Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Rodrigo Otávio

‘Na terça, dia 17, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa afirmou que o financiamento do Banco ao setor de mídia ‘vai dar muita controvérsia’. De acordo com ele, as idéias das empresas do setor sobre o assunto ‘são pouco convergentes’ e ‘não há consenso’. Lessa informou que o banco tem estudos sobre o setor, mas ‘não há números fechados nem programas definidos’.

Após os bancos nos anos 90, com o Programa de Estimulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional (Proer), agora são as principais empresas de comunicação do país que batem à porta do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em busca de empréstimos para reduzir a grave crise econômica que o setor atravessa. Historicamente afastado do setor até por questões de influência editorial, o banco estuda uma proposta feita pelos principais grupos de comunicação em outubro de 2003 para uma linha de crédito financeiro. A dívida gira em torno de R$ 10 bilhões, acumulada principalmente na segunda metade dos anos 90 com investimento em maquinário e apostas erradas tanto na expansão da Internet como das TVs a cabo. No lado mais fraco da questão, cerca de 17 mil jornalistas perderam seus empregos nos últimos dois anos.

Enquanto o banco não se pronuncia oficialmente sobre o andamento das negociações, a proposta causa polêmica na própria imprensa nacional. Dois são os principais pontos dessa polêmica: quem será realmente beneficiado caso o empréstimo saia e como deverão se comportar as empresas para receber o dinheiro.

No primeiro caso, as atenções estão voltadas para a ex-toda poderosa Organizações Globo, a abre-alas do pedido de socorro e campeã das endividadas com algo em torno de R$ 5 bilhões declarados. Nesse cabo-de-guerra, outros grandes comunicadores do país, como os jornais diários ‘O Dia’ e ‘Lance’ reclamam que nem acesso à proposta feita ao BNDES tiveram. E existem aqueles que afirmam que se entrarem no pacote sairão perdendo, pois garantem que nem endividados estão, como o grupo Sílvio Santos. Já a TV Record, concorrente direta da Globo, vai mais longe. Diz que a negociação está sendo tratada sem a transparência necessária e anuncia que estará atenta e denunciará caso alguma emissora leve vantagem sobre outra.

No segundo caso, as empresas divergem sobre qual deve ser a contrapartida pedida pelo banco caso o empréstimo se concretize. Algumas, como a Rede Bandeirantes, acham que o empréstimo não significará imparcialidade da imprensa, já que se o governo quisesse vantagens da mídia, seria mais fácil tentar através da publicidade normal. Outras concordam que o governo deve ter algumas rédeas do negócio, como fazer governança cooperativa e exigir balanços e gestões mais transparentes.

Quanto aos empregados das empresas, a CUT-RJ, através de seu vice-presidente Darby Igayara, afirma estar atenta ao desenrolar da situação, esperando apenas algo oficial do banco e das empresas para discutir com os sindicatos como garantir que o empréstimo não siga a receita usada nos casos dos bancos e das companhias aéreas, quando o dinheiro não foi utilizado para garantir empregos ou forjar mais contratações.’



Vera Saavedra Durão

‘Desembolso do BNDES deve chegar a R$ 6 bi no primeiro trimestre’, copyright Valor Econômico, 20/02/04

‘O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deverá desembolsar mais de R$ 6 bilhões no primeiro trimestre do ano para financiar projetos de investimento, adiantou ao Valor o superintendente da área de Planejamento do banco, Maurício Piccinini. A expectativa da instituição é cumprir o orçamento de R$ 47,3 bilhões em 2004. ‘Demanda, temos. Todas as operações que estão no banco, desde consultas a aprovações, já batem a casa dos R$ 48 bilhões.’

O superintendente explicou que a manutenção da taxa Selic não afeta diretamente o custo do dinheiro dos empréstimos de longo prazo do banco. Ele acredita que este custo, determinado pela Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP), hoje em 10%, deverá cair nos próximos meses. ‘O banco vai reduzir o spread em 1% para alguns setores com a vigência das novas políticas operacionais, em março’.

A redução de 42% nas consultas em janeiro foi considerada ‘atípica’ por ele. Em janeiro de 2002 as consultas ficaram muito concentradas em grandes projetos, como o da Noroeste Gás, que sozinha solicitou R$ 900 milhões. ‘Isso desbalanceou a base de comparação com janeiro deste ano. Em fevereiro, estes números já estão mais equilibrados.’

Fevereiro, mesmo sendo mês curto, tem tido número grande de projetos em análise e aprovados. Ele não sabe se o valor desembolsado pelo banco este mês superará os R$ 2,1 bilhões do mês passado. Mas, em março certamente será liberado algo acima deste, pois é um mês da retomada depois dos festejos de Natal, férias de verão e Carnaval.

O BNDES desenha um cenário otimista para 2004 e crê no aumento dos investimentos, analisa Piccinini. Ao longo do ano, um dos focos da sua política será o financiamento às pequenas e médias empresas, ‘geradoras de emprego’. ‘Elas contarão com R$ 12 bilhões de crédito ou 20% a mais que em 2003’, disse. Outro foco será a política industrial do governo.

Segundo ele, o BNDES trabalha num processo de planejamento interno para que todos os fundamentos da política industrial se traduzam em forma operacional no banco. A tarefa do BNDES será a de fomentar os quatro setores estratégicos dessa política: software, semicondutores, farmacêutico e bens de capital.

No caso do software, o BNDES está revendo o Prosoft e vai estimular fusões e associações das pequenas empresas do setor e operar também com as grandes. Em semicondutores, inexistentes no Brasil, contratou consultoria internacional em processo de licitação para fazer um estudo para orientar o banco para atrair investidores estrangeiros (‘queremos que venham interagir com empresas nacionais e não concorrências de enclaves, observou), além de promover o adensamento das cadeias produtivas como a de eletroeletrônico, dentre outras. ‘O governo deverá criar um grupo para atuar nessa política.’

Quanto aos bens de capital, além do Modermaq, o BNDES vai adotar uma política específica para o setor visando melhorias tecnológicas. Em relação aos fármacos, vai estimular fusões e associações a produção de medicamentos que já tiveram suas patentes quebradas.’



Edson Sardinha

‘Para Cony, governo vai cobrar caro pelo ‘Proer da Mídia’’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 18/02/04

‘O jornalista e escritor Carlos Heitor Cony critica o socorro financeiro negociado entre o governo federal e as empresas de comunicação. Para o colunista da Folha de S. Paulo e comentarista da CBN, a operação é uma ameaça à independência dos veículos e uma temeridade para os cofres públicos.

‘Não existe almoço grátis. É a sopa dos pobres para a imprensa’, disse durante palestra feita nessa terça-feira (17) no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, em Brasília.

No Congresso Nacional, especula-se que o socorro batizado informalmente de Proer da Mídia possa chegar a R$ 2 bilhões, valor que seria liberado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para evitar a quebradeira do setor.

Segundo Cony, a moeda de troca da operação seria o apoio dos grandes veículos ao atual governo. ‘O empréstimo facilitado tem de ser muito bem colocado. O ideal seria não precisar dele, mas, se é pra ser feito, que seja de uma maneira menos desastrosa’, afirmou.

O imortal da Academia Brasileira de Letras não poupou críticas ao governo Lula, que, segundo ele, repete os erros dos antecessores e não inova no relacionamento com a imprensa. ‘É o médico que virou monstro’, brincou.

Palpite infeliz

Cony classificou de infeliz declaração dada pelo líder do governo na Câmara, Miro Teixeira (sem partido-RJ), a respeito de eventuais denúncias sobre casos de corrupção na administração federal.

‘Investigue e publique’, teria dito o ex-ministro das Comunicações a um repórter, ao ser questionado sobre a possibilidade de haver novos escândalos envolvendo figuras do alto escalão do Executivo. ‘Imprensa é força, não é poder. Sua função é opinar e informar. Investigação cabe ao poder público’, contestou Cony.

Para ele, a imprensa revela o seu pior lado quando adota postura diferente na cobertura de situações semelhantes. ‘Ela inventa vestais de acordo com as circunstâncias’, disse.

‘Por que, à exceção da Caros Amigos, ninguém falou sobre o filho do ex-presidente Fernando Henrique, quando se havia dado tanta atenção para o caso da Lurian (filha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva à presidência) na campanha de 1989?’

Convidado especial da cerimônia de premiação do II Concurso Literário Poeta Mário Quintana, promovido pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, Cony reconheceu ter pintado um quadro marcado por doses generosas de pessimismo. Melhor assim, amenizou: ‘Quando se é pessimista, tudo o que acontece é lucro.’’

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‘Para Cony, governo vai cobrar caro pelo ‘Proer da Mídia’’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 18/02/04

‘O jornalista e escritor Carlos Heitor Cony critica o socorro financeiro negociado entre o governo federal e as empresas de comunicação. Para o colunista da Folha de S. Paulo e comentarista da CBN, a operação é uma ameaça à independência dos veículos e uma temeridade para os cofres públicos.

‘Não existe almoço grátis. É a sopa dos pobres para a imprensa’, disse durante palestra feita nessa terça-feira (17) no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, em Brasília.

No Congresso Nacional, especula-se que o socorro batizado informalmente de Proer da Mídia possa chegar a R$ 2 bilhões, valor que seria liberado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para evitar a quebradeira do setor.

Segundo Cony, a moeda de troca da operação seria o apoio dos grandes veículos ao atual governo. ‘O empréstimo facilitado tem de ser muito bem colocado. O ideal seria não precisar dele, mas, se é pra ser feito, que seja de uma maneira menos desastrosa’, afirmou.

O imortal da Academia Brasileira de Letras não poupou críticas ao governo Lula, que, segundo ele, repete os erros dos antecessores e não inova no relacionamento com a imprensa. ‘É o médico que virou monstro’, brincou.

Palpite infeliz

Cony classificou de infeliz declaração dada pelo líder do governo na Câmara, Miro Teixeira (sem partido-RJ), a respeito de eventuais denúncias sobre casos de corrupção na administração federal.

‘Investigue e publique’, teria dito o ex-ministro das Comunicações a um repórter, ao ser questionado sobre a possibilidade de haver novos escândalos envolvendo figuras do alto escalão do Executivo. ‘Imprensa é força, não é poder. Sua função é opinar e informar. Investigação cabe ao poder público’, contestou Cony.

Para ele, a imprensa revela o seu pior lado quando adota postura diferente na cobertura de situações semelhantes. ‘Ela inventa vestais de acordo com as circunstâncias’, disse.

‘Por que, à exceção da Caros Amigos, ninguém falou sobre o filho do ex-presidente Fernando Henrique, quando se havia dado tanta atenção para o caso da Lurian (filha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva à presidência) na campanha de 1989?’

Convidado especial da cerimônia de premiação do II Concurso Literário Poeta Mário Quintana, promovido pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, Cony reconheceu ter pintado um quadro marcado por doses generosas de pessimismo. Melhor assim, amenizou: ‘Quando se é pessimista, tudo o que acontece é lucro.’’