Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Questão de bom senso ou mínimo de informação

Talvez fosse o caso de os jornais usarem cores no lugar de milhares e milhões. Evitaria erros grosseiros verificados com alguma freqüência em cifras, distâncias, medidas de área etc. Em vez de 000 para milhares, 50.000, por exemplo, para indicar a população de uma cidade do interior, viria 50 seguidos de um traço verde. Já 50 seguidos de vermelho no mesmo contexto designaria 50 milhões de habitantes, só cabendo em se tratando de um país.

Exemplo da falta de noção de ordem de grandeza de certos repórteres. No Estadão, ‘Países pobres: fiquem firmes’ (12/1/05, B10). Apareceu: ‘O mundo desenvolvido destina aproximadamente US$ 1 bilhão em subsídios a fazendeiros.’

Cavouquei na raiz (http://www.nytimes.com/2005/11/11/opinion/11fri1.html) e encontrei:

The developed world funnels nearly $1 billion a day in subsidies to its farmers.

Errinho de 356 x… A entrar pela linha sarcástica dos editoriais dos Mesquitas acusaríamos o jornal de querer esvaziar a bola do ministro brasileiro. Mas deve ter sido distração do tradutor.

Em 12/11/05, um exemplo baiano, encontrado em A Tarde, de longe o matutino mais tradicional e influente de Salvador. Seu caderno Municípios traz à pág. 12:

Turismo diminui na Chapada

Mesmo com os incêndios já debelados, muitas pessoas perderam o interesse de viajar para a região no feriado prolongado

Onze mil e quinhentos hectares e uma quantidade incalculável de nascentes atingidas. A área representa duas vezes a dimensão da França, ou seja, aproximadamente 110 mil quilômetros quadrados. Este é o saldo negativo contabilizado pelo Ibama após um mês de queimadas no Parque Nacional da Chapada Diamantina. (Tássia Novaes, A Tarde OnLine)

Ora, falta à repórter uma noção de ordem de grandeza, um pedaço de parque ecológico na Chapada Diamantina não pode estar no ranking dos tamanhos na mesma categoria que um país como a França.

Programa de treinamento

Que o leitor não descarte este incidente de desinformação classificando-o como ‘coisas da Bahia’. Não é raro vê-lo nos grandes jornais brasileiros. Até publicações especializadas em economia, como Valor e Gazeta Mercantil, volta e meia tropeçam em disparates do tipo atribuir exportações de oito bilhões de dólares a uma pequena empresa.

Que a gente não consiga imaginar, por não encontrar referência em nossa experiência cotidiana, os números que aparecem em coluna de astronomia, é inevitável. Já em geografia de ginásio ou uma noção mesmo mobralizada de economia, não é o caso.

A propósito, ouço dizer que O Globo mantém um bom programa de treinamento em conhecimentos gerais para seus repórteres.

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Dirigente de ONG, Bahia