Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Um debate não divulgado

No sábado (17/7), por iniciativa do Clube de Comunicação, o Sindicato de Jornalistas do Município do Rio de Janeiro promoveu um debate com o candidato à presidência da Fenaj, Celso Schroeder. Apesar da convocação, apenas 13 pessoas – diretores do sindicato e integrantes da chapa 1 – compareceram. Talvez o único, digamos assim, ‘estranho no ninho’ da ‘turma’, foi o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio (SJPERJ) de Janeiro, este jornalista.

Na verdade, pelo andar da carruagem estava tudo preparado para ser apenas um ‘encontro entre amigos’, sem divergências, todos falando a mesma linguagem, sem qualquer tipo de questionamento, não fosse a forma de colocação no debate da questão da mídia pública feita pelo diretor do SJPERJ. O anúncio do fim da edição impressa do Jornal do Brasil, como não poderia deixar de ser, também entrou na ordem do dia.

Schroeder tinha programado falar sobre a I Confecom, realizada em dezembro. A questão da mídia pública provocou o debate, já que houve divergências nas colocações. Basicamente, o candidato se ateve ao posicionamento favorável ao controle da mídia pela cidadania, mas recusava-se a aceitar o fato, colocado pelo diretor do SJPERJ, de que a mídia pública se desenvolve apenas se tiver o apoio e o impulso do Estado.

Sofismando, Schroeder afirmava que não aceitava uma mídia chapa branca, mas estranhamente não se dobrava ao óbvio: de que sem Estado não há mídia pública. Ficar apenas no posicionamento de que tudo que vem do Estado é ‘chapa branca’, como na prática colocava Schroeder, é inviabilizar a mídia pública.

Uma espécie de EBC impressa

Na verdade, a discussão sobre mídia pública e o Estado está mal colocada, inclusive por entidades que se intitulam representativas de movimentos sociais, mas na verdade estão mais voltadas para inviabilizar iniciativas que dependem do Estado. Não há contradição entre Estado e mídia pública. A sociedade pode e deve controlar a mídia pública; há que se criar iniciativas nesse sentido, mas a iniciativa é do Estado. Por que não reconhecer o óbvio? O que é necessário é romper com a cultura do ‘chapa branca’, ou seja, de que só pelo fato de algo vir do Estado representa atrelamento. Não é isso. Se há uma cultura nesse sentido, é necessário romper com isso. Aí é outra história, mas insistir no fato, vale sempre repetir, é, na prática, inviabilizar o projeto. Quem pode viabilizar a mídia pública se não o Estado? Por acaso a mídia de mercado teria interesse em viabilizar a mídia pública ou é exatamente ao contrário?

Esses, em linhas gerais, foram os pontos debatidos, mas não reproduzidos na matéria do site do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, que apenas assinalou que Schroeder defende a mídia pública sob o controle da sociedade. Nem foi informado aos jornalistas cariocas que no debate esteve presente o integrante da diretoria do SJPERJ. Ou seja, na prática o site manipulou a informação, uma prática comum na mídia de mercado.

O representante do Sindicato do Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro apresentou a proposta da criação de uma Federação de Mídia Impressa, que seria, guardando-se as devidas proporções, nos moldes de uma Empresa Brasil de Comunicação. Para o sindicalista, essa seria uma forma de responder à crise que se aprofunda no jornalismo de mercado com o fim de jornais impressos e a acentuada redução de leitores. A Fundação fortaleceria o mercado de trabalho dos jornalistas, até porque hoje, no Brasil, onde mais cresce o emprego para os profissionais de imprensa é na mídia pública e complementarmente na sindical. Na mídia de mercado, o mercado diminui.

Alhos com bugalhos

Schroder admitiu as divergências de posições, algo talvez inesperado nas suas andanças pela Chapa 1, já que está acostumado a se apresentar para diretores de sindicatos que mais ouvem do que debatem, como aconteceu no encontro do Rio de Janeiro. O candidato a presidente da Fenaj posicionou-se contra a sugestão da criação da Fundação de Mídia Impressa. Mais uma vez Celso Schroeder criticou uma iniciativa do Estado, confundindo mídia pública pura e simplesmente com chapa branca. Chegou ao ponto de afirmar que a viabilização da proposta ‘implodiria a candidatura Dilma Rousseff’, já que os jornalões atribuiriam à candidata do PT a iniciativa da Fundação da Mídia Impressa. Ou seja, superestimou a eventual manipulação da informação antes mesmo dela acontecer.

Nesse sentido ele teve a colaboração do sindicalista José Augusto Camargo (Guto), presidente do Sindicato de Jornalistas Profissionais de São Paulo, que perguntava a todo o momento para o representante fluminense se o Estado se tornasse autoritário, como ficaria o projeto ou jornalismo em questão? ‘Você pode responder ou não essa pergunta’, dizia, várias vezes.

Guto também misturou alhos com bugalhos e repetiu que ‘o controle da mídia tem que ficar com a sociedade’ etc. Mas se o regime for autoritário, uma ditadura nos moldes da que vigorou no Brasil depois da derrubada do presidente João Goulart, a cidadania será reprimida e não terá como desenvolver um projeto que só funciona no contexto democrático. Dizer apenas que se a mídia for estatal ela servirá a uma ditadura é também fugir da questão principal – ou seja, sem o Estado não haverá mídia pública. O controle da sociedade virá com a continuidade do projeto da mídia pública.

Pensamento único e manipulação

Nos debates sobre o anúncio do fim do JB impresso a partir de 1º de setembro, que também motivou a apresentação da proposta da criação de uma EBC impressa, mais uma vez ficou-se apenas na lamúria. Algumas intervenções foram feitas e exortou-se a realização de um ato público no meio da semana na porta do JB.

A presidente do Sindicato do Rio, Suzana Blass, informou que na direção do jornal de mais de 110 anos há setores que não aceitam o fim do impresso, como o agora ex-diretor Pedro Grossi, enquanto Nelson Tanure defende com veemência essa posição. A proposta da criação de uma Fundação da Mídia Impressa também foi rejeitada pela sindicalista carioca, que em uma intervenção deu ‘graças a Deus’ pelo fato de parte de O Dia ter sido adquirido por um grupo estrangeiro. Blass trabalha em O Dia.

Em um só momento foi demonstrada pelo(a)s diretores do Sindicato carioca e candidato(a)s da Chapa 1 a preocupação com o fato de que a entrada do capital estrangeiro na mídia de mercado brasileiro vai apenas acirrar o esquema do pensamento único e a manipulação da informação. Schroeder não disse nem sim nem não.

Fugindo ao debate

Schroder também não aceitou a sugestão de que o debate que estava ocorrendo naquele momento fosse estendido à categoria no Rio de Janeiro. No entender do jornalista do Estado do Rio de Janeiro, a forma imediata de se alcançar isso seria a marcação de um debate antes da eleição, pois ainda estava em tempo, entre os dois cabeças de chapa às eleições da Fenaj. Schroeder, sob a alegação de ‘agenda tomada’, não aceitou debater com Pedro Pomar. Quem mais perdeu com a recusa, sem dúvida, foi à própria categoria no Rio de Janeiro e em todo o país.

Na verdade, a ‘falta de agenda’ é um mero pretexto, pois o que há verdadeiramente é falta de vontade política para o debate, que ajudaria os jornalistas a tomar conhecimento de questões das mais variadas, praticamente proibidas de ser debatidas nos espaços da mídia de mercado.

Este relato ficaria incompleto se não fosse mencionado que a culpa pela baixa frequência ao debate foi atribuída às chuvas que caíam no Rio. Mas, se fizesse bom tempo, como já aconteceu em outras ocasiões, a culpa seria atribuída ao sol radiante na cidade, o que leva os associados a curtirem uma praia…

A baixíssima frequência de jornalistas em debates promovidos pela atual diretoria do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro tem causas muito mais profundas do que o fator tempo. Mas aí é uma outra discussão, que vem sendo evitada pela diretoria do SJPMRJ.

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Jornalista