Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Sobre acusações feitas em artigo no JB

Como autor de charge citada na coluna de Olavo de Carvalho na edição do dia 13 de julho, no artigo intitulado ‘A Gestapo terceirizada’, publicado no Jornal do Brasil, informo que, a despeito do que sugere o articulista em seu texto, a caricatura não reflete qualquer intenção de atentar contra sua integridade física. A charge não carrega, em absoluto, uma ‘eloqüente declaração de intenções’ de algum sombrio consórcio de forças políticas, mas apenas a sátira do comportamento do auto-intitulado filósofo.

Olavo insistentemente vem vendendo a delirante (a nosso ver) idéia de uma conspiração mundial esquerdizante pronta a unir as mais insuspeitas e antagônicas vertentes na desconstrução dos valores da civilização ocidental, não esquecendo de colocar a si mesmo, oportunamente, como uma das poucas vozes destoantes de tal orquestração sociopolítica. Esta cruzada solitária contra ‘forças ocultas’ o teria levado ao auto-exílio nos Estados Unidos e, uma vez lá, ao extremo de um ‘apelo urgente’ aos seus leitores brasileiros, aos quais solicitou donativos à guisa de apoio logístico para a obra de resistência do articulista contra um tão terrível estado de coisas, episódio a que o desenho faz menção específica.

O próprio artigo, aliás, exemplifica o que buscamos satirizar com o desenho, a partir do momento em que uma charge publicada na internet é tratada como evidência de que ‘batalhões’ de perseguidores estariam ‘traindo’ maléficas intenções dirigidas contra a pessoa do articulista. Não é, pois, a ‘revolução gramsciana’, personagem fundamental do universo criado por Olavo de Carvalho, ou mesmo qualquer grupo de ‘imbecis juvenis’ que o retratam crucificado. É ele próprio quem o faz e exatamente assim o retratamos, suspenso de livre e espontânea vontade, não exatamente numa cruz, mas numa picareta, ao lado da qual há um chapéu à espera dos donativos de quem assiste a semelhante espetáculo.

Humor corriqueiro

Lamentamos a falta de maturidade do articulista para a convivência com a democracia em cuja defesa ele afirma sair como um profeta no deserto, defendendo-a da suposta ação de uma organização que, no entanto, lhe permite – apenas para camuflar a si mesma, ele talvez dissesse do alto de sua lucidez – um espaço na imprensa para nos inserir à revelia nos quadros de uma ‘gestapo terceirizada’. Esta mesma imprensa não publicou a charge para dar ao leitor uma idéia mais exata daquilo a que se referia o articulista nem tampouco os insultos de baixíssimo nível com que o mesmo brindou uma comunidade virtual dedicada ao democrático exercício da crítica informal e muitas vezes bem-humorada ao tom messiânico e anacronicamente conspiratório de seus textos.

Lembramos ainda que qualquer pilhéria dirigida contra seus familiares foi alvo de críticas severas dentro da própria comunidade, sendo prática minoritária e condenada pela maioria dos membros, malgrado tenha sido respondida, no mesmo tom, pelo articulista.

A charge mencionada nada tem de ‘sinistro’ ou de ‘goebbelsiano’, sendo interpretada como humor político corriqueiro em uma democracia por qualquer personalidade menos dada ao delírio persecutório, seja este sintoma de uma incapacidade de análise e interpretação ou, na pior das hipóteses, de oportunismo político de alguém que mais uma vez se faz crucificar perante o imaginário do leitor.

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Chargista, Belo Horizonte