Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Será que a preocupação deles é informar?

A partir das reflexões baseadas na leitura de um trecho do livro Sobre a Televisão, do francês Pierre Bourdieu, podemos entender melhor os interesses socioeconômicos e políticos que existem por trás da ‘telinha’. Analisando o programa Brasil Urgente, da Band, percebemos nitidamente tais interesses, que vêm trazendo mudanças na grade de programação brasileira.

O programa, dito de jornalismo policial, é sem dúvida sensacionalista, ou seja, preza pela comoção do público e por assuntos que geram expectativas – algo como ‘acompanhe os próximos capítulos’ –, que prendem o telespectador a si como estratégia mercadológica em relação às propagandas comerciais, já que o campo jornalístico, segundo Bourdieu (p.77), ‘está sob a pressão do campo econômico por intermédio do índice de audiência’. Quanto a isso, esse programa anda muito bem. Isso é comprovado pelo Ibope em seus altos índices de audiência, algo que também pode ser percebido quando o apresentador, José Luiz Datena, que dispõe de um helicóptero na cobertura dos fatos, fala no ar, já à noite – ‘quem estiver nos assistindo pisque a luz de sua casa’ – e exibe, com um feliz semblante, centenas de casas e apartamentos acendendo e apagando suas luzes. Em se tratando do impacto negativo do programa, não só dele mas como dos demais que seguem sua linha, ao que me parece, quando apresentado um crime ‘bizarro’, não raro, na semana seguinte aparecem outros semelhantes, como se os criminosos se inspirassem no que vêem na televisão.

Para mudar esse cenário

Esse impacto da economia sobre a televisão, que no caso dos programas de linha policial gera o sensacionalismo, acaba por atingir os outros campos da produção cultural, como num ciclo, ou, nas palavras de Bourdieu (p. 81), ‘através da pressão do índice de audiência, o peso da economia se exerce sobre a televisão e, através do peso da televisão sobre o jornalismo, ele se exerce sobre os outros jornais, mesmo os mais `puros´, e sobre os jornalistas, que pouco a pouco deixam que problemas da televisão se imponham a eles. E, da mesma maneira através do campo jornalístico, ele pesa sobre todos os campos da produção cultural’.

Enfim, tem muito a ver com o público o tipo de programação vigente, pois ‘não se compreende nada se não se compreende o campo que o produz e que lhe confere sua pequena força’ (Bourdieu, p. 78). Porém, cabe a nós, enquanto formadores de opinião, mudar esse cenário. ‘Se os mecanismos estruturais que geram as faltas de moral se tornassem conscientes, uma ação consciente visando a controlá-los se tornaria possível’ (Bourdieu, p. 80).

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Estudante de Comunicação Social – Jornalismo, UEPB, Campina Grande, PB