Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Tematização ou reprise noticiosa?

Alguns alunos têm dificuldade de perceber o que é tematização. Não sei o porquê, mas muitas vezes não entendo bem o motivo de os alunos não entenderem diversas coisas. Pois bem, tematização é colocar numa mesma página de jornal notícias não-correlacionadas, mas que acabam conduzindo a uma opinião sobre um mesmo assunto. Um exemplo: favela, PCC e violência urbana na mesma página. Ok, são temas que podem ser da mesma editoria. Mas todos próximos, na mesma página, dependendo do ‘tom’, podem levar a uma determinada opinião sobre a criminalidade.

Tematização parece um déjà vu, mas não é uma falha na matrix. Vejamos as duas chamadas a seguir. Ambas estavam na primeira página do Globo Online na noite de 8/8/2006.

** ‘Avião da TAM perde porta em pleno vôo’

** ‘Rodrigo Santoro começa a gravar o seriado Lost

A TAM é nossa empresa campeã de eventos aéreos estranhos, sobretudo com seu Fokker 100, avião-pivô também de mais este episódio. Logo a seguir, vemos mais um de nossos atores globais tentando a vida nos Estados Unidos. Talvez ele fique tão perdido quanto as dezenas de figurantes deste seriado que mais parece uma novela de Glória Perez, com direito a muitas personagens perdidas, desconectadas do mundo real, sugerindo uma atmosfera espiritual por trás de toda a trama em torno da queda de um avião na qual – creiam –, diferentemente da Varig, uma cabeçada salva (?).

Só muito amor

Tudo isto pode ser complementado pela notícia, ainda na mesma página digital, sobre a entrevista da candidata Heloísa Helena, do Psol, no Jornal Nacional do mesmo dia. Nunca a defendi, mas a dona foi alvejada pela artilharia aérea da Globo, dirigida pelo casal nada flores do horário nobre. William Bonner, em ato falho constrangedor, chegou a chamá-la de deputada, mas em seguida se desculpou e corrigiu para senadora. Freud explica?

Será mesmo este o papel do entrevistador de candidatos? Talvez se devesse questioná-lo a respeito de sua proposta de governo, mas isto, decididamente, não foi o foco da entrevista no caso da candidata do Psol. Heloísa Helena virou mais um submarino de sorriso amarelo afundando diante das câmeras: é muito impulsiva para quem faz política e precisa ser um pouco mais cínica do que chamar William Bonner e Fátima Bernardes de ‘meu amor’, pelo que entendi uma expressão que traduz a base de sua plataforma de governo.

Aliás, só muito amor é capaz de salvar esta senhora, Lost e algumas empresas aéreas brasileiras.

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Mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ, jornalista e professora de Jornalismo, Rio de Janeiro