agir e o não querer agir só realçam o verdadeiro sentido do estudo proposto.

Contudo, faz-se mister não apenas anunciar eventos dessa magnitude (o que alavanca ainda mais o conhecimento sobre fatores que influenciam na natureza doméstica), mas propor indagações orientadas para um ponto de vista menos genérico, direcionado ao contexto socioeconômico nacional, principalmente como alguns, mesmo que poucos, veículos comunicativos o fazem em relação ao dificultoso processo de constituir fundos para o atribulado desenvolvimento profissional e pessoal do indivíduo perante a realidade brasileira.

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Administrador de empresas, João Pessoa, PB