Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Redundância e superficialidade

O mundo assistiu esta última semana ao suntuoso espetáculo eleitoral do pretendente ao cargo de homem mais poderoso da Terra: o de presidente dos Estados Unidos da América. Sem dúvida, um evento dessa magnitude há de proporcionar inquietudes em quaisquer lugares que for divulgado, sobretudo nos países emergentes, os quais dependem consideravelmente de como procederá a atuação política norte-americana.

Como não poderia deixar de ser, os meios de comunicação (especificamente os telejornais) estabeleceram um ritmo substancial na cobertura da eleição presidencial americana. A maior parte do tempo do conteúdo dos aludidos veículos comunicativos abarcava, dois dias antes e um dia após o pleito, tão-somente a história particular de Barack Obama e de John McCain ante a corrida presidencial, onde aquele, como era de se esperar, sagrou-se chefe de Estado do poderoso império norte-americano. Entretanto, ainda se observa a restrição do sentido da informação que jornais mais influentes no contexto brasileiro – como é de praxe – perpetram, quase não mencionando os defeitos de organização em relação a como se deu o sufrágio e, por conseguinte, proporcionando uma idéia de absoluta perfeição nos processos eleitorais em cada estado da federação americana.

O verdadeiro dever cívico

Nesse sentido, um fato que desperta bastante curiosidade caracteriza-se na minudência com que se expõe este tipo de ocorrência, mormente ao nosso tradicional modelo estatal. É difundido em nosso nacionalismo não só o passado de cada um dos candidatos americanos – como não poderia ser diferente, por óbvio – mas, sobremaneira, a própria origem da democracia norte-americana, a sua evolução ao longo do tempo, a composição de cada colégio eleitoral e suas peculiaridades, chegando mesmo às raízes que promoveram o desenvolvimento do país do Tio Sam (como a Guerra de Secessão, por exemplo). Enfim, as referências são diversas e compõem todo o aparato para uma estonteante apreensão da cultura atinente à nação em comento.

No entanto, vislumbra-se, no que tange a nível Brasil, uma enorme deficiência de apontamento dessas informações tão relevantes ao esclarecimento do cidadão brasileiro. Pouco se comenta o legado eleitoral do Brasil (os ideais de Ruy Barbosa, diga-se de passagem) de forma a estimular uma real acepção de um Estado Democrático de Direito. Quase não se ouve falar de coeficientes partidários e eleitorais, dos assuntos concernentes à estrutura constitucional em si, ou seja, alguns comunicadores teimam, indiretamente, em persistir na manutenção do estado de alienação de boa parte da população brasileira, sobretudo a menos favorecida.

De fato, ainda é notória a ausência de valorização dos conceitos inerentes à cultura brasileira de forma a atender à necessidade do ávido público que busca o entendimento das coisas que os rodeiam. Relembrando o célebre pensamento do filósofo Platão, deve-se dar mais ênfase à ‘luz que está do lado de fora da caverna’, proporcionado um ‘aclaramento’ das circunstâncias imanentes às relações democráticas entre nações. Fazer com que os fatos circulem para a percepção de todos e não se especular em produzir abstrações utópicas é, sim, o verdadeiro dever cívico de cada cidadão, não se atendo demasiadamente aos ‘banquetes’ promovidos por aqueles que relegam aspectos que não constituam fundamentos favoráveis a seus interesses.

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Administrador de empresas, João Pessoa, PB