Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Um artigo enigmático

Impossível saber sobre qual país Caio Blinder escreveu (ver aqui). Blinder refere-se ao colosso do Hemisfério Norte que tem mais de 600 bases militares ao redor do planeta, milhares de bombas nucleares (para não citar as outras bombas) e uma disposição verdadeiramente criminosa e contumaz de fazer o que bem entender, onde quiser e à revelia da legislação internacional sob republicanos ou democratas? Mais provável que ele tenha falado de seu modelo ideal de democracia ocidental, que na prática adota políticas externas que se fossem copiadas levariam o mundo a uma selvagem guerra planetária.

O que ocorreria se o Brasil apoiasse sistematicamente a Colômbia dos produtores de cocaína tanto quanto os EUA apóiam o Afeganistão dos produtores de ópio? Que seria do mundo se China resolvesse tomar conta das reservas petrolíferas do Kuwait como os EUA se tornaram senhores, na mão grande, do petróleo do Iraque? Que futuro teria a espécie humana se os russos de Putin quisessem ter tantas bases militares no estrangeiro quanto os americanos de Obama?

Blinder trata a China como um país fora da lei por definição e considera os EUA o eterno e bem-comportado bom moço exemplar. No mundo dos fatos, contudo, as coisas têm sido bem diferentes.

Uma oferta generosa

Na realidade, a única diferença significativa entre a China e os EUA é a seguinte: os chineses não têm mais de 600 bases militares no exterior e na última década não iniciaram nenhuma guerra ilegal para controlar o petróleo de um outro povo mentindo para a comunidade internacional. Quanto ao resto, EUA e China são irmãos siameses. Ambos cuidam de seus interesses e são governados por políticos corrompidos e corruptores.

Levando em conta apenas os fatos, na atualidade os chineses têm mais credibilidade que os americanos. A China está pacífica e quem compromete a estabilidade mundial com sua belicosidade desenfreada são os EUA. Na verdade, devemos lamentar profundamente uma coisa. Jimmy Carter deveria ter aceitado a oferta do Pequeno Timoneiro na ocasião em que encontrou o líder chinês.

Naquela oportunidade, dizem, Carter afirmou que estava preocupado com o direito de ir e vir na China. Sorridente, o pequenino Deng Xiaoping perguntou ao colega americano quantos chineses ele queria que fossem enviados para os EUA: 10 milhões, 20 milhões… Se o presidente dos EUA tivesse aceitado a generosa oferta de Pequim, hoje os chineses já teriam se tornado maioria nos EUA e comandariam aquele país. Sob os chineses, os EUA seriam mais pacíficos e a elite anglo-americana branca e racista que provou esta desgraceira financeira global teria se mudado para o México e Canadá (sob protesto dos mexicanos e canadenses).

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Advogado, Osasco, SP