Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Todos os olhos no senador

“Vivendo a vida de um patrão, todos os olhos em mim.” A frase é do falecido rapper americano Tupac Shakur, o “2 Pac”, em seu sucesso “All Eyez on Me” (Todos os olhos em mim), de 1996, no qual relata como é perseguido por autoridades, inimigos e mídia por não ter um estilo de vida baseado no establishment de seu país. O cantor também é conhecido por “Makaveli”, apelido inspirado em Maquiavel.


O senador Aécio Neves também tem todos os olhos nele. Entretanto, membros do jornalismo político e políticos em si focam mais suas atenções em seu estilo de vida hedonista do que no trabalho que apresenta no gabinete. O episódio da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e do bafômetro deve ser apresentado e questionado no noticiário – afinal, políticos são conhecidos como “homens públicos” e a vida pessoal destes influencia em suas decisões. Porém, a sociedade do espetáculo em que vivemos tem uma cobertura política feita por alguns mais focada em trocas de parceiros amorosos do que posturas ideológicas. Em veículos de baixa qualidade, a editoria de política assume contornos de revista de fofocas, relatando a vida de artistas e resumos de telenovelas.


A prudência e os vícios


Há, nesse contexto, um viés de ataque, pois é mais importante para os inimigos e pseudo-aliados que olham para Aécio explorar seu comportamento do que ter notícias expondo as mazelas do país ou até mesmo as que deixam de expor erros do senador quando não acreditam que serão tão midiatizadas quanto algum episódio de sua vida pessoal ocorrido no Rio de Janeiro. O mesmo acomete outros membros de sua classe, independente de partido. Cada vez mais jornalistas assumem poderes de políticos e se inserem no jogo.


Para Maquiavel, seria prudente o líder ter apenas os atributos considerados bons, porém o filósofo vê outra realidade e que “é necessário que o príncipe seja tão prudente que saiba fugir à infâmia dos vícios que lhe tirariam o Estado e, daqueles que não o tirariam dele, evitá-los, se lhe for possível. Mas se não puder, com menor escrúpulo pode deixar correr”.

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Jornalista e mestrando em Comunicação