Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Uma ode à morte

O anúncio da morte de Osama bin Laden tem causado uma comoção positiva no meio social ocidental. Uma verdadeira ode à morte vem sendo proclamada abertamente, sem pudor. O fato revela uma faceta sádica do ser humano que vem sendo alimentada, ao longo dos anos, por uma condução política que vê nos folhetins de noticiário a melhor maneira de manter os índices de popularidade.

Para se pôr fim ao terror, mais eficaz do que eliminar Bin Laden é abolir a ideia insana de que se deletando pessoas as coisas se resolverão. Qualquer crítico do ex-procurado nº 1 do planeta é sabedor de que se ele se foi para seus arqui-inimigos. Haverá quem, num outro extremo, acredite que agora ele vive, supostamente com justiça, a vida eterna. Afinal, o fundamentalismo se ancora em referenciais de fé para justificar suas práticas, o que, por outro lado, permite concluir que novos ou antigos seguidores poderão empreender esforços para tocar adiante o projeto do antigo líder.

Espera-se que a morte de Bin Laden tenha sido justificada pela impossibilidade de efetivação de qualquer outro meio não letal, prejudicado por alguma reação violenta ao aprisionamento. Em outro diapasão, que a ação dos Estados Unidos não sirva para acirrar o ódio social antiocidental, nem tenha o condão de conduzir sua própria sociedade e a de seus históricos aliados a mais uma arrogante exaltação de força bruta. Por fim, espera-se que a ação tenha sido articulada com o governo do Paquistão, afastando as suspeitas de violação à soberania daquele Estado. Caso contrário, as consequências histórico-sociais poderão ser danosas. Afinal, a certeza de que o terror alimenta o terror é tão sólida quanto a constatação de que a generosidade alimenta a alma e conduz à paz.

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Coordenador Estadual de Direitos Humanos e professor da Unifor