Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Silêncio molhado

Existem coisas, no Rio de Janeiro, que só acontecem com o Botafogo e a imprensa carioca, em especial com os veículos das Organizações Globo, que detêm a hegemonia quanto aos leitores, telespectadores e ouvintes.

Uma delas é a cobertura magnânima com relação à Companhia Estadual de Águas e Esgotos, a famigerada Cedae. Dirigida por uma figura que lembra o Pacheco – personagem criado por Eça de Queiroz em Cartas a Fradique Mendes –, a Cedae tem sido tratada pela imprensa, na maior parte das vezes, como uma empresa exemplar, que desempenharia com brilhantismo a sua função social.

Não é bem assim. Em que pese todo o esforço do seu presidente, seja financiando concursos, como ‘Mulata do Góis’, ou até mesmo perseguindo coleguinhas que ousam publicar matérias questionando a ‘excelência’ empresarial da Cedae, a realidade é preta como os esgotos a céu aberto, que ainda correm por ruas em todos os municípios nos quais a empresa atua.

Este comportamento leniente da mídia carioca e fluminense com relação às mazelas da Cedae é bem comprovado quando o Ministério das Cidades divulgou, no final de março, o ‘Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2008’, que retrata as condições da prestação dos serviços de água e esgotos no Brasil, sob os aspectos institucional, administrativo, econômico-financeiro, técnico-operacional e da qualidade, como diz o texto de abertura da publicação.

Elogios constantes à recuperação financeira

A repercussão do levantamento do Ministério das Cidades foi de total omissão. Nem uma mísera linha para informar à população do estado do Rio do Janeiro que a Cedae apresentou queda de 21% nos seus investimentos, em 2008, comparativamente ao ano anterior, e que, por mais incrível que isto possa parecer, as perdas de faturamento atingiram 49,6%.

Que tipo de dirigente permite que sua empresa perca quase metade do que produz? No estado do Rio de Janeiro, é um executivo que recebe elogios constantes na imprensa, e homenagens de entidades empresariais. Só é possível entender isto conhecendo a história do Pacheco.

Para completar, pelo segundo ano consecutivo, o consumo médio per capita de água da Cedae é o maior valor entre as companhias estaduais. Sabedores do problema de água no estado do Rio, é surpreendente a inexistência de qualquer campanha educativa massiva para a redução deste consumo. Exceto se considerarmos os R$ 309 mil investidos no ‘Mulata do Góis’ como parte de um processo educativo.

Mas esta postura dos veículos dos irmãos Marinho quanto ao documento do Ministério das Cidades foi a mesma em janeiro deste ano, quando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) decidiu suspender o registro da Cedae, pois, desde o 1o trimestre de 2008, a companhia não envia balancetes e balanços para aquele órgão, como determina a lei.

Por que a Cedae não divulga os seus números? Afinal, um dos elogios constantes na imprensa feitos à direção da companhia é a sua recuperação financeira. Será verdade?

Cabe à imprensa apurar.

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Jornalista