Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Que silêncio ensurdecedor é este?

Parece que o grande evento no fim do ano até agora foi um sapato jogado por um jornalista pró-sunita em protesto contra Bush que derrubou pela força, como fizera Saddam Hussein, os xiitas do poder. Com que direito Bush fez isto? Com a força, o mesmo direito que Saddam anulara aos xiitas majoritários no país. Que Hutos massacram tutsis. Que islâmicos atormentam na Somália. Que comunistas massacram milhões de burgueses. Milhares de dissidentes, ‘provocadores’, vacilantes e revisionistas. Que a URSS massacrou no Afeganistão. O uso da força. Na Chechênia. Por sinal, Ahmad Shah Massud (líder militar afegão) foi morto por jornalistas, ou por insurgentes Talibans disfarçados? O Deutsche Welle noticia: Rede de países reúne arquivos das polícias secretas comunistas (ver aqui). Que relevância teria aqui no OI relembrar a história a não ser o AI-5 ou a sapatada?

Mas não vou me deter sobre o Oriente Médio. Estamos no Brasil e, é claro, os jornalistas daqui e as suas reportagens é o que nos afetam. Ou melhor, a falta delas, pois parece que não ocorreu o encontro de líderes neofascistas na Bahia nem a cúpula dos chefes de Estado da América Latina e Caribe, na Costa do Sauípe. Não repercutiu na semana passada este momento histórico entre os quatro grandes antidemocratas no Brasil. E como ocorre como o Fórum Social Mundial, que prega que outro mundo como Cuba é possível aqui, nada de prático e útil para os povos foi decidido! Completa fora de crítica no nosso Observatório que se dedicou de corpo e alma a lembrar o esquecido AI-5! E a sua promessa de jamais deixar morrer aquela lembrança. Sem, é evidente, lembrar a situação internacional da época! Está é uma ausência constante no OI em que terroristas usam para contar outra história, da qual não participaram. A luta pelos direitos humanos e pela democratização do país. Liberté, Egalité, Fraternité.

Racionamento e ração

Nossos jornalistas que garantem que Bush merece uma sapatada que não teriam coragem de dar em Saddam, não se preocupam com os 50 anos de ditadura totalitária em Cuba. Com a abolição dos direitos universais humanos e a supressão do jornalismo e do direito como tal lá! Nem mesmo foram a Sauípe observar, protestar. Imagine o impossível, um dos nossos defensores da luta anticapitalista (e por conseqüência, contra os ideais iluministas burgueses) jogar um sapato em Raul! Isto que aqui semi-alfabetizados sujar paredes não é crime, a massa pede a sua impunidade, e que jogar sapato pode ser visto como arte.

Matéria do jornalista Roger Cohen neste domingo, 21 de dezembro de 2008, no New York Times, com tradução de Paulo Migliacci, relata: em Guantánamo, cubanos acham refúgio na religião (ver aqui). A fuga pela via religiosa pela desilusão da religião sem Deus imposta a ferro e fogo em 1959. Onde a miséria não é fotografada, não pode aparecer na televisão, pois é censurada. Fidel prometera em discurso em 62 que os cubanos teriam uma renda per capita três vezes a dos EUA.

Raul Castro propôs trocar 200 presos políticos por cinco espiões pegos dentro da comunidade de cubanos em Miami. E nossos observadores acham que o AI-5 é que devemos manter na lembrança. As 3.500 mortes de Pinochet, aquele facínora. Já Raul Castro, sai da frente Barack Obama, deixa o homem ficar. É por enquanto um aviso. Se não se dobrar a democracia entendida pelos bolivarianos, os governantes ratos (ou cucarachos?) latino-americanos ameaçam cortar relações. Retaliar, se bandear para a Rússia. Lula quer lhe dar uma chance derradeira! Onde já se viu perseguir uma ditadura totalitária com apenas 50 anos, e que vários ‘democratas’ latino-americanos se inspiram nos seus atos? Para que jornalistas lá se o sapato é racionado? Como tudo o mais, por sinal. Racionamento e ração. O nosso problema para os jornalistas do OI está no Iraque.

Valores descartados

O que os comunistas mais adoram é chamar os outros de fascistas por não aceitarem os seus argumentos. Desde Marx que chamar o cidadão de burguês significava, para os comunistas, vergonha, hoje disfarçados com o nome de socialistas, pela embaraço do que seus líderes fizeram no século 20. Ou bolivarianos, para não dizer que é o mesmo credo.

Mas o fascismo não deriva dos ideais burgueses, conservadores, capitalistas advindo do iluminismo, materializado pela revolução americana, na sua constituição, e inspiradora da revolução francesa, sabotada pelos jacobinos e sua guilhotina nas mãos de carrascos como o advogado e político, o principal líder jacobino, Robespierre. A declaração universal dos direitos humanos não dá margem para o fascismo, pois o mesmo, em sua essência socialista, em sua essência coletivista, nega todos estes mesmos direitos individuais:

‘Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os todos gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum;

Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão’ (Declaração dos Direitos Humanos (ver aqui).

Assim como o socialismo nacionalista, inspirado no fascista de Mussolini, não comunga com estes ideais, se aproxima fundamentalmente com o comunismo, que igualmente despreza estes direitos em nome do socialismo e contra tudo o que estes ideais representam. Isto está no Manifest der Kommunistischen Partei (manifesto do partido comunista), em que Karl Marx e Friedrich Engels resumem a doutrina já em 1848. Valores como o individualismo, a liberdade de pensamento, a liberdade de imprensa, a liberdade de empreender, de consciência, de credo, de reunião, de organização, de ir e vir etc., são totalmente descartadas em ambos os socialismos, assim como foram definidos já no início. Já no nascedouro desprezados como idéias burgueses, liberais e capitalistas.

O ‘espírito revolucionário’

Os paralelos não param por aí. Tanto Mussolini como Hitler idealizaram o super-homem. E no socialismo internacionalista este sonho foi muitas vezes tentando e repetido. O Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, em 1920, foi inspirado no fascismo italiano. Mussolini foi claramente o dirigente, nascido do sindicalismo e inspirado do pensamento de Sorel e Nietszche, foi o primeiro em unir o sentido Nacional ao sindicalismo trabalhador, criando os fascios. E sua origem é antes de mais nada sindical, de luta trabalhadora, e só depois Nacional. Os sindicalismos e trabalhadores, movimento majoritário, e que se baseia antes de tudo numa rejeição absoluta ao capitalismo, à brutal exploração que sofriam nesses anos as massas obreiras e camponesas, sem segurança social, sem ajudas no desemprego, sem apoio algum estatal, sob a brutal bota de umas democracias burguesas, cruéis.

Jorge Eliecer Gaitán (1898-1948), colombiano, amigo de Mussolini (1883-1945), que nunca foi fascista em nome, mas que segue esta mesma linha: populismo, trabalhador, confronto radical ao capital, greves. Gaitán é eleito deputado e lê seu apelo ‘Nacionalismo e esquerda’ onde planta as bases dessa união entre socialismo radical e valores nacionais. O sentido volk, algo absolutamente novo e difícil de entroncar, que nasce em Alemanha e só em Corneliu Zelea Codreanu, advogado romeno, se pode encontrar algo similar. É pouco conhecido, fora de assimilar-se ao nacional-socialismo, mas quiçá por isso é muito pouco conhecido em sua essência. Hitler não parte de um estrato sindicalista, sempre se opôs ao sindicalismo. O volk era um sentido de povo enraizado em sua raça e sua tradição, e enfrentado a todo materialismo e a todo capitalismo, mas não só ao capitalismo, também ao dinheiro em general. Mais do que anti-capitalismo era fundamentalmente antimaterialista, e por isso anticapitalista.

Não existiria a libertação do homem, mas a sua manipulação pelo estado para transformá-lo da máquina a serviço do mesmo:

‘A revolução se faz através do homem, mas o homem deve forjar dia-a-dia seu espírito revolucionário’ (Che Guevara, O socialismo e o homem em Cuba).

‘Interpretação dos desejos do povo’

Para construir o comunismo, é necessário transformar o homem (formar o ‘homem novo’) em simultâneo com a transformação da base econômica ‘O marxista deve ser o melhor, o mais completo dos seres humanos, mas acima de tudo um ser humano, o militante de um partido que vive e vibra no contacto com as massas, trabalhador infatigável que dá tudo ao povo, paciente mas nunca indiferentes ao calor do contacto humano’ (Guevara).

Não foi por nada que a revolução em Cuba na verdade começou com a traição das forças democráticas que lutaram para derrubar Batista e que foram todas abjuradas pelos comunistas lentamente. Paulatinamente. Traiçoeiramente. Acabou o refrão Liberté, Egalité, Fraternité. Elas, as massas, não seriam o agente de transformação pelas suas organizações, mas os dirigentes, os iluminados pelos textos tratados de sagrados, em confabulações secretas, longe delas, os transformariam, através das organizações, a ser um novo homem servil ao estado, obediente ao que o sacerdote do novo credo decidisse (chamado de membro do partido), do novo mundo, o que deveria vir a ser, o que a gostar, quando apreciar, quanto desejar, e qual quantia disto cada qual teria direito de aspirar pela permissão total do estado! O que cada qual poderia discutir, ouvir, ler, se organizar. Só a liberdade pelo Index Librorum Prohibitorum do Partido.

‘É verdade que segue sem vacilar seus dirigentes, principalmente Fidel Castro; mas o grau desta confiança que ele conquistou está em função precisamente da interpretação cabal dos desejos do povo, de suas aspirações e da luta sincera que ele travou para o cumprimento das promessas feitas.’

O saber controlado

A vida do homem, nas duas formas socialistas, seriam de nascer com a missão de servir. Não o estado de vir o servir nas suas necessidades, como na concepção burguesa, na sua busca de realização pessoal neste mundo de incógnitas, de caminhos a desvendar, de sendas a percorrer livremente, de aventuras a desafiar, mas ser uma peça do mecanismo predeterminado de produção do estado, que deveria se integrar com submissão ascética. Receber cada vez menos para produzir cada vez mais para a coletividade. Uma anulação religiosa para o novo deus, para o novo senhor que a tudo proveria e que era dever acatar crer sem vacilar e servir.

‘Ninguém pense que viemos aprender algumas das coisas que nos aconselhavam alguns `libelucho´ ou alguns sisudos defensores das teorias políticas reacionárias, que achavam bom que viéssemos para aprender sobre eleições, sobre parlamento, sobre liberdade de imprensa, etc…(…) Não viemos aqui para aprender coisas caducas da história … já aprendemos bastante sobre as liberdades burguesas e capitalistas’ diria Fidel (Cuba-Chile, 1972, p. 474; FARIAS, 2000, p. 1.365).

No manual oficial sobre a organização do partido nazista diz, a respeito dos SS: ‘Fidelidade, honra, obediência e coragem determinam o modo de agir do homem SS. Sua arma (punhal) ostenta a inscrição conferida pelo Führer: Meine Ehre heisst Treue! Ambas as virtudes estão indissoluvelmente ligadas. Quem peca contra elas, torna-se indigno de pertencer à Schutzstaffel.’

Uma das primeiras medidas tomadas pelos revolucionários foi intervir na universidade, eliminar os centros-acadêmicos e banir totalmente a autonomia da universidade. O saber erudito estava totalmente controlado pelos dirigentes. Tanto lá dentro de Cuba, como nos jornalistas aqui fora anulados no espírito crítico até hoje, quanto mais esperar que dêem sapatadas em ditadores.

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Médico, Porto Alegre, RS