Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Só para americanos

Encontrei no site yahoo.com do sábado 3 de abril uma notícia com a seguinte manchete: ‘Papers on 1964 Brazil Coup Declassified’. Fiquei curioso em ver um ponto de vista norte-americano sobre o golpe, e ao ler a notícia, encontrei alguns pontos interessantes.

Por exemplo, o fato de o embaixador norte-americano no Brasil na época, Lincoln Gordon, ter insistido em justificar o golpe como necessário para ‘ajudar a evitar um grande desastre aqui’, e que o Brasil poderia se tornar a ‘China dos anos 1960 sob o regime de inclinação comunista de João Goulart’. Ou o fato de um informante da CIA no Brasil ter avaliado que a ‘revolução não será resolvida rapidamente e será sangrenta’, num claro erro de julgamento desmentido dias depois.

A notícia traz também um link para o site do Arquivo de Segurança Nacional dos EUA, com documentos e arquivos de áudio mostrando o apoio dos EUA ao golpe, incluindo uma ligação telefônica do presidente Lyndon Johnson discutindo o golpe com o secretário de Estado, na qual fica clara a intenção de convencer o povo brasileiro a apoiar a ‘revolução’, incentivando a criação de marchas de apoio ao golpe e de um sentimento anticomunista no país, tudo de forma oculta.

Mas o fato que mais me chamou a atenção foi a notícia não ter sido sequer mencionada no site Yahoo! Brasil, pelo menos até 22 horas após sua publicação no site norte-americano. Considerando a escassez de documentos históricos relacionados ao golpe, mais atenção deveria ser dada a esse tipo de acontecimento, e a notícia deveria ser de maior interesse para os brasileiros do que para os norte-americanos.

Luan de Paiva Orsini, estudante de Jornalismo da PUC-MG, Belo Horizonte

Notícia no Yahoo!

Notícia no National Security Archive



A volta dos sintomas

Muito interessante essa análise do ótimo Alberto Dines sobre o golpe/revolução de 64. E, é preciso dizer, até hoje não há consenso sobre essa denominação, quanto mais entendimento do movimento como um todo. Numa coluna do UOL News de hoje, 31 de março, Paulo Henrique Amorim faz um brilhante ensaio, à la Maquiavel, de como aplicar um golpe num presidente eleito. E o que é curioso (para não dizer preocupante!) é que todos os sintomas ali descritos parecem nos passar aos olhos, tão fortes são suas palavras e tão fiéis à realidade elas são. Um golpe é dado exatamente quando o governo, seja lá qual for, não é mais governo. Ou quando as condições para isso forem criadas. E no Brasil isso não é tão difícil assim, haja vista que temos uma classe dominante historicamente no poder desde o Descobrimento e que vem perpetuando-se ao longo dos séculos.

A elite dominante que o desconstruiu eram os colonizadores e usurpadores portugueses, que deram um golpe e se independeram uns dos outros em 1822. Depois, foi a oligarquia cafeeira que investiu nos generais e proclamou a República sob novo golpe, quando o imperador estava se aproximando do povo. Em seguida, foram anos de república dos coronéis, veio a ditadura golpista ‘paternalista e populista’ de Vargas, o status quo americanicista de JK e, finalmente, a ditadura dos verde-oliva. Em todas essas passagens o povo brasileiro pouco, ou quase pouco, foi chamado a participar. E quando foi chamado, era para respaldar o que já estava decidido.

Hoje temos no governo (não no poder!) alguém que detém as esperanças de uns muitos. A pressão é muito grande e qualquer simplório sabe disso. Foi montada uma deliberada estrutura para tentar desestabilizar o governo. Não sendo possível impedir sua eleição, até porque Lula fugiu ao controle da própria elite que sempre ditou ordens nesse país, o mais seguro para a elite foi deixar as coisas acontecerem e depois ir minando sua instituição, até um ponto em que não será mais possível sustentar a governabilidade – prato cheio para um golpe, semelhante ao que ocorreu com Hugo Chávez e com tantos outros que se intitulam governantes do povo, representantes da maioria. Os mecanismos para isso já foram colocados em cena, basta ler as páginas dos articulistas da Folha (vide Eliane Cantanhêde e Gilberto Dimenstein) e da Veja para percebermos o que está sendo articulado. Na CBN tem Lucia Hipólito com sua competente ‘difamação’ do governo diariamente vomitada na emissora de notícias mais ouvida do país. O outro passo, a publicação de ‘pesquisas de opinião’, já está até no Jornal Nacional (em tom alarmista), até então um ‘aliado com abraço de urso’ de última hora.

Há alguns erros sendo cometidos na esfera do governo, é preciso deixar claro, porém muito mais para tentar arranjar um eixo do que para propositadamente quebrar o país, como querem fazer acreditar aqueles que já estiveram lá e têm seus arautos distribuídos na mídia. O que talvez passe despercebido a alguns desavisados é que esses que hoje querem mudanças definitivas, que querem um pouco mais de ousadia nos atos de governo, já estiveram no comando, e sua ‘ousadia’ deu nisso que está aí. Um país quebrado e vendido e que precisa de correções lentas, raciocinadas, pelas beiradas, como se fosse sopa quente. Do contrário, poder-se-ia instalar outra ditadura e fazer as coisas na marra. Mas aí começaria tudo de novo.

Alexandre Carlos Aguiar, biólogo, Florianópolis



História mostrada

É muito importante que a nossa história seja mostrada e discutida em todos os canais, a começar pela escola e em todos os meios de comunicação. Ressalto ainda os livros de Elio Gaspari que falam sobre o assunto.

Wandaluzia Navas, professora e psicopedagoga, Nova Friburgo, RJ

Um dia na história – Alberto Dines



Beleza e saudade

Belíssimo livro e artigo. Saudades do grande jornalista. Castello foi um dos primeiros presos do AI-5, na PE de Brasília, juntamente com o jornalista Octacilio Lopes, entre outros. É uma pena que nossa história seja tão esquecida…

Cristina Fontes, Rio de Janeiro



Quando, quando?

Onde sobrevive algum exemplar deste belo trabalho com tantos craques? Está esgotado? Alguma livraria vende, via internet? Vem aí uma nova reedição? Quando, quando? Luzes…

Luiz Claudio Cunha, jornalista, Brasília

Da conspiração à revolução – Carlos Castello Branco



Memórias de abril

Até onde eu sei o jornalista Pedro Gomes, na época do jornal O Globo, deu apoio ao golpe tornando-se por volta de 1968, inclusive, assessor de imprensa do governador Chagas Freitas, se não me engano dono do jornal O Dia.

Cristina Rodrigues, jornalista, Rio de Janeiro

Minas: do diálogo ao front – Pedro Gomes



Construção interessante

Muito interessante a construção de paralelos entre o golpe propriamente dito e os reflexos sociais hoje existentes. Belíssimo ensaio, parabéns ao autor e parabéns ao Observatório por proporcionar tal qualidade de leitura a seus visitantes.

Luiz Gabriel, universitário, Belo Horizonte