Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Telejornal da UFSC cobre prisão do reitor

Afinal, para que serve e qual é a relevância do jornalismo universitário no Brasil? Deve se resumir a ensinar jornalismo, ser o porta-voz oficial da instituição ou deve ser independente e competente para mostrar a realidade da universidade para o grande público brasileiro?   

Alunos da UFSC recebem prêmio de melhor produção laboratorial em Videojornalismo e Telejornalismo da EXPOCOM durante o Congresso Nacional da 40ª INTERCOM. (Foto: Divulgação)

Esta semana, o TJ UFSC, o telejornal diário e ao vivo da Universidade Federal de Santa Catarina, produzido por alunos, professores e funcionários do curso de Jornalismo da UFSC recebeu o prêmio de melhor produção laboratorial em Videojornalismo e Telejornalismo da EXPOCOM (Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação) durante o Congresso Nacional da 40ª INTERCOM (Sociedade Interdisciplinar de Estudos de Comunicação) realizado em Curitiba.

Trata-se do maior congresso de comunicação da América Latina e o mais importante prêmio no campo da comunicação no país. É o reconhecimento da relevância de uma proposta inovadora não só de ensino de telejornalismo, mas da prática intensiva de jornalismo em uma universidade brasileira durante grave crise na educação pública do país.

O TJ UFSC está há cinco anos no ar e é produto da dedicação de muitos alunos voluntários, professores e funcionários que acreditam que é possível ensinar, aprender e principalmente, fazer bom telejornalismo nas universidades brasileiras.  Também acreditamos em uma gestão que privilegie  a autonomia dos alunos ,os editores dos nossos telejornais. Nossos alunos aprendem na prática a tomar decisões sobre a responsabilidade e os  limites do bom  jornalismo.  Com muitas dificuldades e pouquíssimos recursos fazemos uma verdadeira “guerrilha tecnológica” para manter o nosso telejornal no ar todos os dias sempre ao vivo e sempre gratuito.

Este “jornalismo” não deve e não pode jamais ser confundido com os objetivos e as propostas das agências oficiais de comunicação das instituições de ensino. Nosso jornalismo deve e precisa ser independente. Apesar de ser produzido por alunos com supervisão de professores e funcionários, o bom jornalismo universitário deve cobrir de maneira efetiva e competente os momentos mais importantes, difíceis e até dramáticos das suas próprias instituições.

Prisão do reitor

Nesta mesma semana de comemorações para todos nós da equipe do TJ UFSC, o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luis Carlos Cancellier foi preso pela Polícia Federal em operação contra desvio de recursos.   

É a primeira vez que um reitor da UFSC é preso durante a vigência do seu mandato e a comunidade local, nacional e principalmente, universitária estava ansiosa e surpresa.

Para qualquer pessoa que já esteve envolvida com projetos de ensino, extensão e pesquisa em cursos de jornalismo nas universidades brasileiras, fica evidente que estávamos diante de uma situação difícil, complexa e delicada.

Poderíamos ignorar a realidade e evitar as dificuldades deste tipo de cobertura ou aproveitar a oportunidade para mostrar porque fomos considerados o melhor telejornal universitário do Brasil.

A decisão não foi difícil. Ainda na manhã de quinta-feira, 16 de setembro o TJ UFSC colocou no ar diversos boletins com notícias atualizadas, apuradas e revisadas por uma grande equipe de alunos editores, voluntários, professores e funcionários que se revezaram para fazer aquilo que devemos fazer todos os dias: jornalismo universitário independente e de qualidade.

Nossos boletins de plantão e edições do TJ UFSC tiveram milhares de visualizações, centenas de  compartilhamentos e  muitos comentários interativos em nossas páginas no Facebook e YouTube.  As imagens da nossa cobertura foram disponibilizadas em diversos telejornais brasileiros.

Na noite de sexta, por volta das 20h, a equipe do TJ UFSC estava no ar de plantão para divulgar em primeira mão a soltura do reitor da UFSC em edição especial do nosso telejornal diário.

Em uma semana que deveríamos estar divulgando e comemorando a nossa premiação nacional, tivemos que priorizar, mais uma vez, a nossa paixão: o Telejornalismo. Mas um telejornalismo que ainda é sim Jornalismo com J maiúsculo: independente, relevante e de qualidade.

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Antonio Brasil é jornalista, professor de telejornalismo e orientador do projeto de extensão TJ UFSC.